Capítulo 7 Serva no inferno

O coração de Lisa se partiu dentro do peito, o cheiro era tão forte que nem sequer a governanta ficou.

Mas Lisa correu para perto da cama de Andrew como se aquele rosto pálido fosse tudo o que precisava para se sentir viva outra vez.

- Oi...oi, olha para mim! Por favor, você tá vivo?

Beijou o rosto do rapaz e quando a mente disse que ela estava só checando a respiração de Andrew, o coração empurrou os lábios dela contra os dele.

Olhou de lado para a porta.

Não havia mais ninguém, se levantou, olhou em volta e aproveitou para trocar os curativos.

Os pontos estavam infeccionados, as faixas grudadas na pele por um líquido fedorento.

Andrew estava sujo, as fezes velhas e novas se misturavam, o colchão todo molhado de urina.

Virou o corpo masculino, tirou o lençol, limpou o colchão com álcool, tinha uma capa de vinil azul, o que mostrava que aquele lugar tinha sido pensado para alguém acamado.

Trocou o lençol, colocou vários outros dobrados formando uma espécie de fralda.

Estava focada em agir rápido, mas olhou os detalhes do corpo de Andrew, segurou o membro para limpar e se demorou bastante naquela região.

- Estou ficando louca!

Se culpou pelo que sentiu, não era o momento.

Quando terminou com ele, fez o mesmo com o quarto, abriu as janelas, verificou que ao menos o soro era trocado.

Mathew realmente o queria vivo.

Só não o queria bem.

Antes de terminar a limpeza, a senhora que era quase sua carcereira entrou no quarto.

- Muito bem, esse lugar estava deixando o andar inteiro com cheiro de cemitério. Agora lave esses lençóis. A partir de hoje, vai cuidar desse andar também.

- Ele está bem?

Era tudo o que Lisa queria saber, mesmo em perigo, ainda que o mundo inteiro estivesse desabando sobre ela, mesmo assim, o coração gritava por aquele desconhecido que estava ali por sua culpa.

- Não sei e não me importo. Era só mais um lugar para eu limpar e não consigo virar um homem desse tamanho sozinha. Meu Vor deixou que você fizesse.

Lisa concordou com a cabeça.

Lavou os lençóis, na mão, a governanta disse que não queria contaminar a lavadora que era usada por todos na casa.

Quando terminou todas as tarefas já era madrugada, só o ruído dos capangas de Mathew ecoavam pela casa.

Dormiu sem comer, não quis correr o risco de ir à cozinha e ser obrigada a sentir as mãos daqueles homens sobre ela.

Os dias se passaram dessa forma.

Lisa acordava antes do sol nascer, corria para o quarto de Andrew, fazia a higiene do homem que tinha se tornado seu marido.

Roubava um beijo dos lábios ressecados e começava o trabalho.

Um dia, depois de ser arrastada para um banheiro e ser forçada a abrir a boca para dois dos homens de Mathew ela correu para o quarto de Andrew.

Queria ficar com ele, por mais que parecesse loucura, era ali o único lugar em que se sentia bem e precisava arrancar do peito a humilhação que tinha acabado de passar.

Ficou feliz, subitamente feliz.

Andrew estava de bruços, ainda pálido, mas achou que ele tivesse se movido.

Talvez tivesse acordado, mesmo que só por alguns minutos já seria uma vitória.

- Oi? Fala comigo, por favor. Por favor! Eu sei que deve estar me odiando agora, pode me xingar, mas fala comigo.

Lisa sorriu e chorou com aquela cena, a esperança reacendeu dentro dela, passou a ser ainda mais servil. Abaixava a cabeça quando Mathew passava, tentou copiar a forma como as outras mulheres da casa agiam.

Falou de joelhos.

- Meu Vor!

O russo se sentiu satisfeito, gostava do título, havia sangrado para merecê-lo.

Ser um Vor era um título conquistado dentro do inferno das prisões russas.

E foi isso que colocou Lisa na mira de Mathew. O fato de por causa dela, ele ter voltado a sentir as grades de uma detenção.

- Levante-se suka.

Lisa se levantou, mas continuou com a cabeça baixa.

- Meu senhor, quero pedir que chame um médico para o meu irmão. Ele não acorda, temo pelo pior.

Se jogou no chão e começou a beijar as botas daquele homem, já tinha percebido que a única forma de o dobrar era o tratando como a um Deus.

Viu a governanta fazendo isso sempre que queria algo. Aprendeu.

- Levante-se do chão, Lisa! Seu irmão terá a visita de um médico.

Ela soltou o ar, abraçou as pernas de Mathew. Dessa vez nem sabia se era gratidão real, desespero ou felicidade.

Aquilo era bem mais do que achou que conseguiria.

E realmente Andrew passou a receber visitas semanais de um médico, ainda assim, nada havia mudado.

Só a mesma posição.

Lisa o colocava deitado, os lençóis para servir como fralda e encontrava o homem de bruços, sem nada que cobrisse seu corpo.

Passou a ficar mais tempo no andar superior.

Estava desconfiada.

Dormia dentro do banheiro do quarto de Andrew.

O barulho de alguém fazendo força a despertou.

Sorriu achando que fosse Andrew, mas quando viu o que estava de fato acontecendo, o ar ficou preso no peito.