Capítulo 5 Acordando no inferno

Andrew acordou, estava cada vez mais incomodado com a gritaria daquele lugar, mandou uma mensagem para Mason, havia pedido para organizar um lugar que denotasse pobreza, mas o guarda-costas exagerou.

- Mason, limpe esse prédio. Dê uma condição minimamente digna para essas pessoas.

- O senhor quer que eu envie o papeis de divórcio?

O empresário olhou por cima do encosto do sofá e acabou sorrindo quando viu a sacola esquecida sobre um móvel de madeira descascado.

Havia comprado alguns preservativos e não teve tempo de usá-los. Ela queria dar um golpe e ele estava louco para cair, respondeu.

- Não, vou morar aqui mais uns dias. Só limpe esse lugar, mande os viciados para uma clínica, os traficantes para a cadeia e as famílias para um dos nossos condomínios.

O guarda-costas não discutiu, havia sido tirado na rua pelo patrão. Não tinha onde morar e o álcool já havia levado bem mais do que apenas a sua dignidade.

- Sim, senhor.

A porta foi estourada pouco tempo depois da última mensagem trocada entre os amigos.

Mathew entrou com as barras das calças brancas manchadas pelo sangue dos moradores daquele lugar.

Entraram em cada um dos apartamentos, aquele era o sétimo.

Andrew se levantou assustado, ainda segurando o celular, ergueu os braços em rendição, mas quando o sotaque de Volkov soou em seus ouvidos, o empresário entendeu o que estava acontecendo.

- Onde está essa puta do caralho?

- Calma, estou sozinho com a minha irmã.

Não foi pensado, só achou que homem nenhum gostaria que a noiva, mesmo por contrato, estivesse com outro homem.

- Mick?

Mathew também não conhecia o rosto do rapaz com quem fechou negócio, tudo tinha sido acertado por um intermediário.

Andrew estranhou, mas Lisa, apesar do cansaço de dias sem dormir acabou acordando. E outra vez o nervosismo fez o empresário errar.

- Volta para o quarto, Lisa.

Nem percebeu, mas usou o nome da esposa.

Mathew avançou na direção da garota.

Andrew entrou na frente e foi praticamente arremessado por cima do sofá.

Ela gritou, mas não antes dos tiros atingirem as costas de Andrew.

Lisa correu para o corpo ensanguentado do marido como sem conseguir segurar as lágrimas.

A respiração ofegante entre o choro e os gritos quase compulsivos, foi tirada de cima de Andrew por dois homens que falavam algo em russo.

A risada de Mathew fez seu estômago revirar. Vomitou em meio ao choro.

- NÃO! ELE NÃO FEZ NADA!

Se debateu, mas quando o russo chamou o empresário de Mick, ela viu a oportunidade de ao menos salvar o irmão.

Usou o pé para chutar o celular que deslizou certeiro para baixo do sofá.

Achou que morreria ali, mas pelo menos o irmão teria uma chance.

Ergueu a cabeça quando Mathew colocou a arma em sua testa.

- ATIRA SEU PORCO COMUNISTA!

O soco a desmaiou por horas e quando acordou estava em uma casa enorme, o travesseiro ensanguentado, a cabeça latejando tanto que parecia que ainda estava sendo espancada.

O corpo também estava doendo.

Tentou se levantar.

Estava sem as roupas, o corpo inteiro tinha marcas roxas. Colocou a mão na boca quando sentiu o gosto de sangue, um dos dentes estava mole.

Olhou em volta tentando identificar alguma coisa ao redor, tudo era uma aberração escura que sumia e aparecia outra vez.

O pescoço não segurava o peso da cabeça.

Vomitou de novo.

Só um líquido amargo misturado com sangue.

Sentiu um desconforto em sua intimidade, tentou ignorar o ardor.

As memórias surgiram de uma vez.

Chorou lembrando da risada de Andrew.

Ele parecia tão feliz, tão vivo!

A imagem do sangue, os olhos abertos... O erro tinha sido tentar defendê-la.

O dela acreditar em uma noite que mesmo sendo toda errada, ainda tinha sido a melhor da sua vida.

- Andrew

A voz saiu baixinha, quase como um segredo, até o nome dele soava bonito.

Mas a voz que fez suas lágrimas secarem não tinha o tom meloso, nem a graça que ele tinha.

Ao contrário.

Era forte, grave e tinha aquele sotaque ridículo que ela nem sabia que odiava até vê-lo tirar dela algo que Lisa ainda não sabia dar um nome.