Capítulo 8 O professor Andrews é o novato

Otis treme quando vê Jesse.

Uma aluna aleatória desejou um bom dia recheado de segundas intenções, mas ele sequer percebeu a tal garota quando descobriu que Jesse estava no mesmo círculo de pessoas.

Em um momento de sanidade completa, ele simplesmente abaixaria a cabeça e responderia um "bom dia" baixo e despreocupado, mas ao invés disso, ele estupidamente olhou pra Jéssica e respondeu o "bom dia" mais nervoso do mundo.

Por um breve momento, ele pode olhá-la diretamente em seus olhos azuis, ele pode facilmente se perder naquele gigantesco oceano que são os olhos de Jesse Foster. Mas ele apenas respira fundo e desvia o mais rápido que consegue, indo na direção do corredor, porque ainda precisa passar na sala dos professores.

- Otis Andrews! - Diz o vice diretor Brown quando Otis abre a porta da tal sala dos professores. Tem muitos deles ali. Homens e mulheres de idades variadas, mas ele não se sente com vontade de socializar naquele momento.

Ou melhor. Otis nunca está com vontade de socializar. Ele geralmente anda de mal humor e prefere o conforto da solidão e da própria companhia, mas ser professor te coloca em posições e momentos em que você não pode fugir. O professor de matemática força um sorriso e deixa ser levado pelo braço do vice-diretor, que agora o abraça e o leva para o centro da sala.

- Ontem não tivemos muita oportunidade por causa do primeiro dia de aula cheio que tivemos, mas hoje o professor Andrews teve a gentileza de vir conhecer todos - Otis respira fundo e força um sorriso diante das pessoas ali. - Amigos, quero apresentar a vocês nosso novo professor de matemática, Otis Andrews. Otis veio de Liverpool, certo?

O homem abre a boca, mas logo fecha em um sorriso. Dar aulas é muito fácil. Flertar é muito fácil. Fazer novos amigos é outra história.

- Sim - o professor diz por fim, tentando parecer o mais simpático possível. Seu sotaque é muito forte e as professoras mais novas parecem gostar muito desse detalhe, embora ele não tenha notado. - Sou Otis Andrews, de Liverpool. Espero me dar muito bem com todos.

Os mais velhos são bem receptivos, os professores de História e Literatura são os primeiros a se apresentarem, e então Inglês, Geografia. Os homens o cercam e parecem bem convidativos e animados, Otis logo sente que é bem recebido e até engaja em uma conversa com eles. É quando está a procura de um café que a senhora Farrel se aproxima. Ela dá aulas de Francês, mas ela parece uma senhora rabugenta quando diz de forma ranzinza que um britânico precisa tomar cuidado para não seduzir mulheres comprometidas.

Otis quase não acreditou no que ouviu e sequer teve respostas para o que ouviu. Ele observou incrédulo a mulher se afastar e uma passar por ela sorrindo.

- Não liga pra senhora Farrel. Ela tem ódio de jovens britânicos bonitos porque a filha dela largou tudo pra ir pra Londres se casar com um motoqueiro e nunca mais voltou pra casa.

- Oh... Hm... isso é... horrível, na verdade - Otis diz, embora não consiga segurar uma risada. - Então, segundo a senhora Farrel, eu não deveria estar perto de você agora?

- Ah, não, só as casadas estão proibidas e a professora Day, a única que casou, já está curtindo a praia da Califórnia uma hora dessas. Mas ela com certeza deve me achar pecadora por vir cumprimentar um homem sozinha - a mulher sorria. - Samantha Wayne. Física.

- Sim, claro - Otis diz, segurando a mão da mulher e a apertando de forma cordial. - Otis. Andrews.

- Então, alguma chance de dizer o porquê de sair de Liverpool e vir ensinar em um país do outro lado do mundo?

Um fato sobre Otis que pode não parecer tão perceptível assim para Jesse Foster é o fato de que Otis Andrews é um homem muito fechado. Não confundir com tímido, claro, mas pode-se dizer que ele é reservado. Ele não gosta de contar coisas sobre sua vida ou detalhes pequenos, e como observado antes, até socializar pra ele é algo que requer muito esforço físico e mental. Ele quer poder pegar um café e ir pra sua sala quase que imediatamente. Mas ao invés disso, ele diz:

- Na verdade, eu estudei aqui no ensino médio. Quero dizer, em Nova York. Eu só voltei porque eu gosto da cidade. Então... quem são os chatos, os legais... da senhora Farrel eu já sei que devo ficar distante - ele sorri, tomando um gole de café.

Ele não sabe ainda, mas Samantha é a professora mais adorada da escola, seguido pelo senhor Holland, de música. Ambos são o casal dos sonhos dos alunos. Se dão muito bem.

- Bom. Os senhores você já conheceu. Eles são muito gentis e não tem grandes sonhos. Depois temos o professor Yin, de Economia. As mocinhas ali são a turma das jovens - ela aponta pra três professoras que estão conversando e sorrindo, todas de beleza estonteante, não há como não observar isso. - A loira é a senhorita Gardner, de educação física. A do lado é Emily Davenport, de bibliotecária, e a ruiva é Carol King, a secretária do diretor. Elas passam muito tempo juntas.

Otis as observa rápido e percebe que talvez elas possam estar falando dele, visto que elas não param de olhar em sua direção. Samantha é muito amigável e parece ser uma boa professora.

- Temos alguns professores de laboratório que não passam muito tempo aqui. Quase não os vemos.

- Isso significa que posso passar mais tempo na minha classe do que aqui sem ser muito julgado? - Ele pergunta esperançoso, Samantha ri no mesmo instante. - Desculpa, não quis parecer desesperado.

- Não, que isso, eu entendo - ela disse, ainda sorrindo. - É que você pareceu bem mais animado com a ideia de ficar sozinho do que estar aqui conhecendo todo mundo.

O sinal bate e tira Otis de uma situação um tanto constrangedora. Ele não quer parecer um excluído só porque gosta do seu tempo sozinho, mas Samantha não se importa com isso, porque ela é amigável demais com todo mundo. Ela apenas diz que foi muito bom conhecê-lo.

- Espero que possamos ser bons amigos - assim ela finaliza aquela conversa, com um sorriso que a faz fechar os olhos e surgir covinhas em suas bochechas. Ela se despede e vai em direção a mesa, onde pega suas coisas e deixa a sala logo em seguida, ao lado das três amigas de antes.

            
            

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