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Eles já acordaram? - A voz de meu pai ressoava ao longe. - Ainda não, mas olhe, as pálpebras ficam mexendo como se tivessem tendo pesadelos. - A voz da minha mãe saiu em um fio. - Sem contar as borboletas, olha a quantidade... - Minha mãe dera um suspiro. - Como foi a reunião? - Sua voz apresentava certa ansiedade. - Estão todos com problemas em seus clãs, cada um de sua própria maneira, querendo ou não Aurélia, teremos que voltar para casa. - Ele falou sussurrando.
- Eu não devia tê-la levado no porto, foi muita magia pra ela aguentar, a ligação deles é muito forte, tudo que um sente o outro sente, o que quer que tenha acontecido com eles o elo está tornando mais poderoso. - Eles estão prontos, querida, precisamos honrar a profecia Aurélia, se não as coisas podem piorar muito, pare de ser tão teimosa. – A voz do meu pai mesmo ao longe soava serena como sempre e cheia de emoção. "Evolet!" - Seth abriu lugar em meus pensamentos. "Seth, me diz que você viu aquilo..." - Era óbvio que eu me referia a memória, mas não era assim que eu lembrava dela, apesar de já ter ouvido as borboletas sussurrarem alguns daqueles versos. "Vi e ouvi. Agora me diz... O que é Alissarys?" - Seth soava agoniado. "Tudo bem?" - Sabia que ele não gostava de ser deixado no escuro, sua cabeça precisava sempre ter todas as informações, para que ele soubesse como se defender. "Não gosto de ser deixado de fora". - Ele respondeu meio emburrado. "Ok, irmãozinho, vamos fazer o que fazemos de melhor então... Vamos assustar umas pessoas." Nós abrimos os olhos ao mesmo tempo, um "O" de surpresa se formou nos lábios de meus pais e os sussurros começaram pela sala. - O que foi que aconteceu? - Minha mãe sentou ao lado de Seth, meu irmão se afastou por instinto, eu nunca vou entender o que aconteceu entre eles para que ficassem tão distantes. - Quantas memórias nossas vocês já adulteraram? – Seth perguntou direto causando nos meus pais a reação de surpresa esperada. - Evolet! Isso é uma acusação grave, sabe que a adulteração de memória é crime. - Meu pai respondeu chocado, mas esfregava as mãos, um tique de nervosismo pelo qual ele já era conhecido. - Você sabe que nós não podemos fazer isso. - Ele deixou o nervosismo transparecer na voz. - Eu posso. - Falei erguendo as sobrancelhas em desafio. – E ela também. – Apontei para a minha mãe, era só um palpite, mas ela precisou aprender para me ensinar. - Quem mais sabe sobre isso então? Os anciões? O conselho?... - Seth estava aborrecido. - Somente o pessoal autorizado. - Minha mãe respondeu recuperando a compostura. - Vocês eram tão pequenos e sofreram tanto com aquilo, vocês ficaram desacordados por uma semana, eu não sabia o que fazer estava desesperada, era jovem e vocês são meus filhos, eu não me arrependo de arrancar a memória da cabeça de vocês, porque foi assim que eu fiz isso que vocês acordaram. – Seth e eu encaramos nossa mãe por um momento, meu pai passou o braço ao redor do ombro dela confortando-a. Neste momento a tenda já estava vazia, mas mesmo assim eu senti quando minha mãe nos rodeou com um feitiço de isolamento, nenhum som ultrapassava a tenda. - Seth recitou uma profecia mãe... Sobre o que exatamente? - Minha mãe ficou em silêncio por um tempo, avaliando suas alternativas provavelmente. - Esse assunto foi proibido há muito tempo, precisamos convocar o conselho dos clãs. – Meu irmão e eu arregalamos os olhos, o conselho dos clãs era uma reunião com os líderes de todos os clãs aonde nós falávamos sobre as leis e guerras, mas isso só podia ser feito em solo neutro. Na Alemanha. - Com licença vossas altezas, mas os homens que foram para a vila atrás de informações retornaram e precisam de uma audiência. – Meus pais assentiram e fomo para a sala do trono. O tal Nico que Seth havia mandado para a vila estava parado na frente do trono acompanhado por mais dois outros soldados, ambos vestidos informalmente, eu sorri ao ver minha ordem ser cumprida. - Vossas altezas, general. – Os guardas nos reverenciaram quando entramos. - O que aconteceu Nico? – Meu irmão perguntou ao seu soldado. - Os Farkas, eles voltaram. – Meus pais se endireitam no trono. – Na verdade apenas uma deles, a menina, ela voltou sozinha e foi novamente na loja, mas não fez nada, apenas comprou um livro e foi embora. - Um livro? Que livro? – Eu perguntei confusa, o guarda negou com a cabeça, sem saber. - Nós demos a proteção a todos, eles disseram que os lobisomens dominam essa região em segredo a anos, mas que nos últimos meses eles vem aqui pedir ajuda, em busca de curandeiros e... Bruxos. – Eu assenti, eu sabia que não éramos os únicos com problemas. - Majestade? – Outro menino que estava acompanhando o tal Nico chamou a atenção da minha mãe. - Sim? – Ela respondeu. - Existem rumores, sobre alguns acampamentos onde nosso povo está perdendo a sua magia. – Minha mãe assentiu, sabíamos que os boatos iam se espalhar, era questão de tempo. - Pois bem soldado, é verdade, nos clãs mais ao sul, algumas pessoas perderam sua magia, mas vamos solucionar isso, por isso vamos saltar para a Alemanha, reúnam todo o povo para que possamos fazer um comunicado. O guarda assentiu em silêncio e saiu para fazer o que minha mãe havia ordenado, juntamente com o outro que estava com ele, restando apenas Nico. - Seth. – Minha mãe chamou meu irmão. - Sim, majestade. – Ele respondeu sério, ali não éramos família. - O quanto você confia nesse seu soldado. – Meu irmão encarou Nico por um momento antes de responder. - Confiei minha vida nele uma vez e ainda estou vivo, então está ai a sua resposta. – Meu irmão encarou seu soldado novamente, Nico fez o sinal dos protetores em agradecimento. - Ótimo porque vamos precisar dele essa noite quando nos reunimos com os clãs. – O soldado continuou impassível, mas sua mente estava borbulhando, eu podia sentir. - Precisamos vedar vocês dois. – Falei para ninguém em especial, mas todos me encararam. - Evolet? – Meu pai fez um sinal para que eu explicasse. - A mente de uma pessoa tem muros, cada muro guarda uma memória, os protetores não têm esses muros entre si, o grupo funciona como um organismo, então todos sabem de tudo sobre todos. Para esse encontro precisamos criar muros na cabeça do Seth e do Nico, se não sinceramente eles nem precisam ir, essa conversa já vazou para todo o grupo, quem tiver prestando atenção vai saber o que estamos falando. - Com o tempo aprendemos ignorar a vida um dos outros, mas ela realmente tem razão, quem quiser acessar tem passagem total. - Quero levar mais um guarda essa noite. – Seth falou, mas não estava pedindo. - Quem? – Meu pai perguntou. - O capitão Clark. – Nico fez um movimento discreto com a cabeça, que se eu não o estivesse encarando não perceberia. O que eu fiz em seguida foi uma coisa que prometi não fazer a muito tempo, a mente do meu irmão era um jardim totalmente exposto, era invadido por pessoas demais, mas eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo e que ele não estava me contando. - Sim o capitão que retornou da Itália, ele foi o responsável por descobrir que os Farkas estão com problemas parecidos com os nossos. - Que problemas? – Perguntei ainda procurando algo de útil na cabeça do meu irmão. - Alguns de seus lobos não voltam à forma humana. – Meus olhos se arregalaram de surpresa, tanto pelo que meu pai falou quanto pelo que eu achei na cabeça do meu irmão. - Puta merda! – Seth me encarou e eu sabia que ele tinha entendido. - Você! – Eu ia falar alguma coisa, ia pedir desculpas, mas ele se virou e saiu. - O que aconteceu? – Minha mãe perguntou confusa e eu neguei. - Nico está dispensado, nos encontre aqui às oito horas. – Antes de ele sair eu plantei na cabeça dele a ideia de ir encontrar Seth, eu sabia que meu irmão iria falar com ele, afinal esse homem salvou meu irmão da morte mais vezes do que eu gostaria de saber. - Evolet, o que você fez? – Minha mãe me encarava curiosa, mas essa informação ela jamais poderia saber. - Como você fez? Como entrou na minha cabeça e simplesmente apagou uma memória? – Ela me encarou por um segundo, mas continuou. - Foi um feitiço, é muito pesado e difícil, fazer isso em dose dupla quase me esgotou. – Eu a encarei mais tranquila, era bom saber que ela não podia simplesmente fazer como eu fazia. - Eu não soucomovocê,oquevocêeSethtêméumtipodemagiaqueeueseupaiouqualquer outro bruxo jamais terá. Gêmeos não nascem todos os dias Evolet. – Minha mãe me conhecia muito bem. - Só estava testando minhas opções. – Ela sorriu. - Estava avaliando o seu oponente, isso sim. – Dei de ombros, dando um sorriso amarelo, mas ela aparentava orgulho, eu jamais ia entender essa mulher. - Vá se preparar para esta noite, temos muita coisa para fazer. – Minha mãe me dispensou e eu saí pensando em como ia arrumar minha relação com Seth.