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Luan ficou encantado com a notícia de que iríamos ao cinema com o Vinícius. Tanto que não era nem dez horas quando ele me chacoalhou, perguntando se não perderíamos a hora e tive que acalmá-lo dizendo que só sairíamos à tarde. Então voltei a dormir por mais vinte minutos. Quando Luan veio novamente me perturbar, resolvi acordar logo de uma vez por todas. Depois de preparar o café e informar pela enésima vez ao Luan que só iríamos mais tarde, fui tomar um banho e hidratar meu cabelo que já estava pedindo socorro. O coitado parecia mais rebelde do que nunca e minhas unhas cheias de cutículas.
Coloquei a minha playlist na maior altura e estava me produzindo sem pressa. Até receber uma mensagem do Vinícius, perguntando se poderíamos sair umas cinco horas, quando estivesse mais fresco. Realmente o calor estava matando naquele dia e eu prontamente concordei. Assim daria tempo de colocar roupa para lavar e talvez ler alguma coisa. Eu trabalhava em livraria e não conseguia ler nada além de sinopses ultimamente.
Quando Luan e eu já estávamos prontos, Vinícius buzinou. Ele nos aguardava fora do carro, então Luan correu para cumprimentá-lo com um toque de mãos.
- Qual filme vamos assistir? - perguntou empolgado.
- Olhei alguns em cartaz, mas acho melhor escolhermos lá - bagunçou os cabelos do Luan. - Oi, Mari. - Sorriu para mim.
Fomos conversando, enquanto Luan jogava no celular e vez ou outra interagia com Vinícius sobre algo que ele concordava. Ao chegarmos no shopping, notei que Vinícius andava bem próximo a mim. Inclusive, às vezes nossos corpos se tocavam levemente, no entanto, fiz o possível para manter uma distância segura.
- Vocês preferem comer alguma coisa antes ou comprar os ingressos? - perguntou, chegando mais perto.
Luan andava na frente todo feliz e informou que gostaria de comer hambúrguer e batata frita. Portanto, seguimos para a praça de alimentação antes do cinema. Vinícius fez os pedidos de acordo com o que indicamos, nesse ponto eu recebi uma mensagem da Sabrina. Ela não costumava mandar mensagem para mim em dias aleatórios, nossa relação se resumia ao coleguismo do trabalho. Contudo, fiquei curiosa para saber do que se tratava.
Sabrina: Não me diga que você saiu com o Vinícius, eu te disse que ele não era pro nosso bico!
Mari: Somos amigos, e oi pra você também. Aliás, como soube que fomos ao cinema?
Sabrina: O seu irmão acabou de postar no Instagram uma foto dizendo que estava no cinema com você e o amigo da irmã. Quem mais seria se você não socializa com ninguém além dele nas últimas semanas?
Mari: Quer vir pra cá me vigiar e ter certeza que somos só amigos? E o que você sabe que eu não sei?
Sabrina: Eu não sei de nada, pensando bem pode ser até bom pra você. Vou torcer pra ficarem juntos. Bom cinema e vê se dá uns beijos nele pelo menos!
Abri o Instagram e vi que o Luan tinha postado uma foto mesmo, curti e de repente lembrei que eu não tinha nenhuma rede social do Vinícius. Apesar de não ser fissurada em redes, fiquei curiosa para bisbilhotar a vida dele fora da livraria. Vinícius voltou para a mesa com os pedidos e eu aproveitei para acabar com a minha curiosidade.
- Qual seu user no Instagram? - questionei, tentando parecer casual. - Não uso muito, mas queria te marcar em uma publicação. - Forcei um sorriso, enquanto Luan me ajudava inconscientemente.
- Eu não tenho - respondeu esquivo. - Quer dizer, de um tempo pra cá estou longe das redes sociais. Desculpe, mas podemos tirar uma foto juntos para deixar de recordação - propôs, puxando o celular do bolso.
Assenti, ainda que estranhando. Só que tudo bem, deveria ter relação com a perda do pai dele e eu não tinha autorização para tocar naquele assunto. Vinícius nunca me deu abertura para isso. Eu jamais seria invasiva ao tentar arrancar alguma informação que ele não quisesse me dar. Em seguida, Vinícius ainda me mostrou as fotos que tirou e disse que me enviaria pelo WhatsApp. Em meio a conversas, terminamos de comer e fomos comprar os ingressos naquelas máquinas que ficam próximas ao cinema. Porque a fila para os caixas estavam imensas e não queríamos uma sessão muito tarde por causa do Luan.
O filme em si foi até legal, uma animação da Pixar, mas a minha atenção estava no Vinícius bem próximo de mim. Todas as vezes que ele mencionava algo sobre o filme era rente ao meu ouvido e isso já estava despertando pensamentos impuros na minha cabeça. Ao sairmos do cinema, já era um pouco tarde, então compramos Milk-Shakes e resolvemos voltar para casa. Afinal, Vinícius trabalharia no final de semana, diferentemente de mim que estava de férias!
Era muito bom pensar nisso, eu realmente não acreditava que um milagre desses recairia sobre mim. Já não tinha esperança de descansar nos próximos meses. A única coisa que me deixava triste era talvez não ver Vinícius com tanta frequência. Aliás, eu continuava insistindo que era melhor não pensar muito em que tipo de sentimento eu começava a nutrir por ele. Ao chegarmos, acabei convidando Vinícius para jantar com a gente. Ele aceitou, alegando que não demoraria muito, pois já era tarde.
Luan ficou exultante em saber que poderia jogar uma partida com Vinícius e eu em passar mais um tempo perto dele.
- Não quero dar trabalho - mencionou quando fui para a cozinha. - Podemos pedir alguma coisa, não é melhor você descansar?
- Eu estou de férias - lembrei, mexendo nas panelas. - A não ser que não queira comer minha comida. - Cruzei os braços desafiadoramente.
- Eu amo sua comida - respondeu, me surpreendendo. - Só prefiro passar o resto da noite perto de você.
Abri um sorriso enorme.
- Acho que ainda dá tempo de pedir algo, então - aceitei, indo para a sala.
Vinícius veio atrás e decidimos escolher coxinha do Ragazzo. Enquanto esperávamos, eles foram jogar e eu aproveitei para tomar um banho rápido. Nossa casa de aluguel era modesta, dois quartos razoáveis em cima, além do banheiro, sala e cozinha embaixo, e mais um banheiro para visitas. Quando voltei para a sala, encontrei Vinícius e Luan conversando.
- Minha irmã gosta de você, você gosta dela? - perguntou na lata.
Que moleque!
- Eu gosto muito da sua irmã e de você também, somos amigos. - Vinicius respondeu diplomaticamente, obliterando minhas expectativas.
- Não desse jeito. - Luan retrucou, insistente. - Gostar de um jeito romântico, você é adulto. Sabe do que eu tô falando!
Vinícius riu, mas não confirmou e nem desmentiu nada.
- Você é muito curioso - desconversou. - Não acha que se eu sentir algo pela Mari, preciso dizer primeiro pra ela?
- Acho. - Luan admitiu. - Mas eu posso saber também.
Vinícius bagunçou o cabelo do Luan.
- Bom argumento, só que você se distraiu e eu ganhei - comemorou, ainda rindo.
- Droga! - Luan praguejou.
Fingi que chegava naquele instante e não ouvi nada da conversa deles.
- O que vocês conversaram? - Me fiz de sonsa.
- Nada demais. - Vinícius se adiantou para responder.
Luan revirou os olhos.
Ouvi o barulho da campainha e fui atender, triste por não obter a confirmação que eu queria. Entretanto, era melhor assim, se ele dissesse que gostava de mim romanticamente, minha cabeça entraria em colapso. Meu coração nem se fala, acho que nem conseguiria agir normalmente perto do Vinícius.
Após a rodada de coxinha, ele decidiu que estava tarde e se despediu do Luan.
- Boa noite, Vinícius - desejei. - Hoje foi muito divertido, acho que o Luan já deve ter capotado na cama.
Ele riu.
- Fico feliz em saber. - Vinícius foi chegando mais perto, até estar a centímetros de distância da minha boca e então deixou um beijo demorado na minha bochecha. - Boa noite, Mari.
Ele se afastou rápido, indo em direção ao carro.
Meu coração batia loucamente, ainda que eu não quisesse assumir o quão perigoso era sentir o coração tão acelerado por causa de um simples beijo na bochecha. Se eu fosse completamente sincera comigo mesma, talvez admitisse que gostaria de ser beijada em outro lugar.