Teus Pedaços
img img Teus Pedaços img Capítulo 7 Sem chão
7
Capítulo 11 Recomeço img
Capítulo 12 Complicações img
Capítulo 13 Drax img
Capítulo 14 Game day img
Capítulo 15 Apostas img
Capítulo 16 Win img
Capítulo 17 Instável img
Capítulo 18 Tiff img
Capítulo 19 Segredos img
Capítulo 20 Más decisões img
Capítulo 21 Expectativas img
Capítulo 22 Day after img
Capítulo 23 Hotel California img
Capítulo 24 Home img
Capítulo 25 Rome img
Capítulo 26 Covarde img
Capítulo 27 Mão esquerda img
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Capítulo 7 Sem chão

Geralmente eu me considero uma pessoa bem calma.

Talvez, exista até quem descorde dessa afirmação, porém, se formos realmente analisar isso, é nítido que eu engulo um monte de sapos antes de realmente explodir. Não estou falando de uma simples resposta a uma provocação. Eu estou falando de uma explosão de verdade, do tipo que deixa mortos e feridos, se me permite o exagero.

Mas essa maldita Elise testou a minha paciência durante a semana. Hoje já é quarta e ela já colocou em vigor todo o manual Regina George de como tornar a vida da nova garota um inferno.

Vamos lá.

Na segunda, depois de pichar meu armário a bonita colocou o pé para que eu caísse quando passei para comer no refeitório (comer sozinha, porque apesar de falar que o que Stefano disse era besteira, Paola não fez nada para se aproximar de mim). Mas, não me deixei abalar e levantei com toda a dignidade que me restava e sorri em resposta para o risinho de deboche dela. Sebastian, como era de se esperar, estava sempre por perto, pronto para rir da minha desgraça, na verdade não me surpreenderia em saber que uma das ideias estupidas vieram da mente dele. Depois disso, tive que voltar pra casa porque não conseguiria ficar o restante do dia inteiro com a roupa manchada de molho. Depois desse dia passei a trazer um par extra de roupa.

Na terça, a merdinha arrombou meu armário e destruiu meus livros. Quem tem coragem de destruir livros nem deveria ter o privilégio de andar na terra. Livros são sagrados, pelo amor de Deus!

Na quarta passei a manhã inteira esperando pelo ataque e nada. Até que após a aula a maldita me trancou dentro do banheiro (depois disso xixi só em casa). Minha sorte foi que essa escola tem uma escala realmente boa de limpeza e a zeladora não demorou muito em me encontrar.

Na quinta eu tive um dia de paz. Achei um pouco estranho, mas pensei que talvez ela enfim tivesse cansado ou suas ideias geniais estivessem enfim acabado. Fui ingênua demais e me permitir relaxar.

Aí chegou hoje. Sexta feira.

Esse dia já não começou como um bom dia, depois que eu fui comunicada que não estaria livre da Educação Física, como acontecia na minha outra escola. Não é aquele clichê de 'nerd não gosta de esportes', eu amo esportes, eu assisto esporte, eu sou apaixonada pelas estatísticas (e pelos jogadores, se me permitem a franqueza), o problema é que eu não tenho o mínimo talento para a prática. Juro por Deus, nasci com pés tortos e falta de coordenação motora. Mas, apesar de toda a minha capacidade argumentativa, não consegui me livrar disso.

Então, fui cheia de ódio pra prática, enrolei a professora correndo ao redor da quadra, enquanto as pessoas realmente talentosas jogavam e as líderes de torcida praticavam movimentos que só de olhar já me dava dores na coluna.

Então, findada a aula, a estúpida aqui resolveu conversar novamente com a professora para tentar me livrar da aula (o que não funcionou, vale ressaltar) antes de ir tomar banho e trocar de roupa para as demais aulas do dia.

Sim, exatamente o clichê que você está pensando (sim, eu estou revirando os olhos nesse momento).

Fui a última a sair do chuveiro, ninguém mais estava no vestiário. Assim como minhas roupas. Sério, onde esse povo tá aprendendo a arrombar? Achei que o único esforço que as riquinhas faziam eram seguras suas bolsas da Gucci, não fazer aulas de arrombamento.

Por sorte (ou não), percebo que elas deixaram ainda minha calcinha e sutiã. O problema é que, apesar de ser bastante básica quando o assunto são minhas roupas, eu gosto de ousar quando o assunto é lingerie. Mesmo que ninguém vá ver, uma calcinha bonita é uma calcinha bonita, e eu me sinto no poder com elas. É de lá que eu tiro minha força.

O plano de Elise seria perfeito, se eu fosse uma pessoa insegura (o que eu poço ser as vezes). Mas, veja, eu já estou irritada o suficiente por todo o abuso e perseguição dela e por ter feito a educação física, e eu aprendi a amar meu corpo com suas dobrinhas, e bunda e tudo mais.

Eu já me senti muito mal por minha aparência, principalmente por causa das piadas e falas que minha mãe sempre diz, mas eu aprendi a aceitar e amar cada uma das minhas curvas. Algumas vezes eu passo por uma queda, questiono minha aparência e coisas do tipo, mas na maioria dos dias eu me olho no espelho e reconheço que sou linda.

E além de hoje ser um dos dias bons (até meu cabelo está em um dia maravilhoso) eu tenho um ponto para provar. Então, visto minha tanga, tentando não pensar que ela deixa toda a minha bunda de fora, e meu sutiã rendado e saio do vestiário, em direção ao refeitório.

Assim que eu apareço no corredor começo a escutar vários cochichos e vejo pessoas pegando o celular para tirar fotos, mas tento não me preocupar com isso agora. Minha missão é uma só: encontrar Elise.

Eu sou uma atiradora de elite em uma missão, tentando achar a mira perfeita para meu alvo.

-Que porra é essa? – Escuto a voz de Sebastian atrás de mim.

-Pergunte a sua amiguinha. – falo, sem parar de andar uma vez que avisto meu alvo.

-Natasha, querida, eu sei que você é baixa, mas tente se controlar pelo menos aqui. – Elise fala com sua voz afetada.

-Se seu intuito foi me humilhar de alguma forma você falhou, porque eu tenho um corpo e tanto. – falo irritada. – Eu sou totalmente contra competição feminina, acho isso a maior perda de tempo, mas seja lá por qual motivo você se sente ameaçada por mim, então chega. Se você continuar agindo como a pirralha mimada e birrenta que você tem sido essa semana eu quero deixar bem claro que irei te atacar de volta. E diferente de você, eu tenho armas que realmente machucam. – falo, deixando a pequena multidão que juntou para ver o nosso impasse chocada.

-Vista isso. – Sebastian fala, estendendo sua camisa pra mim.

-Não precisa. – falo, empurrando o braço dele.

-Vista isso agora ou irei vestir por você.

Forço um sorriso para ele.

-Desculpe, querido, volte ao capítulo onde fala que eu te devo obediência.

Ele respira fundo.

-Então vice quer continuar com a cena?

Olho ao redor, para a multidão que se formou, irritada e ele volta a estender a camisa.

Pego sua camisa com raiva e visto, recebendo a vaia de alguns garotos.

Que se explodam todos eles.

-Acabou a festa, circulando. – Sebastian fala – Você também, Lise. Conversamos sobre isso depois.

Assim que eu terminei de me "vestir" Sebastian me pegou pelo braço, não de uma forma que me machucasse, e me puxou até a sala mais próxima.

-Que porra foi essa, Natasha? – ele fala irritado.

Então agora o bonito sabe o meu nome?

-Vai fingir agora que você não sabe? Você e sua gangue tem infernizado minha semana inteira e agora você vem fazer o sonso?

-Eu não tenho nada a ver com isso.

-Não que eu me importe. E de qualquer forma, o que você tem a ver com isso?

-É o nome da minha família que você está levando para lama junto com você.

-Achei que você não se importasse com o nome da sua família?

Ele ficou me encarando em silêncio.

-Controle seus instintos de stripper.

Rolo meus olhos.

-Quem me dera ter a elasticidade de uma stripper.

Só então me dou conta do fato que ele está sem camisa. Ao que parece alguém aqui visita a academia de vez enquanto.

-Tome sua camisa. – falo, fazendo menção de tirar e recebendo um olhar horrorizado.

-Não. A menos que você queira continuar...

Ergui um dedo para impedir que ele continuasse a frase.

-Não ouse dizer o que eu devo ou não fazer com o meu corpo.

Ele ergueu as mãos em sinal de rendição.

-Apenas fique com a camisa.

-Eu tenho outra roupa no meu armário, a menos que vocês tenham arrombado ele novamente.

-Eu posso ir buscar pra você. Se você, quiser, claro.

-Sim. O segredo é 2404. O armário é aquele em que tem escrito vadia em vermelho. – digo sorrindo, mas ele não responde.

Ele sai sem olhar para mim de novo, voltando cerca de três minutos depois com minhas roupas.

-Obrigada. – falo tirando sua camisa e o devolvendo – Agora pode sair.

-Sério? Ver você de calcinha, tudo bem, mas ver você vestindo a roupa é um absurdo.

-Tem certas coisas que requer intimidade. E pare de olhar, afinal eu não sou o seu tipo não é mesmo?

-Estou saindo. – ele fala me dando as costas.

-Da próxima vez vou arrumar um babador pra você.

-Então vai ter uma próxima vez? Você pretende continuar andando seminua pela casa ou algo do tipo? Por que se for, não acho que Santiago esteja preparado para isso.

-Apenas vá embora. Minha frase saiu errada.

-Suas frases sempre saem erradas.

-Porque você as tira do contexto.

-Ou talvez porque eu entenda qual o verdadeiro contexto.

-Você não estava indo? – falo, estendendo sua camisa de volta.

Balançando a cabeça em negativo Sebastian sai para me deixar terminar de me vestir.

Assim que eu saio da sala, já composta, encontro o diretor Baker me esperando.

-Senhorita Madison, estava esperando por você. Acredito que temos que conversar um pouco sobre as normas dessa escola.

Nada ruim que não possa piorar.

O discurso do diretor Baker foi o mais esperado possível: ele soube por fontes anônimas (Elise) que eu estava desfilando nua pelos corredores (povo gosta de aumentar, né?) e que isso não se enquadrava na política da escola e bla.

Aproveitei o momento para questioná-lo se bullying faz parte da política da escola, já que tenho sido perseguida desde que entrei aqui e que o episódio de hoje, inclusive, foi resultado de uma dessas ações.

Ele disse que investigaria minha acusação.

Ao que parece, mesmo sendo sua "aluna estrela", minha palavra não valia tanto quando a dos seus estimados alunos.

Hipocrita.

Assisto o restante das minhas aulas na força do ódio e, tendo em vista que hoje não tem encontro do grupo de pesquisa, tiro meu tempo enquanto espero o ônibus para ligar para Tiff.

-Eu fui advertida. – falo assim que ela atende.

-O que?

-Eu. Fui. Advertida. – falo pausadamente.

-Você foi advertida em apenas uma semana de aula? – ela falou rindo.

-Não ria, essa porcaria vai pro meu histórico. – histórico este que era impecável até hoje.

-O que aconteceu? Você sempre foi uma ótima aluna, passou anos aqui sem receber uma atenção de um professor.

-Aparentemente eu violei a política do colégio por desfilar de calcinha e sutiã pelos corredores.

-Espere, você o que?

E então eu conto toda a história para Tiff.

-Eu sinto que vou explodir a qualquer momento. – falo.

-Essa vadia, eu vou quebrar a cara dela.

-Eu estou lidando com isso.

-Você deve estar lidando errado, já que ainda não conseguiu resolver.

-Eu estou agindo pensando na forma que você agiria. – me defendo.

-Então você está agindo certo.

-Idiota.

-Aposto que você deixou um monte de cara babando com essa sua bunda enorme.

-Claro, esse era meu objetivo o tempo todo. – ironizo.

-O que eu não daria pra ter essa bunda.

-Você tem os peitos, doçura.

-Por isso que somos uma dupla perfeita.

Noto que meu ônibus chegou e entro nele, continuando a conversa com Tiff.

-Exatamente.

-Bunny, tenho que desligar. Eu juro por Deus, o seu substituto é a pessoa mais estupida que eu já vi em minha vida.

-Você ainda não me falou sobre ele.

-Eu nem saberia por onde começar. Sério, ele é tão... desastrado. Vou arrancar o pescoço dele até maio.

-Não seja má.

-Eu não sou má, ele que tá tentando me enlouquecer. Tenho que ir.

-Nos falamos mais tarde.

Fecho meus olhos e foco na janela, grata pelo final de semana e por ter um descanso das pessoas na escola. Até o grupo de pesquisa tem sido cansativo. Apesar dos equipamentos falta muito conhecimentos básicos para o desenvolvimento de um bom trabalho. Não me surpreende que eles tenham perdido para minha antiga equipe, passei a semana inteira explicando a eles como desenvolver um software.

Foi uma semana cansativa e estou feliz que ela esteja chegando ao fim, mesmo que o final de semana me prenda com minha mãe e irmã, o que nunca é atraente.

Mas então eu noto que tem uma coisa errada.

Minha mochila está leve demais.

E é então que eu finalmente noto: minhas roupas não foram a única coisa que eles levaram.

Meu notebook também sumiu.

E então, eu entro verdadeiramente em pânico.

            
            

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