Pego o meu novo notebook e dou início o backup de todos os meus arquivos na nuvem, feliz por sempre manter meus arquivos atualizados mas com um certo receio que quem quer que tenha pego meu antigo notebook consiga passar pela minha segurança e se apossar dos meus projetos. Mas decido que este é um problema que eu posso me preocupar depois que eu voltar da festa. Na verdade, assim que voltar, trocarei todas as minhas senhas e apagarei meus arquivos remotamente.
Decido levar uma bolsa para que possa manter meu celular, já que duvido muito que eu consiga me divertir com os amigos de Sebastian e eu provavelmente precisarei de uma distração.
Porém, assim que saio do meu closet (ainda não consigo fingir costume com o fato de ter um closet exclusivo), encontro minha mãe sentada em minha cama e sinto meu sangue gelar por dentro.
-Excelente escolha o seu vestido preto. Ele sempre ajuda você a disfarçar suas imperfeições. Não que ele faça milagres, mas você me entendeu.
-O jantar já acabou? – pergunto, ignorando seu comentário venenoso.
-Sim, Enrico precisou se retirar ao escritório logo depois que você saiu.
Provavelmente o coitado estava desesperado para fugir.
-As pessoas gostam de pensar que você é muito inteligente, Natasha. Mas eu penso o contrário. Eu acho que você é muito estupida. – ela fala andando e ficando de frente pra mim – acho que meu recado de mais cedo não ficou claro o suficiente para você. Se Enrico quiser que você sirva seu café em uma bandeja dourada pelada você apenas diz sim, senhor e faz o que ele manda.
-Mas...
-Não. Eu não me importo com seu trabalhos estupidos ou o que quer que seja. – ela aperta minhas bochechas com uma de suas mãos. – Estamos entendidas?
-Natasha, seus dez minutos acabaram. – escuto Sebastian falando do outro lado da porta.
-Eu tenho que ir. – falo.
-Não acabamos aqui ainda. – ela fala me soltando.
Eu aproveito a deixa para fugir enquanto é tempo.
Sebastian olha para mim e para minha mãe, que vem atrás de mim mas se ele sente a tensão ele não fala nada sobre.
-Divirtam-se crianças e não façam nada que eu não faria. – minha mãe fala, com sua máscara de volta ao lugar.
-Nada do que você não faria deixam muitas coisas em aberto. – Sebastian responde – Ou saímos agora ou vou deixar você aqui. – Sebastian fala me dando as costas e seguindo pelo corredor. Fico mais do que feliz em segui-lo, deixando minha mãe chocada para trás.
Sebastian opta por usar a saída dos fundos, fazendo questão de se despedir das funcionárias, que limpam o resto do jantar. Desejo boa noite a elas também, não somos exatamente amigas mas elas estão mais acostumadas comigo.
-Como nós vamos? – pergunto, depois que saímos de casa.
-Com uma coisa chamada pernas.
-Você não tem um carro.
-Tenho.
-Então vamos evitar a andada.
-Não.
-Você não sabe dirigir?
-Sei, mas não estou afim.
-Eu posso dirigir.
-Deus, não.
Rolo os olhos mas fico em silencio andando ao seu lado.
-É muito longe? – pergunto depois de um tempo.
-Você é do tipo que reclama de tudo, não é?
-Claro que não. Eu apenas não sou do tipo atlética.
Apenas as menores das caminhadas já me deixam cansando, como se tivesse percorrido uma maratona.
-Isso percebe-se. – ele fala, me olhando pelo canto de olhos.
-Você é um babaca, sabia?
Noto que ele dá um meio sorriso.
-Pelo menos eu não usei salto. – reclamo. – Você podia ter me avisado.
-Eu estou surpreso pelo fato de você ter um vestido. Saltos altos sequer passariam pela minha cabeça.
-Desisto de falar com você. – respondo.
Mas, mesmo assim, não estou brava com ele. Mesmo com a certeza de que ele está envolvido com o sumiço do meu notebook eu não consigo alimentar e manter minha raiva de Sebastian. Quão louco isso pode ser?
-Nós não vamos andar o caminho inteiro. – ele fala depois de um tempo – mas a caminhada vai permitir que nós não cheguemos tão cedo, já que saímos antes do horário previsto.
-Ok.
-Você tem uma identidade falsa?
-Que tipo de pergunta é essa? Pra que eu precisaria de uma identidade falsa.
-Vamos comprar bebidas. – ele fala, como se fosse obvio – Não pode chegar de mãos livres em festas como essas.
-Eu não sabia disso e eu não bebo.
-Porque será que eu não estou surpreso com isso?
-O que?
-Você claramente veste a imagem de perfeita.
Gargalho.
-Isso é ridículo. Você não sabe nada sobre mim.
-Mas você sabe tudo sobre mim, não é mesmo? Já que me julga o tempo inteiro.
-Quando mesmo que você me deu chance de te conhecer? Talvez enquanto você me acusava de tentar aplicar um golpe do baú em você ou quando me chamou de prostituta.
-Eu nunca te chamei de prostituta. Apenas de atriz pornô e de stripper.
Levo minhas mãos ao peito.
-Meu erro.
-Não sabia que tinha se ofendido.
-Não ofendeu, acho que cada um deve fazer as escolhas que preferir para sua vida e não nos cabe julgar. Apenas quis usar como exemplo que você não estava sendo tão aberto assim para mim.
-Não quero ser seu amigo. – ele reclama. – Na verdade, quero que você e sua família saiam o mais rápido possível da minha vida.
-Cara, você tem um manual de instrução ou algo assim? Por que eu realmente não estou conseguindo te entender.
-Eu não me importo com o que acontece com Santi ou com Enrico, Natasha. Eu apenas não suporto todo o drama que vocês causam. E todos os jantares e eventos que eu sou obrigado a comparecer por causa dessa droga de noivado.
-Se você parasse de agir como um imbecil você veria que temos muito mais em comum do que imagina.
Ao que parece nós dois temos problemas com nossa família, apesar de que os motivos de Bash não estão tão claros para mim quanto os meus motivos.
-Eu duvido muito disso, princesa. – ele fala o princesa como se fosse uma ofensa.
-Não me chame assim.
-Por que? Não é assim que o Santi te chama sempre? Eu não sou bom, Natasha. Eu não sou a versão mais jovem do Santiago e não há nada de bom em mim para ser salvo. Então continue em sua estrada brilhante e fique bem longe de mim, ok? Eu não quero ser seu amigo, eu não quero te conhecer ou que você me conheça. Não temos nada em comum além do fato de termos dois irmãos estupidos o suficiente para se casar e te rum bebê.
Como a conversa tomou esse rumo mesmo?
-Ok. Eu não queria ser sua amiga mesmo. – falo, irritada.
-Falando assim você parece ter três anos. Cresça, Natasha. A vida não é cor de rosa.
Ah, eu sei bem disso. Mas decido que não vou mais responde-lo.
Eu já tenho problemas demais para ainda ter que lidar com a bipolaridade de Sebastian.
Continuamos andando em silencio e eu tento ignorar a presença dele ao meu lado.
Em alguns momentos, quando ele desce um pouco os muros que estão ao seu redor, eu consigo ver um outro lado de Sebastian, um vazio que é tão parecido com o que vejo quando eu me olho no espelho, que até mesmo considero que talvez ele seja a única pessoa que realmente possa entender o que eu passo.
Mas aí, ele ergue seus muros de novo e volta para seu comportamento imbecil e faz com que eu me questione se eu realmente vi isso ou se estou tão desesperada por compreensão que inventei tudo.
-Espere aqui na frente. – Sebastian fala quando chegamos em frente a um supermercado. – Eu já volto.
-O que? Você vai me deixar aqui sozinha? – falo, olhando para a rua deserta e um estacionamento vazio.
-Qual o problema?
-E se eu for sequestrada?
-Você é irritante demais para ser sequestrada.
-Você é irritante. Apenas me deixe ir com você.
-Não, eu preciso comprar bebida e eles não vão me vender se verem você e sua cara de bebe.
-Outra pessoa poderia se ofender com todas as suas críticas a minha aparência. – reclamo.
-Todas as pessoas deveriam se ofender.
Rolo os olhos.
-Apenas vá logo e tente ser rápido.
-Eu não prometo nada. – ele fala, saindo e entrando no supermercado.
Minha mente começa a trabalhar. Todos os cenários possíveis envolvendo estacionamentos vazios no meu da noite vem à tona. Me recordo imediatamente de todos os episódios que assisti de Criminal Minds e todas as mulheres inocentes que acabaram mortas em noites escuras como a de hoje. Sim, estou a um passo de surtar.
-Oi, estranha. – ouço uma voz masculina atrás de mim, me fazendo pular. Mas então ouço uma gargalhada e reconheço o rosto como sendo de um dos integrantes da gangue de Sebastian. – Você deveria ter visto sua cara, foi impagável.
-Você quase me matou de susto. – reclamo.
-Eu daria tudo para ter tirado uma foto na hora. Você parecia que ia sair correndo.
-E eu iria, logo depois de chutar suas bolas.
-Ao, bom que evitamos isso a tempo. – ele diz, ainda estampando um sorriso encantador – Prazer, Rome Watson. – ele fala, estendendo a mão.
-Natasha Madison. – respondo, aceitando seu cumprimento.
-Oh, querida, eu sei quem você é. Na verdade eu sei tudo sobre você.
Sorri.
-Na verdade vocês pensam que sabem tudo sobre mim, mas todas as informações que possuem não passam de suposições.
-Hm, adoro gatinhas escorregadias. Na verdade, adorei sua demonstração hoje no colégio. Já assisti o vídeo umas quinhentas vezes.
-Nojento. – reclamo.
Qual meu problema hoje? Pareço ter atraído todos os idiotas do mundo para perto de mim.
-Onde está o nosso garoto? – ele pergunta, se referindo totalmente a Sebastian.
-Seu garoto – corrijo – foi comprar bebidas.
-E te deixou aqui sozinha?
-Chocante, não é? Eu poderia ter sido sequestrada. – reclamo.
-Em um bairro como esse? Duvido.
-Coisas como essas acontecem onde menos se espera. Quando vocês menos esperassem veriam meu rosto nos jornais.
Ele gargalha.
-Gosto de você, Natasha. Gosto o bastante a ponto de me comprometer a pagar o seu resgate.
-Sério? Nem percebi isso enquanto vocês faziam seus joguinhos comigo.
-Epa, aquilo tudo foi Elise. Meu único pecado foi ter rido junto e embarcado na onda. Sei que isso não me deixa isento e eu deveria ter feito algo, na verdade eu gostaria de ter feito algo, mas quero ser seu amigo, você parece divertida.
-Não sei se quero me associar a você.
-Eu posso trabalhar pelo seu perdão. – ele fala com um sorrisinho.
-Se vocês já acabaram a socialização – ouço Sebastian falando atrás de nós – podemos ir.
-Claro, cara. Estávamos te esperando. Comprou tudo?
-O suficiente para nós três. Onde está o carro?
-Parei lá atrás. Queria surpreender Natasha. Ela parecia como um coelhinho encurralado.
-Inacreditável. – sussurro.
-Vamos logo, antes que Elise surte. – Sebastian fala, andando até onde Rome falou que estava o carro.
-Por que a Elise surtaria?
-A festa é na casa dela. Ela está nos esperando com as bebidas. – Rome fala.
-Por que você não me falou que a festa era na casa dela antes? – falo.
-Que diferença isso faria? Não tivemos muita escolha aqui, não é mesmo? – Sebastian fala.
-Não fica com medo, Nat. Eu te protejo. – Rome fala, passando se braço em volta dos meus ombros.
-Você fez um excelente trabalho até agora, não é mesmo?
-Mas as coisas vão mudar a partir de agora. Juro por Deus, sua pequena demonstração de calcinha hoje mexeu comigo.
-Nojento. – falo, o empurrando e observando o carro no qual eles param ao lado. – Esse é um bugatti. – me refiro ao carro.
-Linda e entende de carros. Talvez você seja a minha alma gêmea. – Rome fala, levando as mãos ao peito dramaticamente.
-Qual o problema? Pensei que você não quisesse ir andando.
-E eu não quero. Mas o carro só tem dois lugares e nós somos 3.
-Você sempre pode sentar no meu colo. – Rome fala e percebo que terei que tomar cuidado com esse daí.
Sebastian rola os olhos.
-Você vai dirigir, no limite permitido pela velocidade e nós dois vamos dividir o banco.
-Você já foi mais divertido, Sebastian.
-Apenas dirija, Rome.
-Sim, papi.
-Entre no carro, Natasha.
Sento na ponta do banco, decidindo não discutir mais, e Sebastian entra e senta ao meu lado.
-Você sabe que esse carro é pequeno demais para nós três, não é?
Sebastian e eu estamos exprimidos para caber no banco.
-Achei que tivesse dito que você não era do tipo que reclamava.
-E eu não sou.
-Nem parece. Prenda o cinto. – Sebastian fala, passando o cinto de segurança por nós dois, tornando a situação ainda mais incomoda e apertada.
-Você sabe que isso não vai fazer diferença nenhuma se formos parados pela polícia, não é?
-Pelo amor de Deus, você nunca cala a porra da boca?
-Pxi, papi e mami estão brigando. Será que eles vão se divorciar? – Rome brinca, enquanto observa nossa troca.
-Vá a merda. – Sebastian responde.
-Ok, não está mais aqui quem falou. Partiu, festa. – ele fala, ligando seu carro e conectando o seu celular ao som.
Quando ele dá partida, o som começa a tocar Rude de Magic! e eu sorriu com o basbaquice dele.
-Cara, tem como você ser mais ridículo? – Sebastian reclama.
Mas eu não consigo evitar de sorrir.
Rome é a Tiff de Sebastian.