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Otis vira o resto de café e pega sua bolsa de cima da mesa e sai da sala dos professores; do lado de fora os alunos estão correndo para suas salas e ele sobe as escadas em direção a turma de matemática. Vai dar aula para alguns garotos de cálculo avançado, em sua maioria alunos do terceiro ano e alguns pingados do segundo ano. Respira fundo e entra na sala até ver Jessica sentada mais uma vez na cadeira bem na frente, atenta aí celular.
Ele quase desiste de entrar na sala, mas precisa dar uma aula. Não pode fugir dela, não pode fingir que sua presença não é forte, mas pode fingir. Sim, ele pode fingir que não se importa se ela está ali ou não.
- Bom dia - ele diz ao entrar na sala e pode jurar que consegue distinguir a voz dela no meio de tantas outras. - Muito bem, vamos lá.
O homem se senta, procura seu diário enquanto os alunos voltam a conversar enquanto ele não está pronto. É quando ele abre o diário pra começar a fazer a chamada que Jessica se levanta de uma vez e grita:
- Será que dá pra parar?! Você é incapaz de crescer, Dodgers?!
- Uau, Jesse Ninfo, fica fria aí, você não acha que tá meio desequilibrada? Tá envergonhando a gente na frente do professor novo!
- Dodgers, me deixa em paz!
Otis respirou fundo. Quis socar o garoto por ouvi-lo falar aquele apelido estúpido na frente da sala inteira e deixa-la mais desconfortável do que ele já imagina que ela esteja. Otis procura dentro da bolsa uma pasta que ele tem, de um certo bloco que lhe foi repassado pelo diretor.
Ele sabe quem é o rapaz. Tem uma boa memória. É bom com nomes. Anota o nome do rapaz e se levanta.
- Pode se sentar - ele diz para Jessica, que tira uma mexa da frente do rosto; ele pode ver o quão incomodada ela está naquele momento. Mas ele não pode consola-la. Tudo o que ele pode fazer é entregar o papel para o rapaz de apelido Dodgers.
- Detenção?!
- Sim. Algum problema?
- Por que?!
- Cada apelido maldoso que eu escutar na minha sala vai ser um sábado de detenção.
- Era uma brincadeira, professor Andrews! - Diz o garoto, completamente revoltado.
- Eu tenho certeza absoluta que sua colega de classe não achou engraçado. E se não quiser pegar mais uma semana, sugiro ficar em silêncio e ouvir a chamada.
É tudo o que Otis pode fazer por ela, embora queira fazer muito mais. Dogers não está nada contente com a situação, mas Jesse está muito pior... sabe que agora se torna um algo muito maior pra seus antigos amigos. Ela sabe que vai ter que tomar mais cuidado, está irritada porque sente que Otis piorou tudo com seu pequeno show de autoridade. Ele pode protegê-la na sua turma, mas não pode fazer nada quando ela colocar os pés no corredor, porque ele não estará lá sempre.
O homem termina sua aula e a tentação de fazê-la ficar é grande, mas ele nada pode fazer mesmo se quisesse, porque Jesse já está com seu material arrumado e praticamente desaparece da sala em um piscar de olhos. O barulho no corredor é intenso, e logo a sala lota novamente pra mais um horário. E assim Otis tentar levar o dia, tentando esquecer Jessica e essa vontade maluca que ele tem de querer abraçá-la toda vez que a vê no corredor.
Durante‰ o almoço, ela está sorrindo com uma amiga e isso o deixa mais aliviado. Ele trás a comida de casa, porque não quer comer qualquer coisa que não sabe de onde vem, mesmo que seja de uma escola cara como aquela, então ele apenas vai até a máquina de suco, opta por um de maçã e retorna todo o caminho até a sua sala. Pra sua surpresa, Samantha Wayne está encostada na sua porta.
- Senhorita Wayne? - Ele diz e ela a olha com um sorriso.
Samantha Wayne poderia facilmente ser a mulher mais bonita que ele já viu já vida, mas ele já conhece muito bem uma outra pessoa que ocupa essa posição facilmente. Samantha tem uma pele que reluz quando o sol bate, grandes cabelos encaracolados, curvas que sua roupa destacam com facilidades, lábios que recebem o vermelho do batom como se eles fossem feitos apenas pra ela.
- Pode me chamar de Samantha, sabe? Se você ficar confortável com Otis.
- Bom, é meu nome - Samantha sorri como se Otis tivesse contado a piada mais engraçada do mundo. Assim, ela levanta as mãos mostrando o próprio almoço e diz:
- Quer companhia?
- Oh... hm - ele pensa bem. Talvez seja bom fazer um novo amigo que não sejam seus antigos colegas de escola ou sua prima de dezessete anos. - Claro.
Otis, como bom moço britânico, se apressa e abre a porta para a mulher, que gentilmente agradece e entra na sala. Ele oferece a própria cadeira para ela, que aceita de bom grato e logo depois puxa uma cadeira qualquer logo eles estão comendo. Samantha é divertida. Ela conta como entrou na escola e que é uma antiga estudante; se formou em Dalton com honras e ganhou uma bolsa no MIT em Física.
- Então você é um prodígio? - Otis indaga em certo momento.
- Bom, digamos que sim. Minha família queria que eu fizesse algo grande como entrar na NASA ou SpaceX, sabe? Mas eu amo dar aulas. E aqui estou eu. Estou aqui há três anos.
- Então você é um prodígio rebelde - Samantha abre a boca decidida a protestar, mas apenas sorri. Otis é um homem silencioso, embora seja um bom ouvinte. Ele realmente presta atenção em cada palavra que Samantha diz e faz pequenas observações ou perguntas superficiais de maneira a continuar a conversa.
- Bem, eu agradeço a companhia. Eu geralmente gosto de comer sozinho, mas talvez eu precisasse de distração hoje.
- Que bom que resolvi ser receptiva com o novato!
Samantha é agradável. Ela sorri, toma mais um gole de suco e logo a porta é aberta e uma prima animada surge na sala do professor de matemática.
- Ei, seu idoso, você quer ir... - Mas ela para assim que percebe a presença da professora Wayne e imediatamente muda sua postura. - Quero dizer, professor Otis, eu queria perguntar algo.
- O que foi, pirralha?
Otis acaba sorrindo com a mudança súbita de personalidade de sua prima, que apontou o dedo na direção de Otis e vociferou:
- Não se atreva a me chamar de pirralha, vovô - ela olha rapidamente para Wayne que parece perdida ali e pigarreia, voltando a sua postura ereta instantaneamente. - Quero dizer, eu e o Adam vamos no Lume hoje. Você quer ir? Vamos as oito.
- É terça-feira. O que você quer fazer no cinema às oito da noite? Com o Adam ainda por cima?
- Vai passar uma sessão especial de Impacto Profundo e o papai liberou o Adam pra ver. Você sabe como ele ama... filmes... - Nora continua a olhar para Wayne o tempo inteiro, e desvia o olhar o tempo inteiro, porque ela é a única pessoa que consegue deixar Nora desconcertada - de terror...
- Certo.
- E ele acha melhor se... você for porquê... o Richie não... pode ir. Enfim, me avisa se você puder ir. A gente se vê.
- Nora, espera!
Mas a garota já tinha saído e fechado a porta. Otis pensou em ir atrás dela, mas apenas ligaria no fim do dia.
- Ok, eu perdi algo aqui. Não me diga que já tem alunas flertando com você... - provocou Samantha.
- O que?! - Ele indaga, surpreso. Deus! Não! Nora? - Nora é minha prima! Minha mãe é irmã do tio Gustav... do pai dela. Eu... a ensinei a andar... ela é como uma irmã.
- Quem diria. Nora Stiles prima de um homem como você - Otis tentou entender o significado por trás daquela frase, mas prefere não fizer nada e mesmo que quisesse, porque a porta se abre novamente, dessa vez revelando Jessica Foster.