Eles não saíram do quarto por dois dias. Contando com o serviço de quarto, eles usaram cada superfície da suíte. Riyad não poderia ter encontrado um jeito melhor de passar o final de semana. Não só ela não tinha ideia de quem ele era, mas parecia não ter qualquer plano de um futuro com ele. Ele estava surpreso porque ela não tinha feito nenhuma pergunta de natureza pessoal, mas, só para garantir, em uma das vezes em que ela foi ao banheiro, ele pegou o passaporte da bolsa dela e tirou uma foto, pretendendo fazer uma verificação de antecedentes... no entanto, não teve coragem. Em vez disso, ela a recompensou usando a boca e a língua para rastrear cada centímetro da pele dela. Ele podia não saber nada sobre a vida dela, mas agora conhecia cada ponto sensível do seu corpo.
Normalmente, ele estaria satisfeito depois de uma noite se fartando com uma mulher, mas tinha alguma coisa diferente em Danielle. Não importa quantas vezes ele transasse com ela, era uma questão de tempo até que uma simples olhada na direção dela o fizesse ficar duro como uma pedra, de novo.
Com um gemido suave, ela se mexeu dormindo e roçou nele. Esticando o braço para segurar o seio dela, ele se aquietou quando ouviu o celular vibrar.
Apenas duas razões levariam alguém a telefonar para ele uma hora antes do amanhecer. Sua família ou a agência, e ele não tinha condições de ignorar nenhuma delas.
Relutante, ele rolou até a mesinha de cabeceira e olhou o celular. Era o seu contato, Atif, com um horário e um lugar. O local ficava a cerca de uma hora de distância, não deixando tempo para despedidas.
Melhor assim. Despedidas não eram seu forte.
Silenciosamente, ele pegou suas roupas e se vestiu. Querendo se certificar de que Danielle não voltasse para aquele buraco em que ela estava originalmente, ele deixou um bilhete curto, dizendo que o quarto era dela por quanto tempo quisesse. Ele não gostava da ideia dela, sozinha, em um lugar como o Rose Towers.
Não que ele estivesse se apegando. Estava apenas cuidando dos turistas no seu reino.
Ela não se mexeu quando ele abriu a porta e se virou para vê-la uma última vez. Riyad não tinha intenção de se encontrar com ela de novo, e queria cimentar a imagem dela na memória. Cada curva e cada ângulo. Ela era uma amante de que ele nunca se esqueceria, embora não soubesse por que ela o tinha afetado tanto assim.
Depois de fechar a porta com cuidado, ele correu para fora. Tinha providenciado para que o palácio buscasse seu carro, então chamou um táxi. Apesar de saber que o smoking estava atraindo um pouco de atenção, não estava preocupado. Mesmo que o motorista o reconhecesse, Riyad pagaria muito bem para que ele ficasse calado.
O primo de seu pai, Atif, estava aguardando por ele dentro da casa de chás. O homem mais velho era o seu contato dentro da agência e o ajudava a manter seu disfarce. Era relativamente fácil. Seu pai tinha se desentendido com Atif anos atrás, então Riyad e seus irmãos não eram próximos a ele. Não era incomum que eles se encontrassem casualmente em eventos públicos, e seus irmãos não questionavam Atif muito a fundo quando Riyad estava fora.
O homem mais velho fez uma cara de desaprovação quando viu Riyad.
- Não achou tempo pra ir pra casa e se trocar depois da festa de gala?
- Aconteceu uma coisa - Riyad disse alegremente. - O que era tão importante a ponto de você me dar só uma hora pra chegar aqui?
Atif deslizou uma foto através da mesa.
- Meu contato conseguiu. No outro dia, você entregou um formulário de atividades de uma pessoa de interesse. Meu contato o identificou.
Riyad cerrou a mandíbula ao levantar a foto. Ele conhecia bem o homem.
- Miksa Antar. Negociante abastado em Al Aqa. - Ele estreitou os olhos ao levantar a cabeça para encontrar o olhar atento de Atif. - Eles são nossos aliados, então por que estamos rastreando os movimentos de Miksa?
- Porque você estava certo. - Atif olhou ao redor do restaurante deserto e abaixou a voz. - A rebelião ainda está viva, e acredito que Miksa não só a está financiando, como é o líder.
Riyad enrijeceu.
- Você vai precisar de mais do que a sua convicção se vai acusar Miksa de liderar uma rebelião no nosso reino. Isso poderia começar uma guerra.
Atif aquiesceu lentamente.
- Verdade, e é por isso que preciso de você. Tudo que eu tenho é circunstancial. Aparições e jantares com membros conhecidos da rebelião não são suficientes. Preciso que você consiga informações confiáveis.
Riyad tamborilou os dedos na foto, encarando-a.
- Não vai ser fácil. Minha família fez negócios com Miksa no passado. Ele vai me reconhecer facilmente - ele acrescentou ao empurrar a foto para longe. - Além disso, se Miksa queria uma rebelião aqui, teve muitas oportunidades antes de agora. Nosso reino nunca esteve mais estável.
Recostando-se no assento, Atif acariciou a longa barba e deu de ombros.
- A rebelião tem promovido conteúdos religiosos e tradicionalistas, mas Miksa é progressista. Eu sinto que tem a ver com dinheiro. Há rumores de que os investimentos mais recentes dele foram com o negociante de armas alemão, Schlang. Começar uma guerra entre dois reinos independentes criaria uma instabilidade lucrativa nesta região.
- Não. - Riyad balançou a cabeça veementemente. - Não é possível. Miksa tem a reputação de ser um bom homem. Ele nunca se envolveria com o comércio de armas e certamente não começaria uma guerra pelo lucro.
O sorriso de Atif não era de contentamento.
- Talvez você não o conheça tão bem assim.
- Atif - Riyad resmungou.
Atif levantou a mão.
- Cuidado. Eu ainda sou seu superior. Reunir mais informações poderia servir pra provar a inocência dele. Posso manter isso entre nós até que tenhamos mais evidências.
Riyad olhou para fora da janela e juntou as mãos em um triângulo.
- Meus irmãos estão desconfiados. Tem sido fácil me esquivar deles com as distrações da filha de Bahir e do casamento, mas agora as coisas estão se acalmando e eles vão querer saber da verdade. Eu me envolvi muito no resgate da Aisha. Eles vão querer saber onde eu consegui minhas informações e quem são os meus contatos.
- Manter segredo pra sua família nunca foi necessário. Fique à vontade pra contar a eles. Aliás, não sei porque você não contou pra eles.
Riyad queria provar sua capacidade antes de contar aos irmãos. Ele era bom. Mais do que bom, mas o desprezo deles pelo estilo de vida que ele levava ajudava bastante a manter seu disfarce. Por mais que machucasse ver a desaprovação nos olhos deles, ele ainda não estava pronto para contar.
- Vou dar uma sondada em Miksa. Lembre-se de manter isso entre nós. E quanto aos meus irmãos, deixe isso comigo.
- Ótimo. Tenho um carro a caminho pra você usar. Enquanto isso, por que não toma uma xícara de chá e me conta onde esteve nos últimos dois dias?
Balançando a cabeça, ele se levantou.
- De jeito nenhum. Vou pegar café na esquina. Já volto.
Ao se afastar, ele ouviu a risadinha de Atif. O homem sabia como aborrecer Riyad.
Do lado de fora, ele respirou profundamente. Era bom que eles estivessem chegando mais perto. Era bom que tivessem uma pista, ainda que fosse improvável.
Contudo, ele estava com a estranha sensação de que preferia estar no hotel, enrolado nos lençóis com a linda mulher que tinha acabado de conhecer.
Danielle largou o bilhete rabiscado e mordeu o lábio inferior. Não foi uma surpresa acordar e ver que Riyad tinha sumido. Na verdade, surpreendente foi ele ter ficado tanto tempo. Ela percebeu que ele não era o tipo de homem que se mantém por perto.
A suíte do hotel era ótima, mas ela não poderia abusar da generosidade dele. Não era justo. Ela procuraria por um outro lugar ainda hoje.
Vestindo calças jeans, uma blusa larga e o hijabe, Danielle fez uma parada no térreo para um almoço rápido e saiu. O sol já estava a pino quando ela pisou na calçada, e ela foi atraída pelas vozes e pela música que se infiltrava de depois da esquina. O mercado local estava em plena atividade, e Danielle não conseguiu resistir a uma olhadinha. Em um quiosque, ela tocou timidamente os tecidos lindos e ousados pendurados em cabides. Será que ela deveria aprender a costurar? Não era para ela aprender a tricotar?
Suspirando, ela largou o tecido e seguiu em frente. Quem ela estava tentando enganar? Ela não fazia o tipo doméstico que costura e tricota. Sua vida inteira foi focada na carreira. Família era a última coisa que passava por sua cabeça.
Algumas mesas à frente, ela parou para olhar os bichinhos de pelúcia costurados à mão. Ela pegou um ursinho e um nó se formou em sua garganta. Este bazar inteiro era voltado às crianças?
- Para o seu pequeno? - perguntou a mulher mais velha que estava atrás da mesa. Inconscientemente, Danielle tocou o estômago, e a mulher se iluminou. - Um pequeno a caminho! Parabéns! Está com quantos meses?
- Não muito - Danielle respondeu suavemente. Era a primeira vez que ela admitia isso a alguém. - Dois meses.
- Ah. Seu primeiro. Posso ver nos seus olhos. Toda criança precisa de um ursinho. Não tem erro.
Toda criança precisa mesmo de um ursinho, não é? Hesitante, ela pegou a carteira e se desfez de um pouco do seu precioso dinheiro. Apertando o ursinho contra o peito, ela tentou não chorar.
Como tudo tinha dado tão errado? Há poucos meses, ela estava feliz. A despeito da sua relação pouco profissional com o seu chefe, ela era feliz. Então, quando o sinal positivo apareceu no teste de gravidez, seu mundo inteiro veio abaixo.
Aparentemente, seu chefe era casado e só queria continuar mantendo Danielle como amante.
E, claro, ele exigiu que ela fizesse um aborto.
Lembrar daquela conversa fez com que ela tivesse ânsia de vômito. Depois de um breve e lacônico "Eu me demito", Danielle foi para casa, vendeu seus móveis, embalou o resto das suas coisas e foi embora. Após viajar sem destino pelos Estados Unidos por algumas semanas, ela ainda sentia que não estava longe o suficiente do trágico erro que tinha cometido.
Foi quando sua amiga lhe contou sobre este pequeno lugar, e até agora, tinha sido perfeito. Um reinozinho inteiro, cheio de pessoas que nunca saberiam do seu pecado.
Riyad complicava as coisas, de uma certa maneira, mas quem ela estava enganando? Ela nunca mais o veria.
Acariciando a pelúcia macia do ursinho com as pontas dos dedos, ela andou distraída pelo mercado. Não importava o quanto corresse, não conseguia escapar do medo. Ela nunca tinha pensado em si mesma como mãe. Será que seria uma boa mãe? Ou será que arruinaria a vida da criança do mesmo jeito que estava arruinando a sua própria?
- Me desculpe - ela sussurrou, olhando para baixo com a mão sobre o estômago. - Mas eu prometo que vou fazer o meu melhor. Seja paciente comigo, por favor.
De repente, algo duro bateu nela pelas costas. Com um grito, ela caiu para frente, mas mãos fortes a agarraram e a colocaram em pé. Ela olhou para cima para agradecer ao homem que a segurou e ficou de cara com o cano de uma arma.
Gritos ecoaram no mercado. E antes que ela pudesse reagir, braços a envolveram e a levantaram no ar.
- Socorro! - ela gritou. - Alguém me ajude!
- O único que pode te ajudar é o seu amante - uma voz rouca sibilou em seu ouvido. - Você acha que o pai do seu filho vai te procurar?
- Não. Não, ele definitivamente não vai fazer isso - ela balbuciou antes que uma mão enorme pressionasse um pedaço de pano sobre o seu nariz. Ela lutou contra isso, lutou para segurar a respiração e não inalar o cheiro estranho, lutou para se libertar, mas foi inútil.
Como isso era possível? Ela estava em um mercado lotado, em plena luz do dia. Quem faria uma coisa dessas?
Cedendo à exigência premente do seu corpo por ar, ela inalou bruscamente. O mundo ficou desfocado e, como se à distância, ela ouviu o homem rir cruelmente em seu ouvido e então sussurrar:
- É melhor você rezar pra que o Riyad venha te procurar, porque não teremos nenhum problema em enviar seu corpo sem vida pra ele.
Riyad? Mas que diabo? O que Riyad tinha a ver com tudo isso?
Seus músculos pareciam estar virando mingau, o ursinho caiu da sua mão e a escuridão tomou conta dela.