"Você não entenderia", ele murmurou, balançando a cabeça ligeiramente. Suas palavras eram como agulhas, perfurando meu coração já machucado. Ele não tinha mudado. Ele ainda me via como alguém incapaz de entender, alguém além da redenção.
Encontrei seu olhar, meus próprios olhos provavelmente refletindo a mesma frieza que eu via nos dele. "Oh, eu entendo perfeitamente, Dimitri. Você quer que eu admita uma mentira, que valide o trauma fabricado da sua noiva e que solidifique sua imagem como o nobre protetor dela. Tudo por uma quantia de dinheiro que eu preciso desesperadamente."
Ele recuou, seu maxilar se contraindo. "Você sempre distorce as coisas, Juliana. Você sempre se recusa a reconhecer sua culpa." Ele respirou fundo, sua voz endurecendo. "Este pedido de desculpas será completo. Abordará cada acusação que Cláudia fez. E será sincero. Ou o acordo está desfeito."
A frieza em seus olhos era absoluta, um espelho do abismo entre nós. Não havia como voltar atrás.
Ele então acrescentou, sem um pingo de ironia: "E como seu irmão esteve envolvido em dois incidentes separados, dos quais você estava ciente, o pedido de desculpas virá de ambos. Você e Benício. Juntos."
Minha respiração ficou presa. Benício? Ele queria que meu irmão ferido, mal saído da UTI, se desculpasse publicamente por algo que ele nem sequer iniciou? Isso era pura maldade.
"E será uma transmissão ao vivo, completa e sem edição", Dimitri continuou, alheio ao meu choque. "Sem refilmagens. Sem desculpas. Eu te enviarei os detalhes." Ele se virou e se afastou, me deixando ali, sentindo-me como uma marionete cujas cordas acabaram de ser cortadas.
Desabei contra a parede, uma risada amarga borbulhando de dentro do meu peito. Dimitri. Tão íntegro. Tão justo. Tão completa e absolutamente cruel.
Fiel à sua palavra, o processo contra Heitor Valente foi rápido e brutal. Dimitri, uma vez que decidiu agir, era uma força da natureza. Em poucos dias, a compensação total, uma quantia impressionante, caiu na minha conta.
Imediatamente transferi a maior parte para o hospital para o tratamento de Benício. Então, com uma ironia amarga que revirou meu estômago, transferi os honorários advocatícios de Dimitri. Era uma quantia astronômica, certamente o suficiente para compensar minha incapacidade de derrubá-lo.
Com a crise financeira imediata resolvida, uma esperança desesperada se acendeu dentro de mim. Corri para o quarto de Benício, ansiosa para compartilhar as boas notícias. Ele poderia ter o melhor tratamento agora, a melhor reabilitação.
Ao me aproximar de sua porta aberta, ouvi vozes. O amigo de Benício, Lucas, sussurrava animadamente. "Cara, eu te disse! Eles conseguiram! As câmeras estavam lá! E eles têm a prova!"
Meus passos vacilaram. Prova? Que prova? Meu coração martelava contra minhas costelas enquanto eu parava do lado de fora da porta, esforçando-me para ouvir.
"Você tem certeza?" A voz de Benício estava fraca, mas cheia de algo próximo à esperança. "A filmagem de segurança da escola? Você realmente conseguiu?"
"Sim!" Lucas exclamou. "Meu tio trabalha na secretaria de educação. Ele deve um favor ao meu pai. Ele encontrou o vídeo original completo! Mostra claramente o Léo te empurrando primeiro, chamando sua irmã de vadia e dizendo que seus pais tiveram o que mereciam por criar um esquisito como você! Ele foi o agressor, cara! Você só se defendeu!"
Meu sangue gelou. Lucas estava certo. Lucas havia confirmado. Benício não tinha sido o agressor. Léo tinha começado, provocado-o com insultos vis sobre nossos pais mortos, sobre mim. Cerrei os punhos, minhas unhas cravando nas palmas das mãos. A raiva era um fogo frio e puro.
"Então, este... este vídeo limpa seu nome?" perguntei, entrando no quarto, minha voz tremendo.
Lucas pulou, assustado, depois assentiu vigorosamente. "Sim! Muda tudo completamente!" Ele se atrapalhou com o celular. "Posso te mostrar. Olha."
Peguei o celular dele, meus dedos tremendo enquanto assistia à filmagem granulada. Estava tudo lá. Léo, zombando, empurrando Benício, cuspindo palavras odiosas. Benício, inicialmente tentando se afastar, e finalmente explodindo, um turbilhão de punhos. Meu coração doeu, não apenas por Benício, mas pela injustiça que ambos havíamos sofrido.
"Sim", respirei, minha voz grossa de emoção. "Sim, limpa o nome dele."
Quando saí do quarto de Benício com Lucas, passamos por um grupo de enfermeiras reunidas perto do posto, suas vozes baixas, mas animadas.
"Você ouviu a declaração da Cláudia?" uma sussurrou, com os olhos arregalados. "Ela esclareceu tudo sobre Léo e Benício. Disse que Benício era um garoto problemático, mas que ela reza por ele. E ela destacou ainda mais a compaixão de Dimitri por ela e sua família!"
"Oh, ela é uma santa", outra se derreteu. "Uma alma tão gentil e perdoadora. Sempre pensando nos outros, mesmo depois de tudo que ela passou."
Meu estômago revirou. Cláudia. Ainda bancando a vítima. Ainda usando cada situação para se elevar, para nos lançar, a mim e a Benício, como os vilões. E Dimitri... ele ainda fazia parte da farsa dela? Ele ainda estava cego?
Voltei para o quarto de Benício, uma nova determinação endurecendo meus ombros. Ele estava sentado, Lucas ao seu lado.
"Você vai se desculpar, Juliana?" Benício perguntou, sua voz afiada, uma nova onda de raiva em seus olhos. "Depois de tudo? Depois que eles me incriminaram?"
Olhei para ele, para a dor crua em seus olhos, a raiva que ainda fervia sob a superfície. Minha garganta se apertou. "Benício", comecei, minha voz suave. "Eu paguei todas as nossas dívidas. O dinheiro do processo cobrirá sua reabilitação completa, pelo tempo que for necessário. Podemos até encontrar um especialista no Rio de Janeiro, um lugar onde ninguém conhece nosso passado."
Ele me encarou, sua expressão indecifrável. "Do que você está falando?"
"Disso", eu disse, segurando o celular de Lucas, o vídeo ainda tocando. "Isso muda tudo. Não temos que nos desculpar por nada, Benício. Vamos sair daqui. Vamos recomeçar."
Os olhos de Benício se arregalaram, depois se encheram de uma enxurrada de emoções - incredulidade, alívio e, finalmente, uma esperança frágil. Ele estendeu a mão, sua mão ferida tremendo ligeiramente, e pegou o celular. Ele assistiu ao vídeo, sua respiração presa na garganta.
"Então, você... você não vai se desculpar?" ele perguntou, sua voz mal um sussurro. "Para o Dimitri? Para a Cláudia?"
"Não", eu disse, minha voz firme, todos os vestígios de dúvida se foram. "Não pelas mentiras deles. Não pelas manipulações deles. Não devemos nada a eles. Vou te levar para o Rio de Janeiro, Benício. Uma nova vida, um novo começo. Chega de olhar para trás."
Ele olhou para mim, um lampejo de algo em seus olhos que eu não via há anos. Não desafio, não raiva, mas... confiança. "E o Dimitri? E ele? Ele vai pensar que você ainda está fugindo. Ele vai pensar que você ainda é culpada."
Eu sorri, um sorriso genuíno, embora cansado. "Deixe-o pensar o que quiser. As opiniões dele não nos definem mais." Acariciei gentilmente seu cabelo. "Não vou deixar ninguém te machucar de novo. Ninguém."
Nesse momento, meu celular vibrou com uma mensagem de Jordana, minha fiel amiga da faculdade. Jú, você não vai acreditar no que eu encontrei! Todo aquele "trauma de bullying" da Cláudia na Mackenzie? Foi uma completa invenção! Eu tenho a prova em vídeo das câmeras de segurança do campus! Ela orquestrou tudo!
Meu coração saltou para a garganta. Jordana. Minha amiga brilhante e engenhosa. Ela conseguiu. Ela encontrou a verdade.