A pessoa veste jeans escuro surrado e uma jaqueta preta, ao meu ver, grande demais julgando o cumprimento que chega as suas coxas e os punhos que cobrem suas mãos, bem como a largura. Seu longo e ondulado cabelo loiro está bagunçado, mas balança pela corrida como se estivesse fugindo de algo...ou alguém já que as vezes seus raros olhos brancos desviam para trás como se a qualquer momento alguém surgisse do nada.
A pessoa é uma menina de traços angelicais, mas seus olhos sobrenaturais prometem muitas surpresas e revelações e a primeira demonstração desse poder ela vai dar agora.
Soraia está deitada no sofá, a coxa firme e musculosa de Augusto é o seu travesseiro enquanto ele lhe acaricia os cabelos e assiste televisão.
Os olhos de Soraia até então calmos começam a tremular, e começa a sentir e ouvir uma voz invadindo sua mente. Uma voz que sussurra - Rainha Kaxal, por favor, preciso de sua ajuda.
Augusto sentiu Soraia debelar-se em seu colo e tratou logo de acorda-la, mas só tentou porque ela parecia aprisionada ao sono e só lhe restava ver sua aflição...
A mente de Soraia é transportada para uma floresta, está nevando intensamente, mas nada sente pois não está lá de corpo presente - é como se o seu espírito estivesse lá- e vê uma menina correndo por entre as árvores, ela possui cabelos loiros escuros com nuances claros, mas o que mais lhe chama a atenção são os olhos brancos daquela garota, e, é a voz dela que lhe sussurra – ajude-me, rainha Kaxal...
Tiros e palavras de ordem ecoam no ar, atrás dela.
-Depressa!!!
-Peguem-na!!!
-Não a matem!!!
-Capturem a fedelha!!!
-Olho no alvo!!!
Augusto chama por Soraia, mas sua voz é apenas um eco distante no subconsciente dela, seu sono está tão agitado e turbulento que ela não consegue acordar. A menina não deixa.
-A menina – sussurrava Soraia apertando o estofado do sofá a ponto de rasgá-lo, o que só preocupa ainda mais Augusto que agora está 'quase' que totalmente sob seu corpo, sacudindo-a de leve, mas nada a tira daquela floresta...
'Soraia está paralisada, ela quer ajudar a menina, mas não consegue nem sair do lugar; ela está vindo em sua direção e nada pode fazer, a não ser assistir...agora, exterminadores surgem em seu encalço, atirando e gritando – eram deles as ordens que ouvia.
-Corra! - grita Soraia, mas sua voz sai sem som, pelo menos ali, porque Augusto a ouviu claramente.'
-Droga! Soraia, acorda!
'O mais incrível é que os exterminadores estão atirando, mas os tiros estão passando através do corpo espiritual de Soraia, bem como o vento e a neve, pois nada sente. Então a menina passa correndo bem a sua frente e seus olhos brancos se fixam nos de Soraia, e ela lhe sussurra apenas duas palavras que a ela tem muito sentido: Drakus. Alfa.
-Drakus. Alfa – murmurou Soraia enquanto a cena se desmancha ao sentir algo quente pousar em seus lábios.
Augusto apelou e sugou os lábios de Soraia num beijo voraz e bruto, mas para o seu alívio, a fez acordar.
-Soraia, finalmente – ele a abraça, mas ela ainda parece perdida – amor, você já acordou ou ainda está divagando?
- pergunta encarando seus olhos distantes.
Ela suspira – Augusto, não foi um sonho – diz agora com os olhos fixos nos dele.
Pronto, agora o mundo de Augusto começou a desmoronar conforme Soraia ia lhe relatando o 'sonho', cair por terra.
-Foi só uma lembrança talvez, que te deixou atormentada – palpitou, mas infelizmente, até ele sabia que não foi isso ao encarar os olhos de Soraia e chegar até a sua alma.
Augusto deu-se por vencido com um suspiro prolongado.
-E qual é o nome dessa menina? - perguntou andando de um lado para o outro pensativo.
-Eu não sei – disse desgostosa - só sei que aqueles olhos brancos chegaram até aqui – cutucou com a ponta de seu dedo indicador a sua cabeça - e enquanto eu não chegar até ela, vão continuar me atormentando.
-E quanto a ela falar em Drakus e Alfa? - o cérebro de
Augusto começou a maquinar até obter uma resposta – eu acho que ela quis dizer que está na floresta dos arredores do castelo Drakus e que eu posso te levar até ela.
Soraia assentiu.
-Eu não sei como ou por quê, as de alguma maneira, ela chegou até mim e sabe que através de você, eu posso chegar até ela.
Augusto passou as mãos pelo cabelo nervosamente, aflito com o que acabara de pensar.
-Augusto, no que você pensou?
Ele a encarou – provavelmente os exterminadores tem uma base lá, Soraia – ela viu medo em seu olhar – minha mãe e a minha matilha estão lá.
Soraia bem sabia o que era temer pelos seus; levantouse e foi até Augusto, abraçando-o pelo pescoço, e ele a enlaçou pela cintura, e não trocaram uma palavra verbal, pois suas almas se falavam entre si.
Cavernas do Norte
Os lobos liderados por Dévon - o 'armário' que atacara Soraia, Augusto e aqueles que os acompanhavam quando estavam em busca de Katrina – todo musculoso e alto, com cabelos loiros avermelhados com nuances brancos e belos olhos azuis, vinham conversando e rindo pela floresta que leva até as cavernas onde, por escolha de sobrevivência e falta de opção, foram morar. Quando, de repente, um 'fantasma' surgira á frente deles, em especial, de Dévon.
Abruptamente e, somente ele parara, quando do nada, uma menina de longos e ondulados cabelos loiros escuros com nuances mais claros e aqueles inconfundíveis olhos brancos como os da sua amada esposa, surgira a sua frente.
Deus, será que era possível isso, Dévon não saberia explicar em que tentasse com esforço, mas o seu coração sabia que aquela menina só poderia ser uma pessoa que passou por sua vida e, mesmo que a tenha perdido com pouco mais de três anos, mas reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar.
-Luna – murmurou com a voz embargada de emoção, enquanto os seus companheiros o olhavam atônitos o achando louco já que ninguém via o que ele dizia ver.
-Pai, não tenho tempo – filha? - procure a Rainha Kaxal, ela sabe onde estou e está vindo me ajudar.
Lágrimas começam a rolara pelos olhos de Dévon que foi até sua filha, ciente de que ela estava ali de corpo presente, mas quando tentou abraça-la, apenas a transpassou como a um fantasma.
-Pai, eu te amo – tentou tocar o seu rosto, mas não conseguiu – venha rápido - e então sumiu.
-Luna! Filha, não!
Os lobos trocaram olhares entre si, provavelmente, se perguntando se seu líder estava ficando louco, e somente um dentre eles teve a coragem de se aproximar de Dévon e questioná-lo. Este era um pouco mais baixo do que ele, bem Dévon era o mais alto e forte da matilha, mas o rapaz ostentava o seu porte atlético, cabelos loiros acinzentados a altura do pescoço e penetrantes olhos cor de oliva. Mas seu nome é Dévon quem irá dizer.
-Iago, a minha filha está viva! - seu sorriso foi de orelha a orelha ao agarrar-lhe os ombros – eu pensei que a tinha perdido junto com minha mulher, mas não. Ela está viva. Viva!
Iago era pouco mais que um menino de oito anos quando o seu pai fora morto, e então, foi acolhido pelo melhor amigo deste, no caso, Dévon. Pouco se lembrava da filha dele que na época deveria ter dois ou três anos quando os exterminadores mataram-na junto com a mãe.
E agora, Dévon lhe dizia crente e feliz que ela estava viva, é claro que nem sabia o que lhe responder.
-A maioria de vocês estava comigo quando minha casa foi atacada pelos exterminadores – bastava fechar os olhos e podia ouvir o choro de sua filhinha de três anos antes de morrer junto com a mãe quando o segundo andar de sua casa fora tragada ao primeiro – muitos me ajudaram a remover os escombros do pouco que restou de minha casa e encontrar o corpo carbonizado da minha mulher -lágrimas de dor e saudade arrancavam pedaços de seu coração ainda ferido – pensamos que por minha filha ser tão novinha, não restaria nada de seu corpo.
Todos sofreram muito naquele dia, tanto por suas perdas quanto pela perda de Dévon que passava as mãos pelo rosto, limpando as lágrimas.
Dévon ainda podia se ver carregando o corpo retorcido e negro da esposa até um buraco de sete palmos que os amigos cavaram, e ali junto com pétalas de rosas enterroua.
-Vocês também sabem que minha mulher era uma feiticeira branca, então, eu creio que de alguma forma ela conseguiu salvar a nossa filha.
-E como você tem tanta certeza?
Dévon suspirou.
-Porque eu acabei de ver a minha filha ilusoriamente aqui,
Queixos caíram, olhos se arregalaram confusos, mas no instante em que Dévon disse o que a filha queria que ele fizesse, ou pelo menos, procurasse os deixou irritadiços.
-Espere aí - pediu Iago levantando a mão, assimilando o que Dévon disse – sua filha quer que você procure a tal Rainha Kaxal.
Dévon assentiu.
-Segundo Luna, Soraia sabe onde ela está exatamente.
-E quem garante que ela vai nos ajudar?
-Você vai confiar nela a esse ponto?
-E se for uma armadilha?
Perguntas que ecoaram ao seu redor, e até ele mesmo se fizera, mas ele acreditara na filha. E mesmo que eles não o seguissem ele iria sozinho.
-Não estou pedindo que me acompanhem, só estou afirmando que eu irei atrás da Soraia – e seguiu, por ora, rumo a caverna para pegar algumas coisas de que viesse a precisar, e depois partiria.
Alguns lobos não pensaram duas vezes em seguir
Dévon, e o primeiro a dar o incentivo foi Iago, e assim até aqueles que não estavam decididos e, tão pouco, felizes em ir atrás de Soraia acabaram seguindo-o.