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Valéria e Nicholas saíram da delegacia em silêncio, caminhando lado a lado pelas ruas ainda molhadas da garoa da manhã. Nicholas, mesmo com o luto, não conseguia deixar de encará-la. Havia algo em Valéria Montenegro que o puxava. Talvez fosse a firmeza da postura. Talvez a forma como os olhos dela evitavam os dele, mesmo quando pareciam curiosos.
Ela sentia o olhar dele. E desviava sempre que podia, sem perder a compostura.
Entraram numa cafeteria discreta, de esquina, com mesas de madeira escura e cheiro de café forte no ar. Escolheram uma mesa no fundo, longe de ouvidos atentos. Ela pediu um expresso. Ele, o mesmo.
Nicholas entrelaçou os dedos sobre a mesa, e por fim falou:
- Arturo era intenso. Trabalhador, dedicado... apaixonado pelo que fazia. Desde adolescente era fascinado por comida. Fazia mini pratos chiques, elaborados. Era quase um artista, mesmo que nunca tenha feito curso nenhum.
- Na verdade, ele trabalhava numa boate... chamada Névoa. Um lugar elegante, cheio de luz baixa e segredos escondidos atrás de copos e sorrisos.
- Lá ele era cozinheiro dos petiscos finos... e bartender nas horas de mais movimento.
- O lugar era meio que a vida dele.
Valéria prestava atenção em cada detalhe, observando não só as palavras, mas o tom com que ele falava do irmão.
- Ele tinha comentado com você sobre a Michelle? - ela perguntou.
- Sim. Ele estava animado. Muito. Queria fazer um pedido de casamento inesquecível.
- Programou tudo na boate. Luz especial, playlist, os pratos favoritos dela, champanhe. Me mandou uma mensagem toda entusiasmado na noite anterior...
- Mas depois disso...
Fez uma pausa. A voz ficou mais baixa.
- ...não teve o dia seguinte. Ele nunca respondeu. Nunca contou como foi.
Valéria mordeu levemente o canto do lábio, em silêncio. O café diante dela esfriava, intocado.
- Isso... realmente é estranho - murmurou.
- Ninguém me falou sobre esse pedido. Nem Michelle.
- Eu achava que estava exagerando, que talvez fosse só um caso triste como tantos outros. Mas tem muita coisa fora do lugar.
Ela finalmente tomou um gole do café, os olhos baixos.
- Eu quero continuar com esse caso, Nicholas.
- Mesmo que o sistema queira arquivar.
- Mesmo que me mandem parar.
Ele a olhou com intensidade.
- E eu quero ajudar.
- Só me diga o que fazer.
- Nicholas pegou em sua mão
Ela finalmente ergueu os olhos. E, dessa vez, não desviou.
E se viu algo profundo no olhar dele para ela