/0/2358/coverbig.jpg?v=567dc41377f43b88c676813887872b06)
Chegando em casa, encontrei Vanda e Luan assistindo a um filme e comendo pipoca. Quando contei o acontecido, ambos me olharam como se eu fosse um extraterrestre.
- Fazer o que, me deram folga! - exclamei, denotando minha confusão.
- Aproveita e vem assistir Star Wars com a gente. - Vanda bateu ao seu lado no sofá e eu obedeci.
Luan já tinha almoçado, então passamos a tarde comendo besteiras e assistindo filme. Há tempos não conseguia ficar assim com meu irmão sem preocupação ou o pensamento de que precisava correr para o trabalho. Foi bom ter um momento de qualidade com ele, aliás, nem sabia que Luan estava gostando de uma menina da sala.
Eu definitivamente era uma irmã relapsa, mas também fazia o que podia para manter a casa em ordem com meu salário ridículo de vendedora. Suspirando, decidi tomar um banho e colocar um pijama para ficar mais à vontade. Dessa forma, a tarde se foi e a noite chegou, enquanto eu tentava compreender o motivo da minha folga ou a promessa de férias para o próximo mês.
◆◆◆
Minha folga passou de maneira tranquila. Luan estava melhor, então foi para a escola, na volta eu o busquei e fomos ao dentista ver os últimos detalhes para ele colocar aparelho nos dentes. Quando retornei ao trabalho, encontrei Vinícius no fretado. Ele parecia ter reservado lugar, pois tinha uma mochila no assento ao lado.
- Esperando alguém? - perguntei divertida.
- Sim, uma garota bonita que está com uma camiseta do Yoda - respondeu, entrando na brincadeira.
Acabei rindo, porém, o elogio dito daquela forma displicente ainda assim me deixou constrangida.
- Obrigada pelo elogio, só vejo eu aqui com uma camiseta do Yoda. - Dei de ombros, olhando teatralmente para os lados.
Ouvi alguns risinhos vindo do fundo do ônibus e tentei continuar plena. Mesmo não sendo uma tarefa fácil, não quando Vinícius mantinha o olhar fixo em mim. Ser o alvo de sua atenção fez com que alguns funcionários me lançassem olhadas desconfiadas. Principalmente as meninas. Entretanto, eu não podia fazer nada, ele que escolheu sentar comigo e de qualquer forma eu precisava conversar com Vinícius para esclarecer minhas dúvidas.
- Agora que sabe que eu estava esperando você, pode me dizer como está seu irmão - comentou sorrindo.
- Está bem, hoje foi para a escola e também resolvemos algumas pendências - contei, lembrando da consulta agendada para ele finalmente colocar aparelho. - Inclusive, queria saber se foi você quem falou com o senhor Arthur. Porque ninguém mais daqui sabia do meu irmão e ele até me ofereceu férias!
Vinícius coçou a nuca, desviando o olhar.
- Ele me ouviu conversando com a Sabrina, desculpe. - Mordeu o lábio inferior parecendo mortalmente culpado. - No fim, acabou que tive que explicar tudo e o senhor Arthur ficou um pouco comovido. Digamos que sou bem persuasivo quando quero, você ficou chateada? - perguntou preocupado.
- Confesso que tive medo de ser demitida, mas consegui passar um tempo com meu irmão - expliquei, analisando sua expressão. - Ainda assim, não fala mais com ele sobre mim não, pode ser? Eu preciso desse emprego e vai que eu não tenha tanta sorte da próxima vez - pedi, tentando ser sutil no tom repreensivo.
- Claro, eu peço desculpas pela minha indiscrição. - Vinícius olhou bem nos meus olhos e, eu, para variar fiquei hipnotizada, até aí nenhuma novidade.
- Tudo bem, já passou e acabou sendo uma coisa boa - afirmei, ponderando se conseguiria ou não ficar brava com Vinícius se tivesse dado tudo errado e eu acabasse demitida. - E como você se virou na minha ausência? - indaguei para quebrar aquele clima estranho que se formou.
- Senti sua falta - respondeu à queima roupa.
Fiquei alguns segundos tentando assimilar a frase.
- Mas já? Fiquei só um dia fora, imagina quando eu tirar férias! - exclamei rindo, procurando não demonstrar o quanto aquele senti sua falta me deixou nervosa.
Ele riu e o som fez meu coração se aquecer.
Caramba, eu precisava parar de ficar perto do Vinícius. Porque corria sério risco de me apaixonar e esse sentimento não estava nos meus planos em hipótese alguma. Cuidar do meu irmão e conseguir dar entrada em um apartamento eram minhas prioridades.
- Ontem você não veio comigo no fretado e um cara acabou dormindo no meu ombro - contou, dando risada. - Ele deveria estar cansado, então eu deixei. Mas preferia que fosse você.
Meu rosto esquentou.
- Eu costumo babar quando durmo - descontrai, ignorando o comichão que senti no peito.
- Não tem problema, é só colocar um babador aqui no ombro e fica tudo bem - revidou, divertido.
Dei um empurrão leve em seu braço.
- Você acordou inspirado hoje - comentei, esperando que ele parasse por aí e não fosse adiante em me deixar perigosamente apaixonada.
Não iria dizer o quanto fiquei tentada a deitar em seu ombro na manhã seguinte, só para fazer um teste.
Vinícius balançou a cabeça, olhando pela janela por alguns instantes. Já estávamos chegando, portanto, aproveitei para abrir distância entre nós. Peguei a mochila e fui me ajeitando ao levantar, quando o ônibus deu uma sacolejada na curva.
Fazendo com que eu despencasse no colo do Vinícius.
Mais uma vez.
- Opa. - Ele segurou firmemente minha cintura.
- Desculpa, eu tenho mania de levantar antes do tempo e esqueço que tem essa bendita curva! - exclamei, morrendo de vergonha.
- Não tem problema - respondeu rindo. - Está sendo sempre divertido chegar na livraria com você.
Enquanto minhas bochechas queimavam, Vinícius parecia mais tranquilo do que nunca.
- Nada te afeta, não é? - retruquei, desejando ao menos que ele ficasse levemente perturbado por eu ter caído em seu colo.
- Você que pensa, Mariane - afirmou, sem nenhum resquício de brincadeira no tom de voz. Seus olhos verdes se estreitaram ligeiramente enquanto os fixava em mim até o ônibus parar completamente. - Se eu te contasse o que está me afetando.
Senti um arrepio na espinha e resolvi sair logo daquele maldito fretado. Que diacho de motorista que sempre me fazia pagar mico!
Corri até a porta e assim que o motorista liberou a saída, andei sem olhar para trás. Eu queria que Vinícius ficasse bem longe de mim e da minha carência afetiva para o bem da minha sanidade mental.
Contudo, algo me dizia que esse desejo não seria atendido e isso me preocupava na mesma medida em que acelerava meu coração.