Capítulo 8 Hope

Hope Narrando

Assim que voltei da empresa com o Don, troquei os sapatos e fui direto procurar minha mãe. Queria contar tudo. Ela sempre foi minha primeira ouvinte, mesmo quando eu era pequena e voltava da escola com mil histórias sem importância. Perguntei por ela a uma das empregadas e a moça me respondeu com um sorriso:

- Ela está no salão principal, senhorita Hope. Organizando os preparativos do baile.

Agradeci e segui pelo corredor, passando pelas escadas largas até alcançar as portas de vidro que davam acesso ao salão. Assim que entrei, meus olhos se encheram com o tamanho daquilo tudo. As paredes altas, lustres imensos pendendo do teto, e o cheiro forte das flores recém-chegadas. As mesas ainda estavam sendo posicionadas, algumas ainda cobertas com plásticos. Vi homens trazendo caixas, arranjos, tecidos. E no centro de tudo, como uma comandante de guerra, estava minha mãe.

Ela dava ordens, gesticulava, apontava com firmeza onde cada flor deveria ficar, verificava os talheres sobre as mesas com um olhar minucioso. Aquilo me arrancou um sorriso. A empregada simples que cresceu servindo os Collins, agora era peça essencial na organização de um dos eventos mais importantes da casa.

Me aproximei devagar. Quando ela me viu, seus olhos brilharam.

- Minha filha! - abriu um sorriso largo e veio até mim - Como foi? Me conta!

- Foi intenso - respondi, rindo. - O Don me apresentou a todos da diretoria. Disse que eu sou da confiança dele, e que o que eu falar tem o mesmo peso que uma ordem vinda dele.

- Ele disse isso? - ela levou a mão ao peito, emocionada. - Você não tem ideia do que isso significa aqui dentro. Só toma cuidado, Hope.

- Cuidado com o quê?

Ela olhou ao redor, se certificando de que ninguém estava ouvindo, e então falou mais baixo:

- Com a dona Bárbara. A noiva do Don. Aquela loira do café da manhã. Ela não vai gostar de você lá dentro. Tem duas filhas e o Don nunca deu oportunidade pra nenhuma. Agora você chega, com esse olhar doce, esse diploma e o respeito dele. Só cuidado, tá?

Assenti. Já tinha percebido os olhos dela sobre mim mais cedo. A desconfiança não me assustava, mas o aviso da minha mãe era sempre valioso.

- Agora vai descansar. Você tem baile hoje à noite. - disse ela, voltando ao modo prático de sempre. - E quero você linda. Mostra pra essa casa quem você é.

Voltei para a ala da família com o coração aquecido.

Na hora do almoço, desci direto pra cozinha. O perfume do tempero da minha mãe invadia o corredor, e só de sentir, meu estômago roncou. Quando cheguei lá, uma das cozinheiras já se apressava pra montar uma mesa separada pra mim, toda bonitinha, com louça de porcelana e talheres de prata. Fiz um sinal com a mão e balancei a cabeça.

- Não precisa disso, por favor. Hoje eu quero almoçar aqui, com vocês.

Elas se entreolharam, surpresas. Algumas sorriram, outras hesitaram.

- Mas a senhorita agora faz parte da ala principal, pode almoçar lá em cima, na sala de refeições - comentou uma das funcionárias mais antigas, meio sem graça.

- E eu vou, quando for necessário. Mas aqui é minha casa também. Cresci nesse canto da cozinha, sentada nesse banco torto ali do canto - apontei, sorrindo. - E hoje eu quero almoçar com a minha mãe.

Minha mãe sorriu com os olhos brilhando, com aquele olhar que mistura orgulho e preocupação. Sentamos lado a lado, como fazíamos quando eu era criança, e os outros funcionários foram se aproximando, um por um, tomando seus lugares habituais.

A conversa foi leve, cheia de risadas e lembranças. Falaram da festa que seria à noite, dos arranjos florais, da correria dos últimos dias. Uma das meninas até arriscou um palpite:

- Aposto que essa festa é pra apresentar a senhorita Hope como a nova dama da casa.

Todo mundo riu, e eu também.

No quarto, a banheira já estava pronta me esperando, cheia de espumas perfumadas. O aroma suave de lavanda preenchia o ar, relaxando meus músculos e minha mente. Mergulhei devagar, sentindo a água quente envolver meu corpo e levar embora qualquer resto de tensão. Fiquei ali por longos minutos, de olhos fechados, só ouvindo o som da água e meu próprio coração. Eu sabia que precisava estar impecável essa noite. Não era só um baile, era minha apresentação oficial. Minha estreia no mundo da família Collins.

Depois do banho, enrolei o corpo na toalha macia e fui até o closet. Sobre o suporte de veludo, ele me esperava. O vestido. Azul-marinho como a noite, feito de um cetim encorpado que abraçava minhas curvas com perfeição. Tinha alças finas e um decote em coração que deixava meus ombros à mostra com elegância. A cintura era marcada por uma faixa fina de veludo preto, e a fenda lateral revelava a perna com cada passo. Era moderno, sexy, e ao mesmo tempo sofisticado. Um vestido à altura do baile.

Escolhi um par de saltos altos pretos com tiras finas que envolviam os tornozelos. Me alongavam, me faziam andar com firmeza. No rosto, fiz uma maquiagem mais marcante que o habitual. Pele bem feita, iluminada nos pontos certos, olhos esfumados em tons terrosos e dourado, cílios longos com bastante rímel, e nos lábios um batom nude com brilho, que dava um toque sensual sem exagero.

Prendi o cabelo num coque baixo e elegante, com algumas mechas soltas na frente, moldando meu rosto com suavidade. Coloquei os brincos pequenos de brilhante, herança da minha avó. Discretos, mas com valor emocional.

Borrifei meu perfume favorito no pescoço e pulsos. Floral com fundo amadeirado. Minha marca registrada.

Quando me olhei no espelho, quase não me reconheci. Estava deslumbrante. Mas, acima de tudo, estava segura. De quem eu era. De onde eu vim. E de onde eu queria chegar.

Respirei fundo.

Aquela noite não seria apenas um baile. Seria o começo de algo maior.

E no fundo, algo me dizia, essa noite mudaria tudo.

            
            

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