- Danielle - Riyad encorajou.
De algum jeito, ela recuperou a voz.
- Que tal se, em vez de entrar neste seu palácio adorável, nós formos para o aeroporto e eu sumir desse lugar? - ela perguntou, sentindo-se irracionalmente confortada pela bolsa que segurava contra o peito. O motorista ficou parado como uma estátua do lado de fora, segurando a porta do carro aberta; mas ele levantou as sobrancelhas.
- Saia do carro, Danielle - Riyad resmungou.
Estreitando os olhos, ela olhou para ele.
- É sério? Nós dormimos juntos duas noites e você se acha no direito de mandar em mim? Não sou um dos seus súditos.
- Verdade, mas eu te resgatei e estou tentando te proteger. E isso me dá o direito de mandar em você.
Mas que arrogante descarado!
- Foi inteiramente por sua causa que eu precisei ser resgatada, pra começo de conversa! Se você tivesse me contado de cara quem você era, eu nunca teria me envolvido com você!
- Você quer falar sobre esconder segredos? - Ele tirou algo do compartimento que ficava atrás do banco e lançou na direção dela. Largando a bolsa no último momento para pegar o objeto, ela olhou para baixo e seu estômago revirou. O ursinho. - Parece que você também deixou me contar alguma coisa.
- Não é da sua conta - ela disse rispidamente.
- Então você não estava planejando afirmar que o bebê era meu quando nascesse?
Enfurecida, ela saiu do carro.
- Vá pro inferno - ela sibilou ao atravessar o círculo em direção à entrada principal.
Ela ouviu um palavrão murmurado atrás dela, e Riyad a alcançou e segurou seu cotovelo.
- Espere um pouco.
- Não me toque! - ela esbravejou quando ele fez com que ela se virasse. - Como ousa! Você não sabe nada sobre mim e presume que esse é o tipo de mulher que eu sou? E como você acha que esse plano daria certo? Existe todo tipo de exame de DNA e... Você é uma pessoa desprezível!
Ela queria dar um tapa nele, mas teve a impressão de que os guardas armados que a encaravam na entrada do palácio não gostariam disso.
Mas ele bem que merecia.
- Ok - ele chiou. - Mas você não vai embora mesmo assim.
- Por que diabos não?
- Por muitas razões. Em primeiro lugar, porque você é um alvo. Eles acham que a criança que você carrega é minha, e se eles têm o tipo de suporte financeiro que eu acho que eles têm, ir embora do reino não vai te salvar. E segundo, porque mesmo que não fosse um alvo, você é uma testemunha. Pense. Você não está só protegendo a si mesma.
Ele olhou sugestivamente para a barriga dela.
Ela mordeu o lábio inferior. Tudo o que ele disse fazia sentido, mas ainda assim ela não queria entrar naquele palácio. Se a experiência com o seu chefe tinha ensinado alguma coisa a ela era que não se pode confiar em homens em posição de poder.
- Danielle - ele disse suavemente. - Você está com problemas por minha causa. Me deixe te proteger.
Batendo o dedo do pé na calçada de pedra, ela balançou a cabeça. A dúvida gritava dentro dela. Ela engoliu em seco e arriscou:
- Então você é da realeza, e um Don Juan, e algum tipo de militar ninja?
Com os olhos disparando um aviso, ele olhou para trás.
- Mais ou menos, mas precisamos manter a terceira parte em segredo porque minha família não sabe, e isso pra sua própria proteção. Entre no palácio comigo, Danielle. Eu posso te manter segura.
Acariciando a pelúcia do ursinho, Danielle hesitou. Ela não estava protegendo a própria vida. Estava protegendo a vida do seu bebê ainda não nascido.
Olhando para ele, ela franziu a testa. Não conseguia suportar homens excessivamente confiantes; eram sempre tão presunçosos.
- Por quanto tempo?
- Estou trabalhando pra derrubar a rebelião, então, se tudo correr bem, não por muito tempo. - Ele deu uma risadinha. - Já está ansiosa pra se livrar de mim?
- Me livrar do homem que me fez ser sequestrada e depois me acusou de tentar dar um golpe nele? Absolutamente. - Ela olhou furiosa para ele, levantou a cabeça e marchou pela calçada até o palácio. Atrás dela, podia ouvir Riyad resmungando baixinho, mas decidiu ignorar.
Foi forçada a parar e aguardar quando os guardas bloquearam a porta até que Riyad a alcançasse. Quando as portas se abriram, dois outros homens foram na direção deles para saudá-los. Pela semelhança familiar e os olhares contrariados em seus rostos, Danielle supôs que eram os irmãos de Riyad.
- Recebemos uma ligação dos guardas dizendo que havia uma comoção na frente do palácio - um deles disse, olhando curioso para ela. - Aparentemente, você estava sendo atacado por uma mulher.
Riyad limpou a garganta.
- Um simples mal-entendido. Irmãos, esta é Danielle Greenski. Ela é testemunha de um crime atribuído à rebelião. Danielle, estes são o Sheik Coroado Iman e o Sheik Bahir.
Bahir inclinou a cabeça, examinando-a.
- Por que ela não está na delegacia?
- Ela está sob a minha proteção - Riyad afirmou secamente.
Danielle olhou para Riyad, imaginando como ele sabia seu sobrenome, e então se virou para os irmãos. Não tendo certeza do que fazer, ela se abaixou em uma reverência esquisita.
- Obrigada por sua hospitalidade - ela disse, envergonhada.
Iman reclamou imediatamente:
- Você é americana?
De olhos arregalados, Danielle deu um passo inseguro para trás. O rei não estava descontente com o fato de ela ser americana, estava? Ela tinha ouvido que tanto ele quanto Bahir tinham esposas americanas.
As próximas palavras dele dissiparam seu desconforto, ao menos quanto a isso.
- Ela foi atacada? Eles estão atacando turistas agora? Eu achei que isso estava sob controle!
- Discutiremos o assunto depois. Vou acomodá-la na suíte de hóspedes. Foi uma longa noite. - Subitamente Riyad se virou e encarou Danielle, estreitando os olhos. Ela viu a mandíbula dele se apertar ao virar para os irmãos. - Também quero que o médico a examine amanhã bem cedo.
- Isso pode ser providenciado. Vou chamar Tahira pra acompanhála até a ala dos hóspedes - disse Bahir. Mas, quando começou a se mover para levar a cabo sua intenção, Riyad o interrompeu, balançando a cabeça, com uma mão em seu braço.
- Não precisa acordar Tahira. Eu vou acompanhar nossa convidada. Conversaremos mais pela manhã.
E antes que qualquer um dos dois pudesse dizer mais alguma coisa, ele agarrou o braço de Danielle e subiu com ela a grande escadaria. Ele a estava controlando um bocado.
- Não queria que seus irmãos soubessem que você dormiu comigo e fez com que os rebeldes achassem que, na verdade, eu significo algo pra você? - ela resmungou entredentes. O dia tinha sido difícil e ela estava cansada. Quanto mais isso se alongava, mais ela se sentia ácida.
Depois de serpentear pelos corredores ricamente ornamentados, Riyad finalmente parou e abriu uma porta. Entrar no quarto tirou o fôlego de Danielle. Ela tinha ganhado um salário bem decente em seu último emprego e tinha um bom apartamento no centro da cidade, mas cabiam dois apartamentos iguais ao dela naquela suíte. As janelas amplas ofereciam uma vista deslumbrante do céu claro noturno e do vilarejo abaixo. O quarto estava decorado em verde vibrante e belíssimos tons de cinza.
- Uau - ela murmurou.
- Eu não perguntei, mas preciso saber. Eles... - A voz dele sumiu e ele limpou a garganta, cerrando os punhos. - Eles machucaram você?
- Foram um pouco rudes, mas nada que um dia de descanso não resolva - ela respondeu, lançando um sorriso valente. Danielle sentia que estaria coberta de hematomas pela manhã, mas, dada a alternativa, considerava que tinha tido sorte.
- E, hum... - O olhar dele focou em sua barriga. - Vou pedir ao médico que faça todos os exames necessários pra garantir que tudo esteja bem. Você precisa emprestar um telefone pra contatar sua família?
- Família? - Ela deu de ombros. - Não, meus pais faleceram há algum tempo.
- Eu quis dizer... - Ele indicou a barriga dela novamente. Parece que ele estava tendo dificuldade de admitir a existência da criança. - Marido ou namorado?
Balançando a cabeça, ela bufou em um rompante de aborrecimento e se afastou dele.
- Primeiro eu sou uma golpista, e agora adúltera. Você é realmente um encanto, sabia?
- O que eu deveria pensar, se você nunca me contou? - ele perguntou.
- Contar pra você? Tudo que eu queria era achar alguém que me ajudasse a me esquecer disso tudo. - Ela agitou as mãos, irritada. - Tenho a ligeira impressão de que te contar que eu estava carregando o filho de outro estragaria o clima. Além disso, não era pra ter acontecido nada disso. Era pra ter sido um caso rápido, sem compromisso, e não ouse me julgar. As mulheres também podem ter aventuras!
Ela revirou os olhos para si mesma. Tinha soado ridícula até aos seus próprios ouvidos.
Para sua surpresa, ele riu e levantou as mãos.
- Eu não estava te julgando. Só estou tentando ajudar.
- Me desculpe. Estou ficando agressiva. Preciso dormir um pouco.
Fechando os olhos, ela esticou o braço para massagear a nuca. A manga da camisa deslizou pelo seu braço, e ela ouviu Riyad grunhir. Olhando para baixo, ela viu que os machucados já estavam aparecendo.
- Durma um pouco - ele resmungou. - Vou mandar Tahira dar uma olhada em você pela manhã. Ela é uma das criadas e é muito amiga de uma das minhas cunhadas. Vai ser gentil com você.
Enquanto ele se virava para sair, Danielle percebeu que isso provavelmente era tão estranho para ele quanto era para ela. Imaginou que delicadeza não era uma característica que Riyad normalmente deixava transparecer.
- Riyad. Desculpe - ela acrescentou, ansiosa, quando ele se virou para olhá-la. - Devo chamar você de Sheik Riyad enquanto estivermos aqui?
- Riyad está bom.
- Quero te agradecer por ter salvado a minha vida. Sei que isso complica as coisas pra você. Eu vou embora assim que for seguro.
- Sem compromisso? - ele perguntou, com um tom estranho na voz.
- Exato - ela concordou, movimentando firmemente a cabeça. - Sem compromisso.
Ele fitou os olhos dela por um momento, aquiesceu e se virou de novo para sair.
Enquanto ele fechava a porta atrás dele, Danielle começou a explorar a suíte. Parou no banheiro. Ligando a água quente no chuveiro revestido de mármore, ela tirou a roupa e entrou.
O que ela tinha dito a Riyad era verdade. Os sequestradores não a tinham machucado tanto quanto poderiam, mas ela ainda conseguia sentir o peso das mãos imundas deles nas marcas da sua pele e a respiração quente e rançosa deles sussurrando ameaças em seus ouvidos.
Nunca estivera tão aterrorizada em sua vida, e agora que estava relativamente segura e sozinha, foi inundada pelas emoções. Com a água quente a envolvendo, ela se ajoelhou e chorou.
Fugir da sua situação constrangedora só tinha piorado as coisas. Agora ela estava grávida, sozinha, e se escondendo de um grupo de homens que a queriam morta.
A domesticação efetivamente não era para ela.