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Com certeza eu estava na minha melhor forma agora. É confuso me sentir mais confortável na forma de um lobo do que na forma humana, às vezes eu passo tanto tempo em quatro patas que me esqueço de como é andar com apenas duas. Meu nome é Runna Farkas e eu sou uma mafiosa... Na verdade uma loba mafiosa. Patético! Ok, vamos com calma... Sim, existem lobos, vampiros, semideuses e bruxos.
Somos os quatro clãs governantes, existem outras criaturas claro, mas são conhecidos por sub-clãs, eu poderia nomeá-las para vocês, já que somos obrigados a aprender sobre todas elas nas tediosas aulas de história e geografia do inferis, mas levaria mais tempo do que eu estou disposta a desperdiçar no momento. Resumo rápido aqui pra vocês, criaturas mágicas como nós precisaram se esconder no mundo enevoado, para que não aconteça uma inquisição 2.0. Pensando nisso meus pais e meus avós tomaram conta da máfia, hoje nós vivemos na Itália e controlamos tudo que acontece por debaixo dos panos no mundo. Seja no mágico ou no enevoado. O vento era gelado e eriçava os meus pelos. Havíamos terminado o serviço na Bélgica e voltávamos para casa pela floresta, passávamos por dentro de uma mata quando eu ouvi... "Runna" Minha audição capitou a voz ao norte e automaticamente mudei minha rota, sabia que meu pessoal não me seguiria, acho que eles não estavam nem perto de me ver, um grunhido de satisfação saiu da minha boca, a velocidade com certeza era meu melhor atributo, independente da forma. "Runna" Era uma voz que eu já tinha ouvido antes... De certa forma eu estava sob o comando dela, enfeitiçada. Era suave e delicada, porém era a voz grave de um homem. Meu nome soava poesia, mas mesmo assim algo dentro de mim ainda me mantinha em alerta, poderia muito bem ser uma armadilha. Provavelmente uma emboscada. Uma caverna surgiu a minha frente, poderia jurar que nunca havia visto uma caverna por esses lados, estávamos muito perto de casa e mapeamos cada palmo de terra daqui antes de nos estabelecermos, tenho certeza que não havia uma caverna aqui. Era uma armadilha. "Aproxime-se Runna Farkas, a última descendente". - Essa caverna disse que eu sou o que? Mesmo meu instinto gritando para eu dar meia volta e correr o mais rápido que eu pudesse meu corpo já não mais me obedecia, todo o meu ser fora dominado pela voz do ser estranho e eu o seguia como um guarda fiel. "Vou te mostrar a nossa lenda". Fui entrando na caverna devagar, aproveitei para voltar à forma humana e sacar a adaga, o que quer que seja que estava dentro daquele lugar tinha cheiro de morango. - Olá Runna. - Um homem apareceu na minha frente, ele era lindo, olhos um amarelo e outro vermelho, denunciavam sua posição na alcateia. Um semi-alfa, nunca havia visto um de verdade, apenas lendas, nunca acreditei que eram realmente reais. - Você sabe meu nome, tem uma vantagem. - O homem sorriu para mim. - Sei um de seus nomes... - Olhei confusa pra ele, "um de meus nomes... nem sabia que tinha mais de um" segurei a minha língua para não soltar o comentário, não estava na hora de ser engraçada, me repreendi mentalmente. - Me chamo Stefan e como você pode ver sou um lobo também. – Uma gargalhada irônica saiu da minha garganta antes que eu pudesse conter. - Eu não sou cega, eu sei o que é um lobo quando vejo um... Um semi-alfa... Qual o seu assunto não resolvido? O nosso povo tem uma lenda, um lobisomem consegue virar um alfa se for corajoso, leal e puro, mas às vezes quando ele está pronto para evoluir algo o puxa de volta... Um assunto inacabado. - Está mais para uma coisa que eu abri mão... - Ele me deu um sorriso triste. - Mas eu vim falar com você sobre outra coisa. - Ele esperou um pouco e eu esperei que ele continuasse. - Você sabe o que é um descendente? - Lembrei-me das aulas com o tutor, um velho asqueroso e muito nojento, lembro-me dele dizer algo sobre um espirito que guardava a natureza, ou coisa assim. - Mais ou menos... - Stefan assentiu, eu senti o cheiro de morango novamente, desta vez mais forte, meus sentidos se aguçaram e as garras se revelaram de forma natural. - Não se preocupe Runna, esta é minha esposa, Angelina. - Uma mulher surgiu das sombras, tinha uma enorme cicatriz de garras no pescoço, mas sorria docemente, ela era igualmente linda, assim como ele. - Combinamos que você a abordaria de uma forma diferente querido. - A feição do homem para sua mulher era apaixonada, visivelmente ele a amava e muito. - Mas eu abordei. - Ela dera uma risadinha e então se virou para mim. - Runna, eu queria te mostrar uma coisa. - Em seu peito tinha uma pedra cravada, brilhando de forma intensa um tom de roxo... Era literalmente cravado na pele dela, como se fosse o coração dela... "Pelos deuses" Pensei assustada. - Quem são vocês? - O sorriso de Angelina se alargou. - Pense em nós apenas como mensageiro por agora nos encontrará mais tarde se tudo ocorrer com o previsto... Acredito que tudo tem a sua hora. No momento querida, preciso te mostrar a sua história. - Eu a encarei com uma expressão confusa, meus pés foram se arrastando para fora da caverna. Angelina fez um movimento circular com a mão, o mundo começou a ficar fora de foco e tudo foi ficando cada vez mais distante... Acho que eu estava caindo. Quando eu abri os olhos não havia nada, literalmente nada, apenas um infinito espaço em branco... Puta merda eu morri. - Olá Runna. - Um homem alto estava parado na minha frente, ele apareceu do nada e eu não contive um gritinho surpreso. Ele tinha o rosto quadrado, sua pele era morena e brilhante, seus cabelos castanhos escuros e sedosos, o homem era muito alto e muito forte, parecia um índio daqueles filmes de faroeste. - Eu sou Tútamos. - Um antigo líder do meu povo, dizem que ele foi nosso melhor rei em muito tempo. - Onde estamos? – O espaço vazio me deixava em pânico e eu queria muito sair dali. - No vazio... Ou em algum lugar, veja este lugar como um salão, daqui você pode ir para qualquer lugar, se um dia morrer e não puder ou algo o segurar no mundo dos vivos sua alma ficará vagando por aqui pela eternidade, ou até alguém te resgatar. - Ele respondeu com um sorriso tranquilizador, mas o horror estava estampado no meu rosto. - O que vocês querem comigo? - O olhar dele me acalmava por algum motivo, acho que era algum tipo de dom. - Quero te contar uma história, me acompanhe, por favor. - Uma porta surgiu a nossa frente me fazendo arquejar. Tútamos fez um gesto para que eu fosse primeiro. Assim que passei pela porta a claridade me atingiu em cheio e em seguida o cheiro do mar. - Bem - vinda a ilha Dinguir. - Estávamos no topo de uma torre, não havia paredes então eu tinha a visão completa, aparentemente a torre ficava no meio da ilha, eu conseguia ver a vegetação e o mar ao redor, tinha montanhas nevadas também e um vulcão... Era majestosa. - Dinguir? - Perguntei, acho que nunca havia ouvido aquele nome. - Depois... - Tútamos deu um risinho. - A história que eu quero te contar é diferente de todas que já ouviu. - Tútamos nos guiou até uma mesa redonda composta por três cadeiras. - Já parou para pensar sobre a existência? Sobre as lendas e até que ponto elas são verdadeiras? - Foi a minha vez de dar um risinho... - Acho que minha praia é um pouco mais ativa... Estamos vivos, pronto. - Tútamos assentira. - Imagino que pense assim... Pois bem, já ouviu falar dos Descendentes? - Novamente aquela pergunta. - Mais ou menos. - Os descendentes ou Missus como eram chamados antigamente são espíritos da natureza, há muito tempo eles viviam soltos pelo mundo mantendo tudo em equilíbrio, combatendo espíritos obsessores que ousassem desequilibrar o mundo natural, seu maior inimigo é o pesadelo, o monstro criado pela morte. - O que isso tudo tem haver comigo... Majestade. - Tútamos me lançou um olhar bondoso. - Os descendentes cuidavam de Alissarys e do mundo enevoado, mas conforme os enevoados foram caçando a nossa espécie e desequilibrando o mundo os espíritos foram desaparecendo, menos um, esse espírito se refugiou dentro de um licantropo, juntos eles tinham a responsabilidade de manter a harmonia do mundo, e foi esse espírito que fez os Dinguir criarem um mundo apenas para criaturas mágicas... - Alissarys? Dinguir? O que é tudo isso? - Tútamos suspirou, mas sorriu. - Você vai descobrir logo querida, no momento concentre-se nos descendentes. - Assenti com a cabeça, porém ainda meio relutante. - O Descendente habita o corpo até o fim de sua missão, então ele deixa o corpo e vive em sua plena forma novamente até a natureza entrar em desarmonia novamente, então ele acha um novo corpo, forte, corajoso e gentil o suficiente para que possa aguentar todo o seu poder. Sempre um lobisomem, nunca outra criatura. - Por que apenas lobisomens? - Perguntei muito interessada, minha pele formigava e meu coração estava acelerado. - Lobisomens são mais suscetíveis à transmutação, um descendente é um espirito da natureza, ele pode assumir a forma de qualquer criatura existente, desde que não seja criada por magia negra. - Meus olhos se arregalaram de contentamento. - Isso é demais, quer dizer... Não nas condições que ele aparece, mas é um poder incrível. Tútamos deu um risinho. - Era mesmo muito legal... - Ele parecia ter viajado até uma memória antiga. - Você era um? - Perguntei surpresa. - Era sim, mas eu não consegui cumprir o meu dever, estava cego pelo amor e queria acreditar no mundo que eu criei na minha cabeça e não nos fatos verdadeiros, fui fraco e isso tornou o meu Descendente fraco. - Como você morreu? Desculpe se fui indelicada. – Perguntei e Tútamos pareceu surpreso. - Morri pelas mãos da minha esposa... Se é que existia alguma parte dela naquele corpo ainda... Mas entenda, fui uma peça do destino, um peão no tabuleiro da deusa, mas você é a carta final, é você que precisa terminar com isso. - Tinha certa amargura e desdém em sua voz que me deixou intrigada, que Deusa? Qual olimpiana? Seria uma olimpiana? Nosso mundo era tão diverso e complexo, várias formas dentro de uma mesma terra... Quem seria a esposa dele? Não conseguia parar de me repreender por não prestar atenção nas aulas de história. - Não temos mais muito tempo... Então escute bem Runna... - Tútamos falou de forma firme, mas ao mesmo tempo gentil. - Você carrega esse espírito dentro de você, o mundo está se preparando para o despertar de um grande mal, você será responsável por deter esse mal, mas para isso você vai precisar confiar em pessoas que agora você julga inimigos... Essa briga entre os clãs é uma perda de tempo. - Espera... Vai com calma, eu sou o que? Tem um espírito dentro de mim? - Eu estava mortificada, mas ao mesmo tempo parecia que as peças do quebra-cabeça se encaixavam. - Sim, e você vai precisar aprender a usar isso ao seu favor... Sabe a sua mãe pode te ajudar nisso. - Minha surpresa não podia ser maior... Minha mãe... Aiai. - Escute bem, vocês precisarão ir para casa, para a verdadeira casa, se quiserem ajudar seu povo. A memória dos meus pais atordoado por causa de lobos que não mudavam de forma invadiu meus pensamentos, meus dedos formigavam e parecia que algo estava acordando em mim... Alissarys seja lá aonde for isso vamos encontrar! - Está na hora de ir, mas nos veremos novamente. - A visão do sorriso gentil de Tútamos foi à última coisa que eu vi antes do mundo borrar e eu apagar novamente.