Capítulo 6 FLASHBACK 1 – CAPÍTULO VI

Fazia um dia quente, o sol brilhava no meio do céu, estava quase na hora do almoço e logo viriam chama-la para a refeição, o acampamento havia sido armado no campo daquela vez, era um lugar a margem de um grande lago e na base de uma colina, sempre a base de uma colina. Evolet havia escapado de seus protetores e estava do outro lado da colina sentada no meio de um grande jardim, havia flores de todas as cores, mas o que a levara até ali fora a enorme quantidade de borboletas e mariposas, elas chamavam por Evolet e a menina atendia seu chamado de bom grado, adorava ouvi-las contar histórias.

- Então aí está você! - Evolet virou-se para encarar o irmão. Seth estava parado no início do jardim e observava a menina cercada por mariposas e borboletas coloridas com um sorriso largo nos lábios, algumas pousavam em seus cabelos e ombros, outras voavam ao redor da garota dançando a sua volta, formavam um funil ao seu redor, era uma coisa linda de se observar. - Porque será que não estou surpreso? Como pudera eu pensar que você estava na aula de história. - O príncipe falava sério, mas seus olhos denunciavam sua diversão. - Sabe Evolet, sempre admirei o seu dom com elas, é algo muito raro bruxinha, as mariposas são símbolos da Deusa e o fato de gostarem de você indica que será uma grande bruxa. - O orgulho transparecia na voz de Seth, que não fazia questão de escondê-lo. - Elas me chamam. - Evolet respondeu dando de ombros, a sua atenção se concentrava na asa de uma mariposa que estava danificada. - E eu respondo ao seu chamado. - Ao simples toque a asa fora restaurada, o ato não passou despercebido, Seth dera um leve sorriso ao ver o feito da irmã, ele a tratava como se fosse a sua princesinha. - Não importa onde eu esteja, ou o que esteja fazendo, elas me encontram... Sempre me encontram. - Evolet levantara os olhos para o irmão, não sabia se ele entendia o que ela queria dizer, mas esperava que sim. Às vezes ela não queria ser encontrada, sentia um pouco de medo dos pequenos insetos. Mas apenas às vezes. - Elas gostam de contar histórias, gostam de ser ouvidas e geralmente falam sobre uma ilha, uma ilha bem grande e de beleza sem igual, ela é mágica e lá vivem todos os tipos de criaturas. A ilha é o nosso refúgio Seth, as borboletas me contaram que ela foi feita para pessoas como nós. - Seth escutava a irmã com atenção, não sabia sobre o que ela falava, mas imaginou que as borboletas eram contadoras profissionais de histórias para crianças. - Elas falam com você? - Evolet entendia que era estranho o dom que havia recebido, afinal não era qualquer bruxo que podia falar com os insetos e era até um pouco ridículo, mas de alguma forma quando estava rodeada por borboletas se sentia mais normal do que quando estava sentada na corte em meio aquela imensidão de pessoas que nem a conheciam, tendo que sorrir para todos. - Elas conversam com todo mundo Seth, é só parar para ouvir. - Ela respondeu como se fosse óbvio, mesmo sabendo que não era bem assim. Antes que Seth pudesse perguntar mais alguma coisa à atenção de ambos fora capturada por uma enorme mariposa roxa e prata, Evolet jamais vira nada tão lindo, estava fascinada. O inseto pousara em seu ombro calmamente. A menina reparara no irmão maravilhado, ele parecia conhecer a borboleta, mas nada dizia sobre, ao invés disso sua boca abria e fechava no mais perfeito espanto. "Minha rainha." - Evolet podia jurar que a mariposa estava fazendo uma reverência. - Eu não sou uma rainha. - Foi tudo que conseguiu dizer. "Em breve será a nossa. Você minha bela senhora foi escolhida para guiar a todos, eu já vi o seu destino." - A voz da borboleta era macia e confortável, dava a Evolet uma sensação de acolhimento. - Eu não compreendo... - Seth alternava o olhar entre a irmã e o inseto sem saber se deveria correr ou fazer uma reverência para aquela borboleta, ele lembrava de uma aula sobre deuses que o professor explicou que a deusa sempre aparecia em forma de borboleta, na forma daquela borboleta. "Mas em breve compreenderá. Eles precisam da sua ajuda." - Quem precisa da minha ajuda? Quem é você? - Evolet sabia que aquela borboleta não podia ser comum, pra começar que ela nem parecia real. "Seu irmão, ele precisará muito da sua ajuda minha querida, vai chegar a hora de voltar para casa, chegará a hora de você me levar para casa." - Evolet encarava o inseto sem entender absolutamente nada. Seth caiu de joelhos, seus olhos brilhavam em um vermelho vivo, ele ainda era ele, mas ao mesmo tempo não parecia mais ser ele mesmo. - Todos irão lutar. Inimigos, amigos, o deus esquecido e os perdidos. Vagueei pelo labirinto do ECO até perder-se totalmente, para enfim se encontrar, o filho da loucura irá então ajudar. Serão cinco a enfrentar a missão e serão quatro a retornar. Do sacrifício vermelho a luz brilhará e a maldição terminará. Seth caiu desacordado e Evolet correu ao seu encontro, a essa altura todo o acampamento já notava que algo estranho tinha acontecido e as sirenes ressoavam altas. As borboletas começaram a gritar ao seu redor frases como: "Todos vão morrer" "A rainha adormeceu". Evolet se curvou urrando para que parassem, as borboletas invadiam a sua cabeça com aqueles apelos fazendo a menina sentir uma dor sobrenatural no peito, algo parecido com uma faca entrando em seu coração. O funil de insetos se tornara mais denso, milhares delas dançando ao redor dela enquanto ela gritava e implorava para que parassem. Ao longe ouvia o pai bradando alguma coisa e tentando se aproximar, mas nada passava pelo redemoinho de asas, Evolet sentiu o corpo amolecer e caiu no chão, mas antes de fechar os olhos a menina podia jurar que vira uma mulher de três cabeças parada acima de seu corpo caído. Ela tinha dez anos quando aquilo acontecera, desde então nunca mais vira a mariposa roxa e prata, mesmo assim ainda andava cercada por elas, não importava o quanto os pais tivessem tentado impedi-las de chegar até a menina. Às vezes elas sussurravam coisas como "A escolhida" ou "deusa adormecida" ou até pedaços de alguma profecia antiga, mas geralmente falavam sobre uma terra mágica onde seu povo já vivera livre, um lugar escondido por magia. Mas não era assim que essa a memória era lembrada pela garota e pelo irmão. Alguém não queria que eles vissem a verdade.

            
            

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