Capítulo 6 Um encontro, um mundo.

As lágrimas quentes rolaram livres, Lisa tentou puxar o lençol da cama. Estava tão preso que parecia fazer parte daquele cenário de horror.

Ficou de joelhos, tentando esconder a nudez atrás do móvel.

- O que é isso, suka? Vim dar-lhe uma boa notícia! E se esconde de mim?

Lisa continuou encolhida, mas pensou que aquilo poderia ser um engano, a mente foi ágil, apesar disso, esqueceu que o nome de Mick havia sido mencionado quando Mathew a levou.

Quis acreditar.

- Meu nome é Lisa! Eu não sou Suka, nem conheço essa mulher, juro! Me deixa ir embora, por favor, me deixa ir embora.

O russo gargalhou.

- Em meu país chamamos mulheres como você de suka, vocês chamam de puta.

- E no meu chamamos vermes como você de assassino!

- Ah, mas você está viva.

Lisa se desesperou. Não entendia o porquê nada dava certo para ela.

- Eu entrei na igreja errada!

Explicou se engasgando com as lágrimas, o catarro e a culpa de ter sido responsável pela morte de Andrew.

- Não importa, consegui me casar com outra suka, tenho meus papeis e você vai pagar por eu ter ido parar naquela cela suja.

Lisa achou quase impossível que Mathew tivesse conseguido tudo aquilo em tão pouco tempo.

Dois casamentos, uma prisão e ainda teve tempo de encontrá-la em um lugar que nem os ratos se conheciam.

A expressão de dúvida fez o russo se divertir.

- O seu capitalismo abre portas. Sua polícia e suas leis, absolutamente tudo nesse país pode ser comprado. Exatamente como comprei você.

- Me mata de uma vez e volta para o seu país de merda.

- Não, nem você, nem seu irmão vão morrer tão fácil. Devolve meu dinheiro e deixo você ir.

- Meu irmão?

O coração de Lisa explodiu em esperança, mas em seguida arregalou os olhos de pânico. Pensou em Mick, lembrou da mãe, por mais egoísta que fosse, a morte de Andrew precisava servir para alguma coisa.

Gritou com a raiva que sentia e com a dor que nem sabia explicar.

- VOCÊ MATOU ELE!

Mathew fez careta de desdém.

- Não! Eu fui nobre. Trouxe você e seu irmão para casa. Ele recebeu ajuda médica e está dormindo. Cuidei de vocês dois. A ele uma cirurgia, para você, homens para apagarem o seu fogo de suka tvar (prostituta desgraçada).

Ela não entendeu o xingamento, mas soube o que tinha acontecido, sabia antes mesmo de Mathew confirmar, mas o plural caiu pesado como um míssil em seus ouvidos.

Abaixou a cabeça sobre a cama, o chão frio parecia congelar sua pele. Soltou a única palavra que veio a mente no meio de um sussurro entre lágrimas.

- Desgraçado!

- Ora! Não era pura, como esperado, já tinha recebido mais homens entre as pernas do que uma blyad. (profissional do sexo).

Lisa não respondeu apesar de só ter se entregado a um homem durante toda a vida.

Não precisava se explicar a alguém como Mathew.

Engoliu as lágrimas, tinha que falar com Andrew antes que ele falasse que não era Mike.

- Eu posso ver o meu irmão?

Mathew jogou um vestido de algodão cru sobre a cama.

- Vista isso, vai começar a pagar o que me deve hoje mesmo, depois, se fizer tudo direito, deixo você falar com ele.

Lisa foi levada para um saguão imenso, estava em uma mansão, só não tinha ideia de onde, nem quanto tempo passou desacordada.

Uma senhora idosa e com a expressão dura lhe entregou um balde e um escovão.

Esfregue todo o piso, não deixe nada molhado, nenhuma mancha, quando terminar me procure que lhe mostro os banheiros.

Lisa passou dois dias inteiros daquela forma.

Quando a dor e o cansaço ficavam maior do que ela, a lembrança do homem que comia donut e soltava piadas voltava a mente.

- Acho que fui sua pior aposta. E você o meu erro mais bonito.

Repetia a frase lembrando do que Andrew tinha falado na lanchonete depois do casamento.

Mathew era o seu maior medo, mas nunca a tocou.

Já os homens dele a arrastavam para algum cômodo e satisfaziam suas vontades entre socos e imundices.

No terceiro dia, enquanto dava brilho ao metal dos corrimões, ela foi chamada para ver Andrew.

A senhora se aproximou ainda com aquele rosto que parecia carregar a sombra de mil demônios.

- Termina logo, nosso Vor disse que pode subir para ver seu irmão.

- AN...

A felicidade fez com que Lisa quase errasse o nome que precisava usar.

Por pouco revelou a identidade do marido e agora tinha certeza de que se Andrew fosse descoberto, acabaria morto de verdade.

Estavam vivos apenas para servir a vingança de Mathew e talvez se conseguisse falar com o rapaz, talvez juntos pudessem pensar em uma forma de fugir dali.

Tentou correr.

Foi puxada pelos cabelos, caiu com as costas no meio da estaca, a quina de um dos degraus bateu na lombar e o gemido de dor foi completamente ignorado pela senhora.

- Eu disse, termina isso primeiro!

Lisa rastejou de volta, usou o corrimão para ficar em pé. Apesar da dor ela esfregou aquele bronze com toda a força que tinha.

E quando a porta do quarto de Andrew finalmente foi aberta o que ainda restava do mundo de Lisa simplesmente desmoronou.