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Capítulo 9
Eu acordei quando o meu despertador tocou e sai de lá o mais rápido possível antes que corresse o risco de ser tentada por aquele corpo gostoso. Mas eu tinha que ser forte, depois dele ter deixado bem claro que aquilo entre nós não se repetiria eu quis ir embora, porém lembrei-me que não ia acontecer de novo, então eu ia aproveitar aquela noite e criar uma boa lembrança da minha primeira vez.
Foi por isso que eu resolvi ficar quando ele se aproximou de mim na banheira, me impedindo de sair e posso afirmar com toda certeza de que não me arrependi nenhum pouco, o homem parecia insaciável e me fez adorar cada segundo.
Mas quando o dia amanheceu eu me despedi dele e sai de cabeça erguida, mesmo que quisesse continuar ali a minha realidade era outra, e não o incluía.
Cheguei mais cedo no trabalho, já que o motel era perto e eu tinha que agradecer por isso, só assim tive tempo de tomar um banho e colocar o uniforme sem que ninguém me visse no vestido da noite passada e cheirando a sexo.
- Você madrugou aqui, garota? - Teresa me questionou quando entrou na área de funcionários e me encontrou tomando café. - Nunca vi ninguém chegar tão cedo.
- Foi bom chegar antes, tive um tempinho sozinha. Sabe me dizer se vai haver mais alguma mudança na escala hoje? - aproveitei para perguntar, já temendo o pior, aquele lugar tinha mais câmeras e fofoqueiros que qualquer outro e eu não queria correr o risco de ter sido vista.
- Não, dificilmente fazemos esse tipo de coisa. - ela respondeu de forma rápida e eu sorri voltando para o meu café. - Quer saber, que se dane. - as palavras dela me deixaram confusa e no mesmo instante ela sentou-se ao meu lado, se aproximando como se tivesse um segredo a contar. - Eu não deveria contar isso a ninguém, especialmente a você já que foi o real motivo da mudança...
- Eu? - praticamente gritei a pergunta a interrompendo, fiquei chocada de mais para me importar.
- Sim! Um dos figurões que está hospedado aqui pediu para que você fosse a responsável pela limpeza do quarto dele, praticamente exigiu isso, afirmando que você tinha sido educada e falado com ele em inglês quando ele se perdeu no hotel.
James! Eu não podia acreditar que ele tinha feito isso. O homem era muito cara de pau, tinha feito tudo isso apenas para nos encontrarmos no seu quarto, me deixando acreditar que tinha sido destino.
- Eu estou surpresa. - foi tudo o que consegui dizer enquanto a minha mente viajava até ele.
- Pois é, seja lá o que fez chamou a atenção do homem, porque ele disse ter instruções específicas que passaria direto a você e que se não fizessem a troca ele deixaria o hotel.
- Ai meu Deus! Eu... não acredito que ele disse isso.
O homem fez tudo isso só para ter um momento a sós comigo no quarto e conseguir o que tanto queria, me levar para a cama. Eu tinha que admitir ser muito esforço para alguém que fez questão de não ter maiores envolvimentos, não queria nem que eu soubesse a sua idade.
As outras pessoas começaram a chegar e logo a rotina do dia se seguiu, mas dessa vez eu tinha a certeza de que veria James e que foi ele quem planejou para isso acontecer, só não tinha ideia de como iria reagir depois da nossa noite.
Eu não queria me apaixonar, criar nenhum vínculo maior ou a ideia errada. Quando eu contei a minha mãe ela me incentivou a ir ao encontro e me divertir se era o que eu queria, mas assim como Miriam ela me lembrou de que ele logo iria embora, então seria inteligente guardar meu coração.
Distrações eram algo que eu não precisava agora, estudando e trabalhando, e agora eu tinha a certeza de que James era uma deliciosa e perigosa distração.
Mas eu estava enganada, não o vi o dia todo. Quando entrei em seu quarto estava tudo impecavelmente arrumado, não havia nenhum sinal de que ele tinha estado ali depois que eu limpei, mesmo assim fiz meu trabalho e sai de lá. E pelo resto do meu dia não houve nenhum sinal dele, apenas as imagens da nossa noite se repetindo em minha mente e meu corpo dolorido como lembrete de onde ele esteve.
Talvez isso fosse para o melhor.
- Vovó cheguei! - gritei entrando em casa, mas quando cheguei na cozinha tive uma surpresa. - Mãe? O que faz em casa tão cedo?
Ela estava curvada com os cotovelos apoiados no tampo da mesa e a cabeça entre as mãos, seu olhar parecia mais cansado do que o normal.
- A empresa está com problemas, avisaram hoje na hora do almoço e mandaram para casa a maioria das pessoas, só vamos trabalhar meio período agora.
- O quê? - perguntei atordoada largando a bolsa no chão e indo até ela. - Mas como assim? Eles podem fazer isso?
- Claro que podem, estão quase a beira da falência, os clientes que ainda tem são pequenos e não entra tantos pedidos de peças como antes. - ela suspirou e eu agarrei a mão dela. - Já estão fazendo isso para nos ajudar e não demitirem todos de uma vez, afinal meio período é melhor que nada.
- Sinto muito mãe.
- Não se preocupem meninas, nós vamos dar um jeito, sempre damos! - vovó entrou na cozinha afirmando.
- Sim, nós vamos dar um jeito. Eu vou procurar trabalho nos horários livre e pegar todas as diárias que aparecerem. - ela disse erguendo a cabeça, mostrando estar decidida.
Eu fingi ter a mesma certeza que ela e sorri, quando na verdade meu coração se apertava no peito em imaginar no quanto minha mãe ia trabalhar agora. Ela não tinha mais idade e nem saúde para ficar trabalhando e pegando faxinas por aí.
- Por sorte você está trabalhando agora, Aurora. Isso vai nos ajudar e muito, a manter as contas em dia. - vovó falou dando um tapinha no meu ombro. - Deus sabe exatamente tudo o que faz e quando faz, vejam só?
Tive que concordar com ela, mas no fundo fiquei triste por saber que meus planos de guardar dinheiro para a faculdade teria que esperar mais um pouco, as prioridades tinham acabado de mudar.
Quando eu deitei na cama aquela noite e a imagem de James veio povoar a minha mente, não consegui evitar pensar nas nossas conversas da noite passada e as palavras dele sobre o motivo de estar no Brasil ficaram indo e voltando.
James não estava conseguindo fechar o negócio com a tal fábrica e isso estava gastando mais tempo do que ele esperava. Só que se ele conseguisse uma empresa disposta a aceitar tudo para não fechar as portas as coisas seriam diferentes.
Eu não entendia nada de negócios, mas podia ao menos falar sobre o assunto, jogar essa possibilidade no colo dele e deixar que os homens de negócios decidirem. Agora eu só precisava encontrá-lo!
Mas isso estava parecendo ainda mais difícil de acontecer, outro dia se passou sem que eu chegasse a vê-lo. Se não fosse os pertences no quarto eu acreditaria que ele tinha saído do hotel, mas ele ainda estava lá.
- Aurora, sei que não é seu trabalho e já está na sua hora de bater o ponto, mas pode ir até à área da piscina dar uma ajuda a Raquel? - encarei meu celular dando uma última olhada na hora. - Tem uns jovens bagunceiros bebendo lá o dia todo e ela está sozinha, não está dando conta de limpar a bagunça e olhar as outras mesas.
- Claro. - sorri colocando minha mochila de volta no armário. Eu não podia reclamar nem dizer não a nada ali, além de ser novata precisava desse emprego mais do que nunca.
- Só precisa limpar a bagunça da área VIP onde eles estão e pode ir embora, já está no horário de fechar o bar da piscina e eles vão ter que sair.
- Tudo bem. - corri até lá querendo fazer tudo o mais rápido possível para poder ir embora. Mas quando cheguei meu choque foi maior ao ver a verdadeira zona que estava em baixo da tenda da área VIP. - Deus me ajude.
- Com certeza você vai precisar de ajuda divina, mas é para não dar um soco em babaca desses. - Raquel murmurou surgindo ao meu lado. - Eu os aguentei a tarde toda e estou por um fio de quebrar uma dessas garrafas na cabeça de um deles.
Ela saiu apressada indo atender a família em uma das mesas e eu respirei fundo antes de entrar na tenda cheia de homens bêbados. Eu ainda não conseguia acreditar que chegaria tarde em casa graças a um bando de ricos mimados e irresponsáveis, só conseguia pensar nisso enquanto varia o chão e limpava a mesa.
- Ei gatinha, não tinha te visto aqui antes. - ouvi um deles gritar, mas continuei focada no meu trabalho. - Olha só gente, mandaram uma garota bem mais gata para ajudar a gente!
Todos os outros gritaram em comemoração, provavelmente não tendo nem ideia pelo que estavam gritando, já que a música ali dentro estava alta e eles mais bêbados que o recomendado.
- Fala seu nome pra gente linda? - outro perguntou se juntando a mim e eu tive que desviar o caminho. - Ei, não foge não, vamos conversar!
Agora eu estava entendendo o que Raquel tinha dito sobre se controlar para não bater em um deles com uma garrafa, eu definitivamente queria fazer isso.
- Fala seu nome pra gente vai, não é nada de mais. - o amigo dele insistiu se colocando a minha frente e eu suspirei irritada, vendo que eles não iriam parar.
- Meu nome é Aurora e eu tenho ordens de limpar tudo aqui, então se me derem licença. - eu me virei para sair do caminho dele, mas uma mão agarrou meu braço.
Meu sangue ferveu e eu amassei a sacola de lixo em minhas mãos, unindo todas as minhas forças para não surtar e gritar. Se Raquel aguentou isso o dia todo eu aguentava mais alguns minutinhos.
- Senta aqui com a gente e toma uma cerveja. Anda não vai te matar só alguns minutos. - toda a insistência e aquela situação me irritaram além do limite.
Puxei meu braço do aperto dele com brutalidade, não me importando nenhum pouco com o que eles iriam pensar, eu não deveria insultar os hóspedes, mas não era paga para aturar certos abusos.
- Já disse que meu trabalho aqui é apenas limpar e ir embora, então me dê licença!
- Qual é gata, está achando que é boa de mais para sentar com o meu amigo? Então senta no meu colo. - respirei fundo ignorando aquilo e me abaixei para pegar uma última garrafa no chão, quando a mão de um deles acertou minha bunda.
Meu corpo todo travou e eu me ergui devagar, medindo o que podia fazer com eles sem perder o emprego. Mas meu sangue gelou no instante que percebi que estava encurralada no meio dos três idiotas, os mesmos que estavam mexendo comigo desde que cheguei ali.
- Aurora! - a voz grossa e assustadoramente baixa soou atrás de mim, atraindo o olhar de todos eles. - Venha!
- Qual é cara, deixa a garota se divertir. - a mão voltou a agarrar meu braço e mesmo com os meus puxões ele não me soltou.
O homem olhava para James com um sorriso presunçoso, como se eu fosse um brinquedo que os dois quisessem e ele o desafiasse a vir buscar.
- Filho da puta! - James rosnou marchando na direção dos três e eu só senti o solavanco quando ele acertou um soco no homem o jogando no chão.
Por muito pouco eu não caí junto com o babaca, isso só não aconteceu porque James agarrou minha cintura, me puxando ao encontro do seu corpo. Eu nem ao menos tive tempo de assimilar tudo o que tinha acabado de acontecer, antes que ele me tirasse de lá, deixando o outro para trás gritando com o nariz sangrando.
- O que você... ai meu Deus, o que você fez? - perguntei retoricamente, ainda segurando o saco com o lixo em uma mão e encarando a tenda com todo o alvoroço.
- Não vou deixar nenhum desgraçado tocá-la! - ele bradou em inglês, me deixando ainda mais confusa e chocada.
- Você me colocou em problemas, posso perder o emprego por isso. - resmunguei jogando o lixo fora, eu sabia que deveria ficar agradecida, aqueles bêbados de merda poderiam ter feito algo comigo antes que alguém escutasse meus gritos por ajuda, mas isso não me impedia de ficar apreensiva.
- Aurora! Você está bem? Aconteceu alguma coisa? - Raquel chegou apressada ao meu lado e eu tive a certeza de que estava ferrada.
- Eu...
- Aqueles animais estavam segurando, puxando, e passando a mão nela, então eu entrei lá e dei um soco na cara de um deles! - James tomou a frente antes que eu pudesse responder. - Agora vá pegar suas coisas, Aurora. Eu vou cuidar de tudo aqui, já disse que você não vai perder o emprego! - ele afirmou o final em inglês, deixando Raquel confusa enquanto me encarava tentando passar toda a certeza.
Eu não deveria confiar na palavra dele, James iria embora e eu ficaria para trás para lidar com tudo o que ele causasse na minha vida, sem falar no quão cafajeste ele era. Mas algo no olhar dele me passou a certeza que eu precisava para sair dali e ir buscar minhas coisas.
Só não esperava que quando saísse da sala de funcionários fosse dar de cara com ele.
- O que... o que faz aqui? - gaguejei a pergunta, esperando encontrar qualquer outra pessoa ali menos ele, ainda mais com aquela expressão tranquila, como se nada tivesse acontecido.
- Eu vou levar você para casa!