Eu tinha sonhos e planos para o futuro. Estava terminando o Ensino Médio e já pensava em fazer o vestibular para tentar entrar para a faculdade federal. Eu sonhava em ser psicóloga e ajudar as pessoas a entender e enfrentar os seus próprios fantasmas, mas tudo foi perdido. Agora eu é quem era a fantasma. Antes disso tudo, me chamava Beatriz, mas agora eu adotei o vulgo que o Bruno me deu e só permito que me chamem de Linda. Não é que eu me ache linda, mas sim porque ter outro nome me ajuda a esquecer um pouco do passado e dá a falsa sensação de que eu tenho uma vida nova.
Não me orgulho em morar com o homem que faz tantas coisas erradas e acabar sendo conivente com elas, mas esse foi o meu destino. Eu odeio a lei e a polícia, pois nada aconteceu com os assassinos dos meus pais, eles foram inocentados e nem acesso ao processo eu tive. A partir disso, decidi que iria largar tudo e quando achei que estava no fundo do poço, o Bruno me resgatou. Eu devo a ele estar viva e bem e quando ele se declarou, não consegui negar a ele o meu sim.
Estava tudo muito confortável para mim, pois durante esses três anos que estou com ele, nunca senti desejo por nenhum outro homem, na verdade, achei que não era mais capaz disso. Pois mesmo que o Bruno me enchesse de presentes e de ter me dado o status de primeira-dama do morro, eu não conseguia sentir nada por ele, mesmo ele sendo bonito e chamando a atenção de várias mulheres que querem o meu lugar.
Eu não vou negar que me esforço para deixar o meu homem satisfeito, mas o oposto nunca acontece e o máximo que consigo fazer é fingir. Não gosto do toque dele em meu corpo, mas já acostumei.
O problema é que quando percebi o olhar daquele homem estranho no baile, senti que o meu corpo estava pegando fogo e quando troquei algumas palavras com ele, vi o quanto ele era bonito e atraente. De qualquer forma, eu já era comprometida e o amor não era para mim. Deixe ele por conta da Fabiele, com certeza ela vai fazer um ótimo proveito dele.
Quando amanheceu, eu acordei com a cabeça doendo e voltei a dormir. O Bruno saiu cedo, como de costume. Parece que ele nunca descansa e sempre está fazendo alguma coisa, não é à toa que ele se tornou o traficante mais poderoso do país. De qualquer forma, eu gosto assim. Não ia suportar a ideia de ter o Bruno no meu pé o dia todo, com certeza eu enlouqueceria.
Renato
Acordei cedo no outro dia e fiquei esperando o Pivete. Ele cumpriu o que disse e chegou bem cedo e me levou até a boca. Depois de me apresentar para o resto do pessoal que não me viu ontem, ele me levou até um cômodo onde ficavam os celulares que foram roubados, mas que não conseguiram desbloquear. Tinha um adolescente que fazia o trabalho para eles, mas apenas as coisas mais simples e os que ele não conseguia, deixava guardado lá.
Depois de pegar meus equipamentos e o meu notebook na mochila, com a autorização e pedido do Pivete, comecei a mexer em um celular, que parecia ser um daqueles bem caros e após algum tempo, entreguei a ele, já desbloqueado.
O Pivete ficou maravilhado, pois já estava convencido de que aquele celular iria para o lixo e levou para mostrar para o Coringa.
Pouco tempo depois, ele voltou dizendo que eu estava contratado e que agora era o técnico de celulares da boca e que eles estavam ficando modernos.
Mesmo estando satisfeito em poder estar ali, eu não podia negar que estava um pouco frustrado, pois o mais perto de um crime grande que eu encontrei provas, foi dos celulares roubados, mas que isso era peixe pequeno para mim. De qualquer forma, eu precisava ganhar a confiança dos caras e quem sabe ter acesso a coisas mais pesadas, por isso, comecei a desbloquear os celulares e a consertar os que estavam estragados, em alguns casos, tirava as peças de um e colocava no outro, dando um jeito de colocar os celulares aptos para o uso novamente.
No fundo, eu me sentia um babaca por estar ajudando um bandido, mas eu precisava fazer esse sacrifício.
Linda
Quando deu por volta de meio-dia, eu me levantei e fui para o mercadinho fazer compras, pois estava sentindo falta de comer comida de verdade e não aquele monte de besteiras que o Bruno trazia. Na volta, lembrei que o Bruno me pediu para comprar algumas frutas e achocolatado para deixar na geladeira da boca, pois o estoque dele havia acabado e quando terminei, fui até lá para levar o que me pediu.
O cara novo estava lá, mas dessa vez, desviou o seu olhar de mim. No fundo eu gostei. Não quero mais problemas para a minha vida.
Eu deixei as sacolas com as compras na cozinha e depois fui até a sala do Bruno, que estava cheio de desejo e tentou ter relações comigo ali.
__Está louco Bruno? Tem gente ali fora e pode ouvir.
__Só um pouco, gatinha. Me alivia aí.
__Não mesmo. Se quiser, em casa a gente conversa.
__Tudo bem, vou cobrar.
__Pode cobrar.
Ufa! Consegui me esquivar do Bruno. Imagina só ter que encarar ele e ainda correr o risco de ser ouvida? Tô fora.
Antes que eu saísse da sala, o Pivete entra correndo e chama o Bruno para ir até a casa do Menor, pois ele estava conversando com um policial na rua e eles iam tirar essa história a limpo. Eu não gosto da forma agressiva do Bruno, mas odeio policiais e só de imaginar que eles podem estar tramando alguma coisa contra nós, fico doida.
Quando saí e fui para a cozinha, já que o Bruno pediu para eu esperar por ele, pois ia voltar comigo para casa, pois ele queria trocar de roupa e tomar um banho, encontro o cara do celular tomando um copo de água e os nossos olhos acabam se cruzando por um instante.
Renato
Eu estava me refrescando um pouco, pois além do calor, estava com um baita desejo, pois sabia que a morena gostosa estava ali, mas não imaginava que iria encontrar com ela.
Quando os nossos olhos se cruzaram, tive vontade de pegar ela no colo e jogar ela em cima daquela mesa que estava entre nós e fazer com ela o que ela quisesse. Estava pronto para ser usado pela mulher mais gostosa do mundo.
O meu cérebro, que tentava me deixar lúcido, me lembrou que além de linda, ela era perigosa e por isso era para eu me manter longe, por isso, desviei o olhar novamente, pedi licença e saí.
Apesar dela ser linda e eu estar incrivelmente atraído, ela era uma deles e no fim de tudo, deveria ser presa como todos os outros, pois ninguém era inocente ali.
Depois de um tempo, percebi que o lugar estava silencioso demais e pensei que ela havia ido embora, mas quando o Coringa e o Pivete voltaram, acabei vendo ela novamente, que estava esperando o marido.