Capítulo 6 O ano seguinte

Após o episódio da moto, Fernanda ficou com Fábio ainda algumas vezes, ele estava ciente de que ela não iria corresponder seus sentimento, mas isso era o suficiente para ele, estar com ela quando ela permitisse. Ele deixava claro o quanto era devotado a ela e isso dava a Fernanda um pouco de segurança, alimentando sua auto-estima. Ela sabia que se desse errado com as outras pessoas de sua vida, Fábio sempre estaria ali para ela, não importava o que ela fizesse ou com quem ela ficasse.

Em meados de junho, Fernanda começou a se relacionar com um outro rapaz, um vizinho de sua casa. Gustavo era um ano mais velho, ele era alto e bonito, a pele bronzeada e os músculos estranhamente desenvolvidos para um adolescente de 17 anos.

Novamente, Fernanda viu nos olhos dele a mesma devoção de Fábio. Porém, aquilo a entendiou.

Gustavo era agitado, extrovertido e comunicativo. Muito mais alto que Fernanda, ela se sentia perdida dentro do abraço dele. Ele também era muito apaixonado em suas demonstrações de carinho, os beijos e abraços eram sempre muito intensos, a pele sempre se tocava e vez ou outra a comprimia contra o próprio peito de forma dolorosa.

Ele não era violento, sempre parecia muito feliz por finalmente Fernanda ter dado uma chance para ele.

Um dia ele chegou com um presente, na porta de sua casa. Fernanda achou estranho aquilo.

- Você quer ser minha namorada? - Gustavo perguntou.

Era uma pergunta tão simples. Mas Fernanda já tinha dito aos amigos que estava namorando Gustavo, então ficou surpresa que para ele o relacionamento não fosse o mesmo.

Aquela simples e despreocupada pergunta, desencadeou nela um sentimento de contrariedade que ela mesma não pôde conter. Como, para ele, ela não era a namorada? Ela era o que então? A outra?

Assim, a única resposta que conseguiu dar foi a seguinte:

- Não quero namorar. Se você quiser, podemos ficar.

Ele pareceu confuso, cabisbaixo, pensou algum tempo e apenas respondeu:

- Não quero ser seu ficante, quero ser seu namorado.

- Então não dá certo.

Com essas palavras e uma expressão fria no rosto, Fernanda terminou o primeiro "quase namoro" que teve.

Por mais que aquela fosse uma situação recorrente, terminar com Gustavo foi um fator desestabilizante para ela. Fernanda sentiu-se culpada novamente por não corresponder o sentimento de outra pessoa.

Passou então a imaginar que não conseguia "sentir" como as outras pessoas, buscou em sua memória se em algum momento, mesmo que brevemente, havia sentido que amava ou ao menos, gostava de alguém. E a resposta era sempre "não".

A realidade a assombrou, ela não amava ninguém, ela não gostava de ninguém. As amigas que sofriam por términos de "namoricos de duas semanas" lhe causavam inveja, porque ela, Fernanda, não sentia ligação romântica com ninguém.

Perplexa, fez uma lista mental sobre todos os caras que achou que amava e colocou num papel tudo que tinha feito com eles, se sentiu horrorizada com a própria frieza.

No dia seguinte, chegou na escola 15 minutos antes de iniciar a aula, sentou-se numa mesa do pátio para esperar o sinal tocar. Nenhum de seus colegas havia chegado. E foi assim, frustrada e sozinha, que Marcos a encontrou.

- Tá tristinha por que?

- Eu descobri que sou uma pessoa ruim.

- Como assim?!

- Eu trato meus namorados de forma ruim.

Marcos riu, a abraçou e deu um beijo em seu pescoço.

- Você não é ruim, só é safada!

Fernanda gargalhou, nesse momento, Rafael se aproximou dos dois.

- O que é tão engraçado?

- Nada, só seu irmão dizendo que eu sou safada.

Fernanda não saberia dizer que expressão Rafael fez naquele momento, ela não prestava muita atenção à ele, até então. Mas ele não respondeu ao comentário, apenas se sentou no banco logo abaixo de onde ela estava e apoiou o braço na perna dela.

Pouco depois o sinal tocou.

            
            

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