Capítulo 7 7

Mais fácil eu aprender japonês em braille, do que decidir se vou ou não à casa de Miguel. A lua, em toda sua glória, já está iluminando tudo com sua luz difusa e eu ainda estou aqui, na praia. A pergunta é, para que tanto drama? É só um filme! Será que estou tão carente assim, a ponto de achar que vou me apegar a uma família que nem é a minha?

Bom, cá entre nós, a verdade é que até corro esse risco. Também estou tapando o sol com a peneira, me fazendo de forte, fingindo indiferença. Quando, na realidade, a traição de Richard me atropelou como uma avalanche devastadora e implacável. Sim, é dessa forma que me sinto ao lembrar de vê-los juntos, meu castelinho de areia foi destruído e pisado. Eu me senti quebrada, como um brinquedo sem utilidade.

Talvez seja por isso que estou nesse conflito interno, no fundo ainda sou bem romântica. Apesar de ver meus sonhos sendo levados pela correnteza, mesmo depois de ser atingida por uma tempestade sem precedentes, bem no meu interior, sei que ainda existe a possibilidade de amar. E isso me apavora, achei que estava selada para esse sentimento, no entanto, eu me iludi.

Algo me diz que ainda posso ser magoada, ainda posso permitir que alguém me machuque. Ainda posso ser ferida, como? Depois de tudo o que passei, como ainda posso estar receptiva para o amor ou para sentimentos de apego? Como ainda pode existir algo em mim que acredite nessa baboseira? Meu coração deveria ser um túmulo lacrado, não um jardim sendo reconstruído, para alguém, novamente, vir massacrar minhas flores.

Isso não é justo.

Por consequência, com todos esses pensamentos em mente, sinto lágrimas quentes caírem sem trégua e inundarem meu rosto, feito um tsunami, secá-las será em vão.

Deixa sair, deixa limpar.

Contudo, preciso ser sincera, essa constatação me fiz murchar, como se a vida jogasse vinagre em mim, logo quando tentava me reerguer.

Nem o céu salpicado de estrelas ou a lua derramando seu brilho acalentador sobre mim, são capazes de me animar. Não me sinto nem um pouco feliz, não mais.

Levanto, sacudindo a areia branca do meu corpo e sigo caminhando em passos lentos até minha casa. Digo, a casa alugada. Nada aqui é meu, eu não pertenço a esse lugar. Há algumas horas eu estava tão animada, crente de que tinha deixado a dor da traição para trás. Não obstante, esse deve ser um dos estágios do término, quando negamos o que de fato sentimos. Deve ser normal encontrar-se nessa gangorra de sentimentos conflitantes.

Mesmo assim, tudo o que eu queria era apertar o botão restart e reiniciar. Só que a vida não é um jogo, quando caímos precisamos nos levantar. Porém, as lembranças não saem de você, elas te acompanham, talvez o tempo consiga amenizá-las. A questão é, quanto tempo?

Agora eu me pergunto, fiz bem vindo para este fim de mundo? Ou deveria estar chorando no colo da Duda, me entupindo de sorvete, sem ao menos depilar as pernas?

Digo isso, pois esse é o sábio conselho de Lorelai Gilmore, quando Rory termina com Dean no seriado Girlmore Girls. Talvez eu devesse seguir o conselho dela, talvez eu esteja dando um passo maior do que minha perna. Achando que posso me aventurar por este mundo. Esquecendo minhas decepções, ignorando o fato de que estou desempregada, sem carreira, estagnada e sem esperanças.

Ao chegar em casa, me enfio embaixo do chuveiro, sentindo a água morna se misturar às minhas lágrimas. Expurgando todos meus pensamentos felizes. E, nesse momento, me sinto um completo fracasso. Afinal, mal consigo superar uma traição.

Que droga de mulher eu sou? Sem dúvidas não devo ser exemplo para ninguém. Se eu levar em consideração o filme divertida mente, agora quem deve estar no comando das minhas emoções é a tristeza.

Ah tristeza, sai daí um tiquinho, dê lugar à alegria, a raiva, o nojo, qualquer coisa. Só tira essa dor de mim, só por um tempinho, preciso de descanso. Ainda não estou preparada para lidar com você. Alegria, volta para o comando, por favor.

Desligo o chuveiro, ciente de que estou sendo ridícula, invocando personagens da Pixar para resolver o que eu mesma tenho de fazer. Arrancar pela raíz o amor que um dia senti pelo Richard e substituí-lo por amor próprio e verdadeiro simples e sincero.

- Dani! - ouço a voz da Pati e enxugo meu rosto, tentando disfarçar minhas lágrimas.

Todavia, tenho noção de que estou com os olhos vermelhos e inchados, ela logo perceberá meu teatro. Ainda assim, me enrolo em uma toalha e vou atender à porta.

- Oxente, o que está fazendo mulher? Mel me ligou perguntando se eu sabia de você, ela disse que está te esperando para assistirem Alice no país das maravilhas. - graceja em meus ouvidos e sorri animada.

- Ah, é? - finjo calma. - Pode dizer que não posso ir? - viro o rosto para que Patrícia não veja meu estado.

- Olha pra mim. - não é um pedido, é quase como uma ordem.

Eu recuo.

Ela entra e fecha a porta.

- Dani, sei que acabamos de nos conhecer, além disso, eu não tenho certeza se sou a melhor pessoa para estar por perto em um momento de fraqueza. Mas pode contar comigo, visse? - sua voz, dessa vez, não soa carregada de sarcasmo.

Apenas solidariedade.

Eu a encaro e Patrícia emenda:

- Nossa, você estava chorando, pelo visto quase transbordou o mar, não é? - ela se aproxima de mim. - Tudo bem se quiser chorar, quando você me contou sua história, eu fui um tanto insensível, mas foi para o seu próprio bem. Achei que seria melhor tratar como caso encerrado, do que dar vasão a tanta melancolia escondida aí dentro. - Patrícia aponta para o meu coração.

- Acho que sim. - dou um sorriso e fungo ao mesmo tempo.

Ridícula, eu sei.

- Vem cá. - então ela me abraça.

E isso é o estopim que dá lugar a uma reação em cadeia. Eu recomeço a chorar de soluçar, enquanto Pati alisa meus cabelos molhados, sussurrando:

- Shiii, vai ficar tudo bem. Põe pra fora...

Após alguns minutos, já com o rosto totalmente inchado e molhado de lágrimas. Eu respiro fundo e profiro:

- Obrigada, sei que sou fraca. Só que às vezes eu não consigo.

- Você é forte, Daniele. Do contrário não estaria aqui, sozinha, longe das pessoas que você ama e de tudo que é familiar pra você. - Patrícia sorri complacente. - Agora lava esse rosto, se veste e vá assistir Alice no país das maravilhas, se não quiser ir, tudo bem. Porém, nós vamos sair!

- Sair?

- É garota, rir, balançar o esqueleto, conhecer alguns boyzinhos sem compromisso. Se divertir, viver, minha querida. Viver! - Patrícia da ênfase à última palavra.

Eu forço um outro sorriso, meio em dúvida sobre o tal rolê.

- Acho que não quero sair por aí. Sou bem caseira, filme e pipoca fará muito mais meu estilo esta noite. - faço uma careta.

- Então se aprume e vá para a casa do Miguel, ué.

- Será? - a dúvida continua pairando sobre mim.

Uma hora depois, no entanto, estou a caminho da casa de Miguel. Sinto-me um pouco melhor, mais contida, chorar me deu um certo alívio. Sei que prometi a mim mesma não mais me lamentar, só que essa promessa fez com que eu reprimisse meus sentimentos. E, como diria os Menudos: Não se reprima.

Portanto, talvez esse não seja o melhor remédio para a superação.

Tudo bem fraquejar às vezes, desde que você reconheça seu valor e saiba que não vale a pena morrer de tristeza. Foi isso o que Patrícia me disse antes de ir embora.

Bato à porta de Miguel e como eu já esperava, quem vem me receber é a Mel, toda sorrisos.

- Achei que você não vinha!

- Eu tive um contratempo. - a abraço apertado, vendo que ela está muito mais animada pelo pai estar de volta.

Vou entrando devagar, olhando ao redor, observando Miguel deitado no sofá, com um livro na mão. Além disso, bem baixinho, posso ouvir My Girl soar na vitrola.

- Boa noite, Miguel.

- Boa noite, Dani. - ele devolve em um tom de voz cálido.

Pelo visto Miguel levou a sério essa história de apelido.

- Está se sentindo bem? - indago preocupada.

- Melhor, tirando os antibióticos e os remédios para dor. Estou vivo. - seu tom soa divertido e eu acabo estranhando um pouco.

Esse não é o Miguel que estava comigo no restaurante do Bernardo há alguns dias. Parece que morreu e foi substituído. Se bem que, durante sua estadia no hospital, ele me tratou carinhosamente, diferente daquele fatídico dia dos fones quebrados.

- Você fazendo um comentário irônico? O que aconteceu com àquele Miguel que me ignorou no restaurante? - minha voz soa um pouco magoada, mas eu sorrio para disfarçar.

Tipo quando mandamos algo sério no whatsapp e no final enviamos aquelas risadas de internet ou um emoji engraçadinho, só para amenizar a situação? Pois é.

- Eu fui um pouco rude naquela ocasião, me desculpe. - seus olhos estão fixos em mim e preciso desviar os meus, tamanha a intensidade de seu olhar.

- São águas passadas.

Estava tão entretida na conversa, que nem vi quando Mel saiu, agora ela retorna com um presente embrulhado em um papel cheio de pequenos girassóis.

- É pra você. - Mel sorri grande e eu junto as sobrancelhas, em sinal de confusão.

- Pra mim?

- É um presente do meu pai. - Mel explica, olhando amorosamente para mim.

Minha confusão deve estar tão visível que vejo Miguel se levantar com cuidado e vir em minha direção.

- Eu fiquei quase duas semanas de molho no hospital, você cuidou da Mel e foi me visitar praticamente todos os dias. É o mínimo que eu posso fazer, só queria agradecer de alguma forma. - sua voz sai grave e firme. - Assim, quando você for embora, de um jeito ou de outro. Vai se lembrar com carinho de Ipojuca e de nós.

- Eu mal cheguei e vocês já estão me expulsando? - tento disfarçar meu nervosismo, mas, a verdade é que me senti um tantinho importante, só por um momento.

É bobagem eu sei.

Contudo, alguém lembrou de mim e reconheceu o que eu fiz, mesmo que eu não tenha feito nada em prol de reconhecimento.

Eu pego o embrulho e abro o cartão:

"Para minha amiga, Dani. Lembre-se de nós."

No final tem um coração desenhado de um jeito suspeito. Deve ter sido Mel que escreveu, pois caligrafia também é um pouco duvidosa, de todo modo, dá para perceber que ela se esforçou.

Um gesto simples, só que, para alguém com tantos sentimentos misturados e conflitantes dentro de si. Esse pequeno gesto representou bem mais, talvez eu realmente esteja fazendo amigos aqui.

Quando abro o embrulho, com dois pares de olhos em cima de mim, não consigo deixar de sorrir. Ao ver que o presente, na verdade, é um globo de vidro daqueles que geralmente vemos em filmes hollywoodianos. Contendo uma miniatura de alguma cidade e, quando você balança, pode ver a neve se espalhando lentamente. Não obstante, nesse caso, é a miniatura de Vila de Porto de Galinhas.

Só para registrar, preciso tirar uma foto nesse letreiro. Afinal, é de praxe fazermos isso quando visitamos um local diferente.

Além de tudo, o presente é realmente lindo, agora entendi o que Miguel quis dizer. De fato, quando eu for, sempre lembrarei daqui ao olhar para esse globo.

- Eu adorei, obrigada. - não sei nem o que dizer, fora que estou me sentindo melhor. Como se a companhia deles fosse um bálsamo para minha tristeza interior. - Quando comprou? Já que não pode sair de casa?

- Bem, eu pedi para o Bernardo comprar hoje à tarde, como sabia que você viria. - Miguel responde e aguarda minha reação.

- Hãn, faz sentido. - nós sorrimos juntos.

- Dani, vem cá. O tio me deu outro bolo! - Mel grita da cozinha, eu olho para Miguel e ele continua sorrindo pra mim.

Então retorna para o sofá.

Deve ser difícil ter de ficar sem fazer esforço algum, Miguel parece tão pró-ativo. Espero que não precise ser por muito tempo. Por conseguinte, depois de cortar um pedaço de bolo para mim e para Mel, nós voltamos para a sala.

- Você quer, paizinho?

- Não, filha. Pode comer, só achei que iria querer pipoca antes. - o tom que ele usa com a Mel é bem mais caloroso e carregado de ternura.

- Sim, eu quero. - Mel resmunga em resposta, com a boca cheia de bolo e de chantilly.

Miguel faz menção de se levantar, mas eu sinto um pouco de dó. Ele parece ter que se esforçar muito para se locomover pela casa, não sei se sente dor ainda quando o faz. Confesso que fiquei com pena.

- Eu faço! - me levanto num ímpeto e vou até a cozinha, agora já conhecida por mim.

Pois fiz miojo algumas vezes pra Mel e para mim mesma, enquanto estava aqui, qual é. Eu não sei cozinhar.

- Não precisa, eu posso fazer. - Miguel resmunga da sala, quando eu já coloquei a pipoca no microondas, ele aparece ao meu lado. - Oxe, você é teimosa.

- Ouço um bocado de vezes isso. - dou de ombros, esperando a pipoca estourar. - Tem certeza de que está bem? Ainda sente dor? - pareço uma mãe fazendo tantos questionamentos, mas não consegui evitar.

- Um pouco só, sinto umas fisgadas ao redor dos pontos. Dá para aguentar, não se preocupe. - me conforta com um sorriso de canto.

- Quem disse que estou preocupada? - minto e Miguel faz cara de espanto, colocando a mão direita no coração de forma teatral.

- Melhor assim. - e encosta na bancada do armário, cruzando os braços na altura do peito.

Enquanto eu tiro a pipoca do microondas com a ponta dos dedos, para não queimar a mão, despejando o conteúdo em uma vasilha em seguida. Sinto seu olhar me queimando e fico repentinamente acanhada.

- Me desculpe por estar fuçando suas coisas. - faço uma careta estreitando os olhos.

- Não, que isso. Por mim tudo bem, é só que faz bastante tempo que ninguém mexe nessa cozinha além de mim. - é a primeira vez que Miguel menciona algo íntimo, por isso não sei o que responder.

Nossas conversas no hospital se resumiram a coisas superficiais, sobre Porto de Galinhas, dicas de aquarismo, música antiga, quais bandas nós mais gostamos. Sobre como o anoitecer é bonito aqui em Ipojuca, sem tanta poluição como em São Paulo etc. Apenas. Ou seja, deve ser natural eu me sentir perdida, por Miguel me contar algo assim logo agora.

Tanto que respondo diplomaticamente, aproveitando para mudar de assunto.

- Como você consegue dar conta de tudo? De cuidar da Mel, da casa, da loja e dos peixes? - Miguel ri, relaxando a postura.

- Existem mulheres que fazem muito mais, em cima de um salto agulha ainda. - rebate e eu penso por um instante no que responder.

- Eu não sou uma dessas. - me encosto próximo a ele.

- Será? - Miguel ergue uma sobrancelha.

- Não me superestime, Miguel.

- Não estou fazendo isso. - contrapõe de bate pronto. - Para ser sincero você lembra muito a minha irmã, Daniele. Além de ter o mesmo nome. Talvez seja por isso que fui um pouco rude no princípio, achei que a ferida já estivesse fechada, mas ela não cicatrizou totalmente, ainda sangra às vezes. - eu o encaro e quase consigo ver sua dor através de seus olhos amarronzados. - Eu senti um pouco de raiva, confesso, me perdoe. Você apareceu do nada, com o mesmo nome que minha irmã, com quase o mesmo jeito e até com alguns traços da personalidade dela. Então, de repente ganhou a atenção da Mel sem fazer esforço algum, não sei... Me senti confuso, agora que estou começando a assimilar. - confessa me pegando de surpresa.

- Você não queria que eu me aproximasse da sua filha? Quer que eu vá embora? - faço o possível para minha voz não sair esganiçada.

- Que isso! - Miguel me encara intensa e verdadeiramente. - Ela gosta de você, não posso evitar. No entanto, ao mesmo tempo eu me preocupo. Mel já passou por tanta coisa e ainda tem sete anos, tenho receio de que ela se apegue demais a você e depois sofra...

- Quando eu for embora. - concluo sua frase.

- Exato.

- Eu também tenho esse receio, por este motivo cogitei não vir aqui hoje. - resolvo ser sincera, já que escolhemos trilhar esse caminho.

- Entendo. - é tudo o que diz.

- Acho que somos dramáticos, não? Pelo pouco que conheço da Mel, ela parece ser uma garota forte, você pôde constatar mais uma vez há alguns dias. - afirmo, mudando a rota da conversa.

- Isso é verdade. - Miguel sorri, demonstrando o orgulho que sente pela filha. - Bom, já que toquei nesse assunto devo te contar toda a história...

- Não precisa, eu já sei. - o interrompo um pouco sem graça.

- Sabe? - seu olhar é um misto de confusão e surpresa.

- Patrícia me contou, sinto muito.

- Faz sentido. - sua voz soa baixa e angustiada.

- Bom, a pipoca está esfriando. - tento amenizar o clima tenso que se formara.

- É mesmo e você ainda nem provou o bolo. - Miguel sorri timidamente e nós voltamos para a sala.

Porém, ao fazê-lo, damos de cara com uma garotinha adormecida no sofá, com os cabelos cobrindo-lhe todo o rosto. O pratinho de bolo jaz no chão, sem nenhum farelo.

- Essa menina, tanto que falei pra ela não adormecer aqui embaixo. Eu não posso carregá-la pra cima. - pondera com um certo pesar.

- Eu posso. - protesto, já indo em direção à Mel. - Nós demoramos muito na cozinha. Aliás, eu demorei para chegar, ela devia estar cansada.

- Dani, não precisa, sério. Pode não parecer, mas a Mel é pesada, além disso, tudo bem ela dormir no sofá uma noite. - Miguel tenta me dissuadir.

Entretanto, eu já estou aconchegando-a em meu colo. As pernas da Mel se enroscam em volta de mim, enquanto a cabeça tomba em meu ombro.

- Se ela dormir aqui na certa vai acordar toda dolorida. - reflito e devo confessar, Mel realmente é pesada para o tamanho.

- Eu a acordo, já tinha pedido pra ela não cair no sono no sofá, não por enquanto. - Miguel insisti.

- Por mais que Mel seja madura para a idade, ainda é apenas uma criança, Miguel. Você precisa se lembrar. - dito isso, vou em direção às escadas, ouvindo alguns múrmurios incoerentes da filha e outros bem inteligíveis do pai:

- Teimosaaa. - Miguel prolonga a palavra, o que me faz rir por um momento.

Mesmo com o esforço hercúleo de carregar Mel escada à cima.

Ao retornar um pouco ofegante, ele me encara incrédulo.

- Pronto. - falo só para pirraçar.

- Sério mesmo que você não ouve? De qualquer jeito, é por essas e outras que precisei rever minhas atitudes. - Miguel responde, olhando carinhosamente nos meus olhos.

- Não foi nada de mais, eu sou forte. - brinco, ele ri. - Bom, já vou indo então.

- Já? Podemos assistir outro filme que não seja Alice no país das maravilhas. - seu timbre soa carregado de divertimento.

- Mas eu gosto de Alice... - protesto feito uma garotinha.

- Pode ser esse, não tem problema. Além do mais, querendo ou não, agora você conhece minha história, gostaria de ouvir a sua. - apesar da simplicidade com que Miguel jogou a sugestão, eu ainda tenho o impulso de fugir correndo para as colinas.

            
            

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