Capítulo 7 Vamos nos separar.

Ben

Estou agora dirigindo para casa. Deixei Olivia no tribunal de justiça para pegar o carro dela e agora estou indo para o último lugar que queria estar.

Ontem eu não levei Olivia a sério, ela me viu conversando com Tom mas provavelmente não ouviu tudo.

Eu não quero que meu irmão se case com uma mulher que não ama, porque casamento é difícil. Eu que amo a minha esposa, estou tendo dificuldades. Eu disse isso a ele, mas Olivia só ouviu uma parte.

Mas hoje, ela disse firme que não quer encontrar uma solução, ela quer acabar. Eu não sei porque concordei, eu só deixei ela desistir.

Estaciono na minha garagem e espero um pouco, pelo retrovisor vejo quando Olivia chega, saio do carro e ela sai também. No caminho, liguei para o trabalho e vou folgar o resto do dia. Entramos em casa em silêncio.

- Você está decidida Olivia? Porque a partir da sua decisão, eu vou agir - Ela tinha certeza, eu sabia.

- Não pega o caso do marido da Alexia, ou esquece ela e monta em cima de outro suspeito. Por favor Ben, eu me esforcei por isso, eu ganhei lindamente hoje. Se você tivesse visto, esse caso me deu uma emoção que eu não sentia há muito tempo - A Olivia tinha um péssimo defeito, ela sempre desviava quando era encurralada. Acho que isso faz dela uma excelente advogada.

- Te fiz uma pergunta - Eu sussurro. Ela senta no sofá e desaba, ela chora desesperadamente mais uma vez. Eu me sento ao lado dela - Eu te pedi para tentar. Eu te implorei, porque temos uma história, amor. Eu não posso deixar você ir, sem lutar. Luta comigo por favor.

- Ben, você não me ama. Você só não quer que o nosso casamento fracasse. E eu acho que sinto a mesma coisa. Quando penso em você agora, eu sinto raiva, eu fico estressada com tudo que você faz. E você comigo, coisas antes que gostávamos um no outro, agora não gostamos mais - Ela está certa, bom em partes. É muito confuso - Eu não consigo te dar o que você mais quer - Ela aponta para a barriga ainda chorando - Eu fico triste, mas acho que é o melhor que podemos fazer.

- Eu não quero ser pai de uma criança que você não seja a mãe - Agora eu estou chorando - Você está certa, agora eu me sinto frustrado a maior parte do tempo. Mas casamento tem altos e baixos.

- Ben, você se sente frustrado com a vida. Você odeia seu trabalho, odeia a sua profissão, vive estressado com tudo isso. E não é feliz comigo. Uma vez sua mãe me disse que eu devo ter o maior e melhor amor do mundo, que eu devo fugir de quem não me oferece isso...

- Mesmo se for o filho dela - Eu me lembro da minha mãe dizendo isso. Minha mãe disse o certo, eu não estou amando a Olivia como ela merece.

- É, precisamos de um tempo Ben. Nós nos acostumamos um com o outro e não estamos nos esforçando um pelo outro. Precisamos querer coisas novas e aquilo que nos faz feliz.

Ela tinha razão, eu não estava feliz. Eu não quero pegar esse caso, a grana é boa, mas é um saco e eu precisava entender o que vai ser de nós dois.

- Não quero o divórcio, não acho que isso vá fazer nós dois felizes. Muito pelo contrário, vamos sofrer e nos desgastar - A ideia do definitivo me assustava e doía - Mas vamos tirar um tempo para pensar ok? - Ela concorda comigo.

Eu subo as escadas, tomo um banho e tento esfriar a cabeça. Aproveito a tarde para ler uns relatórios.

A noite, ligo para o meu chefe e aviso que não vou pegar o caso do assassinato do italiano. Ele reclama bastante e sei que amanhã vou ouvir.

- Não vou pegar o caso - Olivia está na lavanderia e digo a ela - E a Liz me chamou ontem para almoçar e eu concordei. Estava desenvolvendo uma acusação na semana passada e ela me ajudou. Foi cansativo e como agradecimento disse que ia pagar o almoço dela. Ontem ela me mandou uma mensagem me cobrando, você pode olhar se quiser, e hoje de manhã ela queria saber o restaurante. Eu não tinha ideia e ela me levou lá , quando eu entrei, me toquei que era o seu favorito mas não dei importância. Me desculpa.

Eu fui na direção dela e a abracei. Ela me abraçou e beijou meu pescoço. Eu nem percebi que estava coçando.

- Eu acredito Ben - Ela Sussurrou - A gente já tem problema demais para ficar culpando a loira gata - Eu ri, ela riu e nos beijamos - Culpar ela e você, só pareceu mais simples do que confessar o que estava sentindo.

- Eu sei. "Loira gata"? Aposto que é coisa da Camila, acertei? - Eu digo brincando e me aproximo

- Acertou em cheio marido - Ela me beija novamente - Podemos pedir uma pizza? - Eu concordo com a cabeça.

Quando a pizza chega comemos em silêncio. Quando acabamos, nós fomos para o quarto e cada um ficou do seu lado da cama.

- Qual o seu maior sonho Ben? - Olivia me pergunta, enquanto todas as luzes estão apagadas.

- E essa pergunta veio da onde? - Pergunto de volta e ela ri.

- Sabia que você não pode responder uma pergunta com outra pergunta? - Agora eu estou rindo - Pensa numa coisa que você sempre quis fazer, sempre quis realizar. Acho que nunca te perguntei isso - Ela nunca me perguntou isso, conheço Olivia há 22 anos e sei tudo sobre ela, ou quase tudo. Conheço o jeito, as ações e as falas. Mas não sei qual o maior sonho dela.

- Merda.

- Viu? A gente vai ter que recomeçar se quisermos que isso dê certo - Ela vira para mim e as luzes de fora iluminam o rosto dela - Tipo, podemos usar nosso tempo para nos conhecermos, um ao outro e a nós mesmos. Que tal?

- Tipo, vou namorar com a minha esposa?

- É, gostei disso. No início do namoro, e tudo bem que foi há 20 anos, eu tentava te agradar e te conquistar cada vez mais.

- E conseguiu - Ela me dá um tapinha

- Mas como eu já tenho você, eu me acostumei e comecei a não me importar com ser interessante para você ou conhecer você. Então se vamos fazer esse tempo valer, quero conhecer o Benjamin de 34 anos. O que você mais gosta de fazer?

Eu estava rindo, não acho que isso vá funcionar mas entro na dela.

- Tá beleza, eu gosto de ficar de folga.

- Que chato Ben. Eu não marcaria um outro encontro com você - Eu caio na gargalhada.

- Tá bom, tá bom. Puts. Tá, eu gosto de assistir filmes, isso todo mundo gosta né. Ok, tá - Ela estava rindo de mim e tão relaxada - Eu gosto de correr, tipo muito mesmo. Gosto de ler, essa me deixa interessante vai?

- Ben, você vai ter que descobrir o que gosta. Porque se não esse vai ser nosso último encontro. E eu até te achei gatinho, mas sem conteúdo, não rola.

Eu ri, mas estava pensativo. Eu não sei o que gosto de verdade. Meus interesses e o que me faz feliz. Como ela vai se apaixonar por mim de novo, eu não sou mais interessante para ela.

Um silêncio se instaurou no quarto. Mas eu sabia que ela ainda estava acordada.

- Você gostava de acompanhar fórmula 1, quando era mais novo? Eu me lembro - Eu ainda gosto de carros - Faz um tempo que não te vejo assistindo as corridas. Não gosta mais?

- Não sei Liv, acho que você está certa sobre tudo isso. Não sou interessante nem para mim mesmo e por isso deixei de ser para você. Estou frustrado constantemente com a minha vida e na minha cabeça você era a única coisa que tinha certeza. Questionando o meu amor por você, eu questiono tudo o que eu sou. Mas vou me esforçar para ser melhor. Eu quero viver melhor - Eu respiro fundo - Agora parece que eu só existo - eu sussurro por fim e a Olivia vem me abraçar e dormimos assim mais uma vez abraçadinhos.