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Hope Narrando
Acordei com a luz do sol filtrando pela janela. O quarto era espaçoso, elegante, e ainda me parecia estranho dormir longe da minha mãe, na casa onde eu cresci. Me espreguicei, fui até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e prendi o cabelo num coque despretensioso. Coloquei um vestido leve e confortável e desci as escadas com a intenção de ajudar minha mãe a pôr a mesa do café.
Mas, assim que entrei na sala de jantar, parei. A mesa já estava posta com perfeição - toalha de linho, louças finas, sucos naturais, frutas cortadas, pães ainda quentes.
- Mãe, eu ia ajudar - comecei a dizer, me aproximando.
Ela se virou com um sorriso calmo.
- Você não tem que fazer os serviços da casa, minha filha. Agora vive na ala da família. - disse, com um certo orgulho nos olhos.
Antes que eu pudesse responder, ouvimos o som dos saltos apressados no corredor. Eram firmes, decididos. Virei na direção da entrada e vi uma mulher loira, de olhos claros, alta e esguia. Ela me olhou da cabeça aos pés com uma expressão que misturava avaliação e desprezo.
- Bom dia, senhora. - minha mãe disse, com respeito na voz.
A mulher nem respondeu. Apenas lançou um olhar para a mesa.
- Quero o meu café com leite de amêndoas. Nada de açúcar. E aquelas torradas integrais, já sabem. - disse, seca, e desapareceu pelo corredor.
Fiquei parada, tentando processar.
- Mãe, quem é essa?
Ela hesitou por um segundo, ajeitando a toalha da mesa.
- A futura Sra. Collins, ela estava viajando, provavelmente chegou hoje - respondeu, sem levantar os olhos.
Sorri de lado, sem humor, e balancei a cabeça. Era isso, então. A noiva do Don. Não tinha gostado de mim à primeira vista, e a recíproca estava quase se formando.
Poucos minutos depois, meu padrinho chegou acompanhado dela, de Vincent e do Dom. A loira veio ao lado dele, com o braço entrelaçado no dele, como se quisesse deixar claro o território que ocupava. Se Sentou à mesa me lançando olhares silenciosos e carregados, enquanto meu padrinho começava a falar sobre a movimentação na empresa e os planos para o dia.
Ela não disse uma palavra pra mim. Mas o jeito como me encarava, como se minha presença fosse uma ameaça.
- E o Fred? - perguntei, cortando o assunto sem pensar. - Ele não vai tomar café?
Vincent, que passava manteiga na torrada, respondeu sem levantar os olhos:
- Fred sai cedo. Toma café na sede.
Assenti em silêncio, disfarçando a pontada estranha que senti no peito. Meu padrinho continuou, ignorando o assunto.
- Quero te levar hoje na empresa da família. Já que você estudou números, vai começar na contabilidade. - disse, com orgulho na voz.
- Vai ser uma honra trabalhar ao seu lado, padrinho. - respondi, sorrindo, apesar do clima tenso ao redor.
Olhei discretamente para a mulher sentada à frente. A noiva dele. Fria, distante, uma sombra loira que parecia me odiar sem motivo. Ainda assim, engoli em seco, mantive a postura e tomei meu café em silêncio, ciente de que minha volta à Toscana estava apenas começando e que nem todos estavam felizes com isso.
Fui com Meu padrinho. O homem que todos respeitam, temem e obedecem. Assim que saímos pelos portões da fortaleza, já havia uma comitiva de carros à espera. SUV's pretas, vidros escuros, soldados armados, atentos. Como se estivessem indo para guerra. Mas não, era só uma ida à sede da empresa, que, no nosso mundo, muitas vezes é mais perigosa que qualquer campo de batalha.
Entrei no carro ao lado dele. Não falamos muito no caminho. O silêncio com meu padrinho nunca foi desconfortável. Ele é presença, é comando. A cidade passou rápido pela janela, e quando viramos na entrada principal da Collins Group, os seguranças já abriram os portões sem nem precisar de aviso. Um verdadeiro império de vidro e concreto. De poder e controle.
Assim que descemos, os soldados se posicionaram. Dois à frente, dois atrás. Ninguém se aproximava do Don sem autorização. Entramos juntos, e os olhares começaram. As recepcionistas abaixaram a cabeça num gesto de respeito. Alguns executivos se ergueram das cadeiras ao vê-lo passar.
Pegamos o elevador privado. Meu coração batia um pouco mais rápido. Não pelo prédio. Mas por estar ao lado dele. Eu sabia que essa apresentação era mais que formalidade. Era ele colocando meu nome diante de todos. E quando a porta do andar da diretoria se abriu, meu peito se encheu de orgulho.
- Venham comigo. - ele disse com voz firme, e os diretores, já reunidos, se levantaram assim que entramos na sala de reuniões. O silêncio tomou conta por segundos.
- Senhores - começou ele, com sua postura imponente -, essa é Hope. Minha afilhada. A menina que eu vi crescer. Que cruzou o oceano e voltou formada, preparada. A partir de hoje, ela integra oficialmente a Collins Group.
Ele deu uma pausa e me puxou levemente pela cintura, me colocando à frente de todos.
- Quero que saibam que Hope tem meu nome. Minha proteção. E minha confiança. Tudo o que ela disser aqui dentro deve ser levado com o mesmo peso que teria se viesse de mim.
Senti todos os olhares sobre mim. Alguns surpresos. Outros curiosos. Um ou dois, desconfiados. Mas nenhum ousou contestar. Com o Don falando daquele jeito, o assunto estava encerrado antes mesmo de começar.
- Ela vai ficar na contabilidade. Vai aprender tudo. Cada número, cada centavo que entra e sai dessa empresa. Quero ela afiada, por dentro de tudo. - ele concluiu, olhando direto para o diretor financeiro.
- Claro, Don. Será um prazer recebê-la. - o homem respondeu de imediato.
- Bem-vinda, senhorita Hope. - outro completou.
- Obrigada. - respondi, mantendo o tom firme, sem demonstrar a avalanche de sentimentos dentro de mim.
A reunião seguiu com pautas rápidas. O Don me apresentou a cada diretor, um por um, sempre deixando claro que eu não era qualquer uma. E quando saímos da sala, eu já não era só a afilhada dele. Eu era agora parte da engrenagem que movimentará aquele império.