Capítulo 10 Festa

A viagem até a festa, que agora eu sei que será na casa de Elise, é curta, apesar de incômoda. Eu me sinto em uma lata de sardinha e apesar do esforço feito por mim e por Sebastian, o cinto de segurança unido a falta de espaço não nos deixar ficar muito longe. Sebastian parece estar ainda mais incomodado que eu já que sua mandíbula está trincada e eu sinto todos os músculos do seu corpo tenso ao meu lado. Rome não faz nada para melhorar nosso incomodo, já que vai cantando músicas antigas uma atrás da outro, enquanto Sebastian pede que ele controle a velocidade.

A casa de Elise é realmente da forma que eu imaginei, tão luxuosa e rica quanto a casa dos Mayfield. Obviamente a família dela também tem muito dinheiro, mas isso eu já sabia apenas vendo seu comportamento de mimada privilegiada.

-Regras – Sebastian fala assim que nós, finalmente, descemos do carro – Fique longe de mim mas não saia do meu foco de visão.

Rolo os olhos.

-Nossa, com você nada nunca é simples. Por que você não decide logo o que quer?

-Eu não sou sua babá, Natasha. Você já é bem grandinha pra se virar sozinha. Mas não tô afim de aguentar o drama que vai ser se eu quebrar o novo brinquedo favorito de Santiago.

-Retire o que disse. – falo irritada. Quem ele pensa que é?

-Vocês não vão começar a brigar de novo, não é mesmo?

Eu e Sebastian olhamos irritadas para Rome ao mesmo tempo.

-Caramba – ele fala, assoviando – Vocês precisam dar um jeito em toda essa tensão.

-Saia daqui, Rome.

-Tá bem, não tá mais aqui quem falou. – ele fala, fazendo sinal de rendição – Hora de festejar. – então ele começa a fazer uma dancinha ridícula ao mesmo tempo que se afasta e diz: - Festa, festa, festa.

-Ele é real? – questiono, divertida com a dancinha de Rome.

-Apenas fique longe de problemas, Natasha. E me procure quando quiser ir embora. – ele fala se afastando também.

-Espera, Sebastian. Eu não tenho certeza se sou bem-vinda. Elise e eu não somos realmente amigas.

-Eufemismo do ano. Apenas vá e faça o que quer que seja que queira fazer. Eu resolvo com Elise. – ele fala se afastando, levando com ele sua parte das bebidas.

-Ok, então. Zero surpresa em saber que não posso contar com sua ajuda. – reclamo.

A casa notadamente está cheia, tem pessoas na entrada e o entorno da casa está lotado de carros de luxo. Reconheço alguns rostos do colégio e eles claramente me reconhecem, já que percebo os sussurros, mas os ignoro. Wap da Cardi B. toca no último volume e eu percebo que isso é exatamente o que eu esperava que fosse uma festa de crianças ricas: carros caros, destruindo uma mansão enquanto bebem bebidas cara e escutam rap, fingindo que realmente se importam com a cultura.

Decidindo vestir as roupas de mulher corajosa resolvo entrar de uma vez na casa.

A primeira coisa que eu noto é Elise, junto a Sebastian, Rome e o restante de seus amigos ou gangue. Ela também me notam porque percebo a careta que ela faz pra mim, mas Sebastian sussurra alguma coisa em seu ouvido, fazendo com que ela desvie sua atenção de mim e sorria para ele.

Decido me afastar dali antes que ela decida que Sebastian não é o suficiente para fazer com que eu permaneça aqui. Vou até a mesa de bebida e tento encontrar algo sem álcool, mas sem sucesso. Então, quando decido desistir da minha busca e procurar um lugar para me esconder, sou surpreendida.

-Você é a última pessoa que eu esperava ver aqui.

-Estou surpresa por vê-los aqui também. – falo para Stefano e Paola, me virando em direção a eles.

-Então você ainda não sabe? – Paola me questiona.

-O que?

-Que Paola e Elise são irmãs. – Stefano me esclarece.

-O que?! – Questiono, chocada.

-Gêmeas.

-Mas vocês não se parecem.

-Graças a Deus por isso. Não somos idênticas, mas o que realmente nos diferencia não é nossa aparência e sim nosso comportamento.

-Graças a Deus. – Stefano fala. – Elise é... difícil.

-Nem fala. – eu digo.

-Por falar nisso, você é a nossa nova pessoa favorita no mundo. A forma que você enfrentou Elise hoje foi impagável.

-Sim. Não posso apagar o rosto dela da minha mente. Minha irmã estava precisando de alguém que a sacudisse um pouco.

-Eu estava apenas cansada de tudo, não tinha a intenção de causar uma cena.

-Mas foi incrível. Sério. E aposto que metade da comunidade masculina vai ter sonhos molhados com você por muito tempo.

-Desnecessário, Stefano. – Paola fala ao mesmo tempo que eu faço uma careta. – Então, por que você veio?

-É uma longa história, mas digamos que é meio que uma tentativa de Santiago para que eu faça amigos. Eu não queria estar aqui.

-Então você não se importaria em deixar essa festa de lado? – Paola me pergunta.

-Não mesmo.

-Então está decidido. Você se juntará a nós. – Stefano fala.

-Tem certeza? – pergunto, olhando em volta – Tem muita gente que pode nos ver junto.

-Que se explodam todos eles. Você é legal demais para deixarmos passar por causa de otários do ensino médio.

Sorriu.

-Ótimo! Então, por favor, me tirem daqui.

-Com prazer, senhorita. Mas antes... – Paola vai até a mesa de bebida e pega duas garrafas de vinho, as entregando a Stefano. Depois ela pega duas garrafas de tequila e me entrega. – Segure isso pra gente. Vou pegar a comida. – então ela vai até a outra mesa e pega dois vasos com salgadinho.

-Mais mãos facilita nosso trabalho. – Stefano fala, olhando para Paola.

-O que exatamente estamos fazendo? – questiono.

-Não parece obvio? Estamos pegando suprimentos para nossa própria festa particular.

-Agora me siga, mas disfarce para não ser pega, ok? – Paola fala – Não podemos ser flagrados por um dos babacas ou podemos arrumar problemas.

-Nós estamos roubando?

-Não. Tecnicamente eu tenho direito a essas coisas, já que eu moro aqui e tudo mais. Agora disfarcem.

Então vejo que Paola e Stefano estão com roupas folgadas e escodem sua parte do roubo em suas roupas, mas meu vestido é justo demais para isso.

Então decido usar o corpo alto de Stefano como escudo até chegar as escadas, mas sendo bem sincera não acho que alguém notaria mesmo que levássemos tudo às claras. Todos estão muito bêbados ou chegando lá.

Continuo seguindo a dupla pelo corredor, então pegamos subimos outro lance de escada.

-Por que mesmo que não pegamos o elevador? – Stefano questiona.

Essa casa tem até mesmo um elevador?

-Elise estava próxima a ele. Você tem certeza que queria arriscar?

-Por Deus, não.

-Ótimo, chegamos. Seja bem-vinda ao meu quarto, Natasha. É aqui que a verdadeira festa acontece.

Sorrio ao notar que o quarto dela é o de uma verdadeira princesa, apesar dela não parecer ser mimada.

-Obrigada por permitirem que eu me junte a vocês.

-O prazer é nosso. Qualquer um que grite com a Elise é nossa amiga.

-Ainda não posso acreditar que vocês dividem o mesmo DNA.

-Até eu me questiono as vezes, mas minha mãe disse que não tem chances dela ter sido trocada na maternidade. Só nos resta aceitar.

-Tudo bem, eu melhor do que ninguém sei que não podemos escolher família.

-Sim, você está pagando pelos erros de sua irmã. – Paola diz, sabiamente.

-Mas deixamos de falar de coisas tristes e vamos começar a festa. –Stefano diz.

-No que consiste a festa exatamente?

-Fofoca, músicas, filmes, fofoca, comida e mais um pouco de fofoca.

-Mas antes vamos trancar a porta, porque não queremos ser alvos de nenhum casal em busca de um pouco mais de privacidade. – Paola fala.

-Tranque a porta que eu escolho a música. E você, Natasha, pode ficar confortável.

Aproveito a oportunidade e tiro meu tênis e minha bolsas, deixando-os próximos a porta, então reconheço a música escolhida por Stefano como The Hills de The Weeknd e olho os dois curiosa, principalmente por causa do jeito ansioso que ele a olha enquanto a mesma tranca a porta e a música fala "Eu só quero te tirar da área da amizade, porque você parece ainda melhor do que nas fotos". Mas talvez eu esteja imaginando coisas onde não tem e uma música seja apenas uma música.

-Então... – Paola fala, sentando na cama e fazendo sinal para que eu me sente também – nos conte sobre você, Natasha.

-Sim – Stefano fala, sentando na cama também – queremos saber tudo. Mas antes, o que você quer beber? Você é a garota clássica do vinho ou a rebelde da tequila?

-Eu sou a chata que não bebe álcool.

-Sério? A única coisa que tenho aqui é agua, mas posso voltar lá pra baixo e pegar algo para você.

-Não precisa, agua é suficiente.

-Tem certeza?

-Sim. Obrigada.

-Ótimo, então fale sobre você. – Stefano fala, entregando uma dose de tequila para Paola e segurando uma taça de vinho.

-Não tem muita coisa que tem para saber sobre mim, mas a primeira coisa é que meus amigos me chamam de Nat.

-Então Nat será. – Paola fala, fazendo um sinal de brinde em minha direção e virando seu shot.

-Tirando isso tem apenas que eu gosto muito de tecnologia, tenho uma melhor amiga que se chama Tiff. Tirando isso é apenas eu, minha mãe, Angelina, e minha irmã, Catalina. Eu não conheci meu pai.

-E você nunca pensou em ir atrás dele? Usar a tecnologia para encontra-lo, sei lá. – Stefano questiona.

-Não, ele nunca se interessou em vim atrás de mim, então eu apenas... – fico um pouco desconfortável em falar do assunto. É difícil assumir que nenhum de seus progenitores realmente te quis e que sua mãe apenas ficou com você porque não teve alternativa.

-Me conte sobre Tiff, sua amiga. – Paola muda de assunto, notando meu desconforto e eu sorriu.

-Vocês iriam adorar ela. Ela acabaria com a raça de Elise com um único olhar.

-Eu já quero conhece-la. – Stefano diz.

-Ela provavelmente virá para o casamento, então farei esse encontro acontecer.

Noto que a música já mudou e agora toca Pillowtalk do Zayn Malik, uma música que realmente me toca fundo.

-Vocês todos se conhecem a muito tempo? – questiono.

-Desde pequenos. O Stefano mora aqui perto e o restante, sempre estudamos nos mesmos colégios.

-E o Sebastian?

-Ele sempre foi mais afastado de nós. Mesmo criança ele era muito recluso. Você lembra, Stefano? Ele nunca queria brincar com ninguém, sempre queria ficar sozinho fazendo nada. Depois, quando o Rome se mudou para cá, que fez amizade com ele e ele passou a participar do mesmo círculo que nós. Mas mesmo assim ele só ficava conosco por causa de Rome, porque ele não falava com ninguém além dele.

-Sim, ele ficava com a cara fechada olhando a gente brincar. Sempre se achou bom demais pra se misturar com a gente, diferente do Santi, que mesmo mais velho sempre foi um amor com a gente.

-O Santi era o crush de todas. – Paola fala sorrindo e pisca pra mim, me deixando sem graça – O Sebastian nunca teve o charme fácil do irmão, mas então ele cresceu e compensou isso com um corpo matador. Ele entrou no time de futebol, sabe-se Deus por que, já que ele não é uma pessoa de grupos, mas se tornou um pouco mais sociável, se aproximando de outras pessoas além de Rome, como Dante, Klaus e Elise. Mas ainda mantém distancia de nós, meros mortais.

"Estou vendo a dor, estou vendo o prazer

Ninguém além de você, além de mim, além de nós" – Zayn Malik canta na música.

-Ele e Elise são um casal?

-Deus, não! – Stefano fala.

-Ela bem que tenta, mas ele não dá muita bola para as investidas dela. É até engraçado assistir ela se jogando nele em todas as oportunidades possíveis.

-Por que a curiosidade? Não vai me dizer que você está interessada no seu cunhado?

Faço uma careta para Stefano.

-Claro que não. Eu apenas estou tentando entender o porquê de Elise não gostar de mim e pensei que talvez ela se incomodasse por morarmos na mesma casa. E ele não é meu cunhado, é o cunhado da minha irmã.

-Elise não precisa de motivo para não gostar de alguém. Ela apenas não gosta. E quando Bash espalhou para todos que sua irmã estava dando um golpe do baú em Santi, Elise enxergou em você uma chance de ser aproximar do objeto de desejo dela.

-Ele é a única coisa que falta para que ela se consolide de vez na posição de abelha rainha. – Stefano fala – Mas eu acho que ela não é mulher para ele, então estamos todos seguros por enquanto.

Ouço o barulho de algo sendo quebrado lá fora.

-Onde estão seus pais? – mudo o assunto.

-Eles sempre viajam nessa época do ano para um viagem em casal. Então Elise dá uma festa em comemoração ao início do ano letivo, substitui, depois, tudo que for destruído e quando eles retornam nós fingimos que a festa nunca aconteceu e eles fingem que não sabem que houve uma festa.

-Parece um bom acordo.

-Eles simplesmente não se importam. Eles são extremamente permissivos e desligados.

-Ok, não vamos tocar em assuntos que nos deixa triste – Stefano nos interrompe – Agora que já fizemos a primeira parte da nossa festa, a fofoca, vamos ao filme, bem, na verdade série. Nat, como você é a nossa integrante mais nova, nos poupe uma pequena discussão e escolha o que vamos assistir nesta maravilhosa noite será Lúcifer ou Friends?

-Com certeza Lúcifer. – respondo, sem nem pensar.

-Isso. – Paola diz.

-Mas Friends é um clássico. – Stefano reclama.

-Exatamente. Por ser um clássico já assistimos milhares de vezes, precisamos de coisas novas de vez enquanto. E nem adianta reclamar porque você disse que a Nat escolheria.

-Tá bem, vocês venceram. – ele fala, enquanto coloca o episódio. – Mas eu nunca enjoarei do clássico.

-Assistiremos Friends na próxima. – ela encerra o assunto.

A cama de Paola é grande o bastante para que nós três fiquemos confortável nela sem estarmos colados um ao outro. Assistimos a um episódio após o outro e fazemos comentários das cenas da série, passando mais tempo rindo e discutindo sobre os episódios do que realmente assistindo aos episódios.

Pela primeira vez desde que me mudei sinto que estou realmente feliz.