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Com o início do namoro da amiga com Rafael, Fernanda se sentia cada vez mais sozinha.
A escola, por sua vez, exigia muito e alguns dias da semana era necessário que os alunos permanecessem em dois turnos de aula.
Sendo assim, ela se aproximou mais e mais de Fábio.
Ele era um rapaz educado, bastante simpático, fazia tudo o que ela pedia. Isso era conveniente para Fernanda.
Era impossível não perceber que Fábio gostava dela. Algumas vezes, ela mesma se aproveitava disso para ter algumas regalias, que iam de aulas de matemática até massagens nos pés. Ele não lhe negava nada.
Uma das tardes em que ela precisou ficar no segundo turno, Fábio lhe fez companhia.
Patrícia havia ido para casa, Rafael a acompanhara até a parada.
A arquibancada era um lugar bem famoso para descansar, alguns alunos iam para dormir, outros para estudar. Ali era tranquilo, com uma falsa ideia de privacidade, mas sempre haviam pessoas treinando no campo e na pista de atletismo ou um zelador fazendo a ronda para evitar que os adolescentes usassem aquele lugar para namorar. Costumeiramente, eles frequentavam aquele espaço para estudar.
Fernanda e Fábio escolheram os últimos bancos, sentaram-se e abriram seus cadernos.
- O que você quer estudar primeiro?
- Matemática. - ela respondeu, rapidamente.
Cerca de uma hora depois, as costas dela começaram a doer. Fernanda demonstrou desconforto, tentou aliviar a dor esticando-se para trás e alongando os braços. Tudo sob o olhar atento de Fábio.
Não a julguem mal, ela não era uma menina má, Fernanda nem sabia exatamente o que era ser má. Suas ações eram guiadas por um misto de insegurança e vontade de se sentir amada. Seus conceitos de amor e aceitação eram deturpados por sua baixa auto-estima, acreditava que quanto mais desejada, mais seria feliz. Ela vinha de uma história de abandono paterno, talvez por isso, a figura masculina fosse tão importante para ela. Porém ela era tola, bem tola na verdade.
Nos olhos dele, ela viu a admiração que tanto buscava.
- Posso deitar no seu colo? - perguntou.
Fábio prontamente disse que sim.
Assim que a cabeça dela repousou sobre as pernas dele, Fábio começou a acariciar seus cabelos. Traçou o contorno de seu rosto com a ponta dos dedos, circulou os lábios cheios com os polegares. Fernanda estava com os olhos fechados. Ela sabia o que significava aquele carinho, ela sabia que ele pediria para beijá-la, estava com um pouco de medo, se ele a beijasse e ela gostasse? E se depois ele simplesmente não quisesse mais ficar com ela? Em meio à essas perguntas tolas que assombram a cabeças das adolescentes, Fábio finalmente perguntou.
- Eu posso te beijar?
Ela ainda pensou por um tempo, imaginou que complicações aquilo traria, que eles nunca mais seriam os mesmos, que se desse errado, ela estaria sozinha novamente na escola. Mas ela queria ser beijada.
Claro que não seria seu primeiro beijo.
Seu primeiro beijo havia sido com um rapaz chamado Sérgio, na praia, aos 12 anos de idade. Ela tinha o visto na praia e havia decidido que iria beijá-lo e assim o fizera. Depois de Sérgio, viera tantos outros beijos que ela nem se lembrava.
Mas aquele não seria com um ilustre desconhecido, seria com um amigo, alguém presente no seu dia-a-dia, alguém que ela veria no dia seguinte e no seguinte. Eram tantas as incertezas, que não conseguiu falar, apenas assentiu.
O beijo de Fábio era longe de ser terno. De alguma forma, sem que ela percebesse, ele a sentou no próprio colo e a envolveu nos braços, parecia querer fundir seus lábios com os dela. Durou apenas alguns minutos antes que um dos zeladores da escola aparecesse e desse uma bronca nos dois. "Não pode namorar na escola".
Constrangidos, eles juntaram seus materiais e Fábio se ofereceu para deixá-la na parada de ônibus.
Todo o percurso ele segurou sua mão e enquanto esperavam o ônibus, ele a abraçava, beijava a sua testa e acariciava seus cabelos. Ele parecia tão feliz e satisfeito.
Mas Fernanda não compartilhava aquela alegria toda. Ela simplesmente se sentia igual a antes do beijo, com o adicional de um constrangimento que não sabia explicar.
Ela somente não sentia nada por ele.