Capítulo 10 ...

🏹🏹🏹🏹

As lembranças faziam os olhos do príncipe darem sinal de uma lágrima solitária - assim como ele -, mas ele não se deixava chorar. Não mais. Não por seu pai. A vida tinha se encarregado de puni-lo. O príncipe não podia dizer hoje que não acreditava em orações, porque ele pediu, muito, para que seu pai sumisse da face da Terra. E agora, com os dias contados, doente e cada dia mais fraco, ele sentia em seu interior que fora ouvido, de certa forma.

🏹🏹🏹🏹

A semana foi rápida dessa vez. Ele mal sentiu a fome se apossar de si. Estava entediado, e só. Mas quando finalmente colocou os pés fora daquele lugar, ele agradeceu. Correu aos seus aposentos e tomou um banho quente e demorado. Ele precisava. Agora, limpo e alimentado, ele iria à farra.

O bordel mais requintado do reino - ele só pensou nisso nos últimos três dias -, o quanto estava sedento por uma vadia qualquer se envolvendo sobre ele. Isso o deixou louco nos últimos dias naquele lugar, mas também foi o que o fez suportar estar ali sem trazer de volta a dor do seu passado.

- Você mal saiu do seu castigo e já vai ser imprudente novamente? Eu realmente não sei onde foi que eu errei. - A voz do rei se fez presente no corredor, assim que o príncipe colocou os pés para fora de seu quarto, arrumando a manga da camisa. Ele respirou fundo para afastar os pensamentos que teve na masmorra - a vontade de enfiar uma adaga no peito do pai. Precisava afastar essa possibilidade da mente, antes que ela o consumisse. Ele não queria estar no trono agora, muito menos ser acusado de traição. Ele queria liberdade...

- Eu poderia narrar uma lista imensa de erros, majestade, mas estou bem com os dias que passei na masmorra e não desejo voltar tão cedo... Só vamos dizer que deveria ter encerrado seu reinado em sua geração. Deixar um herdeiro como eu não foi muito esperto de sua parte... - Ele riu. O príncipe não queria provocar, mas era arrogante demais para ceder à sua própria vontade. - Mas deve imaginar: depois de dias preso, sozinho e no frio, eu preciso de calor humano, afago e carinho, então estou só indo atrás disso. Pai... - A última palavra foi mais apelativa. Ele sabia que tinha exagerado, e esperava que seu pai fosse piedoso, de todo modo.

- Você volta às expedições na próxima semana. Se recomponha e faça as merdas que tem que fazer nesse período, pois, se voltar a renegar suas obrigações, eu cumprirei o seu desejo, meu filho... Encerrarei o legado em mim... - Ele saiu em passos lentos e não olhou o filho nos olhos. A possibilidade de sua ameaça fazia o rei sofrer. Estava doente e, com a idade, tudo que conseguia sentir era arrependimento. Tudo que fez a seu filho durante toda a vida foi desumano, e ele sabia disso. Mas era orgulhoso demais para admitir, até para si mesmo...

🏹🏹🏹🏹

- UOU, o bom filho à casa torna. - Louis puxou Zion Maldove pelo braço, trazendo-o para a mesa onde seus amigos estavam, todos com belas mulheres em seus colos. De fato, aquele lugar tinha uma variedade impressionante de mulheres. Todas saíam de vilas pequenas e esquecidas pela vida, todas tiradas de situações famintas, onde não tinham escolha melhor senão essa, porque a fome em suas casas era demais para suportar. Elas estavam felizes por servirem homens ricos, por fazerem suas vontades. Não... Elas estavam felizes por ter o que comer no fim do dia. Mas o jovem príncipe não se importava com o passado das jovens. Ele só queria saber do presente, e do quão gostosas elas podiam ser.

- Onde você esteve, seu puto? Foi uma semana divertida. O Louis finalmente comeu a Elisabeth. A coitada ainda espera que ele volte a cortejá-la. - Esse era o jogo favorito dos garotos: seduzir uma jovem nobre, fazê-la crer em seu amor, em seu afeto, deixá-la acreditar que ele nunca a deixaria. E, quando finalmente ela caía em seus belos papos, eles sumiam... Às vezes apostavam quantos dias isso levaria. Claro, o príncipe detinha o recorde. Afinal, a mera menção ao seu cargo já era o suficiente para ludibriar as jovens. Mas ele não fazia juras de amor. Não precisava fingir estar apaixonado. Na verdade, dois ou três dias eram o suficiente, no máximo, quando a jovem era de difícil acesso.

- Finalmente, Lou. O quê? Estava há um mês atrás dela? Já estava achando que tínhamos te perdido... - Os rapazes riram. Mas, no fundo, Louis realmente estava levando um tempo maior que o normal, porque a jovem o tinha deixado abalado. Ela era de uma beleza estonteante, e tinha um beijo que o tirava da órbita da Terra por minutos. Ele realmente estava sentindo algo, mesmo que negasse isso a si mesmo. Os últimos três dias sem vê-la o estavam deixando louco. Seu sono estava desregulado e ele tinha que se esforçar para não pular a janela da jovem nas diversas vezes que tentara vigiá-la.

- E então, o que temos de bom hoje? - O príncipe perguntou, divertido.

- Eu tenho um belo ménage. Por falar nisso, vamos, meninas?! - Henry levantou puxando as garotas pela cintura, com um sorriso descabido. No La Rose, você podia ter e ser o que quisesse. Tinha de tudo um pouco no lugar. Eles realizavam todos os fetiches mais sujos e até mesmo macabros dos nobres da cidade. Era um lugar caro e exclusivo a pessoas de grande influência no reino. Muitos vinham de todos os lugares pelas variedades que o lugar oferecia.

- E você, Lou, o que tem de bom para fazer? - O príncipe olhou em direção ao amigo, que tinha as calças aos joelhos e uma moça com os seios de fora lhe fazendo uma espanhola enquanto o chupava... - Porra, cara, já ouviu falar em quarto? - Ele disse meio bravo, mas com um sorriso no canto dos lábios. Todos estavam se arrumando. Só faltava ele... Mas já estava entediado, de certo modo. Já tinha entrado entre as pernas de todas as garotas daquele lugar. Precisava de algo novo...

Ele levantou o dedo e fez sinal ao anfitrião. O homem de porte médio se aproximou. Tinha um sorriso de satisfação. A presença do príncipe era um requinte ao lugar, e ele faria de tudo para agradar ao herdeiro do trono. Fez reverência ao chegar. O príncipe o olhou, indiferente.

- O que temos de novo hoje? - O príncipe perguntou. O homem sorriu. Sabia exatamente o que dar ao príncipe.

- Chegou uma remessa ontem, intocáveis. Eu as guardei à sua espera, vossa alteza... - Isso fez o sorriso de Zion Maldove ir de ponta a ponta. Se tinha algo que o faria bem hoje, depois de toda semana de merda que teve, seria foder uma virgem sem remorso algum pela força brutal que se colocaria dentro dela...

Zion acompanhou o homem até um quarto mais reservado do lugar, onde as meninas já o aguardavam. Eram bonitas. Havia três garotas no local, mas uma em especial chamou a atenção do jovem. Ela tinha longos cabelos loiros e olhos verdes deslumbrantes. Estava cabisbaixa e não olhava diretamente para ele. Todas reverenciaram quando o anfitrião o apresentou como príncipe. Mesmo com os olhares das garotas sobre ele, mesmo com todas à sua disposição, ele tinha escolhido a sua...

- Aquela. Vou levá-la. - Ele apontou para a jovem que ainda mantinha o olhar baixo. Ela entendia que seria uma honra perder sua virgindade com o príncipe, mas era tudo muito novo para ela. Escolher aquilo ou a fome não era justo. Por que seria?

- Não precisa sair. Vocês podem ficar nesse quarto. - O homem disse, já chamando as garotas para fora. Mas o príncipe levantou a mão para que ele parasse...

- Vou falar mais uma vez, para que entenda. Vou levá-la. - Zion nem se deu o trabalho de desviar o olhar da jovem. Estava em um espaço em sua mente onde a despia agora, e a coisa que ele menos queria era que algo lhe tirasse aquela visão...

- Sim, vossa alteza... - Ele fez sinal para que a jovem se aproximasse, e ficou lisonjeado ao vê-la tremendo ao dar cada passo em sua direção...

Já não havia ninguém no quarto, e o príncipe queria mesmo levá-la para casa. Mas a visão dela ali, tremendo ao se aproximar dele, com medo de seus próprios atos, perdida na beleza daquele deus grego à sua frente e até mesmo por ele a ter escolhido... Ela estava em chamas. Qualquer uma ficaria. Ele era perfeito. Ele era lindo, esculpido, desenhado à mão. Uma pintura feita a óleo. Ele era a própria encarnação da sedução, do desejo, da luxúria. Ele veio em carne e osso à Terra possuir os corações de donzelas como ela. E como não agradecer por essa sorte? Ela tinha a visão mais linda que já vira em sua frente. Faminto por ela. Era nítido o desejo ardente do príncipe pela garota. E ele estava enfeitiçado por toda a sua beleza, por sua doçura e timidez. Ele não sabia por que queria levá-la, mas queria. Talvez estivesse cansado. Sua semana foi uma bagunça. Talvez a visão dela o tenha lembrado de algo. Sua fragilidade o fez querer cuidar dela, protegê-la o quanto pudesse. Mas ele sabia que ninguém no mundo iria proteger aquela jovem dele... E ele até sentia pena por ela...

Quando a jovem enfim chegou ao seu alcance, ele a guiou gentilmente ao seu colo. Ele era gentil na maior parte do tempo. Ele era um manipulador, afinal. Sempre as fazia se sentir seguras. Sempre. E eram... menos dele. Zion aprendeu bem como descontar sua raiva do mundo em mulheres fracas e indefesas. Mas não era isso que ele queria agora. Ele só a queria. Só isso. E ele seria bom para ela, por um longo tempo. Ela só precisava ser boa para ele.

- Qual o seu nome? - Ele perguntou quando ela finalmente se sentou, sem jeito, sobre seu colo. Ele se distraiu com o cheiro bom que ela tinha, com as leves ondas nas pontas dos cabelos, com a profundidade de seus olhos, com a doçura de suas palavras. Ele sabia que ela já estava rendida a ele como todas as outras, como qualquer uma. Afundou o nariz no pescoço da jovem e puxou todo o ar que pôde, para que pudesse se afundar no cheiro da menina. Ele a queria. Cada segundo mais... E ela também. Só não sabia o quanto, até sentir o seu toque. Estava fascinada com sua beleza, com suas carícias, com seu afago. Ele era bom demais, e fazia a imagem de qualquer outro homem no mundo parecer nada... Ele era o sonho mais lindo e sexy que ela tivera em toda a sua vida...

- Alina, vossa alteza... - Ela disse, num suspiro de alívio, quando ele tirou os lábios da pele em volta de seu pescoço...

- Nós vamos nos divertir muito, Alina. Mas eu preciso que você entenda algo antes, ok?! - Ela assentiu. - Eu não gosto muito de desobediência, então eu preciso, para o seu bem, que você seja muito obediente... Você consegue fazer isso? - Ela voltou a assentir. Ainda não conseguia expressar em palavras sua cobiça por aquele homem. Quem conseguiria? Ele era perfeito.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022