Capítulo 8 O primeiro respiro

Lisa se levantou do chão ainda sentindo as pernas formigarem, mas estava tão feliz que ignoraria qualquer coisa.

Mas quando olhou para a cama de Andrew o sorriso se desfez em pânico.

Realmente alguém estava fazendo força.

Só não era Andrew.

Mathew estava com os olhos fechados, as calças abaixadas, a boca no pescoço de Andrew.

Ela precisou tapar a própria boca para não gritar. Ficou um tempo ali, paralisada, sem acreditar, conseguiu prender a respiração, mas não as lágrimas.

Entendeu o porquê de Mathew nunca ter tocado nela.

Se encolheu no canto do banheiro e chorou tentando impedir que o som dos gemidos de Mathew entrassem em seus ouvidos.

Nunca sentiu algo tão doloroso.

Jamais ficou tão confusa com os próprios sentimentos.

Pela primeira vez desejou que ele não acordasse e quando os barulhos pararam, ela ainda esperou alguns minutos até ter coragem de olhar.

As mãos estavam tremendo tanto que pareceu não ter força para nada.

Mas assim que conseguiu virar o corpo de Andrew a primeira reação que teve foi a de se deitar no peito dele, ficou abraçada ao marido enquanto as lágrimas molhavam as faixas dos curativos.

- Desculpa, eu vou tirar a gente daqui.

Não podia ficar muito tempo com ele, queria muito.

Mas não podia.

Arrumou tudo e antes que o dia amanhecesse começou a trabalhar.

Escondeu o celular da governanta, mas depois pensou ser bobagem, não tinha para quem ligar e a polícia com certeza não ajudaria.

Pesquisou o clima e descobriu a localização de onde estavam.

- Buchanan?

Precisou pesquisar sobre o lugar, nunca tinha ouvido nem sequer falar.

- Estou fodida!

Não se tratava apenas de estar perdida num ponto do mapa. Buchanan era o tipo de lugar que se fechava sobre quem entrava, como uma armadilha montada.

Podia até tentar correr, era o plano.

Tudo o que tinha feito naqueles dias tinha esse objetivo. Esperar que Andrew pudesse andar e fugirem dali.

Tinha conseguido as chaves, separado uma roupa para ele, havia escondido até uma faca, o plano parecia ótimo.

Não tinha mais para onde ir, tudo ao redor a impediria de pedir ajuda.

Passou a mão na testa, tentou pensar, estava exausta.

No final da tarde correu até o quarto de Andrew e o enfaixou na cama. Deixou o homem tão preso que seria impossível movê-lo.

Escondeu todas as tesouras do lugar.

Era a única forma de lutar.

Depois passou a deixar Andrew sujo, tão sujo que causaria nojo em qualquer pessoa.

Menos nela.

Lisa continuou roubando beijos e torcendo para que ele acordasse.

O plano funcionou, Mathew xingou algo em russo e na manhã seguinte o médico retirou os medicamentos de Andrew.

Ela chorou e implorou achando que estavam fazendo algo ruim, só depois descobriu que na verdade o soro que ela tinha tanto cuidado para não esbarrar, era na verdade um sedativo.

Se sentiu uma imbecil, mas quando durante a noite Andrew acordou foi como se o mundo inteiro tivesse aberto os olhos junto com ele.

- Oi?

Andrew puxou Lisa pra ele assim que ouviu a voz da menina, sentia como se ainda estivesse naquele apartamento infestado de baratas.

Preso no tempo, quis proteger a menina daquilo que nem mesmo ele ficou livre.

Falou alguma coisa.

Ela não ouviu, descobriu que um abraço pode ter sabor e cor de paraíso.

Se deixou levar pela sensação que ele causou nela. Ergueu o queixo, beijou os lábios de Andrew como se realmente fossem casados.

A dor e a confusão masculina se quebraram naquela língua.

Ele demorou para entender, o corpo não.

Continuou puxando Lisa pela cintura.

E o primeiro beijo que trocaram foi um respiro no inferno.

Andrew demorou até permitir que ela se afastasse dele.

A mente pregou uma peça, lembrou dos preservativos, olhou para ela.

- Oi, senhora Forts.

- Shiiiu, olha para mim. Você é o Mick!

Lisa explicou tudo o que tinha acontecido, derramou tudo sobre ele de uma vez, não tinha tempo para esperar que ele se recuperasse.

E outra vez, só omitiu a pior parte.

As visitas noturnas de Mathew.

- Você me beijou.

- Ainda arrogante senhor dançarino de polidance?

Andrew a puxou de volta, roubou o ar dos pulmões dela com a língua.

- Preciso de um celular, Lisa. Eu tiro a gente daqui e depois eu me caso com você.

Ela soltou o ar, era maluco! Mas a deixava com tesão mesmo naquela merda de situação.

- Não adianta chamar a polícia. A gente vai precisar se virar sozinhos. Acha que consegue andar?

- Consegue um celular para mim e eu te mostro o poder de uma cueca cavadinha.

- Você é louco!

Ele a segurou mais firme.

- Acho que sim. E é uma certa mulher que está tirando a minha sanidade. Estou louco para cometer um incesto com a minha irmãzinha.

- Fica quieto, você é o doente mais abusado que existe.

Lisa saiu em seguida, mas Andrew ficou olhando para porta enquanto segurava a rigidez que se formou.

Pensou que realmente estava perdido.

Era prisioneiro de um russo maluco e ainda assim tudo o que pensava era naquele beijo e no corpo pequeno sobre o dele.