Pelo que Riyad pôde perceber, Shaia era uma garota de programa. Ela ganhava a vida seduzindo e entretendo homens poderosos. Aliás, ela era bem protegida exatamente por essa razão.
Shaia provavelmente guardava muitos segredos. Se alguém tivesse provas de que Miksa estava financiando a rebelião, esse alguém seria Shaia.
Depois de um pouco mais de trabalho preparatório, Riyad fechou o notebook e encerrou o dia. Se soubesse o que era melhor para ele, voltaria ao palácio e acalmaria seus irmãos, mas não queria ir para casa. Não ainda.
Queria ver Danielle de novo. A mulher o assombrava, e ele não conseguia imaginar o motivo, por mais que tentasse. Ela era bonita, mas ele tinha passado a maior parte da vida cercado por mulheres bonitas. Não conseguia explicar, mas sentia uma estranha conexão quando estava com ela.
Após pensar por um momento, decidiu voltar ao hotel para fazer uma visita. Quem sabe só precisasse ficar com ela mais uma vez, para tirá-la da cabeça.
Ele terminou seu café, pagou e saiu para a rua. Queria chamar um táxi e ir para o hotel o mais rápido possível, mas também precisava se controlar. Como um homem que raramente agia por impulso, ele estava preocupado com o fato da mulher o afetar tanto.
Passando por uma floricultura, ele entrou e comprou um buquê. Também uma manobra rara para ele, mas que pareceu certa. Dormir com Danielle não era suficiente. Ele queria passar tempo com ela. Conhecê-la melhor.
Finalmente, ele chegou ao hotel. Depois de verificar na recepção se ela não tinha ido embora, ele pegou o elevador. À porta do quarto, ergueu a mão para bater, mas, ao encostar os nós dos dedos nela, a porta se abriu.
Ele enrijeceu. Pegando a arma que ficava em um coldre em seu tornozelo, ele empurrou a porta. Quase sem respirar, ele avançou para o canto mais próximo e fez uma varredura rápida no quarto. Parecia estar vazio.
Movendo-se silenciosamente, ele abriu devagar a porta do closet. Também vazio.
Largando as flores na cômoda, ele empurrou delicadamente a porta do banheiro antes de soltar o ar, aliviado.
Sem intrusos, mas também sem Danielle. Era sempre possível que ela tivesse descido para comer alguma coisa e não tivesse fechado a porta direito. Voltando de ré para o quarto, ele se virou para pegar as flores e congelou.
Um ursinho tinha sido colocado sobre a cama, com uma nota apoiada nele.
Sheik Riyad. Estamos com a mãe do seu futuro filho. Se você quer vê-la viva novamente, se quer salvar seu filho, vai condenar publicamente o governo do Sheik Iman. Você tem quarenta e oito horas.
Mas que diabos era isso? Alguém achou que sequestrar Danielle seria uma ameaça suficiente para ele começar uma rebelião contra seu próprio irmão?
E por que eles pensariam que ela estava grávida?
Nada disso fazia sentido.
A coisa lógica a fazer seria amassar a nota e ir embora. Pesar na balança o destino de um estranho contra o panorama geral era uma coisa, mas essa era uma mulher que ele tinha conhecido intimamente. A mulher que ele tinha lambido, segundos depois de gozar, para que pudesse ouvi-la gritar de novo. A mulher na qual ele ficou enterrado, tempo depois de estar satisfeito, para sentir-se envolvido por seu calor.
Ela tinha comprado um maldito buquê de flores para essa mulher, algo que ele nunca fez, nem para sua própria mãe.
Pegando o ursinho, ele puxou a fita azul em volta do pescoço do bichinho. Alguma coisa parecia familiar nele. Será que era o mesmo ursinho que ele tinha visto à venda no bazar?
Guardando a nota no bolso, ele agarrou o bichinho de pelúcia e saiu. Logo estaria escuro e o mercado fecharia. Se ele quisesse informações, teria que obtê-las agora.
Colocando os óculos de sol, ele foi até o bazar e imediatamente soube que estava no lugar certo. As autoridades já estavam lá, fazendo perguntas. Riyad ficou nas sombras, mas chegou mais perto na esperança de conseguir escutar. Ele tinha trabalhado de perto com diversos membros da polícia, não como parte da agência, mas como sheik, e as chances de ele ser reconhecido, mesmo disfarçado, eram boas.
Uma mulher mais velha estava falando, angustiada, torcendo as mãos.
- A pobrezinha... Ela tinha acabado de comprar um ursinho, e então três homens apareceram do nada. Ela lutou, mas não era páreo pra eles. Foi tudo tão rápido! Eles a agarraram, drogaram e jogaram na traseira de um furgão. - Em resposta a uma pergunta resmungada, ela acrescentou: - Branco, sem janelas, e não vi nenhuma outra identificação.
- E os homens? Consegue descrevê-los?
- Não. Eles usavam máscaras. - A mulher balançou a cabeça. - E pior, ela está grávida. De dois meses, ela disse. Pobrezinha. Vocês têm que encontrá-la.
Grávida de dois meses? Isso era novidade para Riyad. Será que ela era casada? Noiva? Tinha namorado? Ele era um mulherengo, mas não tolerava traição e não estava satisfeito por fazer parte disso.
Olhando para cima, ele examinou os prédios vizinhos até que avistou uma câmera na fachada de uma livraria do outro lado da rua. Estava apontada direto para o bazar. Refletindo, ele atravessou a rua e checou o resto dos prédios que rodeavam o mercado, notando as câmeras estrategicamente posicionadas. Com alguma sorte, ele conseguiria rastrear o furgão.
Entrando na livraria, ele mostrou um distintivo falso da polícia e encarou o jovem funcionário. O rapaz tremia visivelmente ao conduzir Riyad até o escritório do gerente, onde poderia ver os vídeos de segurança. A câmera deles tinha gravado a cena toda, e Riyad sentiu uma raiva silenciosa crescer dentro dele enquanto assistia ao sequestro. Danielle tinha lutado como uma leoa, e ele estava orgulhoso disso, mas ela não tinha a menor chance.
Sem dúvida, a culpa era toda dele. Se não a tivesse tocado, ela nunca estaria nessa confusão. E isso também significava que a rebelião estava de olho nele.
Quais eram as chances de saberem que ele era mais do que um sheik mulherengo?
Riyad balançou a cabeça, descartando a ideia. Se eles conhecessem suas conexões, nunca levariam alguém de quem ele gostava.
Ou, ele corrigiu mentalmente, alguém que ele conhecia. Ele não conhecia Danielle o suficiente para gostar dela.
Acelerando os vídeos das diferentes câmeras posicionadas nos cantos do prédio, ele seguiu o furgão, que deu a volta no quarteirão até a viela nos fundos do bazar. Parando subitamente, ele ampliou a imagem, tornando-a granulada. Não importava. Ele focou na mão pendurada para fora da janela e na tatuagem no pulso do homem.
Riyad aquiesceu sombriamente, reconhecendo-o. Abdallah estava em sua lista de suspeitos do círculo central da rebelião. Ele não tinha o tipo de fortuna necessário para liderar a organização, mas tinha conexões no comércio de armas.
Será que Atif estava certo? Miksa Antar estava mesmo envolvido?
"Um problema de cada vez", ele resmungou para si mesmo. Se Abdallah era um dos sequestradores, Riyad achava que sabia para onde tinham levado Danielle. Embora Abdallah morasse no centro da cidade, sua família era proprietária de um depósito que estava fechado há anos. Estava deserto, agora: o lugar perfeito para esconder uma refém.
Ele considerou ligar para Atif e reunir uma equipe para resgatar Danielle e destruir o depósito, mas não podia arriscar estragar seu disfarce.
Sem problema. Ele poderia cuidar por conta própria da missão de resgate.
Além disso, a injeção de adrenalina seria bem-vinda.
A lua minguante emitia um tênue brilho de luz, mas as estrelas impressionavam no céu. Riyad estacionou o SUV que tinha furtado na esquina do seu destino e desligou o motor. Ele não queria que o veículo fosse rastreado até ele.
Jogando a mochila no ombro, ele colocou uma máscara no rosto. Como sempre antes de uma missão, seu coração estava acelerado em antecipação e o sangue rugia em seus ouvidos. Estes momentos costumavam ser os únicos em que ele se sentia vivo, mas o que ele sentia nos braços de Danielle tinha superado isso.
Rastejando silenciosamente pelas sombras, Riyad identificou um único guarda do lado de fora da porta. Sem querer chamar atenção para si mesmo, ele pegou algumas pedras e as jogou na parede. Quando o guarda veio investigar, ele cercou o pescoço dele com um braço, para cortar o fornecimento de ar, enquanto a outra mão cobria sua boca para que ele não tivesse chance de gritar. Depois que o homem caiu, Riyad o arrastou para trás de algumas caixas de madeira e o largou.
Ele aguardou para ver se outro guarda viraria a esquina, mas ou os números da rebelião estavam padecendo, ou eles estavam se sentindo confiantes com seu esconderijo.
Aproximando-se da janela, ele espiou.
Quatro homens estavam sentados ao redor de uma televisão, mas ele não viu sinais de Danielle. Recuando, ele testou a estabilidade de uma pilha de caixotes encostada na parede antes de escalar até onde conseguisse agarrar o beiral. Içando-se ao segundo andar, ele tentou olhar pela janela, mas ela estava trincada e embaçada. Também estava trancada.
Parece que ele teria que optar pelo caminho ruidoso.
Tirando as coisas da mochila, ele segurou uma granada de luz em uma das mãos e sua arma na outra. Virando para o outro lado, ele quebrou o vidro da janela com o cotovelo e lançou a granada para dentro. Ela estourou com uma explosão de luz branca.
Gritos irromperam do interior, e ouviu-se o grito aterrorizado de uma mulher. Pulando para dentro, ele descobriu que dois homens a guardavam. Sem hesitação, ele mirou e puxou o gatilho enquanto abria caminho até Danielle. Cega pela luz, ela gritou e se debateu quando ele a segurou por um dos braços, e naquele caos, ele não pôde confortá-la.
Passos trovejaram pelas escadas. Apontando a arma para a porta, ele arrastou Danielle até a janela.
- Você precisa pular - ele disse com a voz rouca. - Eu vou primeiro, e quando eu disser pra você pular, pule.
- O quê? - Ela piscou, confusa, tentando focar os olhos nele. - Eu conheço você?
- Confie em mim.
Antes que ela pudesse responder, ele pulou do beiral e aterrissou. Endireitando-se às pressas, ele engatou a trava da arma, prendeu-a no cinto às suas costas – ainda deixando-a ao alcance de um saque rápido – e estendeu os braços.
- Pule. Agora.
Ela hesitou e olhou para trás, e o que quer que tenha visto a estimulou a pular. Com um grito, ela se jogou do beiral com tanta força que ele quase não conseguiu se afastar a tempo de pegá-la.
- Peguei você. Vamos. Corra! - Agarrando a mão dela, ele a puxou na direção do carro, quase ao alcance da rajada de balas que os seguiu. - Entre no carro. Agora.
- Você só pode estar brincando! Eu não te conheço! - ela chiou, libertando-se da mão dele. Ela se virou para fugir e ele agarrou novamente seu cotovelo. Tirando a máscara, ele a encarou. Os olhos dela se arregalaram com uma surpresa que foi rapidamente substituída pela raiva. - Você! Quem é você afinal? E no que diabo você me meteu?
- Só entre no carro - ele sibilou. Os tiros dos rebeldes estavam mais próximos, e ela resmungou, escancarou a porta e entrou. Furioso, ele fez o mesmo, pegando a arma de novo só por garantia.
Então ela estava brava porque ele tinha mentido para ela. Pensando no ursinho, ele soube que os dois teriam algumas explicações para dar.