-Não. Eu não quero ouvir. Se fosse Sebastian cometendo um erro tão estupido como esse, eu até entenderia, mas você?
-Por que sempre sobra pra mim? Ei, eu sou o responsável aqui. Meu instrumento nunca sai para um passeio sem proteção.
-Sebastian, sem tempos para suas gracinhas agora. Suma daqui. – Enrico fala.
-Agora que estava ficando divertido?
-SAIA.
Mesmo atônita percebo que Sebastian fecha suas mãos em punhos antes de sair, parecendo irritado.
-É pra já, Enrico. – ele dá as costas e sai, tão rápido quanto entrou.
-Enrico – minha mãe fala – eles se amam. Temos que entender a escolha dos nossos filhos.
-Conheço o seu tipo de longe, Angelina. Você e suas filhas estupidas não me enganam.
Ai, essa doeu.
-Pai, você está passando dos limites.
-Não, quem passou dos limites foi você. Você nunca me decepcionou tanto quanto hoje. Quer saber? Pra mim já chega, vou terminar essa refeição no meu quarto.
-Pai... – mas Enrico nem mesmo olha para trás.
Santiago volta a sentar e cobre o rosto com as duas mãos.
-A noite toda foi um desastre. – Catalina fala em lagrimas – Eles me odeiam.
-Claro que não, Lina...
-Odeiam sim. – ela diz e sai correndo.
-Catalina, volte aqui. Qual o problema de todo mundo hoje? – minha mãe fala – Santi, querido, tenho certeza que seu pai só foi pego de surpresa com a notícia, logo ele estará tão exultante quanto eu. Vou acalmar Lina, tá bem? Esse estresse pode prejudicar o bebê. – e então, ela também sai, tentando manter a elegância depois do fiasco de hoje.
-Você não vai falar nada? – Santiago me pergunta depois de alguns segundos de silêncio.
-Como você pode ser tão estúpido?
-Até você, Nat?
-Eu estou sentada aqui esse tempo todo e tudo o que eu posso pensar é como você pode ser estúpido o suficiente para engravidar minha irmã.
-Eu não vou discutir minha vida sexual com você.
-E eu não quero saber da sua vida sexual.
-Aconteceu.
-É por isso que você vai casar com ela?
-Não, eu gosto da sua irmã.
-Mas se não fosse o bebê você esperaria um pouco antes de se casar. – constato.
Ele fica em silencio.
-Pelo amor de Deus, Santi. Estamos no século XXI, não é preciso um casal para criar uma criança.
-Mas eu quero isso para meu bebê.
-Nenhum bebê quer crescer em um lar infeliz. – eu sou exemplo disso.
-Eu gosto da sua irmã, Natasha. Não vai ser nenhum sacrifício estar casado com ela.
-Peça um DNA e adie o casamento. – eu falo me levantando da mesa.
-O bebê é meu.
-Peça o DNA.
-É O MEU FILHO, NATASHA. QUE DROGA. – ele grita comigo pela primeira vez na vida. – Você é ainda é uma criança, não entende nada da vida.
Olhei seria para ele.
-Eu posso ser mais jovem que você Santi, mas o único ingênuo aqui é você. Eu me considerava sua amiga e me importo com você. E como amiga te dei um conselho, mas como você bem disse eu sou só um criança, né? E a vida é sua.
-Desculpa, Nat. Eu não quis gritar com você. – ele diz, parecendo arrependido.
Olhei para ele séria.
-Boa noite, Santiago. – e saí, sem olhar para trás, em direção ao meu quarto.
Novamente pulei a refeição, sendo o café da manhã a única refeição que fiz no dia. Mas no momento estava com tanta emoção dentro do meu corpo que não tinha espaço para fome.
Como o Santi tinha se deixado enganar dessa forma? Como minha irmã foi capaz?
Mandei uma mensagem para Tiff, mas a mesma não respondeu, certeza que ainda estava ocupada com as tarefas que sua mãe a deu. Eu queria alguém para conversar, mas minha única opção além de Tiff era Santi, e ele me chateou demais para servir de meu consolo.
Era golpe baixo usar minha idade contra mim. Eu podia ser mais nova do que ele, mas já vivi muito mais coisa que ele. Vivi o suficiente para não me deixar enganar por um rosto e palavras bonitas. Vivi o suficiente para saber me defender sozinha, coisas que ele claramente ainda não aprendeu em seus vinte e cinco anos de vida.
Para evitar a entrada em uma espiral de lamentações, resolvi ocupar minha mente com a coisa que eu mais amo fazer na vida: programação e desenvolvimento de jogos.
Eu sou boa em fazer aplicativos, acredito que essa será minha porta de entrada nas empresas Mayfield, mas criar game é meu hobby e minha paixão.
Pego a única coisa que me traz conforto que me restou e desligo o resto do mundo.
E pelas próximas horas Santigo e a recém descoberta da gravidez de minha irmã deixam de ser um problema.
Massageio meus ombros e corro a mão pela mesa de trabalho em busca do meu celular. 06:47 da manhã. Minha barriga ronca de fome, me lembrando que tem quase 24 horas que eu comi. Na verdade, eu mal bebi agua (eu sei, meus rins estão muito chateados comigo), mas eu não me senti confortável para sair do quarto e, sendo bem sincera, eu nem me lembrei dessas coisas. Estava tão absorta desenvolvendo um novo nível do meu jogo que mal lembrei que, diferente dos meus personagens, eu sou um ser humano com necessidades básicas de sobrevivência.
Coloquei toda frustração e raiva que estava sentido no desenvolvimento do nível, se algum dia esse jogo for comercializado, garanto que os jogadores terão uma grande dificuldade em superar o nível dezessete.
Quando meu estomago roncou de novo, resolvi me aventurar pela casa em busca de comida, mas não antes de jogar uma agua na cara e escovar os dentes. Nem mesmo me preocupei em trocar as roupas de ontem. Eu sei que é uma questão de higiene, mas comer agora é questão de vida ou morte.
Voltei para a sala onde ocorreu o fiasco de ontem e a partir daí usei meu super. Olfato para encontrar cheiros comestíveis, o que, graças a Deus não foi difícil, por que posso senti o aroma do café a quilômetros de distância.
-O senhor Enrico ficou uma fera. – ouvi uma voz dizer, quando me aproximei do que aparecia ser a cozinha.
-Também pudera, o homem construiu seu império do nada, para surgir umas caçadoras de ouro de sabe-se lá de onde para usurpar tudo.
-Conheci as mais velhas de perto. Parecem ser duas nojentas. – outra voz falou.
-A mais nova não parece ser muito diferente também. Sabe o que costumam dizer: uma fruta nunca cai muito longe do cesto. – Reconheci a voz da governanta.
Resolvi que essa seria a hora perfeita de interromper, antes que eu fosse ainda mais atacada e decidisse adiar novamente minha refeição.
-Com licença. – falei, assustando as três mulheres – Desculpe incomodar, eu apenas segui o cheiro do café. – falei, tentando ser simpática.
-O café é servido as oito. – a governanta falou, não se deixando abalar com as perspectiva de eu ter ouvido a conversa.
-Eu sei, apenas aconteceu que eu pulei as refeições e estou realmente faminta...
-Não tem nada pronto esse horário, é muito cedo. – ela continuou.
As outras duas pareciam concentradas demais em suas próprias funções. Ou fingiam estar concentradas demais.
-Eu posso esperar, só uma xicara de café já me deixaria feliz.
-Vai demorar.
-Eu tenho tempo. – falei com um sorriso, sentando na mesinha que há na cozinha e pegando o meu celular.
A mulher deu um suspiro irritado mas desistiu de tentar me expulsar. Eu não podia culpa-las pelo tratamento que eu estava recebendo. A forma como tudo estava acontecendo realmente nos colocava como caça ouro. E se nem os donos da casa nos considera visita bem vinda, quem dirá os empregados.
Chequei minhas mensagens e não me surpreendi ao ver mensagens apenas de Tiff.
Tiff: O que aconteceu?
Tiff: Mamãe me prendeu o dia inteiro com compras para o ano letivo.
Tiff: Volte aqui e me conte o que aconteceu?
Ligação perdida.
Ligação perdida.
Tiff: Sério que você vai me deixar dormir na curiosidade?
Tiff: Nanat!
Tiff: Af, desisto, você deve estar recolhida em seu mundo encantado. Insônias por sua causa, bunny.
Sorrio com as mensagens.
Eu realmente amo essa garota.
Nat: Precisei de um escape.
Nat: Você não vai acreditar na maior bomba: Catalina está grávida.
Tiff: O que?
Nat: Essa também foi a minha reação. Mas você precisava ver a reação de Enrico. Ele praticamente nos acusou de aplicar o golpe do baú.
Nat: Por que está acordada tão cedo, raio de sol? Em um sábado.
Tiff: Ainda não consegui dirigir essa notícia. É cedo demais para isso.
Tiff: Tenho reuniões o dia inteiro hoje. Tenho que escolher alguém para sua vaga até o final do dia ou minha mãe vai escolher. E você sabe que eu não vou gostar da escolha dela.
Nat: Você sabia que Santiago tem um irmão mais novo?
Tiff: Tipo, uma criança?
Nat: Não, tipo nossa idade.
Tiff: NÃO!
Tiff: Gato como o irmão?
Nat: Totalmente diferente e totalmente idiota.
Tiff: Sabia que dois Santiagos no mundo seria impossível.
Tiff: Tenho que ir Bunny. Conversamos sobre as recentes notícias em breve.
Nat: Amo você, raio de sol.
E por falar no diabo, Sebastian aparece fazendo algo bem próximo do que eu considero uma caminhada da vergonha, ainda vestido com as roupas de ontem e entrando pela porta dos fundo.
-Chegando só agora? – Lilian pergunta.
-Rome me arrastou de um lado para o outro, estou acabado. Tudo o que eu preciso agora é apagar em minha cama.
-Mas não sem antes comer alguma coisa, querido. Deseja um café? Um suco?
Ah, essa mulher. Quer dizer que pro pequeno príncipe a comida apareceu?
-Não, apenas dormir.
-Mas eu pedi para Celene fazer torta de pêssego, querido. A sua favorita.
-Você sabe que eu não resisto a isso. Faça uma bandeja e deixe no meu quarto, quando eu saí do banho eu como.
-Claro, querido.
Sebastian passou por mim como se eu fosse invisível e seguiu para onde quer que seja o seu quarto.
-Bom dia para você, também, mal educado. – sussurrei.
Notei enquanto as três mulheres pegavam vários tipos de comida para encher a bandeja do maldito Mayfield, enquanto eu e meu pequeno estomago sofríamos em silêncio.
-Será que eu posso ter uma dessas tortas também? – imploro, esquecendo do meu orgulho em troca de um prato de comida.
-Não, as tortas são do jovem Mayfield.
Jovem Mayfield, que coisa mais patética.
-Eu tô aceitando qualquer coisa.
-Como eu falei antes, senhorita. O café da manhã é servido as oito.
Respirei fundo três vezes para evitar discutir e provar a elas que eu sou como minha mãe e irmã.
-Por que você já está acordada? – ouço a voz de Santiago atrás de mim.
-Fome. – respondo simplesmente.
-Nossa, esqueci que com toda aquela confusão de ontem você acabou sem comer nada. Por que você não pediu para subirem com seu jantar?
-Eu não quero incomodar. Apenas uma xicara de café me deixaria feliz.
-Você não deveria tomar tanto café, é muito nova para isso.
Ergui uma sobrancelha para ele.
-Desculpem incomodar, novamente, senhoras. – direcionei para as duas mulheres que estavam na cozinha, já que um delas saiu com a bandeja de Sebastian durante minha troca com Santiago – Será que alguma de vocês teria papel e caneta para me emprestar? É para que o Santiago possa fazer uma lista de todas as coisas que são permitidas ou não fazer na minha idade. – falei irritada.
Ele respirou fundo.
-Celene, por favor, você poderia nos servir algo para comermos?
-Claro, senhor Mayfield.
Lancei um olhar para elas.
Quer dizer que agora apareceu comida.
Chocante.
-Eu sinto muito que eu tenha te magoada ontem, Nat. Eu me importo com você, nunca quis te magoar.
Batidas do coração.
-Eu sei que as coisas entre sua irmã e eu estão meio rápidas, mas eu preciso que vocês confiem em mim e nas minhas escolhas.
-Se você tem tanta certeza, um DNA não faria diferença. – eu falo e Celene, que estava fingindo não prestar atenção enquanto servia a comida para nós dois na mesa, derruba um prato com bolos. A sorte que não é de vidro e não quebra.
-Não vamos ter essa conversa de novo, Nat. Eu tomei a minha decisão e quero que você respeite minha escolha. Você é importante para mim e eu não quero te perder no processo de construir minha família. Até porque você faz parte da minha família.
Enchi minha xicara de café muito acima do que é considerado educado e peguei uma das estupidas tortas de Sebastian.
Não é que elas são realmente boas?
-Você não vai falar nada?
-Santiago, tudo que eu quero agora é tomar o meu café em paz, ok?
-Nat...
-O que você quer que eu diga? Que eu estou feliz? Eu não estou, eu acho que você está cometendo um erro e essa é minha opinião final. Você quer que eu respeite suas escolhas, então eu estou acatando sua opinião me privando de opinar.
-Desculpe ter gritado com você ontem e ter dito coisas que te magoaram.
-Eu passei dos limites também.
-Mas isso não justifica o meu comportamento, Natasha.
-Não, não justifica. Apenas mostra que eu também te devo um pedido de desculpas
-Você nunca precisa se desculpar comigo, princesa. Por nada.
-Eu só não entendo porque você sempre joga minha idade na minha cara. Eu sou quase uma adulta e você me faz sentir como uma criança.
-Eu falo isso porque você é mais jovem que eu, Nat. Oito anos mais jovem. Oito anos é muita coisa.
-Você fala como se uma vida nos separasse.
-Na verdade, uma geração nos separa. Você é da idade de Sebastian, então eu acho que sempre os verei como bebês.
-Ridículo. – falo, revirando os olhos e Santi me responde com um de seus sorrisos lindos.
-Na verdade, Sebastian também estuda na Royal Elite.
-Péssima notícia.
-Por que?
-Se todos forem como ele eu terei um ano infernal.
-Ele não é tão ruim.
-Eu sei que ele é seu irmão e tals, mas ele não é tão bom.
-Espertinha. Vou pedir para ele servir de seu guia e te ajudar a se sentir em casa.
Gargalhei.
-Aí está uma coisa que eu duvido.
-O que?
-Ele me odeia.
-Ele não te odeia. Ele nem te conhece.
-Ele me acusou te planejar um golpe do baú nele.
-Bash tem um... certo humor diferenciado. Ele estava apenas brincando mas eu vou conversar com ele sobre isso. E outra, tenho certeza que depois que vocês se conhecerem ele vai te amar, todo mundo que te conhece te ama.
-Claro, isso pode ser visto pela quantidade de amigos que eu tenho.
-Digamos que Tiff valha por uma multidão.
-Sim. – falei rindo.
-Ela com certeza não aceitaria muito bem te dividir.
Ri alto.
Incrível como em poucos meses ele já se inseriu de forma tão grande em minha vida a ponto de ser íntimo de minha melhor amiga.
-Vou falar com Bash. Tiff é ótima, mas está longe. Você precisa de amigos aqui e ele conhece várias pessoas para te apresentar.
Fiz uma careta para ele, duvidando da influência que ele possui com o irmão.
-Falando nisso, por que nunca vi nada sobre você ter um irmão? Já várias reportagens sua e de seu pai, mas nunca vi uma menção a ele.
-Bash não se interessa pelos assuntos da família.
Mesmo assim, isso é tudo muito estranho.
Santi olha pelo relógio e pula para fora da mesa.
-Tenho que correr, literalmente, ou não vou conseguir fazer todos os meus exercícios antes do horário da saída. Fique bem, princesa, e se precisar de algo peça a Lilian.
Só então notei que Santi não comeu nada e eu, sozinha, devorei praticamente tudo que tinha sido colocado na mesa.
-Bom dia pra você, Santi. – falei, enquanto ele saia correndo. – Obrigada, meninas pela refeição. Estava deliciosa. Que bom que o jovem senhor dividiu uma de suas tortas comigo, está divina. – falo com as mulheres na cozinha. – De qualquer forma, quando saí o almoço? Para evitar que eu me atrase?
-Às 12 horas. – Lilian responde.
-Obrigada. Estarei em meu quarto caso precisem de mim. E, senhoras, as vezes um fruto nem mesmo chega a fazer parte do cesto. É muito feio julgar uma pessoa sem conhecer. Veja, se eu fosse adepta a julgamento iria achar que vocês não iriam me alimentar e só fizeram isso por causa de Santiago. Mas, como eu não faço essas coisas, sei que vocês adiantaram todo o serviço para que eu pudesse comer algo. – falei, com um sorriso – Então, por esse motivo sempre serei grata vocês. Tenham um bom dia.
Então saí em busca do meu quarto, deixando as três mulheres sem graça.
Veja, eu sou boazinha mas sei a hora de usar minhas armas e marchar em batalha e eu não sou conhecida por perder minhas guerras.
A menos que o inimigo do outro lado seja minha mãe ou Catalina.