Capítulo 4 COISA DE GÊMEO - CAPÍTULO IV

Existe uma lenda que diz: "Crianças que dividem o ventre são beijadas pelo pesadelo". Um monstro que habita as mais antigas lendas do nosso mundo, criado pela própria morte, para que um dia acorde e engula o mundo dos homens. Os gêmeos recebem fragmentos dos poderes do pesadelo, esses poderes quando usados alimentam a fome insaciável da criatura fazendo com que ele permaneça adormecido, mas também é graças a esses poderes que os gêmeos carregam que o monstro consegue sentir a hora de ressurgir, o que não se sabe é porque um deus faria uma criatura que dizimaria o mundo.

Bruxos gêmeos são espiões, a lenda também diz que quando as crianças nascem os seus dons são malignos e o mal já habita nelas. Poderes como a possessão, controle mental, afeição pelo fogo e pelo gelo e por tudo que é letal. Nem tudo dentro dessa lenda é verdade, por exemplo não escutamos ele falar nossos nomes enquanto dormimos, mas realmente temos alguns desses poderes. A primeira coisa que foi ensinada para Seth e eu era que esse nosso lado "negro" deveria ser reprimido, não somos pessoas ruins, não desejamos coisas ruins, na minha concepção somos apenas mais fortes do que a maioria dos outros bruxos e eles não sabem lidar com isso, a humanidade sempre temeu o que não pode controlar, independente da espécie. Meu irmão e eu não somos exatamente fantoches que ficam ali esperando para serem usados, minha mãe sabe disso, por isso eu a admiro tanto. Ela nos ensinou a controlar os dois lados, nos ensinou a usar nossos poderes "maléficos" e para isso ela precisou aprender sobre, sempre fora uma bruxa muito forte, principalmente porque precisou mexer com magia negra e não cair em tentação. Eu nasci exatos 18 segundos depois de Seth, mas mesmo assim pelas nossas leis o trono ainda é passado para mim, vivemos em uma das poucas sociedades que ainda é regida pelo matriarcado, e por isso funciona. Minha mãe não sabia que eram gêmeos, muito menos uma menina e um menino, naquela época os bebes gêmeos deviam ser banidos e sacrificados, eram muito perigosos, é o que dizem, nunca concordei com isso, principalmente depois de ouvir o que as borboletas falam... Minha mãe conta que a notícia se espalhou com tanta velocidade que criaturas de todos os tipo vieram até o acampamento para nos conhecer. O povo fez uma semana de festa para comemorar a chegada das crianças pesadelo. Da mesma forma que alguns estavam contentes com nossa chegada, muitos não confiavam que alguém poderia nos controlar, afinal bruxos gêmeos são beijados pelo pesadelo não é? Meus pais enfrentaram algumas brigas para que pudéssemos crescer em paz. Se é que paz é o adjetivo adequado para esta história. Seth e eu nascemos no dia trinta de agosto, no dia consagrado para homenagear a deusa Hécate, era uma noite sem lua, meus pais estavam acampados em algum lugar no Canadá, minha mãe conta que era uma noite muito fria, mas meu irmão nasceu pegando fogo, de modo que as parteiras não acreditassem que ele poderia sobreviver, elas ficaram surpresas quando perceberam a presença de outro bebê. Eu. Minha mãe disse que fez tanta força pra me empurrar e quando eu nasci estava gelada, era pra eu ter nascido morta de acordo com a temperatura do meu corpo, mas por algum motivo eu gritava a plenos pulmões. Não consigo imaginar a minha vida sem o meu irmão, Seth é literalmente uma parte de mim, dividimos a mesma alma, se algo acontece com ele eu sinto, se ele morrer parte de mim morre. Por isso conseguimos conversar pela mente, somos praticamente a mesma pessoa, mas ao mesmo tempo somos muito diferentes, Seth é um soldado, segue ordens, já eu, ainda estou trabalhando nessa parte de seguir ordens. Minhas amas deixaram meu vestido encima da cama antes de sair, ele branco, de alças, com babadinhos no ombro, todo feito de tule e voal, com um decote coração no busto e com ramos de flores costurados da barra até a metade, de diversas cores. Meus cabelos prateados estavam me dando trabalho para ficarem no coque trançado e eu estava quase desistindo. - Posso ajudar? – Minha mãe estava parada na entrada da minha tenda majestosa como sempre. Seu vestido era azul escuro, com um cinto prateado com nosso símbolo bem no centro, ele era justo até a cintura e depois era soltinho com detalhes em prata na barra também, seus cabelos estavam presos em um coque trançado e a coroa reluzia prateada com safiras azuis, no topo da sua cabeça, eram raro os momentos que minha mãe era vista de coroa, geralmente em cerimônias, em outros dias ela se misturava. - Claro. – Eu sorri sem mostrar os dentes. - Porque não deixamos só uma trança lateral hoje? – Não pude deixar de sorrir, minha mãe sabia que eu odiava coques, eu me sentia presa. Ela fez a trança e me entregou uma caixa que eu nem havia reparado que estava com ela. - É o seu pedido de desculpas? – Minha mãe revirou os olhos, mas não negou. - Era a minha favorita quando eu tinha a sua idade. – Dentro da caixa havia uma tiara feita com um metal rose, duas estrelas nas laterais e uma maior no centro, com uma lua minguante debaixo da estrela central virada para cima. - Ela é linda mãe. – Minha mãe sorriu e se virou para colocar em mim. - Eu estou tão preocupada quanto você Evolet, é o meu povo também, eu sinto quando acontece algo com eles, mas com o tempo eu aprendi que não posso me apavorar por qualquer coisa. – Eu assenti. - Depois da cerimônia, você, papai, Seth e eu precisamos conversar. – Minha mãe enrugou a testa, mas assentiu. – Eu sei o que está causando tudo isso. - Sabe? – Eu assenti, minha mãe não pareceu convencida, mas não pudemos continuar a conversa, pois bem no momento Seth e meu pai entraram na tenda. Eu achava incrível o quanto eles eram iguais, ambos ruivos, brancos, com o mesmo sorriso travesso, altos e com um rosto marcado, a diferença estava nos olhos, meu irmão tinha olhos flamejantes, os olhos de Seth pareciam chamas, eram laranja e pareciam labaredas dançando, meu pai tinha olhos verdes esmeralda. - Acho que vou ter trabalho hoje anoite, você caprichou em bruxinha. – Revirei os olhos e mostrei língua para o meu irmão e ele sorriu pra mim. - Você não está nada mal. – Seth estava de branco como eu, mas seu paletó tinha detalhes em dourado nos pulsos e nas barras, assim como a calça, Seth se recusava a usar coroa desde que voltou do treinamento, ele mal usava algo que não fosse armadura. - Isso não chegou nem perto de um elogio Evolet... Sinceramente. – Seth negava com a cabeça rindo. - Ninguém vai falar do esforço que eu fiz para estar usando algo diferente de uma armadura não? Que família viu. – Meu pai resmungou brincando. Seu terno era totalmente preto, porém tinha algumas luas e símbolos espalhados por ele. Sua coroa era igualmente preta com as pedras vermelhas. - Todo mundo aprecia o esforço querido, tanto o seu quanto o de Seth. – Minha mãe tocou o braço do meu irmão e ele ficou tenso instantaneamente, o gesto não passou despercebido e ela logo tirou a mão. - Majestade, está na hora. – Um dos membros da guarda da minha mãe chamou e ela e meu pai tomaram a frente.

            
            

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