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Mário com o celular grudado no ouvido anda de um lado para o outro em seu pequeno apartamento. Já deve ter percorrido uns vinte quilômetros só nesta caminhada ansiosa esperando que "A DROGA DO APOLO ATENDA ESSA PORRA DE CELULAR!!!" E mesmo assim... ele não está em casa, já foi conferir e o porteiro disse que nem voltou pra dormir.
O que esse filho da mãe está pensando? Anda porra me atender...
E continuar a andar de um lado ao outro em seu pequeno apartamento que a esse ponto já parece mais longo que a distância daqui à lua...
- Atende PORRA!!!
II
O celular toca e toca na mesinha de cabeceira de Dionísio. O insistente som acaba, por fim, acordando Apolo. Abre os olhos ainda embaçados e contempla Dionísio de pé, o olhando com uma bandeja em mãos.
- Café da manhã na cama? Que romântico - diz Apolo que ao coçar os olhos têm os braços detidos - O que é isso? - demora um pouco para entender, as coisas brilhantes nos pulsos, tenta mover as pernas e... mas que porra é essas? Por que estou preso aqui? E o celular tocando, tocando - Dionísio que porra está acontecendo?
- Terapia - diz o Dr. Diversão esticando o pescoço para espiar o celular tocando - Mário... quem é esse? Seu namorado? Ele vive ligando para você.
- Ele é só um amigo... me desamarra e me dá o celular aqui, essa pegadinha não tem graça...
- Você não está amarrado, está algemado. E o Mário pode esperar. - esconde o celular dentro da gaveta - além do mais, mesmo que se eu quisesse soltar você, não poderia, não tô com a chave.
- Quem está então?
- Eu! - diz uma voz no fundo do quarto, uma voz de mulher que faz Apolo tremer. Escuta passos vindo em sua direção, levanta a cabeça e contempla uma mulher bonita, cabelos longos, pele morena e roupas
justas marcando as curvas de seu corpo.
- Quem é você? - pergunta ele.
- Uma sobrevivente... - ela puxa a blusa para cima revelando um lindo sutiã vermelho com renas - ...eu estava de boa vivendo a minha vida...
- Dionísio... - interrompe Apolo.
- CALA A BOCA! - grita ela e dá um tapa na bandeja que Dionísio segura. O bowl que a encobre rola pelo chão revelando um bastão retrátil de 23 cm. Ela pega e com um violento movimento de mão o bichinho estica para uma vara de 59 cm feita em aço. Uma imagem que desperta um leva pânico em Apolo. - Será que você não sabe que quando uma mulher fala, você tem que fazer duas coisas: primeiro calar; segundo escutar.
- Dionísio eu não curto esse...
- VOCÊ NÃO TÁ ESCUTANDO! - pressiona a ponta do bastão entre as pernas de Apolo que finalmente se cala, cerra os punhos e arregala os olhos - Só assim para você me escutar. Como eu estava dizendo:
eu estava voltando para casa e um desgraçado achou que meu corpo era dele, - Abre o sutiã revelando seus seios, um perfeito e outro deformado com a marca de 20 dentes, uma violenta mordida que arrancou
seu mamilo esquerdo. - Eu vivi, eu sentir tanto medo, eu tinha medo de sair de casa, eu tinha medo de ficar em casa, por Deus, eu tinha medo de tirar a roupa e ver o que ele me fez...
- Eu sinto muito, eu tenho passado...
- JÁ DISSE: CALA A BOCA!!! - e acerta uma lapada contra Apolo que vira o rosto. A princípio só sente o calor irradiando até virar uma forte dor para em seguida perceber algo escorrendo por sua bochecha, poderia apostar sua alma que a coisa escorrente é vermelha - Eu estou cansada dos homens dizendo o que devo fazer ou sentir, estou cansada de tudo. - se vira para Dionísio - Estou cansada de sentir tanto medo, medo o dia todo, medo sempre. Mesmo vestida eu sei que algo em mim está faltando e eu tenho medo.
- Mas você tem o poder agora! - sussurra Dionísio.
- É, - diz ela encostando o bastão no rosto dele - eu tenho o poder.
- O que você quer fazer com o poder agora?
- Eu quero destruir!
- Então... destrua!
Ela acerta um violento golpe nas penas de Dionísio que cai de joelho, uma dor intensa corre por seu corpo o fazendo rir.
De Joelhos diante da mulher de seios desnudos e um bastão, ele ri intensamente enquanto Apolo grita de horror. Ela então o chuta na cara o fazendo rolar pelo chão. Caído, ela o chuta sem dó no
estômago fazendo-o urrar e rir ao mesmo tempo.
- CALA BOCA! - diz para Apolo - Você é o próximo! - e surra incessantemente as costas de Dionísio com o bastão de aço.
- VOCÊ VAI MATAR ELE!
A mulher para e encara Apolo, anda em direção dele, desesperado tenta se libertar, mas as algemas são intransponíveis. Ela sobe na cama e seus dedos do pé ficam a poucos centímetros dos testículos
dele, não pode fechar as pernas devido ao jeito que elas estão algemadas.
- Você sabe o que é o poder? - pergunta ela pisando suavemente entre as pernas de Apolo que congela sentindo os dedos dela em seu pau - Quando quero que você fique quieto você fala feito uma
matraca, e agora que você tem que falar fica quieto feito um cadáver.
- Desculpa, desculpa, desculpa! O que é o poder?
- Você não pode compreender o poder através da lógica, você tem que o sentir. Vou te mostrar, mas não se esqueça... o poder dói!
O primeiro chute faz Apolo se contorcer todo, uma forte pressão sobe das suas bolas até o estômago, o segundo nem se fala, no terceiro perdeu o ar, o quarto nem deixou ele descansar, assim como o quinto.
- Diz que eu sou linda!
- Você é linda! Você é maravilhosa!
- Diz que eu sou feia.
- O quê? - suavemente ela a apoia o pé entre as penas dele que tremia feito vara verde - Você é feia, horrorosa, agora por favor para com isso.
Ela se deita sobre o corpo dele e sussurra ao seus ouvidos:
- Eu pedi para ele parar e ele não parou...
- Eu não sou ele...
- Eu também não - responde ela.
- E nem eu. - diz Dionísio que a tira de cima dele só para sentar sobre o tronco de Apolo. Com um sorriso sujo de sangue pergunta: - Como está se sentindo?
- Me solta!
- Ainda está com medo e... - Apolo grita assim que sente Dionísio tocando em seus testículos - Calma! É só massagenzinha para aliviar a dorzinha... você está tão petrificado de horror que nem percebeu que está solto. E vai ver que nunca esteve preso.
Como um animal, assim que toma conta de si - braços e pernas soltos - não pensa, apenas age, entrega-se ao ódio, se entrega à vontade de viver: mete as duas mão no peito de Dionísio o empurrando ao chão. Caído com os braços estendidos, Apolo sentado em seu peito e o socar no rosto, duas, três, quatro, vezes, porém
em vez de gritos escuta uma gargalhada sem fim.
Perdido em meio a raiva e a vingança agarra os testículos de Dionísio e os apertas o fazendo gritar pela primeira vez. Se aproxima da cara dele gritando:
- Isso é bom?! Isso é bom?! Isso é bom?!
- ISSO É MARAVILHOSO! - responde na lata.
Apolo solta, mãos na cabeça, um pensamento e uma vontade, de repente seu corpo age sem pensar e quando se dá conta de si está mordendo o ombro de Dionísio: o sangue sai da ferida e enche sua boca.
A mulher, até então assistida tudo imóvel, se ajoelha e morde o ombro de Apolo. Ele interrompe a mordida e encara aquele rosto bonito com a boca infincada em seu ombro - a dor, a mordida, o sangue vermelho escorrendo e, que Deus o perdoe, mas aquilo foi a melhor coisa do mundo.
Sua língua corre por sua boca e percebe está sentindo um gosto diferente, um gosto amargo de ferro, um amargo doce, delicioso! O gosto do sangue!
Olha para baixo e ver Dionísio com a cara ensanguentada sorrindo para ele, um estranho sorriso.
Tomado por um tesão como nunca sentira em toda sua vida medíocre lambe a cara sorridente de Dionísio: deixa a língua percorrer suas bochechas, sobrancelhas, nariz e boca sorridente.
Nunca em toda sua vida esquecerá a sensação de sua língua passando por aqueles lábios, aqueles dentes e capturando todo aquele sangue, aquele sangue amargo doce maravilhoso!!!
- Qual é o seu nome? - pergunta Apolo para a mulher grudada em seu ombro.
Para de morde e responde: - Juliana - só para em seguida retornar a mordida infinita.
- O que você está fazendo comigo? - indaga a Dionísio.
- Te enchendo de poder e controle. Controle sobre a sua vida, sobre o seu corpo, sobre sua dor. Me diz, você está sentindo medo?
- Não, eu não estou sentindo nada, eu estou, eu estou... me sentindo forte.
- Gostaria de encontrar com aquele filho da puta que mordeu a gente? - pergunta Juliana soltando seu ombro.
- Sim!
- Gostaria de encontrar com cada pessoa que te fez sentir, pequeno, inútil e desprezível? - pergunta Dionísio.
- Sim. O que está acontecendo comigo?
- Renascimento! - sussurra Juliana nos ouvidos de Apolo.