Capítulo 3 Finalmente me libertei

Os olhos de Lilliana brilharam com um mistério velado e um sorriso discreto curvou seus lábios.

Ela não era tola o suficiente para revelar suas cartas agora, então, com habilidade, desconversou com uma resposta casual. "Durante esses dois anos de casamento, Alicia sempre vive à margem, como uma dona de casa apagada, sem participar do seu mundo real. Ela jamais teria coragem de se opor quando você impõe sua vontade."

Joshua apertou os lábios numa linha firme.

De fato, Alicia dedicara esses dois anos a apoiá-lo, oferecendo conforto e suporte incondicional.

Ela o amava profundamente, mas, afinal, quanto valia o amor?

Superando enormes dificuldades, ele conseguira alcançar o poder e a posição que tanto almejava.

A seu ver, esse sucesso não veio graças ao amor, mas sim às alianças com os poderosos. E o prestígio da Lilliana, filha da família Green, esse título por si só, valia muito mais do que o amor dedicado de Alicia.

Esses pensamentos invadiram sua mente até que Lilliana quebrou o silêncio, pressionando os lábios vermelhos e macios contra os dele. Ela murmurou num tom sedutor: "Joshua, parabéns por sair dessa rotina. Vamos comemorar?"

Por um breve momento, Joshua retribuiu o olhar, mas logo a imagem do rosto impassível de Alicia tomou conta de seus pensamentos.

Desde que ele saíra de casa mais cedo, Alicia não havia feito uma única ligação para perguntar sobre seu paradeiro.

Antes, se ele estivesse chateado com ela, ela teria ficado aflita, ligando sem parar.

Uma irritação inexplicável cresceu dentro dele. Sem pensar, ele afastou Lilliana, sua voz rouca. "Você está grávida de poucas semanas. Precisa tomar mais cuidado."

Sempre perspicaz, Lilliana percebeu que algo o estava distraindo, então perguntou com doçura: "O que aconteceu, Joshua? Você não quer se divorciar?"

Ele respondeu imediatamente: "Claro que quero."

Mas Lilliana o observava com atenção. "Então, por que você parece tão infeliz?"

Joshua deu uma resposta rápida, com o tom firme, mas a mente longe. "A saúde do meu pai piorou. Ele não tem muito tempo. Caden voltou ontem, provavelmente vindo para tentar reivindicar sua parte da herança. Preciso me preparar para lidar com ele."

Lilliana piscou, surpresa. "Caden? O filho do primeiro casamento do seu pai? Ele sequer carrega o sobrenome Yates. Que direito tem de disputar a herança com você?"

A expressão de Joshua se fechou em desagrado.

Ela estava certa, mas o fato de ser filho de uma amante pesava sobre ele.

Toda a sua jornada de ascensão na família Yates foi não só para construir seu nome, mas para empurrar Caden para a obscuridade.

Joshua estava determinado a vencer, custasse o que custasse.

A noite já havia caído. Alicia acordou de um sono perturbado, mas se sentia ainda mais exausta do que antes.

Seus sonhos haviam sido dominados por imagens daquele homem desconhecido, e o toque dele ainda parecia estar gravado em sua pele.

Ela não sabia se era o efeito residual da droga ou se aquele homem realmente a afetara de forma tão intensa.

Mesmo completamente desperta, ela ainda sentia como se estivesse flutuando, o que a fez corar involuntariamente.

Foi só quando o celular tocou, revelando uma ligação de Monica, que ela saiu do devaneio.

"A-Alô?", ela gaguejou.

Sempre atenta, Monica notou imediatamente algo estranho no tom de sua amiga. "Você está com a voz suave, como se estivesse em outro mundo. Aconteceu alguma coisa? Fez as pazes com aquele idiota?"

Alicia pigarreou, tentando se recompor. "Claro que não!"

Monica soltou uma risada divertida, cheia de malícia. "Enfim, consegui os resultados dos seus exames de sangue e os passei para um contato que pode descobrir quem comprou as coisas."

Alicia se endireitou na cama, a mente se agitando com essa nova informação. "Obrigada, Monica. . Agradeço muito."

"Se quer me agradecer de verdade, faça um favor a si mesma: esqueça aquele babaca. E após o divórcio, foque na sua carreira. Você me deve isso."

Alicia sentiu o coração aquecer com o apoio da amiga e abaixou a cabeça em silêncio. "Eu sei, eu sei."

Pensando com mais clareza, ela percebeu que o que sentia por Joshua não era amor genuíno, mas era uma sensação de obrigação, de dívida.

Desde pequena, as expectativas de sua família sempre pesavam sobre ela e, na infância solitária, foi Joshua quem lhe oferecia companhia.

A companhia dele nutria uma vaga afeição que ela confundia com amor.

"Para minha sorte, o amor nunca foi uma necessidade na minha vida", murmurou Alicia. "Esses dois últimos anos... vejo agora que foi apenas uma forma de retribuir a ele."

Monica fez uma pausa, sua atitude sempre audaciosa suavizada por um toque de empatia. Ela sabia melhor do que ninguém que, em algum momento, Joshua havia sentido algo genuíno por sua amiga.

Mas o amor nem sempre era duradouro.

"Alicia, espero de verdade que você tenha desistido dele desta vez", disse Monica, soltando um suspiro cheio de determinação.

Uma pontada aguda atingiu o peito de Alicia, seus olhos ardendo enquanto ela lutava contra a vontade de chorar. Quase instintivamente, ela levou as mãos aos olhos, pressionando as pálpebras para conter as lágrimas.

Foi então que algo inesperado a pegou de surpresa.

Atordoada, ela baixou o olhar para sua mão.

A aliança de casamento, que ela mantivera com tanto cuidado, simplesmente havia desaparecido.

Ela já não a usava há mais de um dia, e só nesse momento se deu conta disso.

De repente, Alicia sentiu um alívio profundo, o peso que carregava no coração parecendo se dissipar aos poucos. Num sussurro, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa, ela murmurou: "Sim, eu finalmente me libertei."

...

Mais tarde, quando Joshua voltou para buscar algo, seus olhos rapidamente pousaram na mão dela.

Sua testa se franziu e, sem sequer pensar, ele perguntou: "Onde está sua aliança de casamento?"