Capítulo 6 O homem daquela noite

O rosto de Alicia, já pálido pelo frio, ficou vermelho de vergonha.

Ser vista numa situação tão vulnerável por seu antigo rival doía mais do que a chuva gelada e impiedosa.

Ela se encostou na porta do carro, tentando ao máximo se afastar dele.

Os olhos de Caden permaneciam fixos nas pernas dela. Ele comentou com uma indiferença casual: "Você tem belas pernas. Acho que Joshua as aprecia, assim como muitos outros homens fariam."

Ele inclinou a cabeça, os dedos tamborilando lentamente no apoio de braço, o som tão irritante quanto suas palavras. "Na verdade, aposto que muitos as achariam... irresistíveis."

Alicia sentiu a garganta se fechar e um arrepio percorrer sua espinha.

A noite estava sombria e chuvosa, e qualquer pessoa sensata diria que não era seguro para uma mulher andar sozinha sob essas condições. No entanto, o jeito como Caden falou fazia parecer que algo mais ameaçador estava por vir, como se o perigo fosse inevitável.

Que cretino repulsivo!

Ela hesitou, sem muitas opções. Com um suspiro de resignação, ela colocou o cinto de segurança, se pressionando contra a porta como se isso pudesse criar uma barreira entre ela e o homem ao seu lado.

Seu vestido encharcado estava grudado em sua pele, aumentando o desconforto. Ela não conseguiu evitar o tremor, devido ao frio insuportável.

Sem dizer uma palavra, Caden jogou seu casaco no colo dela.

Surpresa, Alicia rapidamente o envolveu ao redor de si, grata pelo calor que ele proporcionava.

O casaco exalava o cheiro característico de Caden, uma combinação de colônia e algo mais cru e masculino.

Esse aroma forte impregnava o tecido, trazendo à tona memórias daquela noite...

A voz, o cheiro... Tudo parecia inconfundível.

O estômago de Alicia revirou de angústia ao juntar as peças. Poderia realmente ser ele?

Deus... Não podia ser verdade!

Alicia tentou afastar o pensamento, mas a dúvida já estava plantada. Ela virou a cabeça para observar Caden de soslaio, esperando encontrar alguma pista em sua expressão.

Alheio ao turbilhão de emoções dela, ele continuava fixo em seu celular. "Pare de me encarar. Não estou interessado."

Que arrogante!

Alicia ignorou o comentário provocativo e tentou mudar o rumo da conversa. "Então, Caden, quando você voltou?"

Só então ele levantou os olhos do celular.

Com um olhar levemente divertido, como se estivesse assistindo a um espetáculo interessante, ele respondeu de forma casual: "Dia 14."

O coração de Alicia quase parou, sua mente rodopiando com a revelação.

Dia 14?

Foi exatamente o dia em que tudo aconteceu...

Com o coração acelerado, ela decidiu insistir. "E onde você estava hospedado nesse dia?"

Caden se recostou no banco, um sorriso de puro deboche brincando em seus lábios enquanto observava a ansiedade dela aumentar. Ele parecia se deleitar com o pânico crescente em Alicia. "Não me lembro. Estava ocupado transando com uma mulher."

Com uma mulher?

A boca de Alicia secou instantaneamente.

Isso não provava nada, mas a sensação de pavor dentro dela só crescia.

Antes que ela pudesse fazer mais perguntas, o celular de Caden tocou, interrompendo o clima tenso.

Ele atendeu com desinteresse, lançando um olhar sarcástico para Alicia. "O que ela está procurando?"

A voz do gerente do cinema ecoou na linha. "Uma aliança."

Caden desviou o olhar para as mãos de Alicia.

Ela não conseguiu ouvir o que o interlocutor dizia, mas o olhar de Caden já a deixou desconfortável. Sem pensar, ela uniu as mãos, se sentindo exposta.

Quando a chamada terminou, Caden falou com um tom cheio de ironia. "Joshua não gastou uma fortuna em uma pulseira para você? Por que não está usando?"

Com isso, o semblante de Alicia escureceu. Sua voz saiu fria, mascarando a dor que carregava por dentro.

"Ele comprou para a amante", ela murmurou, como se fosse algo sem importância.

Caden soltou uma risada baixa e sem humor. "Generoso, não acha? Gastar tanto dinheiro numa coleira de cachorro."

Alicia não disse nada, mas, internamente, sentiu uma espécie de alívio amargo.

E assim, o peso de suas dúvidas e preocupações anteriores desapareceu.

Aquele homem, seja quem fosse, não importava mais. Ela o havia usado e isso era o suficiente. O que acontecera já fazia parte do passado.

Ao chegar à casa de Monica, Alicia hesitou por um momento. Ela se perguntou se deveria agradecer a Caden, mas no final falou com rigidez: "Vou lavar o casaco e enviá-lo à Mansão Yates."

Caden, nada galante, lhe deu um sorriso sarcástico. "Se você o sujou, me dê cinquenta mil em dinheiro."

O quê?

Alicia piscou, atônita.

Cinquenta mil por um casaco?

Ela sabia que, com essa quantia, poderia facilmente comprar algo melhor do que esse casaco.

No entanto, não reclamara ao usá-lo antes, e agora, sem muito espaço para discussões, aceitou a exigência.

Após transferir o dinheiro para a conta dele, ela secou as pernas e os pés molhados com o casaco, sorrindo de forma provocativa ao devolvê-lo. "Da próxima vez, senhor Ward, sugiro investir em algo de melhor qualidade. Este é um pouco... áspero."

A risada de Caden preencheu o carro.

Áspero? Hum.

Naquela noite, ela se agarrou a ele, encharcando suas roupas.

Por que não reclamou da qualidade do tecido naquela ocasião?

Enquanto a mente de Caden retornava a essas lembranças, sua garganta ficou seca. Ele acendeu um cigarro, tentando sufocar o desejo crescente dentro dele.

Mas nem a fumaça conseguiu acalmá-lo...

Quando chegou em seu apartamento, Caden encontrou Hank já o aguardando, pronto para atualizá-lo sobre os negócios.

Caden lhe passara instruções específicas para reorganizar tudo, e Hank cuidou disso.

"Ah, e mais uma coisa", Hank acrescentou ao final do relatório. "Vi Joshua na delegacia mais cedo. Ele parecia estar à procura da senhorita Bennett."

Caden soltou uma risada curta, seus olhos brilhando de diversão ao jogar uma garrafa de água para Hank.

"A doce e submissa Alicia finalmente o enfrentou, e ele gostou. Imagine só."

Vendo que o assunto era Alicia, Hank entregou uma aliança a Caden e perguntou: "Devo devolver a aliança para a senhora Yates ou pedir que ela venha buscá-la?"

Caden olhou para a aliança, que era uma peça simples de prata, sem pedras preciosas.

A aliança estava um pouco larga, provavelmente escorregando durante os momentos intensos daquela noite.

Era barata, tanto o material quanto o significado.

Ainda assim, Alicia estava desesperada para tê-la de volta.

Caden sorriu, cínico. Além do corpo atraente, o que mais ela tinha? Não muito.

Hank suspirou, quase com pesar. "Se a senhora Yates não fosse sua cunhada, senhor Ward, talvez seus problemas..."

Com isso, a expressão de Caden ficou sombria, e Hank imediatamente se calou.

"Foi a droga", Caden disse, com a voz dura como gelo.

Sem pensar, Hank corrigiu: "Mas foi a senhora Yates quem foi drogada, senhor."

Caden apertou a aliança com tanta força que o metal frio se cravou em sua pele. O ambiente ficou tenso, a temperatura quase congelante.

"Peço desculpas, senhor Ward. Passei dos limites", murmurou Hank, dando um passo para trás e abaixando os olhos.

O olhar de Caden se voltou para si mesmo, seu corpo já respondendo aos pensamentos sobre Alicia.

Apenas pensar nela o deixava excitado.

Com um sorriso torto, ele murmurou para si mesmo: "Logo descobriremos qual é o verdadeiro problema... depois de mais uma rodada."