Capítulo 9 Uma Vida Mais Feliz

A noite se derrama com suavidade sobre a cidade, tingindo o céu com tons profundos de azul e púrpura. Há uma brisa leve que percorre as ruas tranquilas, mas dentro da casa de Rafael Antonelli, o clima é outro, vibrante, acolhedor, quase mágico. O som dos talheres sendo colocados à mesa mistura-se às risadas e vozes animadas, criando uma melodia familiar que aquece o peito de quem a ouve.

Beatriz observa a cena com olhos atentos, tentando guardar cada detalhe. As luzes amareladas da sala de jantar lançam reflexos dourados sobre os rostos sorridentes à sua volta. O aroma inebriante de lasanha recém saída do forno envolve o ambiente, enquanto todos se acomodam em seus lugares com naturalidade, como se aquele jantar fosse um ritual sagrado repetido semanalmente.

- E aí, Rafael, como anda a pesquisa? - pergunta Stefany, inclinando-se levemente sobre a mesa, com os olhos brilhando de curiosidade.

- Está indo bem, Stefany. Amanhã pretendemos ir a campo buscar mais amostras, mas a pesquisa está caminhando melhor do que eu esperava. E com a chegada da Beatriz, tenho certeza de que vai decolar! - diz Rafael, lançando um sorriso genuíno para a nova integrante da equipe.

- Era tudo o que mais precisava, uma assistente! - acrescenta com entusiasmo.

Nesse momento, Fabrícia entram na sala equilibrando mais uma travessa fumegantes de lasanha. O cheiro é irresistível. Rafael arregala os olhos e finge espanto, falando em tom dramático:

- Hoje eu vou me acabar! Não vai sobrar para vocês!

- É ruim, hein, Rafael. Vamos te colocar para fora da sua própria casa! - brinca Antônio, e Marlon cai na gargalhada.

- Nem brinca com um negócio desses - responde Rafael, entre risos.

- Calma, papai! O tio Rafael não vai comer toda a lasanha, vai dividir conosco, não é? - pergunta Nicolas com aquela inocência desarmante.

- Claro, Nicolas! Nunca vou deixar você sem a lasanha saborosa que a sua mãe preparou! - responde Rafael, fingindo ofensa.

- Viu, papai? Eu não disse? - diz o menino, fazendo todos caírem na risada enquanto os pratos começam a ser servidos.

A conversa continua animada, intercalada por garfadas fartas e olhares cúmplices. É nesse clima de afeto que Fabrícia, com um brilho especial no olhar, se volta para Beatriz:

- E você, Beatriz? Qual a sua expectativa para esse trabalho?

Beatriz respira fundo, emocionada, antes de responder:

- Me formei recentemente e essa oportunidade significa muito para mim. Sempre sonhei com um ambiente onde pudesse aplicar o que aprendi, crescer, contribuir. E depois dessa recepção tão calorosa... sinceramente, eu me sinto abençoada. Estou apostando tudo nessa chance.

- E não vai demorar para essa equipe crescer mais um pouco - diz Fabrícia, rindo.

- Tem mais dois membros aqui dentro do forno!

- Que maravilha! São gêmeos?

- Sim. Mas eu quero saber o sex0 só no momento do nascimento. Estou no sétimo mês e, como são dois, pode ser que eles ou elas, ou ambos, decidam vir ao mundo a qualquer momento!

- É verdade! Agora é hora de se cuidar, não é amiga? - diz Stefany, preocupada e carinhosa.

- Estamos todos cuidando da Fabrícia - comenta Marlon.

- Já nos consideramos pais adotivos desses dois aí.

Beatriz observa a cena, emocionada. Há tanto tempo vive cercada apenas pelo silêncio. Desde a perda de seus pais, três anos atrás, não conhece mais esse tipo de convívio, a mesa cheia, as brincadeiras, as discussões leves, o calor humano. Aprendeu a amar sua solitude, mas essa noite... essa noite toca algo profundo dentro dela. Um sentimento que nem sabia que ainda existia desperta com força.

Ela sorri em silêncio, sentindo que, talvez, aquele lugar seja mais do que um novo emprego. Talvez seja um novo lar.

O jantar se encerra com mais risos e histórias engraçadas. Logo, todos se reúnem na sala de estar. Rafael abre uma garrafa de vinho tinto, e o ambiente se torna ainda mais íntimo, envolto em confidências e promessas de um futuro compartilhado.

- Marlon, amanhã sairemos às nove para o campo, tudo certo com o carro? - pergunta Rafael, enquanto serve as taças.

- Tudo em ordem. Está revisado e pronto.

- Ótimo. Beatriz, você vem conosco. Vai ser bom ver como conduzimos a coleta.

- Perfeito! - responde ela, animada.

- Stefany, está tudo certo no laboratório?

- Sim, Rafael. Prepararei tudo para receber as amostras. Vai estar impecável.

- Ah, que bom! - diz Rafael, satisfeito.

- Marlon, e o jogo de ontem?

- Você viu? Aquela defesa continua uma piada!

- Não, fala sério! - exclama Rafael, indignado.

- Vocês não vão começar a falar de futebol agora, né? - resmunga Stefany, cruzando os braços.

- É verdade! - concorda Fabrícia, rindo.

- Melhor mudar de assunto, senão vamos dormir no sofá hoje! - brinca Marlon.

As risadas ecoam mais uma vez, leves, sinceras. Quando a noite finalmente chega ao fim, Rafael leva Beatriz até a sua casa.

- E então, Beatriz... o que achou da sua nova equipe?

- Eles são incríveis, Rafael. Acho que encontrei algo muito especial aqui. Um ambiente leve, uma convivência saudável... me senti acolhida desde o primeiro instante.

- Acha que vai se adaptar à cidade? Às novas amizades?

- Eu não tenho mais família, Rafael. Então, viver isso, fazer parte disso... é um presente. Eu não poderia estar mais feliz.

Eles se despedem com um abraço afetuoso. Beatriz entra em casa com o coração aquecido, troca de roupa, faz sua higiene e se joga em sua cama confortável. A leveza do vinho e o cansaço do dia a fazem adormecer rapidamente.

Mas o sono não é tranquilo.

Ela sonha. Intenso. Quente.

Ele está ali, a tocando com desejo. Seus corpos se entrelaçam, suas bocas se buscam como se cada beijo fosse uma promessa. As mãos dele percorrem seu corpo com pressa, com fome, com familiaridade. Ele a olha nos olhos, profundamente, e naquele olhar há algo inexplicável. Amor? Arrependimento? Um adeus?

Então ele começa a se afastar. Ela o abraça, implora, chora.

- Não se vá... por favor, não faça isso com o nosso amor, Lipe!

Mas ele não a ouve. Continua se afastando, enquanto ela grita, desesperada.

Esses sonhos podem ter algum significado?

Como Felipe reagiu ao desaparecimento de Beatriz?

            
            

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