Capítulo 5 Fantasmas Do Silêncio

A quinta-feira foi enlouquecedora: encafuado do apartamento, assistindo streaming para se distrair uma vez que sua mente não saia daquela terça-feira e por isso repassava e repassava a cena diante de seus olhos.

Pegou-se mais de uma vez pensando que talvez o ladrão voltasse para terminar o trabalho, a mordida no pescoço começou a doer como nunca doeu o deixando a beira da loucura: andando de cima para baixo, baixo para cima, brigando constantemente com fantasias de invasão a domicílio.

Chegou a procurar no Google quando custa uma arma, onde comprar, cursos de tiro e defesa pessoal, porém estas coisas só acalma seu espírito enquanto estava pesquisando, procurando palavras, nesse momento isso

era tudo maravilhoso, se sentia seguro, porém com a pesquisa acabada, a palavra terminada de ser escrita e lida, algo acontecia, um tremor, uma paralisação, um desamparo.

Olha em volta e sente um universo hostil, sombras cruéis de toda sorte de desejos doentios a espera para te fazer mal, sentia o constante reviver da cena da mordida, do dia da mordida. Numa hora de crise o desespero foi tão forte que chegou a morder o próprio braço.

Enrola o braço ferido no banheiro enquanto se indagava: o que vou assistir? Se via algo tranquilo ficava irritado, precisava de mais violência, pois só ela poderia o proteger; se via algo violento ficava

horrorizado preso na fantasia de que de alguma forma mágica os destinos das personagens ficcionais são premonições do seu futuro.

Meu Deus! Você está no estacionamento e de repente um imbecil com máscara de porco vem e de agarra por trás, te dá uma droga qualquer e você acorda todo ferrado. Onde está a polícia? Investigando? Quantos pedaços meus o desgraçado pode arrancar até eles me encontrarem, se me encontrarem... O que devo fazer para ficar seguro? Por onde andar? Por onde não andar? E toda precaução do mundo resulta em força inútil mediante as possibilidades do infortúnio, as coisinhas não calculadas, os fatores até então ocultos. É só uma questão de tempo, tudo não passa de uma questão de tempo para o psicopata da máscara de porco encontrar o caminho da sua casa e arrancar um pedaço seu. O que ele vai levar? Será um dedo? Será uma orelha? Será um nariz? Será Theon Greyjoy? O que posso fazer para escapar dessa droga de mundo? Queria morrer e nascer num lugar de paz e tranquilidade! Queria um lugar onde esta merda toda não decorasse os jornais da TV todos os dias! Queria ter super poderes, poder voar, soltar raio laser pelos olhos e torrar todo ou qualquer filho da puta que pense em me morder outra vez.

Se tudo isso fosse impossível quem me dera poder regenerar o corpo e me recuperar rapidamente do trauma, ou pelos menos queria ser como os psicopatas envoltos numa invejável áurea de indestrutibilidade, mesmos fazendo as coisas mais terríveis do mundo vivem dentro daquela invejável áurea de que saíram ileso, que tudo ficará bem. Por Deus, como eu queria ser assim, como eu queria poder me libertar

desse medo que me algema... CHEGA!!!

Grita revoltando pelos pensamentos que ele mesmo cultivou, irritado dá uma volta na sala, cozinha, entra e sai do banheiro, volta para a sala, vai à cozinha, volta à sala. "Queria que Mário estivesse aqui" passa ligeiro por sua cabeça. Abre o notebook e pesquisa sobre Dionísio, existe algo nele que lhe dá conforto, o seu jeito

de agir, de pensar, aquele sorriso. "Eu queria ser assim, sabe" brota em sua mente olhando as fotos dele no Google imagens. Pesquiso sobre toda a vida dele, onde mora, onde trabalha - um estúdio próximo do seu trabalho que estranha coincidência - as mulheres com quem namorou, as casas onde morou, escolas que estudou, parece estranho mais isso tudo de alguma forma proporciona conforto, faz a mordida para de doer. Gasta horas e horas transformando o Dr. Diversão em morfina para sua vida.

Segue assim por horas e horas até a hora de dormir. Uma dose generosa de alprazolam e boa-noite mundo! Amanhã você pode me fode a vontade, por hora me deixa em paz!

            
            

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