Capítulo 3 O Primeiro Encontro

Capítulo 3

Evelyn acordou cedo no dia seguinte, o som suave da chuva ainda batendo nas janelas. Ela não havia dormido bem, seu coração e mente ainda agitados com a discussão de ontem à noite. Mas hoje não havia escapatória. O duque viria à casa para uma visita formal, um encontro que selaria ainda mais o que ela temia ser seu destino.

Vestiu-se com um vestido de cetim azul, com mangas longas e um decote discreto. Sua mãe, sempre atenta aos mínimos detalhes, supervisionava cada movimento, ajustando a fita do cabelo de Evelyn com precisão e exatidão. Evelyn sentia-se como uma boneca em uma vitrine, pronta para ser observada, mas nunca compreendida.

- Lembre-se de se comportar com a máxima compostura, Evelyn - disse sua mãe, o tom mais rígido do que o normal. - O Duque de Wessex é um homem de posição. Não podemos permitir que ele pense mal de nossa família.

Evelyn assentiu, mas o que sua mãe não entendia era que Evelyn não queria ser vista como uma simples extensão da família Ashford. Ela queria ser vista como uma mulher, com suas próprias vontades e desejos, e não como uma peça de uma negociação.

Quando o duque chegou, a ansiedade no ar era palpável. Evelyn podia sentir o peso de cada passo que ele dava, como se o próprio chão se curvasse diante da sua autoridade. Ele entrou no salão principal com a confiança de quem estava acostumado a ser o centro das atenções, mas, ao contrário de outros nobres, havia algo mais nele. Algo que Evelyn não conseguia identificar, mas que a intrigava profundamente.

A primeira visão do duque foi deslumbrante, mas não da forma que ela imaginava. Ele não era o tipo de homem que se fazia notar pela aparência exuberante, mas pela força que emanava de sua postura e pela intensidade de seu olhar. O rosto de Alexander Blackthorne era de uma beleza severa, de traços fortes e bem definidos, mas o que realmente a tocou foi a dureza que seu olhar transmitia.

Ele cumprimentou a família Ashford com a frieza de sempre, mas seus olhos, por um breve momento, se encontraram com os de Evelyn. O tempo pareceu parar.

Ela não soubera o que esperar, mas o que viu ali foi algo que não podia ser descrito com palavras. Havia um vazio nos olhos do duque, uma dor que ele ocultava bem, mas que estava ali, à flor da pele. Era como se ele tivesse visto demais, sofrido demais, para ainda acreditar nas frivolidades da vida aristocrática.

Evelyn foi a primeira a quebrar o silêncio, embora sua voz tremesse levemente.

- Senhor Duque... - Ela fez uma leve reverência, tentando disfarçar sua inquietação. - É um prazer conhecê-lo.

A resposta dele foi um simples aceno de cabeça, sem sorriso, mas com um olhar que, mesmo sem palavras, a fez sentir-se invadida por uma corrente de emoções. Ele parecia analisar cada movimento dela, cada palavra, como se estivesse decidindo o que fazer com ela, uma peça em seu tabuleiro.

- O prazer é meu, Lady Evelyn - respondeu ele, sua voz suave, mas carregada de um poder que ela mal conseguia compreender.

Os minutos seguintes passaram em um turbilhão de formalidades e pequenas conversas sobre a tempestade que assolava o dia e sobre os eventos da temporada social. Evelyn não podia evitar sentir-se deslocada. Cada palavra que ela trocava com ele parecia carregada de um peso invisível, como se estivesse tentando desvendar um enigma que a deixava mais confusa a cada segundo.

Mas, no meio da conversa, quando ele falou sobre suas terras e sua recente viagem a Londres, algo inesperado aconteceu. Ele sorriu, embora brevemente, e Evelyn notou uma ligeira suavidade no contorno de seu rosto. Aquilo a pegou de surpresa. Ela não sabia por que, mas o sorriso, por mais fugaz que fosse, mexeu com ela de uma forma que ela não conseguiu explicar.

- Deve ser fascinante viajar para Londres - disse ela, tentando manter a leveza na voz. - Deve haver tanta cultura, tanto para ver e experimentar.

Ele deu um pequeno sorriso novamente, mais perceptível, embora ainda contido.

- Há muito a ser visto, sim. Mas o que a maioria das pessoas não entende sobre Londres é que, muitas vezes, o que se vê não é o que realmente importa. - Ele a olhou diretamente, como se a frase tivesse mais significado do que um simples comentário sobre a cidade.

Evelyn o encarou por um momento, sentindo algo estranho crescer dentro de si. Não era apenas curiosidade. Era uma sensação de que havia algo mais por trás daqueles olhos de prata, algo que ela precisava descobrir. E, ao mesmo tempo, uma parte de si sentia uma necessidade de escapar.

A visita seguiu com mais conversas sobre assuntos triviais, mas, para Evelyn, o tempo parecia se arrastar. Quando finalmente ele se levantou para se despedir, o peso de suas palavras ainda estava em sua mente.

- Foi um prazer conhecê-la, Lady Evelyn. - Ele fez uma leve reverência. - Estou certo de que nos encontraremos mais vezes em breve.

Evelyn apenas acenou, sentindo a tensão no ar, mas, ao mesmo tempo, uma inquietação que ela não sabia como lidar. Quando o duque finalmente se afastou, ela ficou imóvel, como se ainda pudesse sentir o peso de sua presença em cada canto da sala.

Naquele instante, Evelyn soubera que nada seria mais simples a partir daquele momento. A batalha entre a razão e o coração estava apenas começando.

            
            

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