Capítulo 8 Tempestade Sobre o Harbor

Nicholas mal havia terminado o check-in quando ouviu passos decididos se aproximando. Ao se virar, viu Valéria parada a poucos metros, os braços cruzados e o semblante sério, ainda que com um leve brilho nos olhos.

- Eu não te falei pra não vir? - disse ela, encarando-o com firmeza.

Nicholas abriu um meio sorriso, ajeitando o cartão do quarto no bolso.

- Não resisti, Valéria. Eu também quero trabalhar nisso com você.

Ela suspirou, desviando o olhar por um instante. Estava sozinha - o parceiro de plantão havia sido chamado para outro caso. E agora, como se fosse encenação de um destino dramático, trovões começaram a ecoar ao longe, anunciando uma tempestade.

Do lado de fora, o céu já escurecia, e o barulho da chuva intensa contra o toldo da entrada aumentava a sensação de isolamento.

- Ótimo - ela resmungou. - O hotel ainda é longe da delegacia. Agora estamos presos aqui por um tempo.

Nicholas sorriu, aproveitando a deixa.

- Pelo jeito, podemos aproveitar o jantar do hotel com essa chuva, investigadora...

Valéria arqueou uma sobrancelha.

- Isso é um convite?

- Isso é uma proposta de cooperação mútua entre um advogado convincente e uma policial persistente.

Ela mordeu o canto do lábio, hesitando por um segundo. Depois, assentiu com a cabeça.

- Está bem. Mas eu escolho a mesa.

**

Sentaram-se próximos à janela, de onde podiam ver os raios cortando o céu. O restaurante do hotel era simples, com iluminação baixa e clima aconchegante.

- E aí? - perguntou Nicholas, enquanto o garçom deixava duas taças de vinho. - O que descobriu?

Valéria girou o líquido na taça antes de responder, como se estivesse organizando os próprios pensamentos.

- Nada de mais... oficialmente. Apenas uma filmagem. Arturo entrando no hotel com Michelle. Os dois pareciam apaixonados. Grudados, sorrisos, mãos entrelaçadas...

Nicholas manteve o olhar fixo nela.

- Isso te surpreende?

- Não muito. Mas... - Ela fez uma pausa. - O estranho foi que, alguns minutos depois, a mãe da Michelle também entrou no hotel. Sozinha.

Nicholas se inclinou levemente.

- A Sra. Elvira?

Valéria confirmou com a cabeça.

- Sim. Mas não encontrei registro dela saindo logo em seguida. Só horas depois. O que ela fazia lá? Coincidência? Ou algo mais?

Nicholas sentiu a tensão no ar. Uma pulga incômoda começou a se mover atrás da orelha.

- Isso muda muita coisa...

Valéria bebeu um gole do vinho, ainda pensativa.

- Muda, mas ainda não sabemos como.

Nicholas apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.

- Então... vamos jantar?

Ela sorriu, dessa vez com menos resistência.

- Vamos. E, por favor, sem mais surpresas por hoje.

- Não posso prometer nada. Mas posso tentar me comportar.

E assim, enquanto a tempestade caía lá fora, os dois jantaram em silêncio por alguns minutos - cúmplices involuntários, parceiros improváveis, ligados por uma verdade que ainda se escondia nas sombras.

Mas cada passo os levava mais perto.

            
            

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