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Nicholas mal havia terminado o check-in quando ouviu passos decididos se aproximando. Ao se virar, viu Valéria parada a poucos metros, os braços cruzados e o semblante sério, ainda que com um leve brilho nos olhos.
- Eu não te falei pra não vir? - disse ela, encarando-o com firmeza.
Nicholas abriu um meio sorriso, ajeitando o cartão do quarto no bolso.
- Não resisti, Valéria. Eu também quero trabalhar nisso com você.
Ela suspirou, desviando o olhar por um instante. Estava sozinha - o parceiro de plantão havia sido chamado para outro caso. E agora, como se fosse encenação de um destino dramático, trovões começaram a ecoar ao longe, anunciando uma tempestade.
Do lado de fora, o céu já escurecia, e o barulho da chuva intensa contra o toldo da entrada aumentava a sensação de isolamento.
- Ótimo - ela resmungou. - O hotel ainda é longe da delegacia. Agora estamos presos aqui por um tempo.
Nicholas sorriu, aproveitando a deixa.
- Pelo jeito, podemos aproveitar o jantar do hotel com essa chuva, investigadora...
Valéria arqueou uma sobrancelha.
- Isso é um convite?
- Isso é uma proposta de cooperação mútua entre um advogado convincente e uma policial persistente.
Ela mordeu o canto do lábio, hesitando por um segundo. Depois, assentiu com a cabeça.
- Está bem. Mas eu escolho a mesa.
**
Sentaram-se próximos à janela, de onde podiam ver os raios cortando o céu. O restaurante do hotel era simples, com iluminação baixa e clima aconchegante.
- E aí? - perguntou Nicholas, enquanto o garçom deixava duas taças de vinho. - O que descobriu?
Valéria girou o líquido na taça antes de responder, como se estivesse organizando os próprios pensamentos.
- Nada de mais... oficialmente. Apenas uma filmagem. Arturo entrando no hotel com Michelle. Os dois pareciam apaixonados. Grudados, sorrisos, mãos entrelaçadas...
Nicholas manteve o olhar fixo nela.
- Isso te surpreende?
- Não muito. Mas... - Ela fez uma pausa. - O estranho foi que, alguns minutos depois, a mãe da Michelle também entrou no hotel. Sozinha.
Nicholas se inclinou levemente.
- A Sra. Elvira?
Valéria confirmou com a cabeça.
- Sim. Mas não encontrei registro dela saindo logo em seguida. Só horas depois. O que ela fazia lá? Coincidência? Ou algo mais?
Nicholas sentiu a tensão no ar. Uma pulga incômoda começou a se mover atrás da orelha.
- Isso muda muita coisa...
Valéria bebeu um gole do vinho, ainda pensativa.
- Muda, mas ainda não sabemos como.
Nicholas apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.
- Então... vamos jantar?
Ela sorriu, dessa vez com menos resistência.
- Vamos. E, por favor, sem mais surpresas por hoje.
- Não posso prometer nada. Mas posso tentar me comportar.
E assim, enquanto a tempestade caía lá fora, os dois jantaram em silêncio por alguns minutos - cúmplices involuntários, parceiros improváveis, ligados por uma verdade que ainda se escondia nas sombras.
Mas cada passo os levava mais perto.