Capítulo 7 Entre Confianças e Convites

O sol já se inclinava mais alto no céu quando os dois terminaram suas bebidas. Valéria secou o suor da testa com um guardanapo e se recostou levemente na cadeira, ainda com um leve sorriso nos lábios.

Nicholas, por outro lado, olhava para o celular como quem espera algo mais do que notificações triviais.

- Ainda nada - comentou, levantando as sobrancelhas. - Só pra constar... continuo esperando seu aceite na rede social.

Valéria riu com suavidade, ajeitando o cabelo.

- Ainda estou decidindo se devo confiar em você.

- Nesse caso, vou ter que fazer valer minha OAB pra te convencer - respondeu ele, colocando a garrafinha vazia sobre a mesa. - Argumentação, prova documental, e, se necessário, apelo emocional.

- Hm... e se eu for juíza severa?

- Aí espero ao menos uma audiência justa.

Os dois riram. Era fácil conversar com ela. E por um momento, Nicholas esqueceu por que tinha voltado. Esqueceu a boate, a dor, as perguntas.

Mas não por muito tempo.

Eles se levantaram. Valéria se despediu com um aceno curto, mas caloroso. Os olhos diziam mais do que a boca deixava transparecer.

- Boa sorte com o resto do dia, advogado.

- E você, investigadora... ainda tem um convite pendente. - Ele piscou, antes de se virar.

**

De volta ao apartamento, Nicholas tomou um banho rápido, vestiu uma camiseta simples e jeans, e se sentou à frente do notebook. A tela em branco de um buscador de empregos piscava diante dele.

Ainda era cedo para o que ele realmente buscava - justiça, respostas, vingança - mas talvez fosse hora de colocar os pés no chão também. Se estabelecer. Se misturar.

Digitou "vagas para advogados" e começou a filtrar por áreas que dominava. Direito cível, empresarial, até penal. Londres havia lhe dado bagagem, mas ali era outro jogo. Outras regras. Outros rostos.

Mesmo assim, ele estava pronto. Ou pelo menos, quase.

Enquanto lia algumas descrições de vaga, uma aba do navegador continuava aberta com o perfil de Valéria. A bolinha verde indicava que ela estava online.

Mas o convite, ainda, pendente.

Nicholas sorriu, balançando a cabeça. Ela era mesmo diferente.

E era só o começo.

Depois de passar horas vasculhando vagas e atualizando seu currículo, Nicholas decidiu fazer o almoço. Preparou uma massa simples com tomates frescos, alho e um toque de manjericão - algo que Arturo provavelmente aprovaria. Comer, naquele dia, teve um gosto agridoce.

Logo depois de lavar os pratos, seu celular vibrou. Era uma notificação da rede social. Valéria havia respondido à última mensagem.

Antes disso, ele havia se rendido à provocação: mandou uma carinha sorrindo e, com um toque ousado, um coração.

A resposta finalmente veio.

Valéria Montenegro:

Você... é um advogado perigosamente convincente.

Nicholas riu, sozinho na cozinha. "Perigosamente convincente". Ele encarou essa frase por uns segundos. Soava quase como um elogio. Quase como um aviso.

**

Mais tarde, o telefone tocou. O nome dela apareceu na tela. Ele atendeu quase de imediato.

- Valéria?

- Oi, Nicholas. Estou te ligando porque surgiu uma pista. Uma filmagem registrada num hotel, dias antes da morte do Arturo.

- Que hotel?

- HARBOR. Fica perto da zona hoteleira antiga. Eu vou até lá hoje à noite. Pode ser que eu encontre algo... ou nada.

Nicholas se ajeitou no sofá.

- Posso ir com você?

- Não. Vou estar de plantão, e se for algo oficial... prefiro ir sozinha. Só queria que soubesse.

Ele demorou um pouco a responder.

- Tudo bem. Boa sorte, Valéria.

- Obrigada.

Ela desligou.

**

Nicholas ficou alguns segundos em silêncio, encarando a parede. Depois se levantou, andou até a bancada, abriu o notebook e, sem pensar duas vezes, digitou:

Hotel HARBOR - reservas

Fez o check-in para aquela mesma noite. Um quarto discreto, sem grandes exigências. Apenas o necessário.

Não comentou nada com Valéria. Nem precisava.

Se havia algo naquele lugar... ele faria questão de descobrir.

Por Arturo.

E por tudo que ainda estava escondido sob a superfície.

            
            

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