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Na manhã seguinte, Fernanda estava desolada.
Toda vez que olhava para Patrícia sentia um culpa inexplicável. Por fim, sem conseguir segurar o sentimento angustiante por mais tempo, chamou a amiga no horário do intervalo e confessou.
- Me desculpe.
Patrícia ficou calada por um tempo. Depois suspirou.
- Eu sei que tem um tempo que a gente não namora mais, não vou mentir que estou sentindo um pouco de ciúmes, mas acho que está tudo bem. Agora, vocês vão namorar e tal?
Aquela pergunta... aquela pergunta que a assombrava. Será que ele queria namorar? Será que ela queria namorar? E de repente, Fernanda sentiu que queria, se ele pedisse, ela aceitaria.
Porém, aquela velha e amiga síndrome do impostor se fez presente, ela sentia insegurança e achava que não era merecedora de Rafael, afinal, ele era bonito demais para ela, inteligente e legal demais para Fernanda, assim ela pensava. Dessa forma, fez o possível para evitar-lo nos dias que se seguiram. Não queria se decepcionar se ele resolvesse fingir que não havia acontecido nada.
E assim ocorreu, após alguns dias, ela finalmente teve coragem de encarar Rafael, e ele fingiu que nada tinha ocorrido.
Fernanda se sentiu péssima, a indiferença dele a machucava. Pensamentos negativos assombravam sua mente, achava que era gorda demais, feia demais, burra e emocionalmente desestruturada. Uma pessoa assim não era capaz de manter o interesse de alguém como Rafael, estava certa disso.
Acostumada com essa sensação de derrota. Recorreu à única forma de voltar a se sentir bem.
No dia seguinte, ficou com Fábio.
E as coisas voltaram a ser como antes, Marcos ainda contava piadas e fazia propostas que nenhum dos dois tinha vontade de aceitar, Patrícia ainda sofria com outro término de namoro. Fábio, porém, se tornou um pouco mais constante na rotina de Fernanda, ela sempre estava com ele, antes o que era esporádico se tornou frequente, os dois eram vistos sempre juntos, de mãos dadas ou conversando de forma mais íntima. Ele ainda namorava, ela ainda recusava assumir qualquer coisa com ele. Esse acordo era vantajoso para os dois.
E assim, mais um ano novo se passou.
O retorno às aulas se deu de forma tranquila no ano seguinte. Sem pressas, sem aperreio. Os alunos do quarto ano tinham suas aulas apenas no período noturno, Rafael e Marcos, então, não estavam tão presentes quanto antes. Fernanda se acalmou um pouco, mas as lembranças daquela noite na praia vez ou outras surgiam como uma tempestade.
No final do primeiro mês de aula, foi necessário que os alunos do matutino tivessem aula no turno vespertino. Assim que a aula acabou, Fernanda e Patrícia permaneceram um pouco no pátio. Estavam conversando quando Rafael se aproximou, sorrindo.
Fernanda sentiu-se um pouco constrangida. Mas logo se recompôs.
- Eu tenho que ir. - disse Patrícia.
- Eu também. - Fernanda emendou.
De repente, Rafael segurou a mão dela.
- Eu te levo na parada.
Cabisbaixa, ela seguiu até a parada de ônibus, Patrícia foi na direção oposta, ficando apenas eles dois.
- Você quer ficar comigo de novo? - Ele perguntou.
Aquela pergunta a pegou de surpresa. Ele queria ficar com ela novamente? Porque ela queria sim, sempre quisera ficar com ele outra vez. Assim, sem pestanejar e recuperando aquela sua velha e conhecida determinação e impulsividade, assentiu.
- Quero. - respondeu - Vamos procurar um lugar mais tranquilo.
Sua intenção não era apenas ficar nos beijinhos, Fernanda queria recuperar a sensação do toque dele. Havia sido algo novo para ela e deixara um gosto de "quero mais". Focada nesse objetivo, racionalizou e estabeleceu um plano. Iria com ele até uma praça nos arredores da escola, da última vez que estivera lá haviam bancos e a iluminação era fraca. Lugar perfeito para ele repetir o que tinha feito na praia!
- Tem uma pracinha aqui perto que é bem escura, dá pra gente ficar.
Ela então caminhou na frente, seguida por um silencioso Rafael.
Chegando lá, Fernanda se decepcionou, aparentemente, a prefeitura havia feito seu trabalho e colocado iluminação na praça, tonando inviável qualquer privacidade para os dois.
Chateada, ela encabeçou o retorno de onde vieram. Concentrada na sua frustração, não percebeu que até aquele momento, não havia sequer segurado na mão de Rafael, que estava andando ao seu lado como dois amigos em direção, sei lá, ao supermercado comprar feijão. Logo, surpreendeu-se quando sentiu ser puxada para trás.
Rafael, que vinha mais recuado, seguindo-a docilmente, havia segurado a sua mão a fazendo-a voltar-se, em seguida, a puxou contra si e a beijou, ali mesmo, no meio da calçada cheia de gente.
Ali mesmo, eram apenas eles dois.