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Era a primeira vez que Fernanda entrava num motel, achou o quarto um pouco sem graça, escuro e com cheiro de água sanitária. Ninguém havia pedido suas identidades para confirmar se eram ou não maior de idade. Apenas os deixaram passar.
Assim que ele fechou a porta, a abraçou por trás, levando-a para a cama. Ela se deixou guiar, os toques dele eram calorosos e urgentes, nada terno como antes. Em pouco tempo ele havia se despido e tirado a roupa de Fernanda sem que ela nem percebesse.
"Rápido demais", ela pensou. Não que não estivesse aproveitando cada carícia e curtindo cada beijo. Era divertido, mas estava indo rápido demais. Dúvidas começaram a se formar. Mas como ela diria para o cara que estava deitado sobre ela, pronto para colocar a camisinha, que ela não estava tão certa sobre querer aquilo?
Ela sorriu, tentando disfarçar seu nervosismo, em sua mente, só buscava uma forma de sair dali.
Rafael estava deitado de costas, pediu sua ajuda para colocar a camisinha. Fernanda ajudou.
"Muito rápido, muito rápido... eu tenho que parar isso!", ela pensava, mas continuava a fazer o contrário, continuava a aceitar e retribuir as carícias. Ela estava com vergonha de dizer que era virgem e pedir que ele parasse.
Em dado momento, quando ele iria iniciar a penetração, ela tirou as mãos dele que agarravam e guiavam seus quadris e as segurou acima da cabeça loira de Rafael, inclinou-se e o beijou nos lábios.
- Você está me deixando louco.
- Não, impossível. Eu sou um anjo.
Aquele era o jargão preferido de Fernanda, o "eu sou um anjo" ao mesmo tempo que assumia a culpa, a eximia de punição.
- Você tem rosto de anjo, mas não age como um.
Um silêncio longo se seguiu, Rafael a olhava atordoado, como se tivesse percebido que algo em suas palavras não fora bem recebido.
- Tá certo!
Fernanda se levantou, recolheu sua roupa e foi se trancar no banheiro. Antes de fechar a porta, no entanto, olhou para a cama, Rafael estava deitado, nu, na mesma posição em que o havia deixado. Fitando o teto com um olhar indecifrável.
As palavras despretensiosas de Rafael foram a desculpa perfeita, pois a magoaram na medida para não ser muito doloroso, mas o suficiente para servir de motivo para interromper o que estava acontecendo sem precisar se sentir culpada.
Ficou trancada no banheiro por uns 10 minutos, feliz por ter conseguido parar a tempo. Nem uma gota de culpa circulou em seu corpo, naquele momento, não tinha vergonha de dizer e nem mesmo nos anos que se seguiram, ela fizera o que tinha que ser feito e pronto. Estava plena e satisfeita consigo mesma, apenas esperando que Rafael refletisse e assumisse a culpa pelas palavras cruéis.
Tão certo quanto a chuva, ele bateu na porta fechada.
- Você está bem?
- Sim, estou.
- Quer sair pra gente conversar?
Fernanda tentou usar uma expressão magoada, mas ele deve ter percebido que ela realmente não estava triste ou talvez tenha pensado que tudo aquilo tinha sido parte de um esquema dela para o humilhar. Ela não soube o que se passara na cabeça dele, mas tomou a maior bronca de um homem na sua vida. Nenhum outro homem até durante sua vida adulta ousaria passar tal sermão nela.
Tinha que admitir que ele estava coberto de razão, ele perguntou se ela sabia que estava numa posição vulnerável em relação a ele, que se ela não tinha intenção de ir até o fim, não fosse até um local tão privado com um homem. Nesse momento, Fernanda sentindo-se humilhada, retrucou:
- Você não faria nada de mal comigo.
- Eu não estou falando de mim! - esbravejou, Rafael.
Com raiva e vergonha do sermão, Fernanda fez o que qualquer adolescente burra e insegura faria, procurou a frase que mais o magoaria naquele momento.
- Os outros também não fizeram nada.
Rafael parou por um instante, respirou fundo e perguntou:
- Você já fez isso antes?
- Sim.
Não era uma total verdade, nem uma total mentira. Mas Fernanda nunca tinha se permitido ficar sozinha com um cara com o qual não pudesse lidar.
Rafael suspirou. Parecia vencido.
- Vou pedir um táxi pra gente ir embora.
Quando estavam saindo, ele estava com raiva. Fernanda sentou-se o mais longe possível dele dentro do carro, olhando fixamente pela janela. Quando estavam quase chegando ao shopping, ele esticou o braço e com o indicador, tentou sentir se haviam lágrimas em sua bochecha. Sobressaltada, ela o olhou perplexa.
- Eu não estou chorando.
Ele então se virou e fitou o lado de fora da janela.
O taxista os deixou na parada de ônibus do shopping. Enquanto esperava seu transporte, Rafael lhe fazia companhia. Os braços cruzados sobre o peito, a expressão fechada, evitando olhá-la.
Fernanda se sentiu culpada, tentando ser carinhosa, repetiu o gesto dele no carro, ele a rechaçou friamente.
- Pare.
- Você está com raiva? - Ela tentou novamente fazer um carinho na cabeça dele. Que também foi repelido.
- Pare com isso.
Cada palavra foi dita num tom frio e firme. Fernanda ficou calada e quieta a partir de então.