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Aonde estavam? – Minha mãe nem levantou os olhos do documento que estava lendo, mas pelo tom de voz ela sabia exatamente onde estávamos. - Reconhecimento de campo? – Eu dei um sorriso amarelo e meu pai negou com a cabeça, mas um risinho escapou de seus lábios. Meus pais estavam na tenda de reuniões, aonde havia uma enorme mesa retangular para o conselho e os tronos reais. Sentados ao redor da mesa envoltos por pilhas de papéis estavam os dois, pareciam cansado, mas mesmo assim ainda conseguiam exalar poder.
- Não era seu dia de responder as cartas dos clãs Evolet? – Minha mãe falou olhando para uma pilha separada no outro lado da mesa. - Eu ia vir responder, mas fui sequestrada pelo seu filho. – Seth me deu um cutucão. - Vimos lobisomens no povoado mãe. – Ele jogou a bomba bem a tempo de não levar bronca. - Como? – Meus pais nos encararam, os dois de olhos arregalados. Aurelia era a rainha dos Wicca e dos seres menores, fadas, gnomos, elfos, trolls, todos os clãs menores estavam dentro da jurisdição da minha mãe e todos a amavam. Ela é a melhor rainha que o nosso povo tem em séculos, minha avó não era uma rainha tão compreensiva... Minha mãe é o perfeito esteriótipo de uma rainha, somos muito parecidas fisicamente, a não ser pelo cabelo. Ela tem cabelos pretos quase azuis e muito lisos, seus olhos azuis safira, mudam de tom conforme seu humor, mas geralmente são serenos. - Vocês viram? – Minha mãe já se levantava se aproximando. - Sim, numa lojinha da vila, não parecia ser uma visita amigável. – Seth falou.
Eles pareciam na verdade quererem que as coisas fossem feitas no sigilo e sem chamar atenção. – Eu completei, lembrando de como a menina de jaqueta de couro se comportava. - Quero saber o que estão fazendo aqui, Gerald vá com o Seth e os protetores para a vila. – Meu pai assentiu. Quando minha mãe assumiu o reino a pessoa mais próxima a ela era a responsável por sua guarda, a pessoa em questão era o seu até então melhor amigo, meu pai, os dois já eram muito próximos, quando o conselho revelou que ele deveria ser o comandante dos protetores os dois já sabiam que acabariam juntos. Pela lei Wicca quando uma rainha assume o trono a pessoa mais próxima a ela fica responsável por sua guarda, até Seth e eu nascermos os responsáveis pelos protetores eram os maridos das rainhas, mas assim que nós dois nascemos a lei foi alterada, porque Seth é meu irmão gêmeo e não há ninguém no mundo que seja mais próximo de mim, nossas almas são compartilhadas. - Seth! – Meu pai saiu com meu irmão para a tenda dos protetores. - Evolet... – Minha mãe voltou a se sentar. – As cartas... – Revirei os olhos, a parte legal era sempre dele e eu tinha que ficar com o burocrático. Nós somos um povo muito grande, por isso nosso clã se dividiu, a muito tempo atrás éramos um reino, o reino Wiccano, mas quando a humanidade começou a nos enxergar como inimigos fomos reduzidos a um clã, porém mesmo assim somos muitos ainda, então temos que nos espalhar para passarmos despercebidos. Somos o clã central, os outros clãs são ramificações e são liderados por um membro do conselho, ao todo somos 12 clãs, contando com o nosso, espalhados pelo mundo, porém cada chefe do clã tem o dever de nos escrever toda semana passando um relatório de como estão as coisas, para aonde saltaram, quais os problemas, como estão a renda, o pagamento de tributos e essas coisas. Geralmente as cartas são seguidas por infinitos gráficos e baús com ouro... Geralmente. - Mãe? – Minha mãe me encarou esperando que eu continuasse. – Temos um problema, na verdade seis problemas. – Em minhas mãos haviam seis cartas, minha mãe me encarou surpresa, mas algo me dizia que ela já sabia qual o conteúdo das cartas. - Não é tão grave quanto parece, são casos exporádicos... - Que estão se tornando cada vez mais frequentes mãe. – Eu a encarei incrédula, sua calma era gritante. – A quanto tempo você sabe disso? – Minhã meu deu de ombros e me passou uma carta lacrada. - Abre. – Dentro da carta haviam nomes e datas, do começo ao final do papel. - Espera... Isso é... – Meus olhos liam e realiam os nomes e as datas, infinitas vezes, isso não podia ser o que eu estava pensando. - Desde o ano passado. – Meus olhos encontraram os da minha mão e eu tinha certeza que a reprovação estava estampada no meu rosto. – Não me olhe assim Evolet! Não é como se eu não estivesse fazendo nada, eu já fiz de tudo, mandei meus melhores feiticeiros, contatei os nemuritori, eu não queria que você soubesse agora... - Mãe se eu vou ser rainha um dia preciso ter um povo para governar, não tem porque você esconder essas coisas de mim! – Eu me levantei apoiando as duas palmas das mãos na mesa - Eu vou resolver Evolet! – Ela falou exaperada. - Meu povo está perdendo a magia! – Exlodi. - Você ainda não é rainha. – Minha mãe respondeu com amargor. - E você não está me parecendo uma no momento. – Respondi na lata e sai da tenda rapidamente, deixando-a sozinha. As cartas falavam sobre alguns acampamentos onde pessoas estavam perdendo os seus poderes, não havia nada de errado com o solo, ou com a comida ou até mesmo com sua saúde, apenas acordaram um dia sem magia, não foram cegados pela névoa, nem perderam a memória, apenas não tinham mais magia. Na carta o chefe do acampamento pedia ajuda, pois já era a sexta pessoa que ficava desse jeito no acampamento. Todas as cartas relatavam essas situações e todos os acampamentos eram ao sul, muito longe de onde estávamos agora, tinha que haver alguma explicação. Eu sai da tenda real em direção a tenda dos protetores, se isso estava acontecendo no nosso clã é possível que esteja acontecendo em algum outro, a visita dos Farkas, eles estavam muito longe de suas terras e pareciam assustados. - Ora, ora se não é a princesa das borboletas que está me contemplando com a sua grandiosa presença. - Seth zombou com o seu habitual sorriso presunçoso estampado naquele rosto pálido, mas se quer me olhou, sabia que havia sentido a minha presença muito tempo antes de eu realmente entrar em sua tenda. Coisa de gêmeo. - Sem brincadeiras maninho o assunto é sério. – Seth me olhou com a testa enrugada. A tenda dos protetores parecia um arsenal de guerra, no meio da sala havia uma grande mesa redonda, com mapas e peças, rodeanto toda a tenda haviam estantes com armas e armaduras, havia uma maca e uma prateleira com algumas poções, nada muito elaborado, mas tudo muito bem organizado. - O que aconteceu? – Seth fez sinal para que seus homens saíssem e nos sentamos perto da mesa redonda. - Alguns bruxos tiveram a sua magia... "roubada?", "drenada?", eu não sei, mas um dia acordaram sem magia, isso vem acontecendo desde o ano passado e a mamãe escondeu isso da gente até agora. – Seth me encarava confuso e espantado. - Evolet você não está falando sério... – Meu irmão não parecia muito confiante, entreguei as cartas que eu tinha pra ele junto com a lista que a minha mãe me dera. - Ela não podia ter feito isso, nós deveríamos fazer alguma coisa. – Seth parecia perdido e muito bravo. - Antes que comece a surtar me diz como foi lá na vila. – Meu irmão me olhou confuso, mas sentou. - Aparentemente só vieram a negócios, nossos homens os seguiram até limite do território, foi uma visita rápida. Acho que o dono da loja devia dinheiro para eles, ou algo assim. - Revirei os olhos. Esses humanos... Todo mundo sabe que não se mexe com a máfia, não com a máfia Farkas pelo menos. - Quero que mande alguns protetores para essa loja, preciso saber o que ele devia, estamos aqui agora, não quero os Farkas rondando o meu território, mande uma equipe para interrogar o dono da loja e ofereça a nossa proteção. - Seth meneou a cabeça em concordância. - Nico. - Meu irmão chamou e um guarda entrou na tenda, ele estava com a armadura completa e em seu peito grafada o símbolo do nosso clã, a lua tripla. - Quero que vá com mais dois homens até a loja em que os lobisomens foram vistos hoje e descubra tudo o que aconteceu, ofereça a nossa proteção. - O guarda encarava meu irmão com o olhar determinado e duro, não esboçou nenhuma reação. - Sim senhor. Sairei imediatamente. - Ele levou os braços ao peito em formato de X e depois levantou o pulso direito onde estava a sua marca para o alto. O cumprimento dos protetores. - Só mais uma coisa. - Eu falei, o guarda me encarou ainda sem expressão, mas fez uma reverência. - Sim majestade. - O guarda voltou-se para mim, Seth me olhava de curiosa. - Seria bom não usar a armadura quando sair, não queremos assustar os moradores, e eu quero que descubra até onde vai a influência dos Farkas aqui, quantos desses moradores devem alguma coisa pra eles. - Minhas engrenagens giravam, eu não acreditava que aquela era a única loja que devia dinheiro para a Máfia, mas eu queria saber por que eles estavam tão longe de casa. - Sim majestade. - Nico fez outra reverência antes de sair. - Algo me diz que isso tem haver com essa coisa que está atingindo os clãs. - O que você está pensando? - Seth sentou-se novamente a minha frente, havia rugas de preocupação em sua testa e suas mãos estavam inquietas, um tique de família. - Por que eles estão fazendo negócios tão longe do seu domínio... Afinal estamos na Escócia, isso aqui já não é domínio deles há anos, tem alguma coisa errada Seth. - Meu irmão pareceu entender o meu ponto de vista. - Acho que deveríamos enviar protetores para monitorarem eles, já ficamos tempo demais no escuro. – Eu falei e meu irmão assentiu em concordância. - Capitão Clark! - Seth chamou, e outro guarda ainda maior que o outro surgiu no meio da tenda... O que davam pra esses meninos comerem? Os protetores eram a nossa guarda há milênios, um equipe treinada nos lugares mais inóspitos da terra, eles foram testados ao seu máximo para que não fossem nada menos que excelentes, claro que havia consequências, como o desaparecimento do seu lado humano, era muito difícil um protetor casar, constituir família ou até mesmo ter uma namorada, poucos ainda mantinham contato com a própria família, depois do treinamento a maioria se tornava uma máquina. Seth odiava a ideia de ser protetor e por anos nós dois lutamos para que seu destino fosse diferente, mas uma lei no mundo Wicca é muito difícil de ser alterada, principalmente em tempos como esses. Foi desesperador ver Seth voltar para casa ao final de cada ano parecendo menos com ele mesmo, até que um dia ele simplesmente não voltou. Sabíamos que estava vivo, porém suas prioridades haviam mudado. Ou era o que eu pensava no início, nem imagino o quanto deve ter sido e ainda deve ser difícil para Seth, logo ele a pessoa mais feliz e humana que eu conheço não poder demonstrar como se sente, ele perdeu muitos amigos durante o treinamento, por mais que ele não admita eu sei que ele se sente culpa pelas mortes. Quando passavam nos testes eles recebiam a marca de Cerunos, o deus do poder masculino representa a morte e o renascimento. Os protetores ficam mais fortes e mais difíceis de matar, seus sentidos são aguçados e a pele quase impenetrável assim que recebem a marca. Todos que tem esse símbolo estão ligados, eles funcionam como um só organismo, como uma alcatéia (irônico não?), sabem onde estão cada um de seu grupo, conseguem se encontrar independente do lugar que estejam e podem conversar por transmissão de pensamento, ligados por um elo sagrado e muito poderoso, sabem o que seus parceiros estão pensando, digamos que não existe muita privacidade nesse ramo. Ser protetor é a maior honra que um bruxo ou bruxa pode receber e a maior penitência também. - Sim general. - O guarda fez uma saudação para Seth e uma reverência para mim. - Reúna seus melhores homens, quero que vá para a Itália, fique de olho nos Farkas... Mas, apenas fique de olho, veja o que está acontecendo na alcateia e me reporte tudo o que encontrar de anormal. - O capital assentiu em silêncio. - Partirei esta noite senhor. - Meu irmão assentiu, mas eu o conhecia suficiente pra saber que suas engrenagens ainda estavam trabalhando, ele tinha o mesmo tique de mãos inquietas que o meu pai. - Capitão, faça apenas o que eu falei, estará em desvantagem pisando no território deles. - Seth queria dizer mais, eu sabia disso, eu só não entendia o que era esse mais que ele queria, sim realmente é uma missão perigosa pisar em um território que não era nosso, principalmente quando era a terra natal de nosso maior inimigo, mas a postura nervosa que meu irmão assumiu não era muito comum. - Está dispensado, passe na minha tenda antes de sair esta noite para acertarmos os detalhes da missão e me passar o relatório dos homens que levará. - O capitão o cumprimentou e saiu. - Seth manteve aquele olhar duro, ele estava longe dali, era desgastante para ele ter que seguir contra sua natureza, nós dois éramos obrigados a fazer isso desde que nascemos e isso estava acabando com ele. O irmão que eu conheci que sempre esteve comigo é muito diferente deste que está parado na minha frente com a cabeça em qualquer lugar que não é aqui. - Seth? – Meu irmão pareceu acordar do devaneio. - Está na hora do meu treinamento. – Ele simplesmente saiu me deixando sozinha e completamente confusa.