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Observo a entrada, meu corpo escondido nas sombras e os ou-vidos atentos a qualquer tipo de barulho estranho. Horas atrás podia ouvir Eva trabalhando na cozinha e o cheiro de sopa saiu pela janela e me pegou do lado de fora. Meu estômago roncou, mas o ignorei. Man-tive o olhar preso na estrada e terra e na porteira mais abaixo, mesmo quando Eva saiu pela porta e me chamou para jantar.
Neguei, o que apenas a fez trazer um prato para mim do lado de fora. Estava quente e cheirava divino, mas talvez fosse porque esta-va faminto. Ela me viu comer em silêncio, seus olhos nas sombras e apenas parte do corpo iluminado pela luz da entrada. Quando acabei, ela levou o prato e pude ver um pequeno sorriso em seu rosto quando cruzou o limiar da porta, deixando um rápido olhar sobre o ombro.
Essa mulher... me intriga. Ao mesmo tempo em que se parece com aquela criança do passado, é completamente diferente agora. Tal-vez fosse pelas curvas que adquiriu ao se tornar uma mulher adulta? Não sei dizer. Apesar que seus olhos continuam demonstrando a força e ferocidade de quando pequena. A teimosia não era uma novidade.
Uma luz tênue ilumina o caminho abaixo, ficando cada vez mais forte ao se aproximar. Cazzo, o idiota do Stefano não deixou os faróis baixos para entrar escondido no caminho e minha vontade de enforcá-lo é realmente grande. Quando o idiota salta do carro e abre um sorriso largo na minha direção, penso seriamente em marcar seu rosto com meu punho.
Entretanto, exalo devagar e me aproximo, agarrando sua nuca com a mão e o empurrando para longe. Sei que Eva está no banho e não me preocupo dela estar ouvindo o que irei conversar com meu ir-mão agora. Quando nos afasto o suficiente e escondo nossa presença atrás de uma fileira de ciprestes, falo:
- Ei, ei. Come va ?
- Você fugiu dos homens de Avillano?
Stefano ajeita a gola de sua camisa escura e percebo que ele tro-cou de roupa nesse meio tempo. Alisando a lateral do cabelo, Stefano me olha com um sorriso convencido.
- É claro que sim. Você pensa que está falando com quem?
- Sempre é melhor prevenir - resmungo e cruzo os braços. - Temos um problema grande.
- O quê? Não me diga que perdeu la donne.
Arqueio as sobrancelhas.
- Vou fingir que não me perguntou isso. - Balanço a cabeça, desviando o olhar para a porta da frente antes de voltar para meu ir-mão. - Enrico Avillano nos interceptou no caminho.
- Porca miseria, não me diga que...
- Eva atirou nele, entre os olhos - respondo de forma baixa e soturna ao lembrar a forma como ela nem mesmo tremeu o dedo no gatilho. Rolo os ombros para tentar dissipar um pouco da tensão. - Deixamos o corpo para trás junto com o carro reserva.
Com as mãos no quadril, Stefano chuta a terra com o bico de seu sapato italiano.
- As coisas apenas pioraram, grande fratello. Isso pode significar guerra.
- Eu sei. Eles não vão descansar enquanto não matarem Eva. Principalmente o pai de Enrico.
- La donne teve sua Famiglia completamente destruída vinte e quatro horas atrás. - Stefano passa a mão pela boca. - Ela é a última De Nobrega viva e não poderia ocupar o cargo de Chefe.
Meu maxilar trabalha enquanto penso nas palavras que estou prestes a soltar.
- Vou me casar com ela.
Stefano pisca, então solta uma risada.
- Você está brincando, não está? - Seu sorriso morre, sua ca-beça balançando uma vez e as sobrancelhas arqueando. - Diga que está brincando.
- Não brinco com coisas sérias, stupido.
- Grande fratello, ajudar Eva a fugir dos Avillano já foi um ato perigoso. Matar o herdeiro já nos leva meio caminho para o inferno. Casar com a mulher que matou o homem é fazer toda nossa Famiglia sentar no colo do capeta durante o jantar! - Stefano balança as mãos de forma frenética. - Non esiste !
- Não me lembro de ter pedido sua permissão ou opinião. Amanhã estaremos seguindo para o cartório mais próximo e teremos a maldita licença. Eva vai se tornar minha esposa e a Famiglia De Nobre-ga se tornará Mazzari. - Sentencio.
- Avere un chiodo fisso in testa ... E la donne está de acordo com isso? - Stefano aponta para a casa. Na falta de uma resposta minha, ele ri. - Sua confiança de que ela simplesmente vai aceitar é enorme.
- Eva não tem ninguém para defendê-la além de mim. Dei mi-nha palavra para Costa e, se me casar com Eva a manterá a salvo, é isso que farei.
Meu irmão me observa por alguns segundos, seus olhos azuis es-treitando e então rindo.
- Che palle , você está fazendo tudo isso por causa do sobre-nome De Nobrega, não é?
Não realmente. Cruzo os braços, olhando-o seriamente.
- Meus motivos não são da sua conta.
- É isso. Você realmente está louco. - Stefano ri outra vez, passando as mãos pelo cabelo e entrelaçando os dedos na nuca. - Mamma vai matar você.
- Me entendo com Patrizia depois - grunho, minha mão aper-tando o lado da cintura latejando. - Preciso que você entre em contato com Domenico e peça a ele para providenciar a licença.
- Você esqueceu que já possui uma? - Stefano balança a mão ao lado da cabeça, um sorriso largo em seu rosto.
- Não esqueci. E é por esse motivo que mandei entrar em con-tato com Domenico e dizer a ele para mudar o nome que consta na li-cença. Você tem seu telefone? - Vejo Stefano assentir e prossigo: - Ótimo. Enquanto isso, vou conversar com Eva e amanhã teremos isso resolvido antes de voltarmos para a Ilha.
- Vai ser um show de merda quando pousarmos. - Stefano es-trala os dedos. - Dio, vou adorar cada segundo. Acha que mamma vai se incomodar se eu gravar tudo?
- Se eu fosse você, não abusaria da sorte. - Bato em seu ombro e aperto com força suficiente apenas para vê-lo se contorcer. - Agora faça o que mandei.
Com um aceno de dois dedos, Stefano corre para o carro. Volto para a casa e abro a porta no momento que Eva sai do quarto vestindo nada mais que uma larga camiseta branca com a barra no meio de suas coxas. Seus dedos seguram firmemente a faca negra, seu corpo pronto para abater qualquer inimigo que surja à sua frente.
Seus cabelos castanhos molhados caem em ondas suaves até o meio de suas costas, alguns fios colados em sua bochecha. Olhos casta-nhos arregalados e atentos ao olhar além de mim e então para a janela, procurando pelo carro.
- Quem estava aí?
- Meu irmão. - Meus olhos descem para suas longas pernas e me forço a olhar em seu rosto novamente. - Precisamos conversar.
Suas sobrancelhas franzem, a mão abaixando a faca devagar. Aponto para o sofá largo de quatro lugares e sento na ponta, longe o suficiente dela. Eva dobra suas pernas abaixo de sua bunda, a barra da camiseta subindo perigosamente.
Passo a mão pelo cabelo, pigarreando, e me ajeito sobre o esto-fado enquanto penso em carnificina. Tudo para fazer meu pau se aqui-etar dentro da calça.
- O que está acontecendo?
- Hm? - Olho para seu rosto e balanço a cabeça para dissipar minha pequena confusão de luxúria. - Nós podemos ter um problema para resolver, agora que Enrico está morto.
Eva mordisca seu lábio inferior, me fazendo pensar em como se-ria ter aquele pedaço macio entre meus dentes. Minha língua correndo de um lado ao outro, provando...
- Acha que Borges vai continuar me seguindo?
Foco, Matteo.
- Tenho certeza. Se Enrico avisou que você estava tendo ajuda para fugir, assim que Borges encontrar seu filho morto vai mover céus e terras atrás de vingança. - Apoio o tornozelo direito sobre o joelho, olhando-a com atenção. - Vai ser um inferno na terra.
- Eu... - Eva engole em seco e desvia os olhos para a janela. - Talvez seja melhor sair do país.
- É perigoso ficar sozinha, mesmo em um lugar estrangeiro. - Inspiro, pronto para dizer as próximas palavras. - Agora, se você se casar comigo, posso garantir a proteção que vem com o sobrenome Mazzari.
Os olhos escuros de Eva voltam para mim, sua expressão neu-tra. Sua mão gira o cabo de sua faca, a ponta contra o indicador e mui-to perto de cortar.
- Casar?
- Sim - respondo.
- Com você?
Assinto lentamente enquanto Eva continua girando sua faca. Sua cabeça pende ligeiramente para o lado, me analisando.
- A perda de sangue o deixou louco?
Ela é a segunda pessoa a me dizer isso nos últimos minutos. Le-vanto e coloco as mãos no quadril ao virar para olhá-la.
- Casar comigo é a única forma de mantê-la viva. - Paro, olhando-a sentada no sofá. - O que você faria sozinha?
- Eu não sei! - Eva levanta, sua mão gesticulando a faca com veemência. - Arranjaria outro nome, desapareceria pelo mundo, cria-ria uma nova vida.
- E deixaria o sobrenome De Nobrega morrer?
- Ele já está morto. E, se me casasse com você, seria a mesma coisa. Assumiria seu sobrenome e sua família seria a minha. Borges anunciaria guerra e eu não poderia ter mais nomes de inocentes mortos por minha culpa. - Eva bate contra o peito com o punho.
- Eu dei minha palavra que ia ajudá-la...
- Me dê um novo nome e me deixe na fronteira que posso se-guir sozinha com minhas próprias pernas. Isso já seria muita gentileza.
- Pela forma que nos encontramos não pude determinar mi-nhas condições, mas agora é um momento mais que oportuno. - Dou alguns passos até estar parado à sua frente e inclino a cabeça para olhar melhor em seus olhos. - Você se casa comigo e fica viva. Essa é a única ajuda que vai receber.
- Olha, sou muito grata de vir em meu socorro, me tirar daque-la pensão e me trazer até aqui. - Eva balança a mão com a faca ao redor. - Já cumpriu sua palavra, muito obrigada. Posso me virar a partir daqui.
Ela se vira, indo na direção do quarto.
- Se não aceitar, eu mesmo mato você.
Seu corpo paralisa e conto as batidas furiosas do meu próprio coração enquanto espero. Jamais deveria ter chegado a isso, mas não conseguia ver mais saída. De jeito nenhum eu posso, e não vou, deixar Eva sair por aquela porta e ter a possibilidade de nunca mais vê-la.
Quando se vira, seus olhos castanhos estão pegando fogo. Ela avança, cobrindo a distância com passos leves e rápidos, ágil, e paran-do perto de mim mais uma vez.
- Gostaria de vê-lo tentar, Mazzari - Eva rosna, erguendo nas pontas dos pés e a ponta da faca roçando abaixo do meu queixo.
- Quer tentar a sorte, Piccolina?
Agarro seu punho que segura a faca, seu braço resistindo e ten-tando empurrar a lâmina escura mais para perto. Sorrio de lado, segu-rando seu pescoço com a mão e isso parece deixá-la ainda mais irritada. Suas narinas se alargam ao inspirar com força e sua mão livre agarra meu punho em sua garganta.
- Não seja teimosa, Eva - grunho.
- Não seja tão confiante, Matteo.
- Grande fratello, eu... atrapalho?
Viramos para Stefano na porta e dizemos em uníssono:
- Cai fora!
Meu irmão ergue as mãos na altura dos ombros e nos dá as cos-tas. Esse pequeno desvio de atenção quase me faz perder o movimento de Eva. Desvio de seu joelho, girando nossos corpos e batendo suas costas contra a parede. Enfio minha coxa entre suas pernas para evitar mais joelhadas e Eva ofega, mas seu aperto não afrouxa.
- Bastardo, bugiardo , figlio di puttana...
- Você disse que iria se casar comigo quando crescesse. Eu a ouvi aquele dia. - Aperto um pouco mais os dedos em sua garganta, inclinando sua cabeça para cima e olhando para aqueles lindos olhos castanhos escuros pela cólera. - Mudou de ideia?
- Eu tinha treze anos. - Eva se contorce e aperto os dentes ao sentir suas dobras quentes contra minha calça. - Não quero que se case comigo por piedade, droga!
Franzo as sobrancelhas, soltando-a, e dou um passo para trás. Eva inspira, sua mão cobrindo sua garganta vermelha, o peito subindo e descendo em respirações profundas. Minha atenção desliza para os bicos eriçados contra a camiseta branca, na curva suave de cada seio, e dou mais um passo para trás.
Distância.
Mantenha distância.
- Não estou me casando por piedade, Eva. É apenas estratégia.
Seu rosto se torce com desagrado.
- Você faz isso soar comercial.
- Porque é - falo gravemente. - No nosso estilo de vida, qualquer casamento entre as famílias precisa ser rentável. União com base em dinheiro e contatos. A Famiglia De Nobrega possui ambos.
Soprando uma mecha de cabelo do olho, Eva cruza os braços abaixo dos seios.
- Você pensou em tudo.
- Sou o Chefe da minha família. Se não tenho tudo sob contro-le, não mereço o cargo.
E isso é a verdade que tem guiado minha vida nos últimos anos, é apenas por isso que minha família prosperou. Autoridade, inteligên-cia, habilidade e respeito, os pontos primordiais que regem a Famiglia Mazzari. As últimas horas foram uma grande bagunça cheia de surpre-sas, excesso de desequilíbrio e testando meu limite de paciência.
A mulher parada me olhando em silêncio sendo o foco de todo esse turbilhão de confusão.
Eva ergue o queixo de modo determinado.
- Eu não sou apenas um adereço com oportunidades de ganho mercantil. Se me caso com você, tenho direito de saber o que está acon-tecendo. Não vivo no escuro. Se existem problemas, vou estar lá para resolvê-los, juntos. Para mim, o casamento é se tornar uma única men-te. - Seus olhos castanhos prendem os meus, a força sendo magnética e parecendo me puxar. - Não me devore viva, Matteo.
Minha mente mostra Eva deitada sobre o sofá, meus dentes mordendo sua carne e provando seu gosto enquanto me afundo entre suas pernas, mergulhando no calor úmido em lentas estocadas.
Lambo o lábio inferior, passando a mão pelo cabelo e dando as costas para ela quando sinto meu pau empurrando a calça.
- Você precisa aprender o seu lugar, Piccolina - rosno.
- Meu lugar é onde eu quiser. Se pensa que pode me manter dentro de uma gaiola só porque tem um anel em meu dedo, está muito enganado.
Cerro os punhos ao lado do corpo, viro parcialmente de lado e observo seu rosto.
- Cuidado com suas palavras, mulher.
- Minha língua não é tão afiada quanto minha faca. - Eva ba-lança a lâmina negra antes de puxar a camiseta, revelando o coldre com a bainha no alto de sua coxa. - Nós temos um acordo, Matteo?
Enfio as mãos nos bolsos, acompanhando com os olhos seus pas-sos suaves até parar de frente para mim. Sua garganta ainda está ver-melha e cerro os dedos dentro dos bolsos quando sinto a necessidade de tocar sua pele.
- Acordo?
- Sim. Você recebe as conexões da minha família e eu recebo sua proteção, contanto que eu não seja diminuída como uma mulher tola e inútil. Serei sua mulher, sua igual. - Eva sorri ao estender a mão para mim. - É um acordo justo.
Pondero suas palavras por alguns segundos, olhando sua mão no ar.
- O que garante a você que vou cumprir minha parte do acor-do?
- Você é um homem honrado, Matteo - diz suavemente. - Ser íntegro está enraizado dentro de você. E eu também posso matá-lo durante seu sono se não cumprir sua parte. - Eva encolhe um ombro, ainda sorrindo.
Sorrio de lado, segurando sua mão e balançando.
- Temos um acordo, Piccolina.
- Outra coisa. - Ela estende o dedo abaixo do meu nariz. - Pare com esse apelido. Eu cresci.
Solto sua mão, dando as costas e a deixando sem uma resposta.
Não posso prometer tudo a Eva.