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-Você começou a malhar com quantos anos? Nalay observava a musculatura digna de um Oscar de seu irmão, agora deitado apenas com uma calça moletom.
-Com quase 10 anos, comecei a esticar bastante depois dos nove, com 11 anos já tinha quase 1,80m. Nalay o olhou surpresa, essa estava na poltrona apenas com seus pés apoiados na cama.
Nossa... Com 11 anos ele já era mais alto que ela com 15! Era humilhante pensar assim.
-Falando nisso, vamos entrar na academia comigo amanhã?
-Mas é claro que vou, estou precisando perder mesmo uns quilinhos. Confessou apertando sua barriga por cima do vestido, arrancando gargalhadas dele.
-Qual é, nem está tão gorda assim, é sexy!
-Engraçadinho! Ela chutou sua perna mais próxima. -Mas e o dinheiro? Não trabalho ainda sabe!
-O dinheiro é o de menos irmã. Um sorriso de canto se apossou de seus lábios.
-Nossa, que humilde ele. Brincou olhando para seu irmão que parecia ter mais dinheiro do que aparentava.
Ele era mesmo filho dos mesmos pais que ela?
-Amanhã pago para nós dois, vou te deixar em forma rapidinho!
Ele levantou alcançando seu celular em cima da mesinha de estudos. Um Iphone X recém lançado. Nalay olhou para seu humilde MotoG4 e viu que precisava urgentemente conversar com seus pais.
-Acho que esquecemos de um detalhe.
-Qual?
-Estamos de castigo idiota, como vamos entrar na academia amanhã?
-Puta merda! Esqueci... bufou se jogando na cama. -Você acha que ele vai mesmo nos deixar de castigo? Seu filho amado acabou de chegar, você vai ver amanhã ele esquece.
-Tomara! Sorriu cumplice.
Victor procurava um filme na TV, achou um de terror colocando para ambos assistiram, com muita recusa Nalay aceitou assistir, afinal já tinha visto algumas coisas estanhas na casa o que a fez abandonar os filmes de terror.
-Qual é? É só um filme.
-Diga isso para os espíritos ruins que volta e meia vem me da um oi.
Victor riu. -Pode deixar que eu te protejo.
-Protege o que? Tu não protege nem você, pode colocar mais vou dormir com você hoje. Mal terminou e o toque de seu celular a assustou, "Esmells like tee spirit" tocava ao fundo, tateou o colchão e achou seu celular em meio aos lençóis.
-Curte Rock?
-De paixão! Ela atendeu a ligação.
Satisfeito Victor esticou seu braço para da um toque aqui com o punho com sua irmã, que o retribuiu prontamente. A ligação apesar da distancia não tinha se quebrado.
"Ligação ON"
-Alô? Conte a boa Mirian?
-Estou na roça ainda! Suspirou pesado. -Fazendo o quê?
-Assistindo um filme com Victor. Victor dar gargalhadas porque o homem cairá em um buraco cheio de armadilhas de urso arrancando seus braços e pernas, ela o olha com desdém.
-Qual é, até uma criança notaria essa! Victor resmunga indignado com a burrice do personagem.
-Qual foi o milagre que a fez ficar dentro de casa?
-Apenas não estou afim de sair.
-Mentira pai a colocou de castigo! Gritou o outro ao seu lado.
-Calado que a culpa é sua!
-Ta no... Viva voz? Sua voz saiu tremida.
-Tá sim, o fofoqueiro ta aqui prestando atenção na conversa alheia. Riu com a cara de ofendido que ele fez.
-E o que os dois fizeram? Ela sorriu tímida com a discussão infantil dos irmãos.
-É fácil. Sorriu sarcástica. -Foi por que Meu lindo e doce irmãozinho trepou com a emprega no banheiro da cozinha! As palavras sairão calmas e sarcásticas enquanto o fuzilava com os olhos.
-Eu não a forcei a nada! Que fique bem claro. E mais uma vez o sorriso sarcástico de canto de Victor surgiu em seus lábios. Para Nalay o deboche era o segundo nome daquele infeliz.
-Ah... Entendi. A voz quase inaudível de Mirian foi como uma luz em sua consciência. – Preciso desligar até depois. Mal a deixou se despedir e desligou a linha.
"Ligação Off"
Por mais que se considerasse inteligente, as vezes sua burrice a superava, ela havia esquecido completamente da paixonite de sua amiga por seu irmão, e falou aquilo sem nem mesmo se dar conta. Como foi insensível com a amiga, as paixões de sua amiga sempre foi intensa, vinham do nada, sofria chorava como se o amasse a anos, ela era intensa demais e quando se apaixonava, não tinha quem a fizesse entender que era apenas algo platônico que logo passaria. Ela já se imaginava casada com dois filhos e um cachorro com o cara, era incrível e surpreendente, as vezes invejável, já que ela o máximo que já sentiu por um cara foi um desejo sexual fraquinho, a ponto de nem a fazer se tocar por ele. Mas ela sabia que sua amiga superava rápido também e logo logo superaria seu irmãozinho, apesar que ele era um Deus grego e seria um tanto difícil superar ele assim, mas ela sabia que no fim sua amiga conseguiria. Poderia demorar, mas conseguiria.
Nalay perdeu as contas de quantos filmes tinham assistidos. Só conseguia ver pela brecha da cortina que já tinha anoitecido. Aproveitou para seguir seu irmão nas redes sociais e bisbilhotar um pouco, o Instagram que ela tinha era o antigo que ele nem mesmo acessava mais, olhou algumas fotos e se surpreendeu, ele era modelo fotográfico, tinha mais de 2 milhões de seguidores e até que era bem ativo. Suas fotos eram perfeitas, agora entendia de onde vinha o dinheiro, também, bem pudera não é mesmo com esse corpo e rosto não era surpresa que fosse modelo.
Seu pai os chamou para jantar, na mesa duas caixas de pizza estava no centro e os três sentaram juntos. Apesar de seu pai sempre está viajando a negócios, ele sempre prezou muito a saúde e uma boa alimentação, uma ajudante do lar sempre era contratada para auxiliar nas refeições e organização da casa. Vendo que hoje a janta foi pizza, ele não teve tempo de cozinhar e a empregada havia sido demitida, não o dando escolha.
-Eu preciso conversar com vocês!
-Pode se abrir meu velho. A resposta de Victor foi imediata já colocando uma fatia na boca.
-Nem sei como dizer, principalmente por causa de Nay, mas entre minhas viagens conheci uma boa mulher e engatamos um relacionamento, a distancia desgasta muito nós dois e até pensei em nos mudarmos para a cidade dela. Ele massageou as têmporas visivelmente cansado. -Mas como sei que Nalay jamais aceitaria.
-Não mesmo! Victor a adverti cutucando com o cotovelo.
-Um relacionamento não funciona sem presença, pelo menos duas vezes no mês estarei indo para lá no fim de semana para está com ela. Completou esperando já a pior das reações de sua filha.
-E eu papai? Ela o questionou triste. -Não acha que já fico muito tempo sozinha, o senhor viajou toda a semana, o vejo raramente e tenho mais sua presença nos fins de semana e agora até isso terei que dividir?
-Nalay, estou ficando velho e...
-Isso é desculpa para abandonar sua filha?
-Deixa pai ser feliz criança. Victor intercedeu por seu pai, assim que viu a tristeza nos olhos do mais velho.
Bem pensei em deixar você na casa de sua mãe nos finais de semana ou quando precisasse, mas como seu irmão esta aqui, fico mais tranquilo já que um faz companhia pro outro, qualquer coisa vocês vão pra casa da mãe de vocês. Termina pai massageando com uma mão o ombro de Victor demostrando gratidão pela compreensão.
-Você não nos ama! Essa é a verdade. Afirmou com dor no coração, ele sabia de sua atual relação com o marido de sua mãe, não daria certo.
-Não fale assim... Eu amo você, amo vocês mais do que tudo nesse mundo, É só por enquanto, Victor está aqui para te fazer companhia. O Semblante de desespero e magoa se abateu no rosto cansado de seu pai e por instantes Nalay se sentiu culpada por está sendo egoísta com seu pai.
-Pois é minha maninha eu estou aqui pra cuidar de você. Ele tenta abraça-la mas ela o afasta ríspida.
-Serio, agora fiquei preocupada. Falou com desdém encarando seu irmão que agora a olhava com cara de "é sério?"
-Eu já não vou mais viajar tanto, ficarei mais em casa, estou contratando pessoas de minha confiança para assumiram as viagens, pretendo trabalhar mais de casa e passar mais tempo com vocês, por favor me compreendam. A suplica foi mais direcionada a garota emburrada a sua frente. -Também já achei uma nova governanta para casa, a conheço a muito tempo e irá ficar com vocês aqui quase tempo integral, como já é uma senhora mais de idade ela apenas ficará responsável pela alimentação e o restante ela mesma ira contratar pessoas para a limpeza periódica da casa, mas esses não serão fixos. Explicou o restante das informações, notando que sua menina ainda não havia mudado sua expressão fria de descontentamento, continuou. -Se quiserem pode ir comigo passar o fim de semana na casa de sua nova madrasta. Tentou descontrair com um sorriso cansado.
-Nem morta! Bateu o pé ficando em pé. -Está terminando de nos abandonar, nunca irei lá, não responderei por mim se ela vinher aqui, não pense em mim perto dela e por Deus espero que se sinta muito mal por está escolhendo uma qualquer da rua ao invés de seus filhos. Virou as costas subindo as escadas em passos firmes não deixando nem mesmo o seu patriarca abrir a boca.
-Desculpa ela pai. Victor abraçou seu pai visivelmente abalado. -Ela apenas está chateada irei conversar com ela, provavelmente ela se sente muito só.
-Eu nunca irei abandonar vocês, tenha certeza disso.
-Eu sei paizão, eu sei... Ambos se abraçaram em conforto. -Não se preocupe, o senhor merece ser feliz, ela vai entender aos poucos.
-Acho que terei que falar com a psicóloga dela sobre isso. Para tentar ajuda-la de alguma forma. Victor encarou seu pai incerto, sua irmã passou por muita coisa sozinha, talvez se ele estivesse com ela, isso nunca tivesse acontecido ou tivesse mas não a tivesse atingido tanto.
Depois de sua doença o relacionamento dos seus pais basicamente estava em uma corda bamba, não tinham condições para seu tratamento, viviam em hospitais, seu pai não conseguia apoiar sua mãe como deveria pois seu trabalho sugava muito seu tempo, as corridas durante a noite quando ele tinha alguma crise. Sua madrinha foi sua salvação, sempre quis ter um filho só que após ter as gêmeas, teve problemas no útero, logo um câncer e assim teve que tirar seu útero para salvar sua vida e evitar que o câncer voltasse futuramente, assim que soube das condições de seu afilhado e se propôs a cuidar dele, o adotando para assim ter direito ao uso de seu plano de saúde no exterior, seus pais não tinham escolha além de manda-lo para fora do Brasil para seu tratamento. Após isso, a sensação de impotência e o descontentamento na relação, além das centenas de brigas e apontamentos fizeram os dois se separarem e no meio de tudo isso, estava sua pequena irmã que por muito foi sendo ignorada no meio de toda essa confusão.
Algum tempo depois, Nalay retornou para a cozinha no intuito de pegar algo para comer. Saiu tão furiosa que nem se deu conta que não havia comido nada. Encontrou os dois ainda sentados a mesa, a semblante de tristeza e pesar que estava estampado no rosto de seu pai a fez doer seu coração. Ela o amava demais, não queria vê-lo assim, mas seu orgulho a impedia de pedir desculpas, era queria seu pai para ela novamente, sua presença era quase que uma passagem pela casa, apesar de ele sempre está lá em alguma necessidade o cotidiano e dia a dia, esse quase não existia. Pegou alguns pedaços e voltou para o seu quarto, alguns minutos se passaram e a presença de Victor na porta de seu quarto foi notada.
-Você pegou muito pesado, sabe disso né? Seu corpo inclinado estava sendo apoiado pelo ombro encostado na esquadria da porta, seus braços cruzados em frente ao peito.
-Eu sei!
-Então peça desculpas, ele também merece ser feliz.
-E eu não?
-Nós somos felizes, temos nossos pais, nossa família, ele nunca a ignorou e nunca a deixou de lado, apenas a vida quis que fosse assim.
-Falando assim faz eu me sentir ainda pior.
-Pelo menos você tem consciência.
-O problema é meu temperamento, as vezes falo sem pensar. Suspirou pesado.
-Venha... Ele chamou com a cabeça. -Dorme comigo hoje. Aquele com certeza foi o sorriso mais acolhedor que já recebeu. Derrotada aceitou com cabeça e saiu em direção ao seu quarto, realmente não queria dormir sozinha.