Capítulo 4 O Baile do Destino

Capítulo 4

O baile de inverno em Londres era o tipo de evento que todos esperavam ansiosamente. A temporada estava no auge, e os salões do grande teatro estavam repletos de máscaras, vestidos luxuosos e conversas sussurradas, escondendo segredos e alianças feitas nas sombras. Para Evelyn, era mais um evento social que ela seria obrigada a enfrentar, mas também uma oportunidade de escapar, se apenas por algumas horas, do peso do destino que seus pais haviam escolhido para ela.

A carruagem que a levava até o baile balançava suavemente pela estrada escura. Evelyn estava imersa em seus próprios pensamentos, observando a escuridão lá fora, quando sua mãe a interrompeu, com um tom severo.

- Lembre-se do que lhe foi ensinado, Evelyn - disse sua mãe, olhando com um sorriso forçado para a filha. - Este é o tipo de evento onde sua posição será avaliada por todos. Não se atreva a causar um escândalo.

Evelyn assentiu, embora a vontade de desafiar suas palavras crescesse a cada instante. Não era apenas o fato de ser obrigada a ir a um evento como esse, mas a constante lembrança de que ela deveria ser uma peça de um jogo, em vez de uma pessoa com sentimentos e vontades próprias.

Ao chegarem ao local, Evelyn sentiu a atmosfera do grande salão engolir seus sentidos. A luz dourada dos candelabros refletia nas paredes de mármore, enquanto as melodias da orquestra preenchiam o ambiente. Homens e mulheres dançavam graciosamente, como figuras que pareciam saídas de uma pintura. Era tudo tão belo, tão perfeito, mas Evelyn sentia-se como uma estranha no meio de tudo isso.

Ela usava um vestido de seda verde-claro, com delicados detalhes de renda, mas, ao invés de se sentir radiante, sentia-se como se estivesse usando uma máscara, escondendo sua verdadeira identidade. Olhou ao redor e, entre as inúmeras figuras presentes, avistou o duque.

Alexander Blackthorne estava mais uma vez com sua presença imponente. Vestido de preto impecável, seu olhar atento parecia sondar a sala, como se estivesse observando algo que ninguém mais poderia ver. Ele parecia distanciado, isolado de todos ao seu redor, e Evelyn não pôde deixar de notar a solidão que emanava dele, apesar da multidão que o cercava.

Ela se viu atraída por aquela aura, mas ao mesmo tempo repelida. Era como se ele fosse um enigma que ela não queria, mas sentia a necessidade de decifrar.

Conforme ela caminhava pelo salão, tentando ignorar os olhares que a seguiam, seu pai a conduziu até o centro do espaço, onde o duque estava conversando com outros convidados. Quando Evelyn foi apresentada a Alexander, o duque a observou com a mesma frieza de sempre, mas, dessa vez, havia algo diferente. Algo que ela não soubera identificar.

- Lady Evelyn - disse ele com um tom educado, mas distante. - Estou feliz em vê-la em um evento tão... requintado.

Evelyn tentou ignorar o leve tom de sarcasmo em sua voz. Ela sabia que ele a observava, provavelmente esperando que ela se comportasse como uma dama da sociedade. Mas, por dentro, ela se rebelava contra essa ideia.

- O prazer é meu, Duque. - Ela se curvou levemente, mas não o deixou ser o único a ditar as regras daquela interação.

O duque inclinou a cabeça, como se reconhecesse a pequena chama de desafio nos olhos dela. Ele hesitou por um momento, antes de estender a mão.

- Talvez queira me acompanhar na pista de dança, Lady Evelyn? - perguntou ele, os olhos agora mais atentos, como se estivesse testando algo, buscando uma reação.

Evelyn hesitou, sentindo o peso da escolha diante de si. Dancei com outros antes, mas nunca com um homem como ele. Ele era... imenso, em todos os sentidos. Mas, sem saber ao certo por quê, ela aceitou.

Eles seguiram para o centro da pista de dança, onde as danças de salão fluíam com graciosidade, e o som da música se entrelaçava com a leveza do ambiente. Evelyn sentiu os olhares fixos nela, a pressão social que parecia ser ainda mais intensa quando estava na presença do duque. Ele a conduziu com firmeza, mas de forma inesperadamente suave, como se, ao contrário de sua fachada de gelo, ele possuísse algo mais delicado.

Ao girar ao redor da pista, Evelyn não podia deixar de sentir a tensão no ar, uma conexão sutil, mas inegável. Ela percebeu que, enquanto dançavam, havia uma energia silenciosa entre eles - uma tensão que não poderia ser ignorada, mas que ela não sabia como interpretar.

- Nunca vi uma mulher tão... determinada quanto você - disse o duque, sua voz baixa, apenas para ela ouvir. - A maioria se encaixaria perfeitamente nas expectativas de todos, mas você... você é diferente.

Evelyn olhou em seus olhos, tentando ler o que ele realmente queria dizer. Não confiava em suas palavras, mas não podia negar a atração, a curiosidade que nascia dentro dela.

- Talvez eu apenas me recuse a ser uma marionete - respondeu ela, a sinceridade em suas palavras refletindo a força de sua convicção.

Alexander sorriu levemente, mas o sorriso não chegou aos seus olhos. Ele parecia estar pesando suas palavras, como se ela fosse uma peça em um jogo maior.

- Talvez - disse ele, antes de virar o corpo dela para uma nova sequência de passos de dança, sua presença fazendo com que o mundo ao redor desaparecesse, deixando-os isolados no centro do salão.

Por um breve momento, Evelyn se esqueceu do restante do baile. Apenas o duque e sua dança pareciam existir. Mas, à medida que a música terminava e eles se separavam, ela sabia que essa interação era apenas o começo de algo que ela não compreendia completamente. Mas algo dentro dela dizia que seria impossível voltar atrás.

            
            

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