Ganhei o título de duque devido ao parentesco do meu pai com o rei, todo título é doado ou herdado e com ele vem grandes fortunas, terras e, claro, cobranças familiares. Meu pai me cobra nos últimos anos um bom casamento e netos, isso chega a ser deveras irritante, tendo em vista que cuido do negócio da família há anos e não vejo a necessidade de uma esposa.
Mamãe é a típica mulher obediente ao marido que nunca elevou o tom de voz para defender o filho e sempre apoia o marido em tudo. Ela se casou nova demais e os dois se amavam. Tiveram dois filhos, minha irmã Giulia e eu, que é perfeita, a menina dos olhos do nosso pai, para ela eram mimos de todas as formas e tudo que desejava conquistava através dele, mas era uma boa menina. Recentemente, ela conseguiu um lugar na Corte francesa da rainha Henriqueta e isso é benéfico, caso um nobre venha a querer desposá-la.
Nossa última discussão foi extrema e suas ameaças pareceram reais demais, um ultimato foi feito e um prazo de um ano para arrumar uma esposa foi dado ou cortaria minha mesada quinzenal. O casamento tem um conceito diferente para muitos casais, não é uma união por amor, mas sim uma transação de herdeiros e política, ou até mesmo acordos entre duas famílias rivais tentando trazer paz aos reinos.
Gritamos um com o outro e saí muito irritado. Precisava relaxar e, de algum modo, jogar cartas e ter uma bela dama em minha cama seria o suficiente para me deixar calmo.
Ando pelas ruas em direção à "Casa da Madame Louise", um lugar onde os cavalheiros podem participar de mesas com jogo de cartas e aproveitar dos quartos, já que há belíssimas moças que oferecem bebidas e prazer.
Como sei que muitas moças dormem com vários homens, peço um mimo à dona da casa e ela me cede a inexperiente e doce Eloise. Ela chegou na casa após um escândalo em sua reputação, muito embora a culpa tenha sido do patife do tio que tirou sua pureza e ainda a culpou. No começo, apenas conversávamos, mas depois virou carnal, nunca sentimental muito menos amoroso, sempre deixamos claro um ao outro que é apenas prazer e nada mais, nisso ganhei a exclusividade.
Entro na casa após passar pelo segurança e apresentar as moedas, logo Eloise me recebe e vamos para as mesas de jogos, preciso ganhar algo esta noite, mas se não ganhar, ao menos a cama ficará bem quente.
Sento-me em uma mesa com alguns nobres e noto entre eles uma figura em particular, o conde Lorenzo Rovere, conhecido por seu vício em jogos e, claro, jogar alto, mas quem o sustenta são seus filhos, pois ele delapidou o patrimônio familiar. Sei que tem uma filha da mesma idade que minha irmã e se não me falha a memória, ela também está na Corte da rainha Henriqueta.
Após algumas partidas, já ganhei uma boa soma em ouro e o conde não se dá por vencido, mesmo já tendo perdido uma boa quantia.
- Uma última rodada, senhor!
- Acho que já ganhei demais por uma noite, deixemos para o próximo sábado! - argumento, tentando tirar esta ideia da sua mente.
- Vamos jogar uma última rodada e depois vou para casa - insiste e pelo rumo da conversa, se não for para mim, será para outro e há certos homens com caráter um tanto quanto duvidoso.
- Última rodada, senhor, e depois irá para casa!
O crupiê distribui em igual o número de cartas a cada jogador, enquanto Eloise busca vinho para nós. O jogo é composto de 25 cartas com cinco naipes, cada naipe é composto por figuras e nosso objetivo é pegar as cartas e obter o melhor jogo, somos cinco jogadores.
Quando pego as minhas cartas, constato um bom jogo, um ás, um Shah (Rei), um Bibi (Rainha) e dois Serbaz (Soldado), agora é a hora da barganha, em que mostraremos uma carta a cada rodada, valendo uma soma em moedas de ouro e, no final, restarão os melhores.
A aposta começa baixa, mas o conde resolve aumentar para um preço altíssimo, dois saem e ficam três com apenas duas cartas em mãos. Eu sei que minha mão é perfeita e não importa a carta que o conde tenha, eu ganharei. Quando o outro jogador desiste, eu ainda possuo um ás na mão e esse é o meu trunfo. Ele aposta mais alto, compro a aposta e venço.
No fim da noite, ele perde cinco mil moedas de ouro.
O conde jura pagar ao amanhecer, afinal, nenhum homem carrega essa soma, por isso permito. Ele pega um papel e assina com os dizeres o valor que deve a mim. Subo a escada com a minha doce Eloise, ganho uma bela massagem com direito à sua boca massageando meu pau de uma forma saborosa e é como se estivesse em sua intimidade, algo que aprendi a apreciar.
Chego em casa com o dia quase amanhecendo, meu pai me aguarda no sofá, esperando para ralhar por minha irresponsabilidade, mas para minha surpresa ele descobriu a grande soma que ganhei do conde e mandou que esquentassem a tina e que me dessem um longo banho.
Acho a atitude um tanto suspeita, estou cansado demais para discutir por pouca coisa, por isso obedeço.
Tomo o banho e depois o valete me ajuda a escolher uma boa roupa, assim como alguns anéis que afirmam nosso berço.
Quando desço a escada, mamãe entrega um suco para meu pai e em seguida a mim.
- Sabe, meu filho, às vezes age como um tolo, mas às vezes age pela bondade e não enxerga o óbvio.
Bebo o suco de uma vez e ele pega seu chapéu.
- Irei lhe ensinar uma boa lição hoje... Vamos até o seu devedor.
- Sim, meu pai!
Sigo-o até a carruagem e partimos em direção à casa do conde. Ao chegarmos lá, os irmãos não acreditam na soma por seu pai perdida, mostro a promissória e, nada surpresos, são categóricos:
- Não daremos uma moeda de ouro para sustentar o vício dele... A dívida é dele e não nossa.
Eles estão certo.
- Chamem vosso pai, diga que vim cobrar a dívida dele e não de seus herdeiros!
Uma das criadas sobe para chamá-lo e retorna algum tempo depois com uma aparência nada amigável.
- Meu senhor, seu pai não está em seu aposento e nem suas roupas... Temo que ele tenha fugido na calada da noite.
Reviro os olhos encarando em seguida meu pai, que apenas me observa e tenho certeza de que em seu íntimo diz: "eu sabia".
- Eu tinha certeza, por isso, meu filho, avisei aos guardas que havia um fugitivo e ele em breve estará reunido conosco.
Papai já sabia de tudo, mas afirmar que fez algo, muito me preocupa.
- Agora, que tal nos oferecer um chá com biscoitos? - papai pede.
O rapaz mais velho, em resposta, pede para que sirvam algo para nós.
Se papai mandou os guardas irem atrás do patife que fugiu, me fazendo de bobo, é claro que haverá retaliação, e mesmo estando calmo, eu tenho consciência de que terei que fazer algo para cuidar desta situação.
Logo a criada, que mal havia saído, nos chama para comer, nos sentamos à mesa e somos bem tratados enquanto aguardamos o patife ser trazido.
Eles demoram, e quando estamos quase findando o café, batidas na porta anunciam que receberei algo pelo jogo de ontem. Enrico, o filho mais velho, abre a porta, e quando seu pai entra acompanhado pelos guardas, mostra sua vergonha com a situação.
- Fugir na calada da noite não é uma atitude de homem! - exclamo sem alterar o tom de voz e bom senso.
- Não tenho a quantia e meus filhos resolveram não pagar a dívida de seu velho pai!
Desta vez é o filho mais novo que toma a palavra.
- Dívida de jogo, pai? Isso é uma vergonha! - exclama demonstrando seu desgosto total.
- Como ousa falar assim comigo? - Ele tenta se erguer, mas é contido pelos guardas.
- Falo por ser verdade, tenho 18 anos e logo terei meu próprio canto, não dependerei do meu irmão e sua esposa para viver, tenho uma boa patente no exército francês, graças à nossa irmã.
Fico interessado, pois uma dama de companhia não tem esse poder para coerção e se ela o fez, deve ter caído nas graças de Sua Majestade.
- Depender da irmã para subir! - desdenha seu pai e me intrometo.
- Vergonha maior é jogar e não poder pagar, vim receber a quantia total ou irá para o calabouço real. - Mostro minha imponência e o poder do meu título.
O conde estremece.
- Não possuo bens, passei para os meus filhos em um momento sóbrio e nada possuo para pagar, a não ser...
Fico curioso com o que ele pode propor que valha tal soma em peso de ouro.
- A não ser o dinheiro?
Ele nega e olha para o meu pai.
Agora o negócio deve ser entre os patriarcas e não gosto disso.
- A não ser minha filha que mora na França e está nas graças de Sua Majestade, a rainha Henriqueta, e ela possui um bom dote...
- Um bom dote que conseguiu com seu próprio esforço e não ela não está à venda por tão baixo preço... Papai, quer ser motivo de vergonha para nossa irmã?
Olho, incrédulo.
Pelo jeito, ela não sabe de seu vício e isso não pode ser verdade.
- Sou o pai e decido o destino da sua irmã, além disso, ela será duquesa!
- Um título não deveria ser o valor da sua filha, muito menos por uma dívida de jogo! - exclama o irmão mais velho, que mesmo estando irritado, nada poderá fazer, a menos que eu me negue.
- Não disse que aceito! - exclamo e meu pai intervém.
- Mas irá! Se se casar em um ano e tiver um herdeiro, sua mãe e eu iremos para o castelo de verão, mas deverá ser um marido exemplar, como a moça merece.
Olho incrédulo, pois a proposta não é de todo ruim.
- Se não lhe conhecesse, diria que já tinha isso em mente, mas quero conhecer com quem irei me casar antes.
O pai pede que busquem algo e quando voltam, há uma pintura mediana que quando me entregam posso notar a beleza pintada na tela, ela é realmente belíssima e possui traços marcantes.
- Bom, minha irmã não irá aprovar!
- Ela deve apenas obediência ao seu pai e, depois ao seu marido, então, senhor Maximiliano, devo mandar um emissário buscar a condessa para se casarem?
Reflito um pouco e certamente isso me livrará das cobranças e brigas com meu pai, e valerá o sacrifício. Poderá aquecer minhas noites com uma moça inexperiente e ainda me vingar dela por seu pai ser um caloteiro.
- Pode chamá-la! - aceito e meu pai comemora. -E peço que não me engane, acredito que em dois meses a minha noiva estará pronta para se casar.