Enrico esperou por dois segundos após se esconder ao lado dos armários de remédios e atacou. Cravou o bisturi na jugular, antes que o homem gritasse. O mafioso sorria enquanto o homem se engasgava com o próprio sangue.
Depois de tirá-lo do caminho, Enrico se escondeu atrás da porta. O clarão da lanterna iluminou os dois corpos jogados perto da cama.
Antes que o terceiro homem pedisse ajuda, Enrico desferiu um golpe rápido com o bisturi contra o pescoço do rival. Fazia tempo que não ficava animado daquele jeito.
Apagando a lanterna, olhou pelo corredor e voltou para o quarto ao ouvir o tropel passos dos dois homens que entravam. Cerrando os punhos, ele armou-se para a briga, assim que o grandalhão apareceu.
Enrico desferiu um chute atingindo a parte superior do tronco de seu inimigo. Graças ao treinamento árduo nas aulas de Karatê com o Sensei Chan, ele usava com facilidade as diversas técnicas de defesa e ataque.
O homem reagiu, Enrico agachou-se a tempo, livrando-se do soco do outro oponente, agarrou-lhe o pescoço com toda força e o estrangulou até deixá-lo inconsciente. Cravou a tesoura no peito do grandalhão que tentou atacá-lo.
Estava tão concentrado em se defender e evitar que os homens encontrassem Lívia, que ele mal sentia dor nos ferimentos da noite passada, o líquido quente e vermelho escorreu pelos braços misturando-se ao sangue dos inimigos. A respiração estava acelerada, ainda ouvia as vozes alteradas que vinham lá de fora.
Após pegar a pistola e um travesseiro, correu até o banheiro da clínica, não demorou muito até que seu próximo rival aparecesse, Enrico abaixou assim que a porta se abriu e o homem atirou.
Cravou o bisturi no calcanhar do oponente e o derrubou, o homem conseguiu desequilibrá-lo levando-o ao chão onde iniciaram um embate corporal.
Enrico rolou no chão aplicando uma chave de braço e tomou a arma da mão do homem que tentava se desvencilhar. Gostou de ouvir o 'puff' no silenciador de pistola quando executou o seu sexto oponente sem nenhuma piedade.
Não demorou muito até que Enrico surpreendeu outro inimigo distraído, ele deu um tiro na nuca do oponente mais baixo e calvo. Era assim que preferia matar, pois sabia que esses coletes a prova de balas impediriam que ele terminasse o serviço.
Levantou-se limpando o rosto dos respingos de sangue e tecido cerebral. Ao pôr os pés para fora da sala, o projétil cortou a sala atingindo a parede atrás de si, um passo à mais para a esquerda e Enrico teria sido atingido.
Movido pelo ódio, ele esticou o braço para fora da porta e acertou o joelho do homem que resistia, o homem se desestabilizou e antes que o joelho de seu oponente tocasse o chão, Enrico atirou contra a cabeça de seu alvo.
Ele se escondeu quando o outro rival tentou dar cobertura para o rapaz, que estava segurando o joelho e gritando de dor.
No segundo tiro, Enrico acertou a testa do homem que ainda estava em pé.
- Por favor, não me mate! - O jovem implorou.
Mesmo assim, ele atirou. Aquele era o nono homem que matava naquela noite. Enrico virou o rosto quando escutou os gritos desesperados da médica.
- Lívia!
Ele correu para a sala onde viu a mulher encurralada contra a parede.
- É sua namoradinha, Enrico? - O homem esbelto esboçou um sorriso amarelo. - Vou acabar com ela primeiro e depois, acertarei as contas com você.
No instante em que o homem ergueu o revólver, Enrico correu desesperado, Lívia apertou os olhos com força ao ouvir o som do gatilho. O trajeto da bala tiraria a vida de sua salvadora, Enrico fora tão ingrato com aquela pobre mulher, não permitiria que ela pagasse por seus erros com a própria vida. Tudo aconteceu tão rápido, Lívia sentiu seu corpo sendo empurrado para o lado enquanto Enrico sentia o impacto do projétil penetrar em seu braço.
Enrico sabia que não podia perder tempo com a dor, foi treinado para transformar a dor em ódio. Furioso, pegou a caneta caída ao seu lado e correu para atacar o homem, que tentou atirar, mas a arma emperrou. O homem de cabelos loiros sentiu a fúria do ataque de Enrico o empurrar contra à parede, o antebraço pressionava o rosto do homem para o lado e à mão rápida desferindo golpes incansáveis contra o pescoço agora ensanguentado do homem que começava a perder os sentidos.
Retornando para ver a mulher que chorava, ele puxou Lívia para atrás da mesa e sentou no chão ao lado dela. Ambos ficaram em silêncio, esperando por mais ataques. Foram quase quinze minutos aguardando aflitos, mas não havia mais ninguém.
Lívia estava apavorada, foi difícil recuperar o fôlego diante de tamanha selvageria, mas precisava se recompor para tratar dos ferimentos de Enrico. Apesar da forma como ele agiu, Lívia era uma médica comprometida com seu juramento.
A bala havia passado de raspão, mas foi o suficiente para agravar o ferimento já existente no braço do paciente. Lívia se viu, mais uma vez, contendo o sangramento e limpando o corte para realizar uma nova sutura.
- Au! - Ele reclamou quando ela fechou o último ponto. - Faz isso direito! .
- Sei o que estou fazendo. - ela replicou, furiosa
Aquele homem estava sempre dando ordens e proferindo ameaças, sem demonstrar nenhuma gratidão e respeito por ela, a deixava furiosa. Nem todos os cuidados dispensados a ele conseguiram amenizar as grosserias.
Após acionar o gerador de energia, Enrico foi até a entrada da clínica, à porta cheia de perfurações de balas era um lembrete do que poderia voltar a acontecer, olhando em volta decidiu usar o balcão da recepção como um bloqueio para impedir que outros conseguissem entrar com facilidade. .
- Os pontos vão abrir de novo.
- Você é minha médica, está aqui para cuidar disso!
- Devia sossegar um pouco.
- Escute aqui, mocinha! - Ele se agigantou diante dela. - Preciso me certificar de que tudo está trancado, pois a sua vida entrou em risco no momento em que você me resgatou naquela calçada. Agora, pare de me atormentar e pegue alguma coisa para comer!
Enrico deu-lhe as costas e foi verificar se as janelas ainda estavam trancadas. Lívia viu as costas largas e não pôde deixar de pensar no quanto o corpo daquele homem era bem tonificado, rapidamente, balançou a cabeça tentando abandonar aqueles pensamentos inoportunos.
- Você não conhece as palavras mágicas.
- Que merda é essa?
- Já disse alguma vez 'Por favor' e 'obrigada'?
- Pare de me perturbar e vai lá ver se tem algo para comer, estou com fome!
Grunhido de raiva, Lívia saiu daquele lugar. Enrico estava abusando de sua paciência e passando de todos os limites, mas ela não podia se dar ao luxo de contrariá-lo.
Ela pegou dois pacotes de biscoitos e jogou para Enrico assim que ele entrou em sua sala.
- Só tem isso?
- Ah, desculpa! Não sabia que vinha para o jantar, - lançou um sorriso debochado.
Ainda de cueca, ele sentou na cama enquanto comia o biscoito. Franziu a testa ao sentir a dor que, desta vez, estava um pouco mais forte.
- Pegue aqueles remédios que você me deu mais cedo.
- Argh! - Lívia fechou a cara.
- Hei, pegue os mesmos medicamentos! Não posso tomar ibuprofeno.
Revoltada, a doutora Ricci saiu pisando duro pelo corredor, ela foi até o consultório onde mexeu no armário e sorriu ao pegar o frasco de ibuprofeno. E se ele tiver alergia? Lívia deu um sorriso. Talvez aquele pequeno frasco ajudasse a dar uma lição naquele cara.
- O que é isso? - Olhou para a seringa na mão da médica. - Onde está o comprimido?
- Algumas balas acertaram o armário de remédios no tiroteio. - Ela omitiu sua verdadeira intenção - Você se joga na frente de uma bala e agora, está com medo de uma injeção? - indagou em tom brincalhão.
- Aplica logo essa merda! - Exibiu o músculo do braço.
- Esse remédio é aplicado por via intramuscular, na região do glúteo.
- Ah, não! Você não tocará no meu traseiro.
- Então fica aí curtindo a sua dor.
Enrico alisou o curativo no braço, o sangue não estava tão quente quanto na hora em que lutou contra aqueles homens. Naquele instante, a dor estava insuportável.
- Anda logo!
Ele levantou-se e ficou de costas para a doutora.
- Abaixe mais um pouco! - Lívia pediu, deu um peteleco leve na seringa.
- Quer que eu fique nu?
- Não será necessário, já vi coisas demais por hoje!
Lívia puxou o tecido da cueca preta e espetou a agulha. Aplicou o líquido lenta e profundamente no quadrante superior externo do glúteo de Enrico.
O homem engoliu em seco tentando conter a cara feia. Apesar de ser um homem corajoso, sempre detestou injeções desde criança, mas não queria que a médica risse de sua fraqueza.
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Uma hora mais tarde, apesar da dor ter sido aliviada pela medicação, Enrico começava a sentir um pequeno desconforto seguido de coceira e vermelhidão que se espalhou por todo o corpo. O homem se remexeu na cama, coçou o pescoço e em seguida a barriga, aquilo já estava começando a incomodar, sentou-se em silêncio enquanto coçava os braços.
Lívia estava lendo, do outro lado da sala, parecia não notar o desconforto se seu paciente, mas, por dentro, ela se vangloriava por ver a sua vingança funcionar.
- Qual remédio você aplicou?
- Analgésico. - ela titubeou.
Voltando os olhos para o livro, a médica continuou com sua leitura enquanto Enrico se deitou novamente. Lentamente, ele relaxou e, mesmo com comichão, adormeceu.
Algumas horas depois, alguém bateu na porta do Hospital novamente. Lívia ficou assustada, ela se mexeu na cadeira e fitou o mafioso adormecido.
Lívia ainda estava lendo quando percebeu o som de batidas na porta da clínica, assustada, se remexeu na cadeira mantendo os ouvidos atentos ao que acontecia do lado de fora. Ela olhou para Enrico, que agora dormia profundamente, cogitava acordá-lo, talvez fossem outros homens querendo atacá-lo. Levantou-se bem devagar, o coração agitado no peito, as batidas estavam mais nítidas.