Capítulo 10 No limite

Andrew não sabia o que iria acontecer. Lisa sim.

Mathew passou direto pelo empresário e puxou a menina pelos cabelos.

O grito dela foi como se cortasse Andrew ao meio, não pensou, partiu para cima do russo.

- FILHO DA PUTA

Os dois caíram no chão, Lisa gritou.

O marido ficou por cima só um minuto, Andrew não era um lutador, não brigava nem na adolescência e os socos de Mathew foram tão duros quanto o coração dele.

Lisa se jogou no chão, entrou na frente, implorou e o sorriso do criminoso mostrou que ele se sentiu vitorioso.

Sentou no sofá e apontou para os sapatos.

Ela fez o de sempre, tirou as botas do Vor e massageou um dos pés suado enquanto ele esfregava o outro no rosto dela.

- Chupa meu dedo, suka.

Lisa obedeceu, colocou o polegar de Mathew na boca enquanto dois dos capangas dele arrastaram Andrew de volta para o quarto.

Ela pediu pelo rapaz.

- Meu irmão não aprendeu ainda quem é que manda aqui. Ele só queria me proteger.

- Então ensine-o.

Lisa balançou a cabeça confirmando, encostou a testa nas pernas dele e agradeceu.

Voltou ao trabalho, entrou no quarto da governanta e roubou um dos comprimidos que a senhora usava para dormir.

Esperou anoitecer e colocou o plano em andamento.

- Toma isso. É para dor, vai se sentir melhor amanhã.

- Ele te machucou?

- Não! Estou bem. Eu não o enfrento e ele não me toca. É um bom acordo, toma.

- Eu não quero.

Lisa olhou para a porta e depois para ele.

- Por mim? Não vou dormir se souber que está com dor.

Conseguiu que Andrew concordasse, mas ele apenas colocou o remédio embaixo da língua e tomou a água.

Achou que aquele comprimido pequeno fosse exatamente o que era, só que imaginava que Lisa o queria dormindo para que ele não visse o que Mathew faria com ela.

Não conhecia nada sobre o mundo do crime, mas sabia história e a Rússia era o terceiro pior país em relação à violência sexual contra mulheres.

Escondeu o comprimido embaixo do travesseiro e quando Lisa foi dormir ele ficou acordado.

Pensou em tudo, procurou pelo quarto qualquer coisa que pudesse usar como arma.

Não encontrou nada.

Respirou fundo pensando que teria que apanhar de novo, mas não podia permitir que algo como o que imaginava acontecesse.

Lisa também estava de bruços, o travesseiro na cabeça, para abafar o choro enquanto sussurrava sozinha.

- Dorme, meu amor. Só dorme.

Ele não dormiu e quando Andrew ouviu a porta do quarto se abrir olhou com o coração acelerado pensando ser ela.

Não era.

Andrew tentou gritar, mas a arma em sua cabeça e o nome de Lisa o fizeram aguentar a dor com os dentes travados.

- Se gritar ela morre!

Mathew terminou bufando no pescoço do empresário e acariciando os cabelos de Andrew.

- Te amo, Mick

Quando se levantou avisou que se alguém descobrisse ele teria que fazer o mesmo com Lisa na frente de todos e matá-la em seguida.

Da porta, ele sorriu.

- Amanhã eu volto, não fica com saudade.

Na manhã seguinte, Andrew não estava dormindo como Lisa imaginou.

Mas estava calado, sem as piadas que praticamente faziam parte dele.

O coração da menina estava apertado no peito, nem imaginava como começar.

- Dormiu bem?

- Lisa

Andrew a puxou para a cama e a beijou de um jeito profundo, como se a língua dele buscasse vida na dela.

A mão subiu da cintura, pela primeira vez.

Ela tentou falar, mas ele não parou.

E quando ela sentiu as lágrimas dele salgarem o hálito, Lisa o empurrou.

- Alguém pode ver.

Andrew continuou, a respiração pesada, o beijo quase bruto e ainda assim tão bom que a fazia querer esquecer onde estavam.

- Deixa... deixa eu te sentir, Lisa.

Ele apertou o seio dela enquanto bebia dos lábios da esposa a força que precisava para esquecer a noite que passou em claro.

Lisa fechou os olhos outra vez, não conseguiu evitar, queria tanto quanto ele.

- Você sabia, não é? Não foi a primeira vez, foi?

- Ele vinha aqui, Andrew.

- Você precisa sair daqui, precisa fugir. Entendeu?

- Quando? Quando a gente vai?

- Eu distraio eles e você vai, pede ajuda, Lisa. Procura o Mason. Ele vai cuidar de você, minha linda, desculpa.

Ele precisava que ela estivesse segura para poder reagir e ela não queria estar em lugar nenhum que não fosse com ele.

Chorou, puxou a mão dele de volta.

- Aqui, você me quer, não quer? Eu não vou embora sem você, entendeu?

O desespero dela doeu mais do que qualquer outra coisa que tivesse acontecido naquela casa. Abraçou a menina.

- Calma, não vai. Não precisa ir, a gente dá um jeito.

Conversaram quando Lisa se acalmou e ele voltou a falar dos remédios.

- Consegue mais daquele remédio?

- Consigo.

Foram meses usando a mesma estratégia.

Durante o dia Lisa roubava o remédio da governanta e durante a tarde criava um jeito de misturar a comida de Mathew.

Ela não tinha a mesma sorte e foi em uma das vezes que Andrew viu o que acontecia que a confusão ficou ainda pior