Eu o deixei para trás balbuciando sobre responsabilidades e outras merdas sozinho e procurei um dos meus parentes para me explicar algumas coisas.
― Você parece triste. ― Jane disse no quintal da casa de Nancy Reston depois de eu contar um resumo da conversa com Steve Brown.
Kevin Reston manteve seu braço ao redor da minha tia e me lançou um olhar cauteloso. Eu não poderia culpá-lo. Ele se lembrava de mim como um adolescente idiota que eu era quando ele se voluntariou para ajudar o time de futebol do colégio de Hawk Valley.
― Fui pego de surpresa. ― Eu disse, percebendo que não estávamos sozinhos no quintal. Um cachorro e uma garotinha estavam pisando nas flores de Nancy. Já tinha visto a garotinha algumas vezes por perto nos últimos dias para reconhecê-la como a filha da Kathleen.
Tentei organizar meus pensamentos.
― É muita coisa para digerir.
Tinha que ser o eufemismo do século. O relacionamento com meu pai era uma droga. Sempre presumi que ele não me olhava com muito respeito. Ele mesmo me falou tantas vezes. Então por que raios ele me nomearia o guardião de Colin? Tinha que ter outras opções.
Não meus avós. Eles estavam mortos há anos. A mãe de Heather se foi. Câncer ou algo assim. Seu pai malandro ainda estava vivo, mas ouvi que ele estava morando em Idaho e resmungou "vadia estúpida" quando viu no jornal que sua única filha estava morta. Ele nem tinha vindo ao funeral.
E não Jane. Ela teria sido a escolha óbvia. Se ela fosse estável. Minha tia era uma boa pessoa, mas quando eu estava no ensino médio ela passou nua pelo restaurante Chicken Delight próximo de Boland gritando "Parem a carnificina! Salvem os frangos!". Jane não era uma cuidadora. Jane era uma pessoa que precisava de cuidados.
Eu ainda não entendia como eu fui parar no topo da lista. Chris e Heather Ryan viveram em Hawk Valley durante a vida toda. Eles não podiam andar até a caixa de correio sem tropeçar em meia dúzia de amigos. Pelo menos alguns deles tinham emprego fixo e instintos paternos.
Kathleen, por exemplo.
Quando a encontrei na cozinha alguns minutos atrás, ela parecia estar em uma propaganda sobre maternidade, o tipo de mulher que apareceria em um comercial de cenourinhas orgânicas, ou algo do tipo.
― Você vai ter que ficar na cidade agora. ― Jane disse e percebi que a ideia a fazia feliz. Ela tomou como certo que eu me lançaria na chance de abandonar minha vida antiga e virar um pai momentâneo.
Porra.
Passei a mão pelo meu cabelo úmido e tentei pensar. Eu nunca tinha trocado uma merda de fralda.
Levantei os olhos e vi que Kathleen Doyle estava me observando pela janela da cozinha. Nos braços dela, meu irmãozinho continuava feliz sugando a mamadeira. Ele não sabia que era órfão. Ele não sabia que a infância feliz e tranquila que seus pais imaginaram para ele se foi.
Eu era uma pessoa egoísta. Alguns podem me achar perigoso. Mas meu coração não era frio o suficiente para não sentir nada por aquele ser humano minúsculo que agora era minha responsabilidade. Meu pai e Heather sabiam o tipo de homem que eu era. Se eles deixaram Colin sob meus cuidados, era porque eles não tinham uma opção melhor. E, de qualquer forma, eles deviam pensar que isso nunca aconteceria. Eu tinha sido escolhido por precaução.
― Nash? ― Jane chamou porque eu virei bruscamente e voltei para a porta da cozinha.
Colin tinha terminado a mamadeira e Kathleen estava dando palmadinhas nas costas dele. Ela observou assustada quando eu entrei no cômodo de novo. Eu não tinha certeza do que ela pensava sobre mim, mas eu também não ligava muito. Eu tinha apenas uma prioridade agora e não era ela.
― Posso segurá-lo agora? ― Perguntei.
Uma sobrancelha levantou de surpresa e ela olhou de relance para Colin como se ela quisesse ouvir o que ele tinha a dizer sobre isso. Depois ela concordou e levantou facilmente da cadeira barulhenta.
― Claro. ― Ela disse, dando três passos graciosos.
Eu me estiquei, mas ela recuou e me deu um cobertor.
― Você ainda está molhado da chuva, então cubra o peito. E espera, coloque seus braços perto do corpo. Você está segurando um bebê, não pegando uma bola.
Kathleen Doyle certamente gostava de dar ordens, mas eu estava disposto a aceitar uma ajudinha. Se ela achava que eu não sabia o que estava fazendo, ela estava certa. Mas eu aprenderia. Eu aprenderia tudo que precisasse.
Colin choramingou de protesto quando foi tirado do conforto dos calorosos braços de Kathleen para o meu colo estranho.
Pensei que ele fosse mais pesado. Ele olhou para mim e um franzido surgiu na testa, como se ele se questionasse o motivo de estar no colo de um estranho com a barba por fazer. O cabelo na cabeça era pequeno e loiro, como o de sua mãe. De repente tive a lembrança de Heather jogando o seu para trás e rindo de alguma coisa. Foi algo que eu disse, mas eu não conseguia lembrar o que. Eu não era um cara engraçado.
Se bebês eram capazes de duvidar, definitivamente era dúvida nos olhos dele. Ele não pegou aqueles olhos de Heather. Eles eram azuis claros, como os de meu pai. Como os meus. A boca dele se franziu de repente e eu pensei que ele choraria.
― Está tudo bem. ― Eu disse. ― Sou eu. Seu irmão.
Tentei tocar sua bochecha, mas ele pegou meu dedo, enrolando sua mão com mais força do que eu podia esperar.
― Não se preocupe, Colin. ― Eu disse com uma confiança que eu não sentia. ― Não vou a lugar nenhum.
Era verdade. Eu realmente não iria a lugar nenhum. Eu não poderia levá-lo ao meu apartamento minúsculo de um quarto ao lado do oceano. A vida que eu tinha era solitária e às vezes ótima e acabou. Os pais de Colin queriam que ele crescesse aqui e não havia mais ninguém para fazer esse trabalho.
Minha vida tinha sido irrevogavelmente alterada e eu sentia a necessidade de contar a alguém. Levantei o olhar e vi Kathleen Doyle me observando.
― Eu vou ficar aqui. ― Falei para ela, caso ela ousasse discutir comigo.
Ela não fez isso.