"Dimitri, você é realmente um presente dos céus", um dos homens arrastou as palavras, erguendo sua taça. "Aquele conselho legal que você me deu salvou uma fortuna para minha empresa. Sua visão é incomparável."
Dimitri ofereceu um aceno educado, sua expressão inalterada. "Apenas fazendo meu trabalho, Sr. Davies."
"Oh, mais do que isso!" outra mulher interveio. "Você é brilhante, Dimitri. E tão íntegro. Uma joia rara nesta cidade."
Mantive a cabeça baixa, focando nas bolhas na taça de champanhe. O elogio a Dimitri parecia um insulto direto a mim, um eco doloroso de um passado do qual eu não conseguia escapar.
"Hmm, esta tem olhos bonitos, Dimitri", o Sr. Davies riu, seu olhar demorando em mim. "Afiados. Qual é o seu nome, querida?"
Eu recuei, minha voz mal um sussurro. "Juliana."
"Juliana", ele repetiu, saboreando o nome. "Legal. Venha, sente-se aqui." Ele deu um tapinha no assento vazio ao lado dele. "Sirva-me outra e me faça companhia."
Meu coração disparou. Sentar? Com eles? E Dimitri? Senti uma onda de náusea.
"Alguém arranje uma cadeira para esta pobre moça!" uma voz alta bradou. Outro homem, cujo rosto eu não conseguia identificar, gesticulou para o assento vago diretamente ao lado de Dimitri. "Juliana, venha fazer companhia ao nosso gênio jurídico! Ele parece que precisa de um pouco de calor."
Meu corpo tremeu, um suor frio brotando na minha pele. Isso era um pesadelo. Eu não podia. Eu simplesmente não podia.
A voz de Dimitri cortou a tensão, fria e afiada como gelo. "Obrigado, mas não. Minha noiva está me esperando. E eu prefiro não me associar com... certos tipos de pessoas." Seu olhar varreu-me, demorando-se por uma fração de segundo, pesado de desdém.
As palavras foram um golpe direto, uma flecha envenenada direto no meu coração. Meu rosto queimou, um rubor furioso subindo pelo meu pescoço. Ele ainda me odiava. Ele ainda achava que eu estava abaixo dele.
O Sr. Davies, sentindo a mudança na atmosfera, riu sem graça. "Oh, Dimitri, sempre o leal! Um homem de integridade! Nós respeitamos isso." Ele se virou para mim, um sorriso lascivo se espalhando por seu rosto. "Deixa pra lá, Juliana. Você pode ficar aqui comigo. E não se preocupe com os outros. Só por ficar ao meu lado esta noite, eu dobro sua taxa usual." Ele tirou um maço de notas de cem reais e as pressionou na minha mão.
O dinheiro parecia um ferro em brasa, quente e doloroso contra minha pele. Era o preço da minha humilhação, a moeda da minha total degradação. Forcei outro sorriso profissional, minha voz rouca. "Obrigada, senhor. Você é muito generoso."
O Sr. Davies riu, depois me puxou para mais perto, seu braço envolvendo minha cintura. Sua cabeça se inclinou, seus lábios roçando minha orelha. Eu congelei, meus músculos travando, minha mente gritando em protesto. Fechei os olhos, preparando-me para o inevitável.
"Sr. Davies", a voz de Dimitri cortou a névoa, calma e autoritária. "Meu voo sai em trinta minutos. Precisamos finalizar os detalhes do contrato antes disso."
O Sr. Davies suspirou, me soltando com um grunhido. "Tudo bem, tudo bem. Sempre negócios com você, Dimitri." Ele bateu palmas. "Certo, pessoal, a festa acabou! Hora de ir ao que interessa!"
Uma onda de alívio, tão potente que quase dobrou meus joelhos, me invadiu. Eu queria rir, chorar, gritar. Mordi o lábio, sentindo o gosto de sangue. O dinheiro na minha mão parecia pesado, manchado. Mas era dinheiro. E Benício precisava dele.
"É só dinheiro", sussurrei para mim mesma, um mantra amargo. "Só dinheiro."
Respirei fundo, tentando me recompor. Quando finalmente saí do camarote VIP, o corredor estava vazio. Até que Dimitri emergiu das sombras, bloqueando meu caminho mais uma vez.
"Impressionante, Juliana", disse ele, sua voz monótona. "Você certamente encontrou sua vocação. Associar-se com homens por dinheiro. Combina com você."
Senti uma nova onda de raiva, queimando os últimos vestígios da minha vergonha. "E quanto a você, Dimitri? Associando-se com uma mulher que construiu sua carreira em mentiras? Parece que ambos temos nossas próprias maneiras de... ganhar a vida."
Seu rosto ficou rígido, seus olhos brilhando de fúria. "Não ouse comparar Cláudia a você! Ela é uma mulher boa e honesta. Você, por outro lado, se recusa a reconhecer suas próprias transgressões, muito menos a se desculpar por elas."
"Transgressões?" zombei. "Aquelas que eu não cometi? Ou aquelas em que você acreditou tão avidamente, apesar de me conhecer por anos? Você escolheu me condenar com base em 'evidências' que eram claramente manipuladas! Você escolheu acreditar nela em vez de mim!"
Ele deu um passo à frente, sua voz baixa e perigosa. "Não houve manipulação, Juliana. Apenas suas ações violentas e as lágrimas dela. Os fatos eram claros."
"Os fatos que você escolheu ver!" retruquei, minha voz tremendo de raiva contida. "Você nunca olhou mais a fundo. Você simplesmente engoliu a história dela inteira. E agora você está prestes a se casar com ela. Que íntegro da sua parte, conselheiro."
A veia em sua têmpora latejou. "Você está além da redenção, Juliana. Você se apega às suas queixas mesquinhas, enquanto eu luto por justiça." Ele me encarou, seus olhos cheios de uma decepção arrepiante. "É uma pena. Eu realmente pensei que você fosse melhor que isso."
"Melhor que o quê, Dimitri?" perguntei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "Melhor que a mulher que você abandonou? Melhor que a mulher cujos pais morreram por causa da sua chamada 'justiça'?" Meu peito arfava de emoção. "Vá em frente, Dimitri. Vá se casar com sua santa Cláudia. Espero que vocês dois apodreçam no inferno."
Ele recuou, um lampejo de dor cruzando seu rosto, rapidamente substituído por uma fúria fria. "Não se esqueça, Juliana. O pedido de desculpas do seu irmão está próximo. Certifique-se de que ele esteja lá. Ou eu garantirei que ele enfrente todas as consequências de suas ações." Ele fez uma pausa, seu olhar endurecendo. "E se você mencionar Cláudia de uma maneira tão vil novamente, você vai se arrepender."
"Você está com ciúmes, Dimitri?" provoquei, um impulso imprudente tomando conta de mim. "É por isso que você ainda está me esperando em becos escuros? Porque você sabe, no fundo, que cometeu um erro?"
Ele não respondeu. Apenas se virou e se afastou, o clique de seus sapatos caros desaparecendo na noite.
Fiquei ali, tremendo, tentando recuperar o fôlego. A raiva lentamente se dissipou, deixando para trás um vazio profundo. Benício. Seu pedido de desculpas. O prazo.
Meu celular vibrou na minha mão. Era um número desconhecido. Atendi, minha voz rouca.
"É Juliana Coutinho?" uma voz frenética perguntou. "Aqui é do Hospital Sírio-Libanês. Seu irmão, Benício Coutinho... ele sofreu um acidente."
O mundo inclinou.